
Jorge Tomé, líder do Banif entre 2012 e 2015, acusou hoje, na Comissão de Inquérito ao Banif, o Executivo de Passos Coelho e o Banco de Portugal de terem sido responsáveis, «numa conjugação de esforços», pela introdução no banco de 1,1 mil milhões de euros em 2013, uma operação desaconselhada, na altura, pela Troika, «por não haver dinheiro». Na primeira sessão, Joaquim Marques dos Santos, antigo administrador do banco, confessou-se «surpreendido» pela resolução do Banif em Dezembro de 2015. A TVI foi outra das visadas.
Começaram hoje os trabalhos da Comissão de Inquérito ao Banif, um processo que promete ser longo e encerrar muitas contradições, e que, desde logo, está a ter falta de colaboração por parte das entidades europeias.
No primeiro dia de trabalhos, destacaram-se os ataques de Jorge Tomé, o último presidente-executivo do Banif antes da intervenção do Banco de Portugal (BdP), em várias direcções, visando a Comissão Europeia, o anterior Governo e o próprio supervisor bancário.
JorgeTomé afirmou pretender provar «as contradições da Comissão Europeia» e mostrar o «volte-face» do Banco de Portugal. Uma das principais visadas do ex-presidente executivo foi a entidade presidida por Carlos Costa, a quem Tomé acusou de, «numa conjugação de esforços» com o Governo de Passos Coelho, ter decidido a injecção de 1,1 mil milhões de euros no banco, em 2013.
De acordo com o responsável, nem a Troika nem a comissão executiva do banco estavam de acordo com esta intervenção, tendo sido tudo decidido pelo Governo e BdP.
«O Estado português e o Banco de Portugal conjugaram esforços e fizeram com que o Banif fosse capitalizado com 1,1 mil milhões, 400 milhões nos chamados instrumentos híbridos e 700 milhões por acções», defendeu Jorge Tomé.
Segundo o responsável, a Troika, que estava no país desde 2011, estava «muito relutante em relação à capitalização do Banif, chegando mesmo a dizer que não havia dinheiro». Jorge Tomé acusou ainda Bruxelas de querer transformar o Banif no que chamou de «banco das ilhas», reduzindo a sua estrutura significativamente.
O ex-presidente não deixou de aludir à célebre notícia da TVI a reportar o fecho do Banif, algo que terá ditado, «em definitivo», a resolução do banco, face à fuga de depósitos daí decorrente.
Marques dos Santos «surpreendido» com resolução do banco
Na primeira sessão do dia, Joaquim Marques dos Santos, antigo administrador do Banif, mostrou-se «surpreendido» com a resolução do banco, decidida em Dezembro último. Questionado pela Comissão de Inquérito sobre vários assuntos, nomeadamente a operação do banco nas ilhas Caimão, o responsável defendeu ter sido inevitável, para «domiciliar as remessas dos emigrantes que não queriam utilizar o banco no continente», tendo havido «necessidade de ter um local onde os depósitos dos emigrantes pudessem ser domiciliados».
Além disso, acrescentou o responsável, havia ainda «operações do Brasil que transitavam por Caimão, operações de exportação que podem ser domiciliadas em qualquer local». O ex-administrador garantiu, no entanto, que «o Banif nunca se financiou por esses canais».
Quanto ao Banif Brasil, Marques dos Santos reconheceu a existência de problemas, que o «Banco do Brasil veio a detectar mais tarde e que culminou num processo» em que foi envolvido, alegadamente, «por não ter reportado atempadamente».
O antigo administrador adiantou ainda que «as operações correram mal no Brasil e ficaram por pagar, isto, porque a Comissão Executiva residente excedeu os seus poderes», o que terá constituído «uma surpresa» para todos no banco.
Já no que se refere às alegadas ligações entre o Banif e a Operação Lava-Jato, Marques dos Santos admitiu ter conhecido Allan Toledo, vice-presidente do Banco do Brasil, negando no entanto conhecer a ligação ao Banif Brasil.
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