Poemas de Delmar Maia Gonçalves
“Bradam os céus…”
Oh, bradam os céus
crianças morrem
a míngua de pão
e ninguém faz nada!
Oh, bradam os céus
todos se insultam
e ninguém tem razão.
Oh, bradam os céus
a miséria próspera
e vozes de protesto são silenciadas.
Oh, bradam os céus
até quando viveremos no sepulcro?
até quando viveremos em agonia?
“As notícias no primeiro mundo” em 2002
Em Washington
Bush sentado numa cadeira
da sala oval
cometeu mais uma gafe
que provocou uma crise na bolsa.
Em Bruxelas
um grupo de cabeças-rapadas
atacou imigrantes.
Em Madrid
a Eta cometeu
mais um atentado
em nome da liberdade
e o príncipe Felipe
arranjou nova namorada.
Em Paris
Le Pen
tornou-se candidato
à presidência da República
e afirmou que não é
racista.
Em Londres
foi descoberta
uma rede pedófila
que atravessa fronteiras.
Em Amesterdão
o governo decidiu aumentar
o apoio aos toxicodependentes
Entretanto em Lusaka
nasceu uma criança,
filha de pais seropositivos.
Em Tegucigalpa
foram mortos
centenas de civis
pelo cartel da droga.
Finalmente, em Caxemira
houve mais um ataque “terrorista” dos separatistas
incentivados por Islamabad.
São estas as notícias
no primeiro mundo.
Normais, poucas, mas boas!
XXI
Os Javalis só reclamam
o que a natureza
lhes concede.
XVII
Sou de um lugar em que o sol ilumina
o dia e a lua ilumina a noite
Mas é intensa a ausência de luz!
XIII
Corvo de mau agoiro
traz mensagens
de morte.
XLIII
Se as acácias
voltarem a florir sangue
de que forma poderemos salvá-las?
“Era uma vez na América…”
Conheço
uma voraz senhora
chamada América
que ficou conhecida
como exterminadora dos “Índios”
Os anais da História
assim o dizem
Sedutora quanto baste
ainda degolou africanos
chamando-lhes escravos!
“Mulher L” – Desfile no Cais do Sodré
Ao cair da noite
vislumbram-se predadores nocturnos
divagando em busca
de presas fáceis
Estas em polvorosa,
desfilam
quais gazelas esvoaçantes
com pomposas vestes,
corpos curvilíneos
ansiosas de “prazer”
e um punhado de euros.
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