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Terça-feira, Maio 6, 2025

Carta à minha memória

Filipa Vera Jardim
Filipa Vera Jardim
Mantém o blogue literário “Chez George Sand” onde escreve regularmente.

XXVII. História.

Minha memória,

Foi exactamente assim que tudo se passou. Nem uma vírgula a mais nem uma vírgula a menos. Os factos aconteceram dessa precisa forma. Talvez se fosse hoje, as coisas não tivessem sucedido assim mas não foi hoje, foi ontem.

O passado existe e persiste contigo, minha memória.

Às vezes, dou por mim a imaginar como teriam sido as coisas se se tivessem passado hoje…

Hoje, eu sou efectivamente uma pessoa diferente e tu, tu minha memoria estás cheia de imagens, de acontecimentos e de recordações que me trazes amiúde e, sem dúvida nenhuma, influenciam e condicionam os meus actos e os meus pensamentos.

Não se age no vazio, age-se através de pressupostos e de vivências. Até as crianças pequenas, com tão pouco para lembrar, se apoiam nos poucos dias que passaram, nos sorrisos que sorriram, nas lágrimas que choraram e em tudo o que fizeram e, por isso mesmo, aprenderam.

As lembranças são sempre impulsionadoras. Através delas tentamos melhorar, agir de um modo que nos parece mais correcto agora e, daqui para a frente. No entanto, há que nunca esquecer que o daqui para trás também existiu e existiu daquela forma e não de outra.

Hoje, pela tua mão, minha memória olho para o passado e às vezes tenho pena. Devia ter feito diferente, seriam outras as minhas lembranças, muito mais condizentes com o meu presente e quem sabe se com o futuro que venho delineando.

O passado existe com a força daquilo que aconteceu num respectivo momento. A candeia que o ilumina é uma candeia antiga, aos nossos olhos de agora com uma luz nem sempre favorável, nem sempre moderna, nem sempre correcta. É, no entanto, importante olhar para esse passado e percebe-lo, porque é através dele e de tudo o que nos permitiu experienciar que se consegue trilhar o presente e projectar um futuro.

Quando o amanhã for passado, este amanhã que hoje acarinhamos como quase perfeito e se transformar num aglomerado de acontecimentos, alguns deles menos positivos à luz dos nossos novos olhos, não podemos esquecer-nos que sem ele, possivelmente não teríamos este novo olhar, esta nova forma de pensar, este presente e quem sabe, se um amanhã.

Negar a História é negar não só a origem, como todo o processo de crescimento que nos faz hoje existir e querer persistir.

No passado enraíza-se não só o presente, como tudo aquilo que sonhamos para construir o que será.

Aceitar a História é perceber que apesar de a luz poder permanecer, a candeia que a transporta vai mudando e, os olhos também. Permanece a nossa humanidade plástica, empreendedora e adaptável em processo permanente de crescimento e, porque não, também sonho, tão importante para se fazer futuro.

 


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