A questão, tal qual me surge, lembra aquela, bem colocada, de saber o que teria aparecido primeiro, se o ovo se a galinha.
Transposta essa para este post, a pergunta é outra, o que apareceu primeiro?
O grunhido[1] ou o papelinho?
Dizia um amigo que nem Mia Couto se livrara da tendência de enveredar pelo trocadilho curto, ele que é hábil nas palavras. Certamente que Mia não foi o único e instalou-se a generalizada tendência, com sucesso absoluto. Quanto mais curto, mais os cliques no “gosto”, chegando estes a atingir centenas a que se juntam largas dezenas de comentários, esses inexplicavelmente longos e quase sempre adulatórios.
O marketing facebookiano, sempre atento, passou a disponibilizar ambientes coloridos para trocadilhos e grunhidos[1] e, assim, passar a concorrer com o seu mais aguerrido concorrente, o twitter[2].
E que tal regressarmos ao tempo da comunicação escrita?
[1]
Nem sequer é para mim uma tentação de neófito (escrever no Twitter). Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.”
José Saramago, entrevista à GLOBO, Setembro de 2009
[2]
(…) Um dos maiores riscos para o mundo é ter um presidente dos EUA que governa pelo Twitter como um adolescente, com mensagens curtas, sem argumentação, que, para terem efeito, têm de ser excessivas e taxativas.(…) Se acrescentarmos que muitos consumidores das redes sociais obtêm aí quase toda a sua informação, percebe-se os efeitos devastadores no debate público e como servem para a indústria das notícias falsas e para alicerçarem o populismo com boatos, afirmações infundadas, presunções, invenções (…)Ler só aquilo com que concordamos pode ser satisfatório psicologicamente, mas destrói o debate público fundamental numa sociedade democrática.”
José Pacheco Pereira in “A ascensão da nova ignorância”
Exclusivo Tornado / Conversa Avinagrada