Já nem sapiências coloridas e escritas em cardápios dos sábios idos, aqueles, que sabemos, apenas lamuriam o sonho do desejo e desconhecem a saúde do saber. Não serei nunca resma de nada. Se incomodar digam, irei até às metamorfoses dispersar a minha insânia calma. Preciso de mim para estar com todos, pois, sem isso, que me valem os doutos?
Despeço-me do céu, das nuvens, digo adeus a todos os astronautas e até de navegadores, dispenso heróis, fico neste canto, o que encontrar para me alumbrarem dos meus ímpetos. Canso-me do que constróis e resmas e regras assim, vomito o jantar e não como, quero viver sem sombras, mas com o sol a que me disponibilize ter, ouço dizer que os céus caíram, absorvidos pelas nuvens e engolidos pelo tempo, e eu, aqui, estou cansado de ver navios a transbordarem o infinito.
Se ao menos o céu fosse uma semente e me transportasse camo náufrago para dentro de mim mesmo, se ao menos eu conseguisse sair desta muralha que me encarde de tédio, se ao menos, é tanto do que apenas consigo, dizer e sentir, sentir um fogo a arder uma floresta perdida na longitude da verdade, sim, está tudo tão longe, está tudo tão impossível e como conseguir convencer-me do contrário?
E quando o céu não é azul, sim, o anoitecer escurece e apenas estrelas espalhadas como vertigens de pasmos a rodopiarem todas as minhas alucinações e desencantos nestes cantos que conseguir encontrar para me encostar e ali estar, observar como puder o céu dissipar-se até que surja a manhã e com ela de novo o azul, o mesmo de ontem sei lá, mas azul, essa vontade de apetecer o impossível é uma pequena raiva que me narra devagar nesta cadeira sentado e onde apenas escrevo, faço como gostaria de ser sempre assim, escrever apeteces nestes vagares que a verdade incutida em mim me deslumbre e com encantos recatados como donzela pintar telas coloridas para as oferecer ao céu pela manhã quando estiver azulinho como a folha de papel onde borratei quimeras de sonhador que não adormece.
Mas nada é de facto assim. Há tantas paredes à volta e tudo me escurece enquanto fecho e abro os olhos e nada de novo, tudo o mesmo e sempre a repetição do que era, angustiado como peixes secos na maresia vazia do riacho antigo do bairro costumava pescar em criança, quando ainda sonhar não era delírio, quando rasgar as calças e cair de tromba na terra quente do paraíso que sim, me encantava sem ter de soletrar tantas vezes como agora esta necessidade de ter de dizer adeus céu azul.
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