Poema, em seis andamentos, de João de Almeida Santos
para um Rosto, de Filipa Antunes (Desenho inédito. Julho de 2017)
VENTO…
I.
Passas
Por mim
Como vento
Intangível,
Sonho
Triste,
Impossível.
E voas
Entre os dedos
Dessas mãos
Com que te pintas…Voas, sim!
E não sei,
Não,
Se vais
Para o pontão
Do cais
Donde partimos
Nessas viagens
Fatais
À procura
D’infinito
Sobre tão frágeis
Sinais!
II.
Sopra-te
O vento
Na alma?
Desenhas
Com ele
O teu rosto?
Pareces triste
Demais
E é disso
Que eu não gosto!
III.
Na rua
Do desencontro
Encontrei-te
A correr…
Fiquei feliz
Da surpresa
Por saudades
De te ver!Vi-te de perto,
Vi, sim!
Falei contigo
De nada,
Fiquei feliz
Mesmo assim
De te saber
Ocupada
Com desenhos
De cetim!Fizeste-me
Renascer
De vaga
Melancolia…
………..
Imagina
O que seria
Se te visse
Uma hora,
Se te tivesse
Um dia…
IV.
Ah! Que doce
Sensação
Sentir saudades
De ti!
Sabendo
Que não te via
Mesmo assim
Eu não parti
Tão grande
Era o desejo
De te encontrar
Por ali…
…………..
E foi assim
Que eu te vi!
V.
Falei-te
Da minha janela,
Olhei, fascinado,
P’ra ti:
“ – Como és bela,
Minh’amiga!”…
……………
Nem sabes
O que senti!“ – Vou-me embora!”,
Disse p’ra mim,
Eu não canto
Esta cantiga
De te ver
Tão pouco
Assim!
VI.
Se te encontro
Logo foges,
Se te quero
Não te procuro,
Eu vivo
Num intervalo
Que mais parece
O meu muro!Entre ti
E os teus riscos
Vou vivendo
Entrincheirado
Caminho sobre
Poemas…
Nunca passo
Deste lado!
Ilustração: Rosto, de Filipa Antunes. Desenho inédito, a lápis 9B e aguarela. Julho de 2017