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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Ser humano completo

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Poemas de Delmar Maia Gonçalves

XXX

As sandálias que hoje uso
não me pertencem
sou um viajante do mundo.

“Ser humano completo”

Sou completo
sou humano
e resulto do negro e do branco
da claridade do dia
da escuridão da noite
da humanidade em flor
do arco-íris humano
da dança ancestral da alma
Pois é
esse sou eu!

“O pseudo-revolucionário e nós”

(ao bufo mais nojento dos séculos XX e XXI)

Não havia sementes no seu vocabulário
não havia árvores no seu vocabulário
não havia flores no seu vocabulário
não havia plantas no seu vocabulário
No seu vocabulário não havia Pássaros,
não havia voo
Nele tudo eram relevos e picos
e sabia apenas o que desde sempre lhe haviam ensinado
A matar os Pássaros primeiro
e matou os Pássaros
A odiar a lua em seguida
e odiou a lua
A odiar as estrelas
e odiou as estrelas
A odiar o sol
e odiou o sol
A ter um coração de pedra
e teve um coração de pedra
e depois a gritar
-Que morram!
No seu vocabulário
não havia sementes,
não havia árvores,
não havia flores,
não havia plantas,
não havia Pássaros,
não havia vida
No seu vocabulário
não havia Tu e Eu,
não havia nós…
Porque tinha de matar-nos
Havia terra moribunda e queimada
nas suas vísceras sem vida
e ele sabia apenas
o que lhe haviam ensinado
A matar-nos a ti e a mim
para ele existir!

“Amanhecer agreste”

Silêncio sepulcral
nuvens
árvores deambulando
rajadamente
o vento sopra violento
como o meu pensamento.

“Arma secreta”

Eis a minha arma
empunhada na mão direita
arma poderosa
e que tantos homens temem
É irónico
mas eles também a empunham
para fins diversos ,é claro.

Eis a minha arma
dela tudo se espera
tudo…!
Tudo de bom e de mau.

Eis a minha arma
daquelas que disparam
mas não ferem
que promovem e despromovem.

Eis a minha arma
Ei-la aqui!
Aqui neste momento
pronta a desferir
rudes golpes sobre o “inimigo”
sem no entanto matar.

Eis a arma
que tem todas as cores
mas não deixa de ser letal e bela!

XXI

Não se auguram
sortilégios
no lodaçal
Adivinham-se relâmpagos.

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