Mas, business as usual, desde o Brexit, o mundo está hoje cheio de gente surpreendida e que gosta de o ser.
Tornado, antes do tempo
A vitória de Trump anunciava-se aqui neste jornal, em 25 de Julho passado: “Trump já comeu o “elefante” e a senhora Clinton parece fadada para também ser comida…“.
Um pouco antes, a 06 de Maio, escrevia aqui que, nesta campanha americana, estava-se a viver “O Fim de uma Era e a Irrupção de Políticos Disruptivos”, como Trump e Sanders, as duas faces da moeda do grande descontentamento americano.
Clinton não percebeu
E, olhando para o que Hillary estava a fazer, dizia “a equipa da senhora Clinton parece não ter percebido nada do que se passa e vai fazendo uma campanha que não é deste tempo. Cada vez é mais visível e até, por vezes, chocante o gap entre o que a campanha Clinton apresenta e o que eleitorado espera.
“Clinton bem precisa de pôr uma equipa de gente capaz a trabalhar a questão fatal de saber porque é que Sanders e Trump têm chusmas de eleitores fascinados (alguns que há poucos anos estavam fascinados por Obama…). E precisa, urgentemente, de trabalhar as respostas a esta questão. Só assim não será (“surpreendente e inesperadamente”, como depois dirão os “entendidos”…) derrotada por Donald Trump.”
No início de Outubro do ano passado, na análise que aqui fiz às “legislativas” portuguesas, apontava já para o resultado avassalador das candidaturas disruptivas:
“Passados estes anos sobre o rebentar da crise de 2008, os eleitorados na sua desilusão mostram tendências de procurar um novo tipo de políticos, começam a procurar autenticidade. Como referiu há dias o “mago” David Axelrod (o homem que inventou Obama), neste emergente contexto, o mais apurado dos “sound bites” torna-se… o menos apurado, o menos efectivo. Porque os “candidatos construídos” já não convencem os eleitorados que, agora, anseiam por pessoas que sejam autênticas e não por políticos profissionais de sorriso postiço e frases feitas.”
E acrescentava:
“George Friedman acaba de classificar este fenómeno como “the crisis of the well-crafted candidate”… Em síntese, em todo o Ocidente, estamos a entrar num novo ciclo político e atingimos o fim do ciclo em que criar pessoas artificiais para as candidatar aos altos cargos políticos funcionava.”
White Trash
A vitória de Trump é a vitória do proletariado branco americano (que foi um dos três pilares do Partido Democrata mas que este abandonou há décadas para, tal como as esquerdas europeias, se dedicar a causas fracturantes…), é a vingança desse abandonado “White Trash”, e é a derrota da elite política profissional que, no pós-crise financeira de 2008, se assumiu como cúmplice descarada da elite financista (responsável pelo desencadear dessa crise financeira) e outros banksters. Essa cumplicidade (logo na altura soberbamente analisada por George Friedman) foi agora severamente castigada nestas eleições que marcam o fim da data de validade dos cúmplices políticos dos banksters & Cª.
Sobre o candidato Trump e o seu discurso, nada há já que seja necessário acrescentar. Ele revelou-se bem na mais ordinária das campanhas eleitorais a que já assisti. Sobre o que será o presidente Trump e a sua prática e como poderá mudar todo o sistema internacional nas suas várias vertentes (geopolítica, estratégica e económica…) é o tema da minha próxima análise a publicar neste jornal.