Primeira Parte
Num Mundo perfeito as nossas crianças cresceriam com a mente limpinha até aos 18 anos – a idade legal em que podem começar a consumir álcool.
Até aos 25, os seus neurónios estariam preservados, a idade em que se considera que o cérebro humano está completamente desenvolvido. Tudo lhes seria permitido em idade considerada adulta, mas não antes.
Assim, nesse mundo perfeito, estariam livres do uso e abuso do álcool e outras drogas. E felizes, claro, com os seus sorrisos fantásticos, os seus olhos brilhantes de saúde e bem estar. Sentir-se-iam sempre serenos, confiantes e teriam completo controle sobre as suas vidas – dentro do possível.
Nesse mundo, os objectivos que definissem, naquilo de dependesse deles, seriam sempre alcançados. Nada poderia impedi-los!
Mas não é assim, pois não?
O cérebros sofrem mais vezes, cada vez mais cedo e num crescente número de pessoas que assim vão sofrendo injúrias que traumatizam o resto da vida.
E sim, falamos novamente de adicções.
Alguns Conselheiros nesta matéria afirmam, sem qualquer sombra de dúvida, que existe um sem-número de factores que podem induzir o risco de uma pessoa em se tornar um futuro dependente de drogas e/ou de álcool.
Vamos portanto ser sérios e realistas: em vez de falarmos do que seria idílico, fazemo-lo sobre o que podemos tentar para que tal não aconteça.
Mas será que existe uma solução mágica para que os nossos adolescentes possam crescer livres?
Providenciar as suas necessidades básicas, bem ou mal, toda a gente sabe fazer. No entanto, existem algumas atitudes muito importantes que podem ser tomadas com o intuito de prevenir o abuso precoce de drogas e álcool.
É evidente que seria bom se existisse uma receita perfeita para que pudessem todos crescer realmente livres, mas tal não existe. Não só porque cada situação é diferente da outra, como também o estigma continua a proliferar na nossa sociedade.
Hoje em dia, o típico “bêbado” ou “drogadito” já não existe. Em qualquer lar, em qualquer classe social, em qualquer escola ou curso de Universidade, mais ou menos escondido, mais ou menos a dar nas vistas, existe uma pessoa a sofrer. Só que, nesta altura, ainda não sabe que está a sofrer.
Anos mais tarde é que a coisa complica. Progressivamente.
Em qualquer classe social ou económica a coisa acontece. Este drama é cada vez mais transversal.
Contudo, o trabalho pode começar a ser feito com a família, desde bem cedo.
É nesse sentido que venho aqui deixar algumas sugestões que, se forem todas tidas em conta, vão certamente criar um lugar seguro, um clima mais propício para a prevenção que deve começar desde muito cedo.
Saiba como apoiar uma adolescência mais livre, livre de drogas e álcool.
Tome nota:
- Comunique! Converse frequentemente com os seus filhos sobre os riscos do uso do álcool e drogas. Informe-se primeiro, para usar as palavras correctas e não parecer distanciado do tema. Sem medo. Fale disso.
- Ouça! Seja um ouvinte activo. Quando o seu filho ou filha falar sobre pressões que possa sentir, fique atento. Apoie o esforço que ele ou ela fazem para contrariar essas pressões.
- Seja um bom exemplo! Não vai servir de muito falar sobre drogas e álcool quando na prática os seus filhos o vêem a consumir diariamente. Não faz sentido.
- Trabalhe a relação que tem com os seus filhos! Uma relação estável e sólida ajuda certamente a combater o risco. Mas cuidado: uma relação deste género não é uma relação de “amizade”. Amigos são os que estão na escola, na Universidade ou nos treinos. Pai e Mãe são Pai e Mãe. Não são “os melhores amigos”. É muito importante manter essa fronteira, mesmo que passe por distanciamento. Mas um Pai e Mãe têm de ser confiáveis, capazes de falar sobre tudo, em suma, informados.
- Sente-se com os seus filhos para, pelo menos, uma refeição juntos diariamente. Não imagina o poder que este momento tem: é um “poder oculto”, um hábito que se vai transformando num âncora. Acredite: cria-se numa refeição em conjunto uma sensação de protecção de que todos beneficiam.
- Seja claro em relação às suas expectativas! Comunique-as de forma objectiva e garanta que, se não forem cumpridas, haverá consequências. É fundamental que os filhos sintam que há objectivos, prémios e consequências.
- Trate os seus filhos com respeito! Façam eles o que fizerem, sempre com respeito. Todo o ser humano deve ser respeitado.
- Ensine: os filhos de quem ensina e aponta os riscos do uso de álcool e drogas, são menos propensos a usar do que aqueles que não o fazem. Acredite: estes problemas existem mesmo em todo o lado, no prédio, na rua, na escola. Longe vão os tempos dos “bairros de uso” estanques.
- Saiba o nível de risco que o seu filho tem. Está provado que a adicção é uma doença também genética. Os genes são um elevado factor de risco para que o seu filho se possa tornar num adicto. Saiba o risco que ele vive e explique-lhe esta importância e a razão porque tem que estar extra-vigilante!
- Compreender bem os factores de risco. Ajude o seu adolescente a entender os factores de risco se vier a desenvolver um problema de abuso de substâncias.
- Tenha conversas com os seus filhos. Ter conversas em vez de confrontos ajuda a manter uma relação forte.
- Estabeleça fronteiras de forma bem específica. Deixe bem claro que não os quer a usar drogas nem álcool.
- Mantenha-se em contacto! Conheça os amigos dos seus filhos e faça ponto de honra em conhecer os pais deles. Mantenha-se envolvido, conectado com o Mundo dele.
- Esteja atento! Saiba sempre onde e com quem os seus filhos estão.
- Seja proactivo! Ao contrário do que possa pensar, não faz mal nenhum: verifique as mochilas, bolsos, latas, lixo, carro, armários, debaixo das camas, invólucros vazios e outras evidências do uso de drogas.
Por hoje fico-me por aqui. Terei ainda mais sugestões para acrescentar a esta lista. Traga-a consigo! Cada dia é um bom dia para começar.
Ana Pinto-Coelho com Cathy Taughinbaugh e Elizabeth Gordon, contribuição para a divulgação, também na língua portuguesa, de vários trabalhos sobre adicções e comportamentos aditivos.