Poema inédito de Beatriz Aquino
O Olimpo ou nada
Não há nada que eu te diga que possa te convencer.
E nem sei mais do que quero te convencer.
Mas quero.Hoje não explico nada.
Faço valer a minha liberdade de fêmea.
-e nem era isso que eu queria dizer-
Tampouco quero ser barroca.
Ou etérea .
Dois estados nos quais me insisto.
Hoje quero apenas o sopro do mundo,
seco e realístico, sem traduzir nada.Essa manhã busquei o sol pois o vento estava frio.
A brisa do Atlântico começa a refrescar Lisboa e sinto promessas de um belo outono.
Bem ao gosto dos poetas.
Mas ainda quero mais do sol.
E sei que dias insuportavelmente quentes ainda virão.
Ia dizer que isso se dá porque a natureza não presta contas de seus atos.
Mas estou tão farta de explicar as coisas.
Justifico-me dizendo que estou impaciente assim porque sofro.
Mas não sofro.
Nem me exalto em alegria.
Estou normal.
O que é terrivelmente preocupante.Mas eu contava que buscava o sol e foi bom o jeito que ele de mansinho aqueceu a minha pele.
Como um amante cuidadoso.
Tão bom sentir um cuidado quente.Mas é isso.
Hoje não estou pictórica.
Invoco os deuses romanos, chamo por Adélia, por Nélida ou Hilda.
Mas nada.
Sou comum e pequena.
Só mais um alguém investigando atentamente as prateleiras frias do supermercado.
Só uma mulher que quer escrever sobre o sol e não consegue.***
Não posso fazer menos do que sentir assim,
desse modo rude e brusco.
O qual transformo em doçura.Há homens que são de éter.
Cabe à mim dar-lhes a forma justa para que existam.
Já que a maioria se esconde na sombra de suas sombras.
Eu vi e sei.É uma simbiose animalesca que busco.
Àquela da alma.
A mais cruel de todas.Não há quem possa abarcar a vastidão que mora em meus olhos.
Por eles vazam todo o cosmos.
O infinito em mim é pequeno.
O engulo em sôfregos
e ainda me sobra espaços para três estrelas.Não há laço que dome a supernova que carrego no peito.
Quero e exijo o amor mais contundente.Minha boca não silaba artifícios.
É de anjos e bárbaros que falo.
De escalpos e inquisidoras fogueiras.Da ponta dos meus pés à curva dos meus lábios
é a verdade que mora e ordena.
O Olimpo ou nada.
Ou nada.
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