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Quarta-feira, Março 27, 2024

Cientista russa defende livre acesso a artigos científicos online

sci-hub

A divulgação gratuita de mais de 48 milhões de artigos científicos está a causar problemas a uma investigadora que fundou um site chamado “o Pirate Bay da ciência”.

Alexandra Elbakyan, neuro-cientista de origem cazaque, fundou em 2011 o Sci-Hub, que fornece de forma gratuita a quem o visita um vasto leque de artigos científicos que, de outra forma, custariam uma elevada verba aos investigadores que precisam de os consultar. Porém, a cientista foi processada por uma editora, a Elsevier, que recorreu aos tribunais para a obrigar a fechar o site, exigindo ainda uma indemnização de 750 a 150 mil dólares por cada artigo pirateado.

Alexandra ElbakyanApesar da ordem judicial, Elbakyan recusa-se a cumprir tal ordem emanada por um tribunal nova-iorquino; a cientista explicou que se sentia frustrada por não conseguir pagar os artigos que precisava de consultar para o seu trabalho, decidindo por isso criar o site, que tem registado centenas de downloads diários de vários trabalhos científicos.

Citada pelo Science Alert, a investigadora russa disse que “pagar 32 dólares é de loucos quando precisamos de ler dezenas ou centenas destes trabalhos para fazer investigação. Consegui estes trabalhos pirateando-os”, defendendo que todos deveriam ter acesso ao conhecimento independentemente dos rendimentos que tenham.

Não são apenas os investigadores com parcos recursos que apoiam a iniciativa da cientista. Mesmo universidades de referência como Harvard e Cornell admitiram que não podem continuar a pagar as subscrições de publicações científicas, que se tornaram demasiado dispendiosas. Mais de 15 mil cientistas declararam boicote à editora Elsevier devido a cobrar taxas de paywall demasiado altas.

Os editores do Science Alert elogiam o trabalho das editoras científicas, graças às quais os trabalhos de investigadores foram publicados e dados a conhecer muito antes da internet os disseminar, porém, cada vez mais pessoas se questionam se de facto estão a ajudar a essa divulgação; tem crescido o número de casos de “predatory publishers” (editores-predadores, numa tradução literal) que pressionam os investigadores a pagar para divulgar os seus trabalhos nas suas empresas, sob pena de caírem no esquecimento.

Essa mesma situação foi denunciada por Alexandra Elbakian numa carta aberta aos juízes do tribunal nova-iorquino que a condenou: a cientista alerta para a pressão a que estão sujeitos os colegas para lançarem ou manterem uma carreira.

E alega que é a Elsevier quem está a operar de forma ilegal: invocando o artigo 27º da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, que institui que “todos têm o livre direito de participar na vida cultural da comunidade, de desfrutar da arte e de fazer parte do avanço científico e dos seus benefícios”. A cientista faz ainda a distinção entre esta questão e a questão da pirataria na indústria cinematográfica ou musical, que está a causar perdas financeiras aos criativos. “Todos os trabalhos no website são escritos por investigadores, que não recebem dinheiro daquele que a Elsevier recolhe”.

E acusa: se a editora conseguir encerrar o projecto ou empurrar para a darknet “estará a demonstrar que o público não tem o direito ao conhecimento”.

“Temos de vencer a Elsevier e outros editores e mostrar que o que estas companhias comerciais estão a fazer é fundamentalmente errado”, sublinha.

Enquanto o processo decorre, e enquanto a editora tenta encontrar uma forma de conseguir a indemnização pedida (a cientista encontra-se em solo russo e não tem quaisquer bens nos EUA), o Sci-Hub continua acessível.

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