Talvez, entre quatro paredes, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso repita esses três desejos como um mantra.
O primeiro desejo é público, expressou-o quando jornalistas e eleitorado começaram a questionar suas ideias dos tempos da sociologia comparadas às práticas políticas.
O segundo desejo pode ser deduzido a partir do artigo que escreveu neste Domingo (6), no qual muda o tom de ataque ao governo Dilma. Encarna um conciliador: “Só nas crises se fazem grandes mudanças. Estamos em uma. Mãos à obra.”
Nos últimos dois anos, em artigos publicados em O Globo e O Estado de S. Paulo, FHC pediu o impeachment e a renúncia da Presidente Dilma Rousseff. Agora surpreende seu leitor com uma plataforma de boas intenções, reformas inumeráveis, que, sugere, devem ser incorporadas por todos os líderes de bom senso no Brasil. A questão, explica com outras palavras, não é mais PT ou Dilma e sim a manutenção da ordem vigente.
Lula, ao contrário, acha que a “questão” é PT, sim e, depois da prisão e interrogatório na Sexta-Feira (4), tomou a briga para si, exaltou o tom do seu discurso e criou um bordão para a crise “assim vocês não pegarão a jararaca”.
Aproveitou para anunciar o retorno à corrida presidencial e a sua popularidade subiu, segundo o Vox Populi*.
O terceiro desejo de FHC é, aqui, mera especulação, suposição a julgar por sua volta às manchetes de jornal através de novas denúncias da ex-amante, Mírian Dutra, com a qual tem um filho.

Em entrevista ao jornalista Joaquim de Carvalho, do DCM, Mírian Dutra, ex-apresentadora da Globo, conta que o ex-presidente tem um apartamento em Nova York – segundo ela, no Trump Tower — e outro em Paris. “O Tomás fica no apartamento do pai em Nova York e, em Paris, naquele apartamento que está em nome do Jovelino Mineiro. Ele é, na verdade, do Fernando Henrique”, afirmou. Mirian diz que Jovelino, um ex-aluno de Fernando Henrique, “é um operador dele” e que teria um fazenda de FHC em seu nome.
Se o sossego do FHC está ameaçado, o do Brasil, mais ainda a julgar por dois outros artigos, veiculados neste final de semana. Eles levam a assinatura dos globais Merval Pereira e Ricardo Noblat e afirmam que os militares estão prontos para entrar em ação contra as “milícias petistas”.
Merval conta: “Militares colocaram tropas à disposição para garantir a ordem pública (…) Os generais estão temerosos com a conjugação das crises política e econômica e com o que possa derivar disso. Cobram insistentemente aos seus interlocutores do meio civil para que encontrem uma saída”
Noblat confirma: “A crise ganhou um novo componente. Ele veste farda e tem porte de arma. Sua entrada em cena, ontem, foi o fato mais importante do dia em que o país quase parou, surpreso com o que acontecia em São Paulo”.
“As milícias da TV Globo”
O termo – milícias petistas – é completamente inadequado, porque se refere aos civis, militantes sociais, trabalhadores e formadores de opinião, entre intelectuais e políticos, que saíram em defesa de Lula e da democracia nas ruas e nas redes sociais. Chico Buarque, eterno guardião das liberdades democráticas, está entre eles.
Por outro lado, fazendo a mesma analogia, pode-se dizer que Merval e Noblat compõem as “milícias da TV Globo”. Estão entrincheirados e têm poder de fogo já que inflamaram a tocha da ditadura em 1964, colocando a comunicação ao serviço dos interesses militares.
O juiz Sergio Moro está do lado da Globo, a julgar pela cena de cobertura da prisão do Lula, à altura de um grande fato jornalístico, como a visita do Papa. Só que a prisão do Lula deveria ter sido mero episódio de uma operação investigativa, realizada dentro dos moldes constitucionais. Não foi.
O ex-governador Tarso Genro, que foi ministro da Justiça no governo Lula, avalia que a Lava Jato assumiu “uma dimensão fundamentalmente política contra uma facção da sociedade”. Segundo ele, a operação seria saudada pela sociedade se buscasse atingir a corrupção de todo o sistema político – e não apenas do PT.
“É nítido nas investigações e nas declarações do juiz Moro. Primeiro apontam uma pessoa, depois tratam de produzir provas contra ela. Isso é um procedimento de exceção à margem da legalidade constitucional. Está gerando um direito paralelo, uma Constituição paralela”, diz Genro.
Voltando ao início deste texto e ao FHC, talvez ele não esteja sozinho, nesse exato momento, no desejo de que o passado seja esquecido: parece que a direita foi longe demais nas maquinações com a imprensa e criou um monstrinho tão feio quanto insustentável.
* O instituto Vox Populi foi o primeiro a medir o impacto da operação deflagrada pelo juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Lula. Apresentou mais de 15 mil questionários válidos comprovando a alta da popularidade de Lula; 56% dos entrevistados desaprovaram a inclusão de Lula na Lava Jato e 43% desaprovaram a conduta de Moro (mais do que os 34% que aprovam); além disso, 65% viram exagero na condução coercitiva e 57% disseram acreditar na palavra de Lula; para completar, no dia de ontem, nada menos que 63% dos entrevistados disseram ter visto a entrevista de Lula na sede do PT.
Nota: A autora escreve em português do Brasil
Fontes: Brasil 247 e DCM