Ao aproximarem-se as primárias da “Super Terça-Feira” nos EUA, que vão definir quais os candidatos à presidência, Donald Trump surge como favorito dos republicanos. Ganhou o caucus republicano no estado do Nevada, com 46% dos votos, e prepara-se para o debate em Houston que precede a “Super Terça-Feira”.
O site Democracy Now convidou Richard Cohen, líder do Southern Poverty Law Center, para reflectir acerca da crescente popularidade do milionário, ao mesmo tempo que foi lançado um relatório chamado “The Year in Hate and Extremism” acerca das ideias defendidas pelo aspirante à Casa Branca. Este relatório fala sobre o crescimento dos grupos de ódio. Existem já 900 desses grupos nos EUA, sendo que grupos ligados ao Ku Klux Klan mais do que duplicaram, e contabilizam-se ainda 34 grupos anti-muçulmanos e 48 grupos que defendem o ódio contra homossexuais, lésbicas, bissexuais e transgéneros (LGBT).
O relatório é claro e directo: “O discurso de Donald Trump, que demoniza latinos e muçulmanos, agitou a extrema-direita, levando a crescentes apoios de líderes nacionalistas brancos como Jared Taylor e David Duke, antigo membro do Ku Klux Klan”. “Os fóruns da supremacia branca manifestam alegria, tendo apelidado Trump de ‘Glorioso Líder’”, acrescenta.
Richard Cohen acredita que tal epíteto se deve ao seu discurso sobre a imigração e que, além do aumento de grupos de ódio contra sectores da sociedade, o nível de violência social aumentou muito no espaço de um ano. O cenário é agravado, sublinha, pela inclusão do ódio no discurso político da campanha das presidenciais.
“Os media amplificam o ódio que existe”, acusa Cohen, para quem a repetição sistemática do discurso anti-imigrantes e outros assuntos “faz com que seja quase aceitável falar daquela maneira”. Os grupos de extrema-direita encontraram na Internet um instrumento de expansão e divulgação, com a vantagem extra de se poder fazer tudo de forma anónima e a partir de casa. E dá um exemplo: Stormfront, um fórum online para “haters” (os que odeiam), cresceu quase 100% desde a eleição de Barack Obama. Não se trata do Daesh mas os ataques que ocorreram em solo norte-americano (um a cada 34 dias nos últimos 5 anos) foram levados a cabo por extremistas norte-americanos, dando o exemplo do massacre em Colorado Springs e no Planned Parenthood.
Cohen defende que os métodos usados pela instituição a que preside são sérios, no que toca a distinguir cristãos conservadores de pessoas de extrema-direita que odeiam a comunidade LGBT. “Chamamos grupos de ódio aos grupos que vilanizam grupos de pessoas por causa das suas características imutáveis”. Quanto às estatísticas apresentadas, o responsável acredita que o número até pode estar aquém da realidade, uma vez que os métodos de detecção de tais grupos de ódio não são 100% fiáveis. Até porque nestes cálculos não entram as centenas de milhares de pessoas que, não pertencendo de forma oficial a estes grupos, praticam atitudes de ódio.
Cohen lembrou ainda que mais de 60% dos apoiantes de Trump suspeita que Barack Obama é muçulmano secretamente e não nasceu nos EUA. Este crescimento dos grupos de ódio traduz-se numa rápida mudança demográfica, em que as pessoas de raça branca sentem que a maré mudou contra elas, pelo que reagem a isso. “Vemos essa reacção na diabolização dos muçulmanos, na diabolização dos latino-americanos”, explica Cohen. Além disso, acrescentou, muitas pessoas estão agora contra o próprio sistema governamental, porque as pessoas perderam a confiança nas instituições. E a crise económica não ajudou a minorar esse sentimento de revolta.
Entretanto, a CNN entrevistou Vicente Fox, ex-presidente mexicano, e quando questionado sobre as declarações do milionário e apresentador de televisão Donald Trump (de que construiria um muro ao longo da fronteira entre os EUA e o México), foi taxativo: “I’m not going to pay for that f***ing wall” (não vou pagar esse maldito muro). Ele é que devia pagar por isso”.
Vicente Fox pede para os hispânicos “abrirem os olhos” porque o que Trump faz não é para os defender, mas para defender a mesma nação que os hostiliza. “Esta nação vai falhar se cair nas mãos de um louco”, insistiu o ex-presidente mexicano, que exerceu o poder entre 2000 e 2006. Porém, não acredita que Trump seja o próximo presidente dos EUA, porque a democracia não pode permitir que “pessoas loucas” tomem o poder.
A réplica do aspirante a presidente não se fez esperar: na rede social Twitter, Donald Trump exigiu que o ex-chefe de Estado mexicano pedisse desculpas por ter dito um palavrão, e acrescentou: “ se eu tivesse feito isso haveria um tumulto!”