Diário
Director

Independente
João de Sousa

Terça-feira, Outubro 3, 2023

A Vingança do “White Trash” e a “Surpresa” dos “Surpreendidos”

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

Mas, business as usual, desde o Brexit, o mundo está hoje cheio de gente surpreendida e que gosta de o ser.

Tornado, antes do tempo

A vitória de Trump anunciava-se aqui neste jornal, em 25 de Julho passado: “Trump já comeu o “elefante” e a senhora Clinton parece fadada para também ser comida…“.

Um pouco antes, a 06 de Maio, escrevia aqui que, nesta campanha americana, estava-se a viver “O Fim de uma Era e a Irrupção de Políticos Disruptivos”, como Trump e Sanders, as duas faces da moeda do grande descontentamento americano.

Clinton não percebeu

E, olhando para o que Hillary estava a fazer, dizia “a equipa da senhora Clinton parece não ter percebido nada do que se passa e vai fazendo uma campanha que não é deste tempo. Cada vez é mais visível e até, por vezes, chocante o gap entre o que a campanha Clinton apresenta e o que eleitorado espera.

“Clinton bem precisa de pôr uma equipa de gente capaz a trabalhar a questão fatal de saber porque é que Sanders e Trump têm chusmas de eleitores fascinados (alguns que há poucos anos estavam fascinados por Obama…). E precisa, urgentemente, de trabalhar as respostas a esta questão. Só assim não será (“surpreendente e inesperadamente”, como depois dirão os “entendidos”…) derrotada por Donald Trump.”

No início de Outubro do ano passado, na análise que aqui fiz às “legislativas” portuguesas, apontava já para o resultado avassalador das candidaturas disruptivas:

“Passados estes anos sobre o rebentar da crise de 2008, os eleitorados na sua desilusão mostram tendências de procurar um novo tipo de políticos, começam a procurar autenticidade. Como referiu há dias o “mago” David Axelrod (o homem que inventou Obama), neste emergente contexto, o mais apurado dos “sound bites” torna-se… o menos apurado, o menos efectivo. Porque os “candidatos construídos” já não convencem os eleitorados que, agora, anseiam por pessoas que sejam autênticas e não por políticos profissionais de sorriso postiço e frases feitas.”

E acrescentava:

“George Friedman acaba de classificar este fenómeno como “the crisis of the well-crafted candidate”… Em síntese, em todo o Ocidente, estamos a entrar num novo ciclo político e atingimos o fim do ciclo em que criar pessoas artificiais para as candidatar aos altos cargos políticos funcionava.”

White Trash

A vitória de Trump é a vitória do proletariado branco americano (que foi um dos três pilares do Partido Democrata mas que este abandonou há décadas para, tal como as esquerdas europeias, se dedicar a causas fracturantes…), é a vingança desse abandonado  “White Trash”, e é a derrota da elite política profissional que, no pós-crise financeira de 2008, se assumiu como cúmplice descarada da elite financista (responsável pelo desencadear dessa crise financeira) e outros banksters. Essa cumplicidade (logo na altura soberbamente analisada por George Friedman) foi agora severamente castigada nestas eleições que marcam o fim da data de validade dos cúmplices políticos dos banksters & Cª.

Sobre o candidato Trump e o seu discurso, nada há já que seja necessário acrescentar. Ele revelou-se bem na mais ordinária das campanhas eleitorais a que já assisti. Sobre o que será o presidente Trump e a sua prática e como poderá mudar todo o sistema internacional nas suas várias vertentes (geopolítica, estratégica e económica…) é o tema da minha próxima análise a publicar neste jornal.

George Friedman

Hoje, às 18h08

“That is the reason Hillary Clinton lost: The Democratic Party that nominated her has moved far away from the party that Franklin D. Roosevelt crafted or that Lyndon B. Johnson had led. Their party had as its core the white working class. The liberalism of FDR and LBJ was built around this group, with other elements added and subtracted. Much has been said about this group having become less important. Perhaps so, but it is still the single largest ethnic and social group in the country…”

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -