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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Nós e os outros

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

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Não se pode pretender resolver este tipo de problemas com medidas administrativas ou com “soluções” imediatas e fáceis. Também não é boa estratégia comentar, de forma leviana e impulsiva, nas redes sociais à espera de um grande número de likes. Sabemos que a turba gosta de sangue. Alguma comunicação social também. O populismo em nada ajuda e, quando se trata de grupos em confronto, atiçar o ódio só pode conduzir a mais ódio e violência. À irracionalidade não se pode responder com irracionalidade. É preciso ponderação, bom senso e ir à raiz dos próprios problemas e não ficar pela “solução” cómoda e casuística.

Sabemos, dolorosamente, pela história do século XX que, fomentar ódio entre grupos, seja a que pretexto for, não conduz nunca a bom resultado. Pelo contrário, está na origem das maiores tragédias humanas. Nos grupos acontece o mesmo que nos indivíduos: quando se potencializa o mal, é mal o que se desenvolve. Quando se usa a humilhação continuada em relação ao outro, há um momento em que a revolta surge…

A ponderação e o uso de estratégias várias e conhecidas (como por exemplo, a cooperação, a mediação e outras) seria um bom começo. Que deveria ser continuado com medidas efectivas de justiça social. Os envolvidos, todos os envolvidos devem ter voz! Não é uma tarefa fácil. Requer coragem. Mas não é isso que se espera dos decisores políticos? Daqueles que têm responsabilidades governativas na cidade é expectável que tenham capacidade de ouvir os cidadãos e que actuem em conformidade com a justiça e não apenas no sentido de possíveis votos!

A multidão é rápida a julgar e a condenar, fazendo generalizações apressadas que estão, muitas vezes, na origem de processos de discriminação. Cada um que assim age esquece-se sempre da sua humanidade e, portanto, da sua vulnerabilidade. Esquece-se que todos estamos sujeitos, em qualquer momento e por qualquer razão a ser vítimas de discriminação. Por isso, “paladinos da liberdade e da igualdade” não deviam ser apenas alguns. Deveríamos ser todos!

O que é triste é que falta a muita gente racionalidade para analisar as situações, humildade para reconhecer as fragilidades e vontade para melhorar o que está mal. Falta reconhecer que não se pode ter só direitos sem deveres, mas que também não se pode pedir deveres a quem não tem direitos. Estes são inseparáveis, mas… nos dois sentidos!

Na precipitação e na arrogância dos juízos, é sempre esquecido que o outro está em nós e nós somos o outro, também!

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores e não reflectem necessariamente os pontos de vista da Redacção ou do Jornal.

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