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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Merhawi, um ciclista Eritreu na Serra

Isabel Lourenço
Isabel Lourenço
Observadora Internacional e colaboradora de porunsaharalibre.org

Merhawi Kudus é um jovem Eritreu, ciclista do WorldTour que agora reside em Portugal. Durante o seu período de treino na Serra da Estrela para retomar a competição pós-confinamento, tivemos a oportunidade de o entrevistar.

Actualmente na Equipa Astana Pro Team, uma das melhores do mundo, Merhawi encanta-nos com o seu sorriso franco e o entusiasmo pelo país que o acolheu, durante toda a entrevista.

Assinala-se hoje, domingo dia 26 de Julho, 5 anos desde que os dois primeiros ciclistas africanos negros cruzaram a linha de chegada nos Champs Elysées terminando o Tour de France, foram eles Merhawi Kudus e Daniel Teklehaimanot, ambos da Eritreia.

Merhawi conta-nos um pouco como foi a sua entrada no mundo de ciclismo e como um país como a Eritreia se tem destacado nesta modalidade.

Desde criança que adorava andar de bicicleta, e admirava os ciclistas nacionais e internacionais. A Eritreia é uma ex-colónia Italiana e o gosto pelo ciclismo foi um dos legados desse tempo. A nossa juventude segue os nossos ciclistas como outros países seguem os jogadores de futebol. Sendo um país com montanhas e de altitude, por isso também se pode dizer que o nosso forte na corrida são as montanhas.

 

A tua equipa, a Astana, tem ciclistas de vários países, és o único africano?

Sim os meus colegas são da Dinamarca, Bélgica, Itália, Espanha, Rússia, Cazaquistão, e Colômbia, eu sou o único africano. No WorldTour (circuito mundial do ciclismo) a representação africana continua a ser reduzida, mas pensamos que existem todas as condições para aumentar a nossa participação. São necessárias mais oportunidades para que os ciclistas africanos possam competir e treinar na Europa, disso não tenho dúvidas.

Quais os ciclistas portugueses com quem tens convivido mais?

Com o Rui Costa, Nelson Oliveira, Ruben Guerreiro, Miguel Salgueiro e Marcelo Salvador mas conheço todos os que participam nas provas do WorldTour. São bons ciclistas com resultados que mostram a capacidade dos ciclistas portugueses.

Estás já há vários dias a treinar aqui na Serra da Estrela, estando hospedado na aldeia da Erada, conta-nos o que pensas das condições de treino e do acolhimento que tens tido.

Sem dúvida que a Serra da Estrela é um excelente local para treinar. Tem várias subidas bastante íngremes e com características distintas. Na verdade, fiquei surpreendido pela positiva com a oferta em termos de percursos disponíveis. Mas além dos treinos que têm corrido muito bem tenho que referir a hospitalidade portuguesa que é única. Tive oportunidade de conviver com as crianças da Erada e com a população da aldeia, tem sido uma experiência muito enriquecedora.





Os ciclistas têm regimes alimentares muito rígidos, como consegues seguir a dieta em Portugal?

Muito facilmente, há imensa variedade de legumes e frutas de qualidade e eu adoro peixe. O peixe em Portugal é incrível e claro o Bacalhau, adoro Bacalhau de todas as formas. Também é fácil porque em geral quando como em restaurantes há sempre abertura a mudar os pratos se necessário. Isso faz parte sem dúvida da forma de ser dos portugueses, a tal hospitalidade e abertura. Sinto-me Benvindo e isso é muito importante.

Depois desta experiência na Serra da Estrela e também dos treinos perto de Lisboa, gostarias de participar numa Volta a Portugal?

Sem dúvida que gostaria de participar, a Volta a Portugal é muito dura devido ao calor mas também porque são 12 dias e as equipas portuguesas são fortes.

Tens tido dificuldade para te adaptares ao estilo de vida europeia?

A vida na Eritreia é totalmente diferente em quase todos os aspectos. Na Europa tenho melhores condições técnicas e materiais, treinar cá exige outro tipo de disciplina e a forma de vida é também muito diferente. Claro que sinto falta da minha família e amigos, mas em Portugal já tenho amigos inclusive fora do ciclismo, o que me ajuda na integração e a superar as saudades.

Qual o sonho da tua carreira?

Vencer uma etapa de uma Grande Volta.

 

 

Mini CV Merhawi Kudus

Nome Merhawi Kudus
Data de nascimento 23/01/1994
Nacionalidade Eritreu
Profissão Ciclista profissional
Ciclista desde 13 anos de idade
Equipas representadas
  • ASBECO (Eritreia);
  • Centro Mundial de Ciclismo (África do Sul e Suíça);
  • MTN-Qhubeka;
  • Dimension Data;
  • Astana
Principais resultados
  • 1º Tour do Ruanda 2019;
  • 2º Tour de Langkawi 2014;
  • 3º Tour da Turquia 2019;
  • Campeão Nacional da Eritreia 2018
Participações
  • Tour de France 2015;
  • Giro d’Itália 2016;
  • Vuelta a España 2014, 2016, 2017, 2018;
  • várias participações em Clássicas “Monumentos” e em Campeonatos do Mundo

 



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