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João de Sousa

Quinta-feira, Março 28, 2024

Vitalismo: Além do capitalismo e do socialismo

Nélson Abreu, em Los Angeles
Nélson Abreu, em Los Angeles
Engenheiro electrotécnico e educador sobre ciência e consciência. Descendente de Goa, nasceu em Portugal, e reside em Los Angeles.

O século XXI pertencerá a quem articular claramente os seus valores e se esforce para ser coerente com eles. A sua virtude ajudará a desenvolver, atrair e reter os indivíduos e as comunidades éticas e criativas em um mundo com cada vez mais automação tecnológica e desigualdade e menos empregos.

Devemos ir além das ideias cansadas dos socialistas e neoliberais, desde “riqueza para os ricos levanta todos,” a “criação de emprego” e até a “redistribuição” da riqueza de alguns ultra-ricos.

Naturalmente, os partidos do costume, que vão alternando no poder têm algumas boas ideias, mas provaram ser incapazes de adaptar às novas realidades. A sociedade civil é voltada para o futuro, diversa e competente e está a lutar para um envolvimento mais directo na governação e para reduzir a dependência nos representantes que nos desiludem.

Não queremos tomar a riqueza e motivação do empresário genial para financiar projectos políticos de desperdício e nepotismo. Não queremos uma sociedade de capitalismo selvagem de semi-escravos atados à servidão horária ou ao desemprego, entregues ao paradigma materialista. Não queremos uma distopia comunista onde o estado é uma corporação gigante, corrupta com plutocratas ultra-ricos e massas de pessoas impotentes que estão apenas sobrevivendo com a sua chama individualidade extinta. Então, afinal, o que queremos?

As nações como Portugal têm uma orgulhosa história de inovação, descoberta, trabalho, coragem, cultura e consciência social. Nós abraçamos a nossa humanidade comum, os nossos laços internacionais e europeus, mas temos de recuperar a nossa civilização, a nossa soberania e liderança. Os novos oceanos a serem enfrentados são os da mente e do espírito humano, donde surge toda a inovação, a cultura, a engenharia, a ciência, a ética, a coragem, e a perseverança.

Vamos mostrar ao mundo que Portugal não é um país pequeno, com pequenas mentes. Portugal tem recursos naturais – como a sua zona exclusiva económica, culturais, históricos – como os laços ultramarinos. Também tem recursos espirituais imensos e com os seus mais altos princípios, pode mostrar ao mundo que a civilização baseada no conhecimento e na ética é uma próspera força – iluminada, democrática, pacífica e corajosa para o bem maior. Desta forma podemos proteger ao mesmo tempo a liberdade individual e cultivar a realização do potencial de indivíduos, comunidades, lugares e ideias.

Visualize esta condição: Indivíduos e grupos são recompensados pela colaboração e criação de riqueza através de trabalhadores que também são proprietários de suas empresas cooperativas; com investimento, poupanças e instrumentos de seguro soberanos e positivos.

A nova riqueza é multiplicada com investimentos em pequenas e médias empresas novas. Os trabalhadores são co-proprietários em muitas dessas empresas, e podem chegar a acumular o suficiente para perseguir seus próprios interesses e paixões – as suas actividades podem enriquecer a cultura, o bem-estar colectivo e a economia.

Quando alguns dos nossos compatriotas estão passando por problemas de saúde ou outras dificuldades, o seu bem-estar é garantido pelo acesso às mais básicas necessidades: rendimento mínimo, abrigo, serviços públicos e educação.

O mesmo benefício está disponível como uma rede de segurança para o cidadão que quer tomar um risco empresarial inteligente ou que é deslocado por mudanças na sua indústria. O que chamamos, pejorativamente, de desemprego, é de fato a liberdade da escravidão e da exploração que a maioria das pessoas tem procurado.

Poucos entre nós iriam se contentar com um nível de subsistência de quase-pobreza. A liberdade da luta pela mera sobrevivência liberta-nos a contribuir para a sociedade, oferecer-se para causas positivas, para seguir nossas paixões criativas e para nos desenvolvermos como seres humanos.

Esta facilitação colectiva de criação de riqueza pode substituir a pobreza permanente patrocinada pelo estado para a manipulação de votos populista ou o auto-enriquecimento de políticos profissionais e os seus interesses especiais em detrimento da maioria.

O que impede a nação de cumprir o seu destino natural de uma sociedade esclarecida: a apatia ou o desânimo em face da oligarquia. Se formos cínicos e acreditarmos que nada pode ser feito, o nosso futuro e o futuro de nossos descendentes será uma profecia auto-realizada. Se formos coerentes e educarmos as próximas gerações e se defendermos desde já o seu futuro, juntos, a democracia vai tornar-se mais saudável.

Nós permitimos que uns poucos bêbedos de poder se coloquem à frente de milhões de cidadãos portugueses. Os portugueses são perfeitamente capazes de se governar com menos políticos profissionais, que muitas vezes representam os interesses da elite.

Tudo que a cidadania precisa são versões modernas de instrumentos democráticos da Grécia Antiga, origem da democracia, a fim de tomar decisões bem-informadas:

  1. a liberdade de imprensa e da liberdade de expressão;
  2. deliberação e consulta de especialistas em áreas pertinentes que representam uma gama de pontos de vista pública;
  3. a democracia mais directa é amplificada através de métodos como o sorteio, as assembleias locais, as aprovações orçamentárias cívicas, e facilitação de iniciativas dos cidadãos, e / ou sondagem deliberativa;
  4. prazos curtos e limitação mais forte no número de termos (sem classe política profissional, permanente). O numero e duração de mandatos de cargos políticos devem ser altamente limitados;
  5. a responsabilização por negligência ou corrupção (desonra pública, prisão, multas ou tempo de serviço comunitário obrigatório);
  6. maior controle local dos orçamentos e menos burocracias nacionais (mais autonomia e experimentação de acordo com princípios e leis comuns).

Numa era em que os custos de produção são cada vez menores com a automação, existe cada vez menos trabalho tradicional. Em vez de criar precariedade e abandono, podemos usar a tecnologia para libertar cada vez mais pessoas para que possam criar, colaborar, contribuir para a colectividade… A criatividade, a cultura, o calor humano, não podem ser substituídos por máquinas.

Portugal deve ser conhecido em todo o mundo, como uma nação de grande espírito que aproveita colectivamente os talentos individuais, que preserva e oferece uma cultural milenar com toque pessoal, e que investe nas suas ideias para a filosofia, a ciência, a tecnologia e as artes, acabando por desenvolver, atrair e reter as melhores mentes e consciências do país e de todo o mundo.

Com este sistema pós-capitalista, com base na dignidade, bem-estar e potencial da vida humana – o vitalismo – podemos escolher ser a nova Sagres, a nova Atenas, em parceria com a lusofonia e o mediterrâneo… Ou cada vez mais, podemos nos tornar numa colónia de trabalho precário, exportador de talento, importador de povos ainda mais infelizes, de abandono de idosos, e uma colónia de turismo de outros povos.

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