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HomeOpiniãoCrónicaCarta à minha memória

Carta à minha memória

XXXVIII. Pássaros.

  • 17 Janeiro, 2021
  • Filipa Vera Jardim
  • Posted in Crónica
  • 1

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Minha memória,

Acordei com os gritos dos pássaros. Passam velozes pela minha janela em bandos estridentes, a piar sobre tudo e mais alguma coisa que lhes passa nas suas cabeças redondas e profundamente brancas. São insignificantes eu sei, como insignificante é quase tudo o que vai acontecendo de fora da minha janela.

Cá dentro, o panorama é interior. Absolutamente interior. Tão interior como pode ser a interioridade de objectos e ausências, de muitos objectos e demasiadas ausências.

Debruço-me na janela e grito aos pássaros que passam. Rodam levemente a cabeça e decidem pousar, devagarinho, um a um na corda do meu estendal.

Se visses minha memória, este equilíbrio balouçante de pássaros no meu estendal, nunca mais os esquecerias.

Os pássaros não falam, toda a gente sabe disso. Na maior parte dos casos piam. Outras vezes, cantam devagarinho, as cabeças brancas postas de lado como quem comtempla e escuta.
Se me puser a pensar, quase percebo que os pássaros não são bem deste mundo. Não são deste mundo de terra e chão. De andar para a frente com os joelhos trôpegos, do levantar e do sentar. Do deitar à espera que a leveza chegue e ela nunca chega…

Será a morte uma leveza um dia quando chegar? Quero-te ao meu lado minha memória para me amaciares o caminho. Recordar é isso, é ter-me aconchegada nos teus braços para me amaciares sempre o caminho. Qualquer que ele seja e para onde quer que vá. Mesmo que acabe ali de repente numa curva e não parta para mais longe do que o sítio da minha alma.

Lá estão eles, pássaros balouçantes e expectantes. A viverem no espaço todo. O ar circula-lhes por dentro e por fora e traz com ele e para eles, imagens velozes. Sempre e cada vez mais velozes. Estão ali, os pássaros e, sabem-me presa deste lado onde há chão e terra e ausência e um silencio que não é de pássaro mas de gente. Rodam as suas cabeças brancas com ângulos e rotação muito superiores ao meu e, vêm-me toda. Por dentro até, de mim e de toda esta interioridade que jaz aqui.

Gostava de um dia ser pássaro, contigo minha memória, feita de penas e leveza e levantarmos ambas voo. Lembrar me ias, certamente, do horizonte primeiro que tudo. Depois, dos campos e das flores, do mar a galope pelo mundo redondo e das coisas de fora que se habitam de vento. Nesse dia, saberia abrir os braços e traçar infinitos. Percorre-los um a um. Embalá-los um a um e dizer-lhes que assim, num destino de pássaro é muito mais fácil ser- se feliz.

Fecho agora a janela. Os pássaros partiram. Resta o meu tempo. Todo o tempo aqui preso, feito de terra e chão a chorar-se, inconformado. O chão chora inconformado de ter nascido preso a um mesmo lugar. E eu com ele, toda membros e estacas.

Quando me lembrarás tu minha memória que o meu destino não é apenas este? Que o chão a que pertenço não passa de uma rampa de lançamento e bastar me -à abrir os braços. Abrir bem os braços, sem medo e sem culpa.

Pede-me pois, minha memória que alcance o horizonte. Por cima de todos os cinco mares. Como se o horizonte não estivesse no fundo rotativo do infinito. Como se os cinco mares não se dessem as mãos, em toda a sua absoluta lonjura e a água não soubesse voar…

 


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Mantém o blogue literário “Chez George Sand” onde escreve regularmente.

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