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Sábado, Setembro 14, 2024

Trump: o dia seguinte

Mendo Henriques
Mendo Henriques
Professor na Universidade Católica Portuguesa

O dia seguinte: Bom, mau e vilão | Bernie, Hillary e Trump

Na minha opinião, o bom foi Bernie Sanders que mobilizou a juventude que agora se absteve a 8 de novembro. A má era Hillary Clinton cujo histórico de mentiras e manipulações a tornou em marco de um sistema político-partidário a abater. O vilão é Donald Trump, agora 45º presidente dos EUA.

Donald Trump, o bilionário da construção e da TV excita o pior que há nas pessoas: agressão, racismo, isolacionismo. Mas foi a escolha da América ou, mais exatamente, da classe média americana de meia idade. A verdade é que 80% dos jovens não votam.

Tendência de votos: raça e idade

Uma vez feita a escolha, o que esperar do dia seguinte?

Em artigo anterior falei das quatro bandeiras e mentiras de Trump: isolacionismo, imigração, posse de armas e reforma tributária. Não falei das áreas que deixou em branco, como sejam a política externa a justiça e a saúde.

A política externa norte-americana é intervencionista, com as guerras asiáticas e no Médio Oriente. Trump nunca revelou ideias sólidas neste domínio mas estará sujeito às pressões do complexo militar-industrial para manter conflitos de baixa intensidade.

Como prefere os negócios à guerra, Trump estará aberto a pactos com Putin. Os ideólogos republicanos até poderiam transformar essa atitude no ideal da paz pelo comércio se não fosse a sua bandeira do isolacionismo que agravará a situação comercial norte-americana. É isso que os assessores e secretários de estado lhe irão explicar e o Congresso vai impedir: o desenlace deverá ser menos agressões a troco de mais negócios.

A imigração

Sobre a imigração, se Trump realizar deportações será o caos, pois a América necessita de migrantes para os serviços básicos. A ideia estapafúrdia do Muro deverá ser chumbada pelo Congresso. Mas Trump sentirá a necessidade de agir neste campo para corresponder à xenofobia que despertou. Poderá ser o agravamento de quotas, ou a deportação seletiva.

Sobre a reforma tributária da baixa dos impostos, deverá executá-la com algum dos rapazes da Goldmann Sachs e com resultados duvidosos. Conhecer o segredo da curva de Laffer é algo que os economistas do supply side nunca conseguiram. A ironia do caso é que a América passou de uma situação de crise para um relativo desafogo com as políticas de Obama que mantiveram o estado federal capitalizado.

Na justiça, Trump tem assegurada a nomeação de um conservador para o Supremo Tribunal, e um Procurador-Geral que lhe seja afecto. Desse modo controlará a jurisdição principal numa nação sujeita a pressões brutais contra a ordem nas ruas.

Quanto à política externa, pela qual o resto do mundo anseia, Trump é menos perigoso a curto prazo do que Clinton mas é pior longo prazo. A sua eleição mostrou que o mais importante cargo político cargo do mundo está ao alcance de quem profere afirmações idiotas que manipulam os impulsos humanos mais cruéis. Essa rebelião das massas é assustadora e poderá atrair forças ainda mais sinistras.

Se Hillary tivesse ganho, não nos livraríamos da corrupção, da manipulação cínica, da mentira constante ao público e mais coisas que os wikileaks informam e que as pessoas decentes não aturam.

Poderá a médio prazo o sistema político americano aprender com os erros, regenerar-se e apoiar instituições que contrariem o globalismo de futuros Clintons sem cair no populismo de Trump?

Este é mais um momento crucial para a história dos partidos republicano e democrata. Os democratas têm um trabalho mais fácil. Bernie Sanders poderá voltar com uma equipa jovem e impedir que o Partido Democrata continue a vender a alma a Wall Street. Ganhará em renascer das cinzas. Tem consigo os jovens.

Os republicanos têm um trabalho mais difícil. Só com um outsider é que conseguiram vencer Hillary Clinton, a democrata que serviu de saco de boxe para Trump. Mas se abraçarem o Trumpismo, intensificam a guerra civil americana.

Quanto às afirmações da esquerda radical de que Trump é fascista ou nazi, poupem-nos! É desconhecer a história das milícias armadas SA e SS e dos Camisas Negras.

Para já, o bilionário da rebelião das massas apenas venceu uma candidata impopular e desprezada. Doravante, estaremos entregues à falta de maneiras e à notória esperteza negocial do mogul da televisão.  Não são qualidade suficientes para um estadista nem augura nada de bom.

Nota do Director

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