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João de Sousa

Quarta-feira, Abril 24, 2024

Pensamentos

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Poemas de Delmar Maia Gonçalves

I

“Interpelação”

Sol que queimas
do lado das planícies
onde combate meu irmão
que “novas” me trazes?
E o sol em brasa responde:
O mensageiro traz-nos “novas” com cheiro de sangue e pólvora
e ainda o pó do lodaçal
seco que arrasto comigo!

II

Nos dias ácidos
que nos ofertam
adormeço-me
leprosamente solitário
fujo do rebanho
e todos me julgam!

III

“Pensamentos”

Meus pensamentos
não são imóveis
são como as ondas do mar
só não andam ao sabor do vento
vão e vêm
mas como um turbilhão de vendavais!

IV

“Céu invisível”

Quando meu amor chora
guardo suas lágrimas
num pedaço de céu invisível.

V

“Mestiçagem”

Somos resultado de uma adição
quando subtraímos esquecemo-nos que antes houve adição
Não nos podemos dividir mais
porque somos resultado da multiplicação
que resulta em humanidade
Feitas as contas
a adição só enriquece não empobrece.

VI

“Entre sonho e realidade”

Sonho
sonho permanentemente
desesperadamente
diariamente
utopicamente
mas vivo na realidade
Talvez se tivesse nascido
noutras épocas ou noutros espaços
tivesse conhecido Gandhi e King
Luthuli e Mandela
trocasse ideias
partilhasse ideais
fosse um herói de revoluções
concretizasse o sonho de muitos homens
e fizesse feliz a raça humana.

VII

“Mulher II”

Quero alcançar-te
ser-te fiel
algo me impede
sinto-o
talvez seja parte do meu ser
desconfiado e prudente
talvez te ame demasiado
para te querer
Prefiro estar só
Perdoa-me ser infame e maravilhoso.

VIII

“Impotência”

Nem a minha engenharia cerebral
pensadora e reflexiva
nem a minha mais humilde gramática chuabo
conseguem encontrar
resposta lógica e racional
para o miserável conformismo africano
no culto da mendicidade
Onde está o orgulho africano?

IX

Ventos do sul
por que me ofereces
uma pátria
podre nas entranhas?

X

Há palavras que são como os seixos do caminho
há palavras que são como o mar…
E o mar companheiros,
o mar chega ao infinito!!!

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