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João de Sousa

Sexta-feira, Junho 27, 2025
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Está em curso o terceiro turno contra Lula

Esta foi a semana em que as forças de direita e extrema direita, derrotadas por Lula em 2022, partiram para a revanche, para um terceiro turno em que buscam encurralar o governo.

Embora a Câmara tenha aprovado o novo regime fiscal, endurecido pelo relator com travas contra o gasto, as “boiadas” aprovadas nas últimas horas é que dão o tom da relação conflitiva desenhada entre os dois poderes. A bancada do agro ligou o trator.

Num primeiro golpe, a comissão mista especial estraçalhou a MP 1154, a que redesenhou a Esplanada e o organograma do governo, retirando competências importantes do Ministério do Meio Ambiente. Nunca vi o Congresso Impedir um presidente eleito de organizar seu próprio governo. Que nome pode ter isso senão sabotagem?

Horas depois o plenário aprovou a urgência para votação do famigerado  marco temporal para terras indígenas e ainda pisoteou o Senado, restaurando artigos que afrouxam a Lei da Mata Atlântica, o bioma brasileiro com a diversidade mais ameaçada. Pontos para o agronegócio.

Centrão, ruralistas e bolsonaristas não vão parar por aí. Eles querem também aprovar o PL 191, que permite a exploração de minérios, petróleo e recursos hídricos em terras indígenas. Atualmente estas atividades são proibidas na prática porque só podem acontecer com autorização do Congresso e anuência dos povos da reserva. Planejam ainda derrubar o decreto de Lula que impõe a exigência de visto para turistas dos Estados Unidos, Canadá e Austrália, países que exigem o visto de brasileiros. E derrubar também outro decreto relacionado com o porte de armas.

Governo sem alternativa – Sem votos na comissão mista especial da MP do organograma para derrotar ou mudar o parecer de Isnaldo Leitão, os governistas tentaram ontem disfarçar a derrota votando a favor do texto com o argumento de que tudo fora negociado. Na verdade, o máximo conseguido foi a redução dos danos que seriam impostos ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Em vez de perder todo o poder sobre a Conab, a pasta do petista Paulo Teixeira vai “compartilhar” algumas decisões com a da Agricultura. Na prática ficou assim: o que diz respeito à agricultura familiar, fica com o MDA. O que interessa ao agro vai para a Agricultura.

De resto, a pasta de Marina Silva perdeu a autoridade sobre o Cadastro Ambiental Rural, o CAR,  transferida para a pasta de Gestão, e a subordinação da Agência Nacional de Água, transferida para Integração Regional. A demarcação de terras indígenas saiu do ministério criado por Lula exatamente para cuidar dos indígenas, e foi transferida para o Ministério da Justiça. O COAF não irá mais para a Fazenda, ficando no Banco Central. A ABIN não será mais transferida para a Casa Civil, voltando para o GSI.

Pior ainda: mais tarde os governistas votaram também a favor do afrouxamento da Lei da Mata Atlântico, porque simplesmente não tinham alternativa.

Marina, sem dúvida, foi a mais atingida pelas mudanças de competência de ministérios impostas pelo relator da MP  1154. Melhor dizendo, atingido foi o que ela representa no Governo, o compromisso com a defesa do meio ambiente, que muito contribuiu para a volta do Brasil ao cenário internacional através da ousada diplomacia presidencial de Lula. Antes ainda da passagem das duas últimas boiadas – a urgência para o marco temporal e as mudanças na Lei da Mata Atlântica – Marina declarou que estão querendo fazer o governo Bolsonaro dentro do Governo Lula. Definição perfeita.

Foi um dia muito pesado para ela, que enfrenta também a queda de braço com a Petrobrás, Ministério das Minas e Energia e sabe-se lá quem mais em torno da exploração de petróleo na foz do Amazonas. Talvez tenha parecido, a Marina,  que os articuladores do Governo brigaram pela pasta do Desenvolvimento Agrário, revertendo parte dos danos, mas não pelo do Meio Ambiente. A verdade é que eles até tentaram mas esbarraram numa muralha: o interesse do agro e a resistência a Marina. A matéria ainda vai ao plenário mas os sinais de ontem foram de que o trator ali está ligado e puxando os interesses do agro e do anti-ambientalismo. Sim, temos isso no Congresso Nacional.

Há pouco a fazer. Como Lula vive dizendo, foi o povo brasileiro que elegeu este Congresso. Ontem o presidente reuniu-se com alguns senadores, alguns nem tão próximos. Está aí um sinal de que, consciente da gravidade da situação, ele agora vai de fato assumir mais a interlocução com o Congresso. Mas o que a direita do Congresso quer foi bem explicitado ontem pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, ao dizer que o governo precisa compreender o novo tempo, poder e protagonismo do Congresso. Ou seja, que Lula terá que compartilhar com os congressistas o poder que lhe foi conferido pelos eleitores.

Que regime político é este, que não é parlamentarismo nem presidencialismo?


Texto original em português do Brasil

Brasil pode ter mais de 1 milhão de pessoas em escravidão contemporânea

O Brasil tem mais de um milhão de pessoas vivendo em situação de escravidão contemporânea, o que corresponde a cinco em cada mil habitantes, ocupando a 11ª colocação, em números absolutos, neste trágico ranking mundial de 160 países. A estimativa é da Fundação Walk Free.

O número exato a que chegou a ONG é de 1.053.000 pessoas em escravidão contemporânea, o que abrange trabalho forçado, escravidão por dívida, casamento forçado, práticas de escravidão e análogas à escravidão e tráfico de pessoas.

As informações, relativas ao ano de 2021, constam no relatório Índice de Escravidão Global 2023, divulgado nesta quarta-feira (24). Segundo o levantamento, fatores como os efeitos da pandemia de Covid-19, conflitos e deslocamentos resultantes de questões climáticas agravaram esse quadro.

A Walk Free aponta, ainda, que os 20 países mais industrializados do mundo, que formam o G20, são responsáveis pela compra de US$ 468 bilhões anuais em produtos com risco de origem no trabalho escravo.

Segundo o estudo, os países com maiores índices, proporcionalmente à sua população, são Coreia do Norte, com 10,4%; Eritreia 9%, Mauritânia, 3,2%, Arábia Saudita, 2,1% e Turquia, 1,5%.

À Agência Brasil, o auditor fiscal do trabalho Lucas Reis, que atua em Santa Catarina, explicou que uma sequência de eventos, ao longo dos últimos anos, enfraqueceram a salvaguarda de direitos dos trabalhadores, entre elas a reforma trabalhista, aprovada no governo de Michel Temer e que, para ele, “rebaixa” condições de trabalho. “Não teve nenhum dado positivo da reforma trabalhista”, sintetizou.

Em todo o mundo, a entidade calculou que havia, em 2021, 50 milhões de seres humanos submetidos a condições degradantes dessa natureza, sendo 12 milhões de crianças e a maioria, 54%, de mulheres e meninas. Desse total, estima-se que 27,6 milhões eram vítimas de trabalho forçado e 22 milhões estavam em um contexto de casamento forçado, também encarado pela Organização das Nações Unidas como uma forma de escravidão.


Com agências| Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

Hoje é o dia de homenagear quem produz o que comemos

25 de maio marca o Dia da Trabalhadora e do Trabalhador Rural para a reflexão sobre a importância do trabalho exercido por mais de 18 milhões de pessoas no campo brasileiro, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq/USP).

E como a vida de quem vive do trabalho no campo não tem sido fácil, neste ano “celebramos a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e com isso voltarmos a produzir comida de verdade sem agredir o meio ambiente”, diz Vânia Marques Pinto, secretária de Política Agrícola e Agrária da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).

Vânia afirma estar esperançosa com o novo governo porque “a violência tem tomado conta da vida no campo” como mostra a pesquisa da Pastoral da Terra, ligada à igreja católica, foram registrados 2.018 conflitos pela posse da terra em 2022, um a cada quatro horas. “E quem leva a pior é sempre a trabalhadora e o trabalhador”, reforça a sindicalista.

Uma reportagem de Verônica Tozzi no site da Contag lembra das dificuldades enfrentadas com o abandono das políticas em favor da agricultura familiar e da violência perpetrada pelos latifundiários contra quem vive do trabalho com o aumento exorbitante do uso de agrotóxicos e da exploração do trabalho escravo, em prejuízo da produção sustentável e de alimentos saudáveis.

O presidente da Contag, Aristides Santos afirma à Verônica, que “a produção de alimentos é importante e deve ser uma Estratégia de Nação. Durante todo período da pandemia lutamos incansavelmente para que fossem aprovadas medidas emergenciais para garantir investimentos na produção de alimentos saudáveis e auxílio emergencial para trabalhadores e trabalhadoras rurais”.

Pare ele, com o novo governo já se vê “alguns avanços, mas ainda faltam algumas medidas e estamos com expectativas para o atendimento à pauta do Grito da Terra Brasil e também quanto ao anúncio do Plano Safra”.

Afinal, destaca Vânia, “a agricultura familiar e responsável por pelo menos 70% da produção de alimentos no país”, precisa, portanto, “ser valorizada”. E emenda a necessidade de “termos uma produção agropecuária que não agrida a natureza” e, para isso, “necessitamos uma ampla revisão das liberações dos agrotóxicos feitos pelo governo anterior, que têm causado adoecimentos em trabalha na terra, contaminação do solo e da água e vêm provocando doenças nas pessoas que consomem os produtos”.

De acordo com o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2022, da Contag, a agricultura familiar gera 10,1 milhões de ocupações, isso porque a agricultura familiar detém somente 23% das terras no país, distribuídas em 3,9 milhões de estabelecimentos e conta com 67% das ocupações no campo.

“É fundamental para o progresso do país a valorização da agricultura familiar com recursos suficientes para manter uma produção capaz de novamente tirar o Brasil do Mapa da Fome “, ressalta Vânia.

Além dessa valorização e da retomada de políticas e favor da produção de alimentos saudáveis, Vânia defende uma “reforma agrária que contemple as pessoas que vivem do trabalho no campo e as necessidades das brasileiras e brasileiros em ter uma alimentação de qualidade”.


Texto em português do Brasil

CNRT é o vencedor das eleições parlamentares em Timor-Leste

O Partido liderado por Kay Rala Xanana Gusmão é o vencedor das eleições parlamentares em Timor-Leste.

Os resultados eleitorais provisórios mostram a evidente polarização de votos entre o Conselho Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT) e a Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN).

Segundo a contagem de votos, cujo apuramento nacional dos resultados irá ocorrer entre 24 e 27 deste mês, o CNRT tem 41.62% dos votos (31 cadeiras no Parlamento Nacional), equivalente a 288101 votos.

A FRETILIN obteve 25.75% (178248 votos, com direito a 19 cadeiras), em terceiro lugar ficou o PD com 9.32% (6 cadeiras), de seguida o KHUNTO (7.52%, 5 cadeiras) e por fim, o PLP com 5.88% (4 cadeiras), o Partido grande derrotado porque tinha 8 cadeiras.

 

Presidente da República quer que o CNRT forme Governo

O Presidente da República, em declarações públicas, já informou que irá solicitar ao Partido mais votado para formar governo.

Contagem de votos em Díli

Para além da bipolarização entre o CNRT e a FRETILIN, estas eleições mostraram que os partidos políticos com mais dinheiro conseguiram obter assentos parlamentares.

Os restantes partidos políticos não passaram a barreira dos 4%, percentual exigido para entrarem no Parlamento Nacional, nomeadamente, o Partido Socialista de Timor (PST), apesar de ter sido um Partido reconhecido por uma franja social mais intelectual como aquele que apresentou um programa eleitoral com qualidade, coerente e detalhado.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) elaborará a acta de apuramento provisório dos resultados nacionais e a mesma será afixada na sua sede entre 27 e 30 de Maio. Haverá um prazo para interposição de recursos e o Tribunal de Recurso analisará a documentação  enviada pela CNE e validará e proclamará os resultados entre 4 e 6 de Junho de 2023.

 

ROJAE-CPLP considera que as eleições foram justas e transparentes

Na manhã do dia 23 de Maio, assistiu-se à Declaração Preliminar da Missão de Observação Eleitoral (MOE) da Rede dos Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (ROJAE-CPLP) à Eleição Parlamentar na República Democrática de Timor-Leste de 21 de maio de 2023.

A convite da Comissão Nacional de Eleições de Timor-Leste, a Rede dos Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, abreviadamente designada por ROJAE-CPLP, organizou uma Missão de Observação Eleitoral à Eleição Parlamentar de 2023 em Timor-Leste, que teve lugar no dia 21 de maio.

Cristina Leite (Cabo Verde) e Paulo Bonini (Brasil)

A Missão de Observação Eleitoral (MOE) da ROJAE-CPLP, foi chefiada por Cristina Leite, membro e Vice-Presidente da Comissão Nacional de Eleições de Cabo Verde, sendo composta por treze observadores todos eles membros e técnicos dos órgãos jurisdicionais e de administração eleitoral dos países da CPLP, nomeadamente, Angola, Brasil, Cabo-Verde, Moçambique, Portugal e S. Tomé e Príncipe.

Os trabalhos da Missão iniciaram-se, formalmente, no dia 17 de maio com a chegada da quase totalidade dos observadores e terminam no dia 24 de maio, sem prejuízo de, no período anterior, os membros dos órgãos de jurisdição e de administração eleitoral dos países da CPLP terem acompanhado a evolução do processo eleitoral, seja pelas notícias a que foram tendo acesso, seja pela troca de informações e documentação com a Comissão Nacional de Eleições de Timor-Leste.

 

Opinião da ROJAE CPLP sobre os Centros de Votação e Estações de Voto

Em todos os Centros de Votação e Estações de Voto observados nos Municípios visitados verificou-se o seguinte:

  • Pontualidade da abertura do processo de votação;
  • Existência de materiais eleitorais em quantidades adequadas;
  • Presença, em todos os momentos, de fiscais de diversas forças políticas concorrentes;
  • Cedência de prioridade aos eleitores com deficiência ou com especiais dificuldades de exercer o seu direito de voto;
  • Prestação de informação aos eleitores e aos fiscais dos partidos políticos ao longo das operações de votação;
  • Não interferência de pessoas estranhas nos trabalhos de votação;
  • Presença de forças policiais no exterior dos Centros de Votação e Estações de Voto, à distância legalmente prevista;
  • Preparação adequada dos oficiais eleitorais relativamente a todos os procedimentos das operações eleitorais; e
  • Inexistência de propaganda eleitoral afixada nas imediações nos centros e estações de voto.

Governo pretende facilitar a evasão e fraude fiscal das empresas?

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A quebra brutal do poder de compra das remunerações líquidas dos trabalhadores da Função Pública entre 2011/023, a perda de poder de compra das remunerações dos trabalhadores do Setor Privado e o Governo pretende facilitar a evasão e fraude fiscal das empresas

Governação. O passado presente

Hoje em dia é mais notória, por mais mediática, a medíocre formação e conhecimento que imbui a governação desde os ministérios com funcionários de carreira, aos boys até aos eleitos.

Talvez por isso haja um coro a pedir eleições legislativas antecipadas.

O nível de literacia e de formação cívica é tão baixo que até dói. Nos atuais agentes políticos e nos vindouros. Confiemos no futuro.

A falta de escrúpulos é corrente; a seriedade na relação interpessoal rara; e a doutrina politica nula; o seguidismo é discutível sendo que em domínios como o futebol é cego e na religião depende em muito da crença;

Ora, os agentes políticos deveriam advir de uma escola de cidadania e de um setor ideológico identitário sem mácula e incontestável.

O problema é que, quem tem poder tem acesso às fontes de receita financeira e, essa é a primeira diretiva que chama a si o que de mau a sociedade tem para o exercício da atividade politica porque a idoneidade dá trabalho e não enriquece ninguém.

A que acresce que: uma sociedade educada e formada para a competitividade e o sucesso individual jamais olhará o espirito da solidariedade como sendo a base da sua construção futura perante os  novos condicionalismos, circunstancias e constrangimentos que condicionarão os novos eixos das novas civilizações.

Por essas e outras assistimos ao deboche politico no poder e na oposição, nacional e internacional, onde as vitimas são as populações independentemente de serem quem os lá coloca pela via eleitoral mas também em domínios onde o poder se conquista na ponta de uma espingarda; um míssil; ou um outro qualquer equipamento bélico.

É que, contrariamente ao que se pensa, os agentes políticos, na atividade politica, aparecem sempre atrás do prejuízo social e nunca na dianteira precavendo esse prejuízo como seria suposto, assim como, pensar o futuro e precaver a organização das sociedades para esse mesmo futuro.

Daí que vozes do passado ressurjam com a pujança suficiente para tentar empurrar para a governação o retrocesso civilizacional onde a mentira obscura no discurso dizia que era bom tudo aquilo que de mau veio a acontecer no nosso País como foram as derrocadas na banca e na economia com impacto direto na vida das pessoas e nos seus direitos laborais.

A memória da rara inteligência do Sr. Prof. Aníbal Cavaco Silva que a servil comunicação social se prestou a vassalar e difundir limpou todas as tramas dos seus acólitos no Governo e na finança assim como o seu papel no cargo de Presidente da República que, por algum motivo a Historia omite e limpa os efeitos nefastos de Pedro Passos Coelho proeminente professor universitário passando por um Rio demasiado calmo para desaguar num Monte Negro que se prepara meticulosamente para o assalto final à Governação encostado à direita selvagem nos procedimentos económicos cuja fatura o cidadão Português pagará com língua de palmo por via do aumento da produção geradora de mais valias acrescidas. Mas também de outros sacrifícios na saúde; justiça; educação; inflação e outros.

Sobra a convicção de que o povo Português saberá resistir evencer todas as negras contrariedades que se adivinham.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

O relatório Durham abala os EUA

Quanto aos que pensam que a alternativa passa pela eliminação do poder americano sobre a Europa e o mundo livre, penso que eles não vêm que todos os problemas americanos se encontram igualmente entre nós, e em regra tão ou mais acentuados, com uma notável diferença: na Europa será improvável ver surgir qualquer equivalente ao relatório Durham que exponha de forma tão clara o apodrecimento do núcleo duro do poder.

Avelino Coelho foi o líder mais coerente e inovador na campanha eleitoral

A campanha eleitoral terminou ontem em Timor-Leste. Os líderes que têm estado no poder há mais de 20 anos repetiram as mesmas promessas durante 30 dias. O único programa eleitoral digno desse nome, coerente e inovador, foi apresentado pelo PST.

A campanha eleitoral demonstrou o que já todos sabíamos mas ficou agora provado. Em Timor-Leste a educação está péssima, as estradas também estão uma lástima, não há água potável na maior parte dos Municípios, a saúde está má e os agricultores e os jovens foram sempre esquecidos.

Os dirigentes dos partidos com mais assentos no Parlamento Nacional (FRETILIN e CNRT), e também com muito dinheiro, em quase todos os comícios dirigiram os seus discursos para o petróleo, para os recursos energéticos e para o problema das fronteiras de Timor-Leste.

Por outro lado, os líderes que formaram governo (FRETILIN, PLP e KHUNTO) afirmaram que querem continuar com o programa governamental prometendo melhorias, mas sem especificar quais as medidas políticas a implementar para se atingir esses desideratos.

Outros líderes partidários fizeram promessas, absurdas, demagógicas, sem um programa eleitoral, portanto, demonstrando a ausência de projectos políticos e muito menos ideológicos.

Agricultores, trabalhadores e jovens-estudantes

O Partido Socialista de Timor (PST), apesar de ser um partido político sem dinheiro que vive apenas das quotas dos seus membros, provou ter capacidade organizativa e foi o único que apresentou um programa eleitoral verdadeiramente inovador, desde logo, no sector da agricultura, pela mensagem difundida segundo a qual, o “Estado la iha rai! Rai Povo nian!” (“o Estado não é o dono da terra; a terra pertence ao Povo”), deve haver subsídios para agricultores e acções para os trabalhadores, assente numa política pública sectorial para o desenvolvimento da plantação e produção de café, com propostas de medidas estratégicas fundamentais e com medidas técnicas complementares ou condicionantes.

Transparece de forma explícita a ideia de que a concepção de instrumentos jurídicos adequados a serem produzidos com base na Constituição de Timor-Leste tem como objectivo central transmitir o poder aos Sucos e às Knuas para gerirem as terras que lhes pertencem, uma medida política que se enquadra na tese do PST da “Reposição da Ordem Democrática e Constitucional”, numa linha de raciocínio coerente com a cultura e lisan de Timor-Leste.

Para além da agricultura e indústria, as propostas políticas do PST para a educação também fizeram a diferença.

No âmbito da Educação Pré-Escolar, ignorada há 20 anos, sendo muito determinante para a formação e o desenvolvimento da criança, o PST defendeu uma Lei-quadro da Educação Pré-Escolar Popular, inovadora, verdadeiramente contextualizada ao nível dos Sucos com a grande finalidade de utilizar o conhecimento e o saber das Knuas para a definição dos conteúdos programáticos e das competências a construir no âmbito do currículo.

Também, no plano do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, o PST distinguiu-se dos restantes partidos políticos ao ter apresentado 5 propostas políticas totalmente fundamentais para a mudança:

  • Relação entre o Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;
  • Aposta na Qualidade e na Inovação (Ensino, Pesquisa e Extensão);
  • Adequação da oferta do Ensino Superior às necessidades e prioridades do país;
  • Garantia do acesso ao Ensino Superior e Equidade (Ensino Superior Gratuito);
  • Internacionalização das Instituições de Ensino Superior (IES).

O poder de influência do PST na sociedade foi de tal forma perceptível nesta campanha eleitoral que praticamente todos os partidos políticos durante a campanha eleitoral tentaram “copiar” o seu programa eleitoral, principalmente no sector da agricultura (subsídio para os agricultores) e no sector da educação (ensino superior gratuito).

Há tudo por fazer e o povo precisa de votar bem para haver mudança

As promessas de melhorias sociais invocadas em todos os comícios, conforme referi, foram mais do que muitas desde promessas de aviões, pontes, apoios financeiros aos veteranos, casas, fábricas, bolsas de estudo para os veteranos  / antigos combatentes estudarem (incluindo no pré-escolar!), postos de trabalho, dinheiro para isto e para aquilo.

Nesta campanha eleitoral ficou visível a fragilidade de Timor-Leste, principalmente devido à incompetência demonstrada por muitos líderes políticos e pela falta de sentido de Estado.

Em resumo, a campanha eleitoral demonstrou que em todo o território nacional aquilo que já se sabia: em Timor-Leste há tudo por fazer e pouco ou nada se fez durante mais de 20 anos!

Em relação aos resultados eleitorais, uma análise relâmpago permite concluir que nenhum partido político terá maioria no Parlamento Nacional, pelo que, os chamados grandes partidos terão que formar coligações para formar governo;

Uma outra situação previsível é assistirmos à descida de alguns partidos e à subida e entrada no Parlamento de outros Partidos.

Dia 21 de Maio de 2023 será o dia da eleição.

Aguardemos.

As perigosas ligações entre guerras e capitalismo

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Ficou conhecida a frase de Clausewitz – Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz (1780-1831) general prussiano, autor de «Da Guerra», considerado um grande estratega militar e teórico da guerra – em que este associou guerra e política, quando afirmou que “A guerra nada mais é que a continuação da política por outros meios”. Com o advento da industrialização da guerra talvez seja hoje igualmente curial que as guerras não serão apenas sobre estratégia militar, pois a economia nunca está longe.

O cenário de guerra que actualmente vivemos no leste europeu encontra óbvias semelhanças com conflitos anteriores (no cenário europeu e não só) e até a chantagem que hoje o ocidente exerce sobre os hidrocarbonetos russos se afigura numa clara reminiscência do choque do petróleo causado pela Guerra do Yom Kippur (episódio do conflito israelo-árabe em 1973) ou até com o boicote petrolífero imposto pelos EUA ao Japão durante a II Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), conflito que se fundiria com a II Guerra Mundial (1939-1945) e que hoje muitos historiadores consideram como o início desta.

Mas a industrialização da guerra e o crescente peso dos interesses económicos nos conflitos remonta a meados do século XIX e à consolidação da hegemonia do Império Britânico – ditada pelo resultado das Guerras Napoleónicas (1803-1815) – seguida da deslocação dos interesses da burguesia mercantil britânica para a Ásia que levou às Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860), assim chamadas por terem determinado a abertura dos portos chineses ao comércio inglês do ópio. Não que os conflitos anteriormente vividos um pouco por todos os continentes não tivessem também eles uma forte componente económica (iluda-se quem ainda pensar que mesmo a mítica Guerra de Troia se ficou a dever apenas ao desejo das cidades gregas reaverem a bela Helena e não à natural necessidade de eliminar a séria concorrência comercial que os troianos representavam), mas foi inegavelmente o despontar da industrialização dos exércitos que fez crescer a importante aliança industrial-militar que subjaz até à actualidade e ampliou os objectivos reais (normalmente não declarados) dos conflitos.

Se originalmente os seus objectivos eram sobretudo políticos, outros, como a apropriação de matérias-primas e de mão-de-obra, a expansão de mercados, ou até mesmo o cancelamento de dívidas, rapidamente ganharam expressão, não sendo, pois, de estranhar que a própria economia se tenha transformado numa arma, seja mediante o bloqueio às trocas comerciais do oponente, seja recorrendo a políticas de sanções económicas, mas principalmente através da mobilização da indústria e da tecnologia para aquisição de ascendente.

Outro facto histórico a ter em linha de conta é o da importância dos conflitos na superação de crises económicas. Ainda recentemente tivemos um bom exemplo disso com a recuperação económica da Grande Depressão de 1933 a resultar principalmente do esforço de produção de armamento e provisões necessárias para a II Guerra Mundial e não das políticas de Franklin D. Roosevelt, através do programa do New Deal (1933-1937), ou das teorias económicas de John Maynard Keynes.

Depois de uma guerra, a economia de vencidos e vencedores não volta a ser o que era; na fase da reconstrução, o Estado assume frequentemente um papel mais importante do que antes e no cenário internacional, novos actores começam a ganhar destaque.

Foi isto que vimos no final das Guerras Napoleónicas, com a ascensão do Império Britânico, e mais recentemente com o final da II Guerra Mundial e a ascensão dos EUA ao papel de potência hegemónica, assegurada pela quase completa destruição dos aparelhos produtivos das principais economias mundiais. O que o futuro nos reserva poderá não ser igual, mas os seus contornos já se estão a desenhar…

Índia vira potência industrial à base da superexploração do trabalho

A transformação da Índia numa potência industrial pode ser marcada por dois fenômenos: o ritmo acelerado das transformações no parque industrial indiano e as tentativas de explorar cada vez mais os trabalhadores. Nos dois casos, o objetivo é o mesmo: qualificar a Índia como uma alternativa à China – uma aspiração que os Estados Unidos e seus aliados ocidentais já não escondem.

Reportagem publicada pela Dow Jones na semana passada aponta que há uma espécie de força-tarefa internacional em curso conhecida como “China plus one” (“China mais um”). Em poucas palavras, trata-se da ideia de criar um “novo ‘chão de fábrica do mundo”.

A vantagem da Índia em relação a outras nações é óbvia: “a força de trabalho e um mercado interno comparável em tamanho ao da China”. Neste ano, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a população indiana chegou a 1,428 bilhão de habitantes, ultrapassou a chinesa e se tornou a maior do Planeta.

A CNN, com base em dados da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), agrega: “Em 2021, a população em idade ativa da Índia era de mais de 900 milhões e deve atingir 1 bilhão na próxima década”. Nesse aspecto, os indianos são imbatíveis.

Mas não é só. Empresários reclamam que as políticas trabalhistas e sociais promovidas pelo Partido Comunista na China, com valorização de salários e direitos, elevaram os custos do setor produtivo. Além disso, em troca de investimentos e condições privilegiadas, o governo Xi Jinping passou a pressionar as empresas a transferirem tecnologia. Os prolongados – e necessários – lockdowns promovidos no território chinês para conter a pandemia de Covid-19 igualmente assustaram as multinacionais.

O que fazer, então, para não pôr “todos os ovos em um único cesto na China”, conforme metaforiza um executivo da Vestas Assembly India, filial da megafabricante dinamarquesa de turbinas eólicas? A resposta: estimular a concorrência. “Muitos países estão competindo para ser o ‘mais um’, com Vietnã, México, Tailândia e Malásia em uma disputa intensa”, sustenta a Dow Jones.

Só que a Índia, para além de fatores populacionais, parece contar com a disposição do conjunto da classe dominante para legalizar a superexploração do trabalho. Nas palavras eufêmicas e descaradas da Dow Jones, “o governo de Nova Déli vem se esforçando para tornar o ambiente de negócios mais amigável do que no passado”.

Em uma de suas últimas “cartas semanais”, o historiador indiano Vijay Prashad, diretor-geral do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, elencou projetos e medidas que têm levado a Índia a promover o desmonte da legislação trabalhista. No centro desse pacote de retrocessos está a proposta de elevar a jornada de trabalho, na contramão das tendências em curso mundo afora. Diz Prashad:

“Em toda a Índia, há um debate em andamento sobre a revisão dos limites da jornada de trabalho. Um projeto de lei no estado de Tamil Nadu procurou emendar a Lei das Fábricas, de 1948, que permitiria às fábricas aumentar a jornada de trabalho de 8 para 12 horas. Na Assembleia Estadual de Tamil Nadu, o ministro do governo, CV Ganesan, disse que o estado – que tem o maior número de fábricas na Índia – precisava atrair mais investimentos estrangeiros, o que seria mais fácil se a indústria pudesse ter ‘horários de trabalho flexíveis’. Protestos liderados por sindicatos e pela esquerda frearam o governo, apesar de contrapor-se à pressão do lobby empresarial (o Vanigar Sangangalin Peramaippu). Em fevereiro, um projeto de lei semelhante foi aprovado no estado vizinho de Karnataka. ‘A Índia está competindo com todo o mundo para atrair investimentos’, disse o ministro de Eletrônica, Tecnologia da Informação e Biotecnologia, CN Ashwath Narayan; ‘Só quando você tem leis trabalhistas flexíveis, os investimentos podem ser atraídos’.”

Segundo o historiador, o conceito de “flexibilidade” remete o movimento sindical do país à “liberalização do mercado de trabalho” iniciada em 1991 e marcada pela retirada de direitos. Em resposta, o Comitê Sindical de Campanha Nacional, em parceria com as chamadas Organizações Sindicais Centrais, organizou nada menos que 22 greves gerais desde então. Na última, em março de 2022, cerca de 200 milhões de trabalhadores cruzaram os braços.

A exemplo do discurso adotado no Brasil às vésperas da reforma trabalhista (2017) e da primeira campanha de Jair Bolsonaro à Presidência da República (2018), procuraram vender aos trabalhadores indianos a falácia de que, para haver mais empregos, era necessário cortar direitos. Tanto lá como cá, a desregulamentação avançou, mas sem a contrapartida de mais postos de trabalho.

O “caminho da Índia” tem contentado a burguesia global. A Dow Jones cita o exemplo da cidade de Sriperumbudur, que já era referência na produção de automóveis e eletrodomésticos. Agora, a essas empresas se somam “corporações multinacionais que fabricam de painéis solares e turbinas eólicas a brinquedos e calçados, todas em busca de uma alternativa à China”. A Índia deve se converter no segundo maior mercado mundial de turbinas ainda nesta década.

O sucesso dessa estratégia, no entanto, ainda depende de uma mudança comportamental na Índia, alicerçada num processo de êxodo rural de longo prazo. “A escassez de mão-de-obra começa a aparecer em centros industriais indianos, segundo autoridades locais e empresas. Isso porque, ao contrário da China, muitos trabalhadores relutam em mudar para longe de onde nasceram para procurar emprego”.

Por fim, no país mais populoso do mundo, “a força de trabalho continua em grande parte pobre e não qualificada”, ao mesmo tempo em que “a infraestrutura é pouco desenvolvida”. A complacência do governo indiano com a pauta ultraliberal das multinacionais pode até atrair mais indústrias de ponta – mas à custa de um trabalho exponencialmente precarizado.


por André Cintra, Jornalista | Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

Com “morte cruzada”, Lasso ganha tempo para pacote de maldades no Equador

No dia 17 de maio, o presidente do Equador Guillermo Lasso usou um decreto executivo para dissolver a Assembleia Nacional, o parlamento unicameral do país, e solicitar novas eleições gerais, inclusive para seu cargo de presidente. Com isso, ele escapa de um impeachment julgado pelos deputados e ainda ganha algum tempo para governar por decreto.

“Com isso, ele acaba de ganhar tempo para um pacote de maldades”, disse em suas redes sociais a analista internacional Ana Prestes, que considera Lasso “o que a política sul-americana já produziu de pior”. Ela se refere a uma série de medidas que o governo pode tomar de forma autoritária para favorecer banqueiros e elites, em detrimento dos trabalhadores equatorianos.

Uma vez realizadas as eleições no prazo de três a, no máximo, seis meses, os eleitos assumem os cargos para o tempo restante dos mandatos vigentes, tanto Presidência como parlamentares, ou seja, até 2025. E Lasso não pode ser reeleito.

Neoliberalismo às pressas

A grande preocupação com toda esta movimentação autoritária, é justamente sobre o que Lasso vai aproveitar para fazer durante os meses em que poderá governar com decretos-leis. “Além de construir a sua própria saída, possivelmente até do país, para se livrar de processos, vem aí um pacote de maldades neoliberais”, prevê a cientista política.

O primeiro decreto-lei utilizado por Lasso foi para promover uma reforma tributária que, ao mesmo tempo em que acena para as famílias com aumento dos valores dos gastos dedutíveis no imposto de renda, destaca Ana, tira transparência da publicação das declarações favorecendo sonegadores.

“O que se espera para os próximos dias são decretos-leis que permitam a privatização da educação superior, saúde e setor energético. Além de medidas laborais com a desregulamentação de leis trabalhistas e uma reforma previdenciária pró-bancos, acenando para a ‘base’ de Lasso”, pontuou.

“O Lasso que hoje tenta fugir do juízo com um autogolpe para se livrar da justiça e entregar favores aos seus, nos últimos meses de sobrevida, fez mais uma vez um mal enorme ao Equador”, avalia.

Comoção por conveniência

O dispositivo constitucional utilizado por Lasso para tomar esta medida se chama “morte cruzada”, e é a primeira vez, desde a Constituição de 2008, que é usado no país. Pelo mecanismo, respeitando algumas justificativas, haveria um cruzamento entre o fechamento imediato do parlamento, e o encerramento do governo alguns meses depois, após realização de nova eleição presidencial.

No entanto, Ana ressalta o fato de pairar dúvida sobre a legalidade de sua aplicação por Lasso, especialmente pela justificativa adotada. Segundo o presidente, por seus próprios critérios, a “morte cruzada” se justificaria neste momento pelo estado de “comoção nacional e crise política” em que se encontra o país. “Curioso que em junho de 2022, quando indígenas e estudantes pararam o país, ele não via a comoção nacional”, lembrou a socióloga, referindo-se a greve geral e repressão policial, devido à profunda crise de emprego e insegurança alimentar no país.

Para ela, a verdadeira comoção nacional que mobiliza Lasso é o processo de impeachment, ou “juízo político”, nos termos equatorianos, que ele teria que enfrentar justamente a partir desta semana. “Há, portanto, um quê de vingança política no uso da morte cruzada para punir o parlamento”, avalia a especialista.

Ela observa também que, embora a Corte Constitucional do país ainda não tenha se pronunciado sobre a legalidade do decreto executivo 741 de Lasso, as Forças Armadas e as polícias já apoiam o ato como constitucional, com apoio de organismos internacionais alinhados aos interesses americanos como a OEA (Organização dos Estados Americanos), embaixadas dos EUA, Canadá e Peru.

Base banqueira

Ana Prestes também recordou os vínculos históricos de Lasso com os interesses do sistema financeiro e as piores práticas neoliberais. “É bom lembrar que, desde os anos 1990, Lasso faz essa ponte entre a política e o setor bancário”, diz. Em 1993, quando ele assumiu a presidência do Banco de Guayaquil, passou a ser também o presidente da Associação de Bancos Privados do Equador.

Outra lembrança nefasta é que, em 1994, com influência sobre o vice-presidente da época, Alberto Dahik, mobiliza pela aprovação da Lei Geral de Instituições Financeiras, que cria as condições legais para o processo de dolarização do país que viria em 1999, com Lasso superministro da economia de J. Mahuad.

“O dispositivo do ‘feriado bancário’, usado por Lasso e Mahuad na época, promoveu o congelamento das contas e as pessoas recebiam a informação de que havia zero sucres, moeda nacional, em suas contas bancárias. Foi estabelecido um caos social completo, com uma massiva migração”, relata Ana.

Nesta época, a pobreza do Equador passou de 80%, o desemprego em 18% e metade dos trabalhadores no subemprego. Mas Lasso, estava associado a 49 empresas offshore, sendo que uma delas, sediada nas Ilhas Cayman, passou de um milhão de dólares de patrimônio, em 1999, para 31 milhões de dólares, em 2002.

Governo popular e golpismo

O resultado foi que em janeiro de 2000, o governo de Mahuad, de quem Lasso era ministro, foi derrubado por grande levante popular e indígena. O próximo presidente a ser derrubado seria Lucio Gutierrez (2005), e, somente em 2007, o país ganha estabilidade com Rafael Correa, de acordo com o relato da analista.

Rafael Correa governou até 2017 e promoveu o que ficou conhecido como Revolución Ciudadana. Seu sucessor, Lenin Moreno, do mesmo partido de Correa na época, o Alianza País, traiu o projeto, durante seu governo, e incentivou a perseguição política a seus ex correligionários. Correa precisou se exilar.

“O governo de Lenin Moreno foi um fracasso em tantas dimensões, mas, para destacar apenas uma, fico com o registro da tragédia humanitária durante o auge da pandemia de Covid em que se multiplicavam corpos de pessoas falecidas sem socorro pelas casas e ruas de Guayaquil”, destacou ela, citando imagens que chocaram o mundo.

Infelizmente, pondera a cientista política, uma grande divisão na sociedade equatoriana, no pleito de 2021, após a saída de Lenin Moreno, fez com que o projeto da Revolucion Ciudadana, representado por Andrez Arauz, e o projeto dos setores indígenas pachacuti, representado por Yaku Perez, saíssem separados.

“A divisão entre a esquerda, movimentos populares e indígenas, fez com que Guillermo Lasso, o banqueiro das offshores, e que não deixou suas atividades privadas ao ser eleito, voltasse à cena política equatoriana, levando a população novamente à pobreza e migração massiva”, lamentou.


por Cezar Xavier | Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

Centrais Sindicais querem proteger o salário mínimo no Regime Fiscal Sustentável

O governo encaminhou para o Congresso Nacional a proposta que trata das regras para a gestão da política fiscal, ou seja, como o Governo Federal deverá tratar os investimentos e gastos orçamentários na relação com o comportamento de aumento ou queda das receitas em cada contexto econômico.

O objetivo é manter um orçamento equilibrado, financiando adequadamente as políticas públicas ao longo do tempo e com qualidade nos desembolsos, combinando responsabilidade social com responsabilidade fiscal, dando maior transparência às despesas e arrecadação. As regras propostas estão alinhadas com as boas práticas internacionais porque permitem uma visão de longo prazo, têm flexibilidade, são orientadas por metas críveis, combinando regras para a expansão das despesas em ritmo menor que o crescimento econômico, gerando condições para promover superávit primário, o que dá sustentabilidade à dívida pública.

Aumentar a confiança no equilíbrio fiscal, estimular a retomada dos investimentos, favorecer a queda dos juros, sustentar o crescimento e a geração de empregos são resultados esperados.

O Regime Fiscal Sustentável vem para substituir a Lei do Teto de Gastos (EC 95/2016), regra que demonstrou ser inviável porque foi mal formulada, comprometendo gastos e investimentos fundamentais, com uma rigidez que suscitou constantes mudanças e flexibilizações.

A nova regra basicamente prevê que as despesas podem crescer no limite de até 70% do aumento das receitas primárias, com uma banda de crescimento mínimo de 0,6% (que é o crescimento vegetativo da população brasileira) e com o limite máximo de 2,5% (PIB potencial projeto de médio prazo).

A regra lista o que não fica subordinado a estes limites, garantindo piso mínimo para o investimento público e permitindo adequado financiamento para as politicas públicas.

As Centrais Sindicais estiveram reunidas com o Deputado Cláudio Cajado (PP BA), relator na Câmara dos Deputados dessa matéria. Naquela oportunidade destacaram as seguintes questões:

  • É fundamental que o Brasil tenha um conjunto de regras críveis e bem elaboradas para a gestão do orçamento fiscal e que aumente a efetividade e a eficácia da gestão das políticas públicas. Essas regras devem gerar confiança, credibilidade e previsibilidade.
  • O Regime Fiscal Sustentável não pode e não deve se orientar para a criminalização do gestor público/governante. Deve orientar e estimular as boas práticas e a gestão transparente.
  • Três prioridades para o processo orçamentário futuro:
    • Garantir a vigência da política de valorização do salário mínimo, assegurando os aumentos da base salarial de toda a economia, instrumento indutor do crescimento econômico que fortalece a capacidade fiscal do Estado.
    • Organizar o orçamento para atuar de forma anticíclica, ou seja, nos momentos de crise o governo ter instrumentos para atuar para superar as adversidades.
    • Garantir robustez nos investimentos sociais (saúde e educação) e em infraestrutura econômica.

As Centrais Sindicais consideram urgente a aprovação desse projeto para abrir caminhos para um arranjo macroeconômico voltado ao investimento e crescimento econômico, bem como abrindo espaço para a redução dos juros básicos e para o tratamento no Congresso Nacional de matérias de alta importância para o país, como a reforma tributária.


Texto em português do Brasil

Urgência para o marco fiscal: Haddad e Lira ganharam de lavada

O governo todo festejou, mas a vitória espetacular na aprovação da urgência para a votação do novo regime fiscal tem dois sócios majoritários: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira. Haddad foi seu próprio articulador político, negociando diretamente no Congresso, com habilidade e paciência, a aprovação de projeto essencial ao êxito de sua gestão no comando da economia. Lira, por sua vez, entregou o que prometeu para demonstrar ao governo que só ele, com os poderes que reivindica, poderá extrair de uma Câmara conservadora e hostil a Lula os votos de que o Planalto ainda precisará muito.

Em tempo, o que se votou ontem foi a urgência, e não o projeto em si, mas foi um sinal eloquente. O placar também não sugere que o governo tenha uma base de mais de 300 votos. Hoje não tem sequer 200 absolutamente leais. Ninguém se iluda. A direita parlamentar é majoritária, vem fustigando o governo e tem até novas trampas já preparadas.

Mas no caso específico, o governo ganhou com Lira e Haddad jogando juntos. O ministro entregou pessoalmente, numa solenidade, o projeto ao presidente da Câmara, com o discurso que vem fazendo: trata-se de um projeto de Estado, que interessa a todo o país, não apenas ao governo Lula. Por isso se dispunha a discuti-lo com todos, não só com a base governista, buscando o voto de todos. Lira também disse o tempo todo que o tal arcabouço não podia ser contaminado pela polarização governo x oposição. Indicou para relator o deputado Cláudio Cajado, de sua inteira confiança, certo de que ele faria um substitutivo favorável, mas com um viés de endurecimento que agradaria à direita.

Não estou minimizando o papel que o presidente Lula teve na preparação da vitória de ontem. No dia 2 de maio, horas antes de a Câmara suspender a votação do projeto de combate às fake News, por falta de votos, ele teve uma conversa franca com Lira. E ali entendeu duas coisas. O presidencialismo de coalizão não é mais o mesmo. Não basta compartilhar o governo com partidos supostamente aliados. A partir do governo Temer, o Congresso ampliou seu poder sobre o orçamento, impondo a execução obrigatória de emendas. Sob Bolsonaro, avançou mais inventando o orçamento secreto, agora suprimido. Nem por isso, a fome acabou. O que deputados querem é, mais que tudo, a liberação de recursos para suas bases. Depois da conversa com Lira, Lula cobrou agilidade em nomeações e liberações. Nos últimos dias o governo começou a liberar os R$ 9 bilhões de restos a pagar do orçamento secreto, e também um grande volume de emendas individuais. Isso contou muito para o resultado de ontem.

A outra coisa que Lula compreendeu, e que Haddad já tinha entendido, é que Lira quer ser o mediador do acesso ao orçamento. Com Bolsonaro era ele, e não um ministro palaciano, que dizia quais deputados deveriam ser premiados com liberações. Era como se ele alugasse ao governo (Bolsonaro) a sua própria maioria. Mas isso tinha preço. É isso que ele quis mostrar ao governo ao abraçar o projeto de Haddad e trabalhar por sua aprovação.

Os dilemas do PT – Para a votação decisiva da semana que vem, nem tudo está resolvido, é claro. Uma parte expressiva da bancada petista não engoliu ainda as travas impostas ao projeto de Haddad pelo relator. Elas colocam limites e restrições punitivas  em caso de descumprimento das metas. O texto de Haddad limitou o gasto a 70% do crescimento da receita, e variando entre 0,% e 2,5% acima da inflação. O relator introduziu as “punições” para quando os limites forem descumpridos. O governo ficará sujeito a restrições, como não aumentar as despesas obrigatórias acima da inflação, não conceder aumentos reais de salários, não realizar concursos, não conceder incentivos fiscais e outras mais. A pedido de Lula, deixou fora das restrições os aumentos reais para o salário-mínimo mas não os gastos com o Bolsa-Família.

Os deputados do PT, começando por sua presidente, Gleisi Hoffmann, abriram fogo contra as mudanças do relator. Um dos críticos mais duros, o deputado Lindbergh Farias, foi excluído da CPMI do golpe, por suposta retaliação. Na segunda-feira, Lula mandou dizer ao partido que não admitiria defecções nas votações da matéria.

Ontem os petistas foram disciplinados, tanto na votação da noite como pela manhã, quando Haddad enfrentou uma sabatina de 3 horas com deputados de três comissões reunidas. Em algum momento o bolsonarista Francischini resolveu dizer a Haddad que a verdadeira oposição era feita pelo PT, sob o comando de Gleisi. Citada, ela defendeu o direito ao debate e à divergência dentro do partido, reiterando porém que o PT jamais faltaria ao governo. Recebeu depois uma declaração cavalheiresca de Haddad, que se disse orgulhoso de ser filiado a um partido liderado por uma mulher valente e guerreira como ela.

Os bolsonaristas o atacaram muito, sendo que um deles, o deputado Evair de Melo, resolveu dizer que o ministro era “limitado”. Levou uma invertida, em que Haddad disse não reconhecer moral para chamá-lo assim em que apoiou alguém tão limitado como Bolsonaro. Sem pedantismo, citou seus títulos obtidos na USP, em economia, direito e filosofia.

Mas, se ontem os petistas votaram em bloco pela urgência, na semana que vem, na votação do mérito, insistirão em derrubar ou afrouxar as travas do relator. Pedirão destaques para votação em separado de algumas delas. Não terão votos para ganhar, mas marcarão posição.

Quem votou contra: PSOL, PL e Novo – Os 102 votos contrários não vieram em bloco do partido bolsonarista, o PL, que tem uma bancada de 99 deputados. Uma parte do PL votou a favor da urgência e votará a favor do governo no mérito. O PSOL também votou contra, invocando sobretudo a trava sobre o crescimento dos gastos com o Bolsa Família em caso de descumprimento de metas.

Outro que votou contra foi o Novo, defendendo mais tempo para o debate nas comissões. Mas isso não surpreende. Já a posição do PSOL devia preocupar o governo. Terá sido um caso pontual ou o partido ensaia ir para a oposição? Isso colocaria em risco o acordo pelo qual o PT apoiará Guilherme Boulos como candidato a prefeito de São Paulo.


Texto original em português do Brasil

Gabinetes de Membros do Governo

A propósito da turbulência em torno do Gabinete do Ministro das Infraestruturas, julgo que se justificarão algumas notas sobre a problemática dos gabinetes dos membros dos governos.(i)

Assim:

  • o pessoal dos gabinetes não pertence ao Governo;
  • desempenha funções políticas e técnicas de apoio;
  • enquadra-se numa relação de especial confiança;
  • deve ter algum cuidado com a organização da informação e está sujeito a sigilo.

 

O pessoal dos gabinetes não pertence ao Governo

 Já vi, infelizmente, órgãos de comunicação social referirem-se a muitos antigos adjuntos de gabinete como tendo pertencido ao Governo x ou y.

Será que o termo “adjunto” convida à confusão?

Temos visto por aí “Ministros adjuntos do Primeiro Ministro”, “Secretários de Estado adjuntos” dos Ministros, Subsecretários de Estado adjuntos” .

A melhor forma dos adjuntos de gabinete nomeados se identificarem, inclusive em cartões profissionais, prevenindo confusões …ou tentações…é Fulano de tal, “Adjunto do Gabinete de…”

Quando o inefável Frederico, adjunto do gabinete do Ministro Galamba, foi exonerado por este último, metade dos órgãos de comunicação social referiam-se a Frederico como ex-assessor.

No entanto não se tratava de um ex-assessor, mas de um ex-adjunto de Gabinete. Muito embora no quadro legal anterior muitas vezes fossem frequentemente nomeados “assessores” quase que como adjuntos supranumerários, a designação legal e no recibo de vencimento é “técnico especialista.”(ii)

 

Desempenha funções políticas e técnicas

O desempenho de funções políticas está claramente assumido na actual lei dos Gabinetes dos membros do Governo.

Repare-se que não está previsto, nem por delegação, o exercício de funções decisórias no âmbito da função de órgão superior da Administração Pública cometida constitucionalmente ao Governo.

No entanto está prevista no actual enquadramento legal e é considerada normal:

  • “A participação em comissões ou grupos de trabalho por indicação do membro do Governo”;
  • “A participação, em representação do Governo, em conselhos consultivos, comissões técnicas de acompanhamento ou de fiscalização ou outros organismos colegiais previstos na lei”

O enquadramento legal anterior, vigente entre 1988 e 2012, previa que nos gabinetes ministeriais pudessem ser designados conselheiros técnicos para acompanhamento de assuntos interdepartamentais(iii).

Frederico Pinheiro / ISCTE

Cabe-me dizer que considero perfeitamente natural que o Ministro João Galamba tenha nomeado adjunto do seu Gabinete o Frederico adjunto do Gabinete do seu antecessor Pedro Nuno Santos, que neste acompanhava os assuntos da TAP.

Se as escolhas foram ou não sensatas, não saberia dizê-lo.

 

Enquadra-se numa relação de especial confiança

O enquadramento legal anterior dos membros do Governo valorizava a existência de uma relação de especial confiança entre o membro do Governo e os membros do Gabinete por si escolhidos que no caso do / da Chefe de Gabinete, dos / das adjuntas / os, dos secretários / as pessoais, casos em que mesmo no actual quadro legal o membro do Governo tem uma total latitude quanto à nomeação ou exoneração.

Não está aqui em causa uma relação de confiança política por parte do Governo, ou da equipa política do Ministério, mas sim uma relação que se estabelece entre o membro do Governo e cada um dos que nomeia. O Ministro não está necessariamente sintonizado com o Primeiro Ministro, ou se o está num momento não o estará necessariamente a prazo, os seus fieis “incondicionais” são um chefe de gabinete, cinco adjuntos e quatro secretários pessoais, o Secretário de Estado idem em relação ao Ministro, os seus fiéis são um chefe do Gabinete, três adjuntos e dois secretários pessoais.

O Subsecretário de Estado tem direito a um Chefe de Gabinete, um adjunto e um secretário pessoal o que é francamente pouco, mas, que eu tenha reparado, também não há Subsecretários de Estado. Pior estará um Ministro sem Secretários de Estado, como sucedeu ao Ministro da Ciência e Tecnologia de António Guterres que viu mal acolhida a sua pretensão de enviar o seu chefe de gabinete aos Conselhos de Secretários de Estado.

Saliente-se que os membros dos gabinetes não têm de ser membros do partido ou partidos do Governo ou sequer ter votado neles. Mas têm de ter um profundo conhecimento e sensibilidade em relação aos programas de Governo, às políticas públicas e ao que em particular o “seu” membro do Governo propõe e defende e evitar comportamentos que o ponham em causa ou, se for o próprio membro do Governo a colocar-se em risco, ter a capacidade de o alertar.

Acresce que as observações e reparos do membro do Governo que os escolheu devem ser acolhidos com respeito, ainda que injustos ou infundamentados, aliás é-lhes sempre possível pedir a exoneração.

Quer isto dizer que quando um adjunto de Gabinete ouve do seu membro do Governo, ainda que pelo telefone “Acabou!” não lhe é lícito voltar ao antigo local de trabalho seja a que pretexto for, sem pelo menos o acordo do seu chefe de gabinete.

E se volta e faz escândalo isso não pode ser utilizado para despedir os dois, uma vez que de futuro teríamos ministros e secretários de Estado condicionados na formação dos seus gabinetes e na sua capacidade de acção.

A “protecção” de António Costa ao demissionário João Galamba parece-me, nesse contexto, justificada mas terá provavelmente o efeito indesejável de tornar o ministro um yes-man semelhante a Medina. Se é que não o era já.

 

Deve ter algum cuidado com a organização da informação e está sujeito a sigilo

Ainda não percebi hoje em dia que normas estão em vigor em relação à documentação produzida nos gabinetes de membros do Governo.

Não são certamente as dos Estados Unidos em que Trump resolveu, disse, desclassificar uns documentos e levá-los para casa, e anda agora tudo pelos tribunais.

Não são talvez as de Paulo Portas que terá fotocopiado – o próprio o terá dito – vasta documentação sobre a aquisição dos célebres submarinos, mas o facto é que o anúncio não teve consequências.

E será lícito a um membro do Governo que está de saída mandar destruir os arquivos do seu Gabinete ou pelo menos a parte relativa à função política da actividade do seu Gabinete?

E, ainda, será lícito a um membro do Governo que acabou de entrar mandar destruir as actas de uma comissão interdepartamental criada por despacho do seu antecessor imediato, publicado em Diário da República, e coordenada por um adjunto de Gabinete deste?(iv)

Se isto sucede com documentos formais, o que dizer sobre notas manuscritas e papeis de trabalho? Ou com o seu equivalente em apontamentos de computador?.

Não direi que não percebo os dilemas do inefável Frederico.

Entretanto, e a final, cabe recordar a existência do sigilo profissional dos membros dos gabinetes.

O qual, no meu modo de ver, visa proteger os direitos do membro do Governo que os nomeou.

E que pode, também no meu modo de ver, ser dispensado por este, ainda que já não em funções, ou pelos tribunais.

Mas que não deve deixar de ser invocado(v).

 

Os Gabinetes como Carreira de Futuro

Entretanto toda a gente quer ter gabinetes: presidentes de câmara, reitores. É ´sinal de ascensão social ter um gabinete.

Já contei aqui como presidentes de órgãos de sindicatos mandavam as funcionárias dos secretariados escrever aos associados segundo as fórmulas que liam na correspondência governamental “Encarrega-me o Senhor Presidente….”.

Mas essas são outras conversas.

 

Notas

(i) Durante muito tempo os gabinetes dos membros do Governo regeram-se pelo Decreto-Lei nº 263/88, de 23 de Julho, de um dos governos de Cavaco Silva, substituído ao pelo Decreto-Lei 11/2012, de 20 de Janeiro do Governo Passos Coelho, sendo que o último invoca ter acolhido recomendações do Tribunal de Contas.

(ii) Fui durante cerca de um ano adjunto do Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais António Carlos dos Santos, em regime de nomeação, e num Governo posterior, também durante cerca de um ano, “assessor” do Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Carlos Lobo, em regime de requisição aos serviços de apoio ao Tribunal de Contas, de cujo quadro era auditor.

(iii) Exerci funções como Conselheiro Técnico do Gabinete do Ministro das Finanças António de Sousa Franco para assuntos decorrentes das Resoluções do Conselho de Ministros nº 100/96 e nº 40/98 , relativas a empresas em situação difícil, e nesse contexto fui representante do Ministério das Finanças no GACRE – Gabinete de Coordenação para a Recuperação de Empresas e numa fase inicial na AUDITRE – Unidade de Auditoria para a Reestruturação Empresarial.

(iv) E será lícito a este adjunto de gabinete conservar na sua posse uma cópia destas actas?

(v) Sucedeu-me num processo judicial movido por um clube de futebol contra um jornalista, invocar também o sigilo. Explicado à juíza que não se tratava do vulgar sigilo de funcionário público, nem do sigilo fiscal, mas do sigilo de membro de um gabinete de membro do Governo, lá foi o dito levantado.

Ideias úteis para poupar energia

A poupança de energia é algo que tem sido um tema recorrente na casa de muitos portugueses, porque à medida que o custo de vida aumenta existem sempre tentativas de poupar um pouco em tudo o que se pode.

A poupança de energia é efetivamente possível seguindo algumas ideias práticas e tecnológicas, e hoje decidimos falar de algumas coisas que pode fazer para reduzir a sua conta da luz de uma forma verde e sustentável, ou seja, a poupança vai também refletir-se num melhor meio ambiente.

 

Painéis solares

Caso tenha esta possibilidade e estiver numa casa comprada, consulte os vários serviços para instalar painéis solares uma vez que pode não só ter uma forma de poupar energia como também vender energia diretamente à distribuidora. Esta energia será totalmente verde, ou seja, vem do sol, e está também a contribuir de forma positiva para o ambiente.

No entanto, se não puder ter painéis solares, existem outras formas de poupar.

 

Altere a empresa que lhe fornece a energia

Quando falamos no fornecimento da água, conforme indicado anteriormente, não existe uma alternativa viável caso fique insatisfeito. Mas o mesmo não pode ser dito da eletricidade, existem várias empresas no mercado regulado e não regulado que podem fornecer-lhe a mesma energia que chega à sua casa mas a preços mais competitivos.

Um dos exemplos de uma empresa com preços competitivos é a Goldenergy, com a energia verde a chegar diretamente à sua casa e a permitir alcançar efetivas poupanças de energia considerando os seus concorrentes.

 

Use lâmpadas diferentes

Se a sua casa usa LEDs ou lâmpadas incandescentes, está na hora de procurar economizá-las. Existem LEDs que consomem menos e lâmpadas de baixo consumo que podem manter a potência. Desta forma, a eficiência energética da lâmpada em si será menor, mas vai manter a luz ao qual está habituado.

As lâmpadas ou candeeiros inteligentes além de poderem ligar-se a uma rede Wifi e poderem receber “ordens” pelo Google, a Siri, Alexa ou uma app instalada no seu smartphone, têm normalmente um baixo consumo e podem ser usadas com luz fria ou luz quente, garantindo um consumo e um tipo de luz exatamente como pretende.

Além disso, podem ser desligadas remotamente, o que ajuda também na poupança, porque caso esteja noutra divisão da casa e queira desligar a luz de uma divisão vizinha, basta ir à app e desligar em vez de a deixar ligada até que volte aquela divisão.

Poderá ainda colocar em toda a casa interruptores com acesso Wifi, para conseguir uma automação total, mas aí requer a troca de interruptores em casa e a compra de novos, e é algo que deve ser feito por um técnico ou eletricista.

 

Eletrodomésticos de baixo consumo

Quando vai comprar um grande eletrodoméstico e vê que a eficiência energética é F (a menos eficiente), mesmo que tenha um preço mais barato, evite a sua compra. Caso compre um eletrodoméstico com eficiência A, B ou mesmo C, vai provavelmente pagar mais por ele, mas vai poupar ao longo dos anos em energia.

Desta forma, ajuda o ambiente e ajuda a sua carteira, pelo que existe aqui um duplo benefício que lhe vai sair mais barato a longo prazo.