Verdade, para comentar “conjuntura” como a nossa atual, eternamente sacudida por tsunamis nos últimos 12 meses, é preciso voltar a três anos atrás e vir de lá até as bizarrices do tempo presente.
Fui parar no começo de 2016 quando pesquisei quem era o procurador que leu as denúncias contra Lula. Deltan, esse é o nome!
Descobri que ele é um “herói”, segundo um articulista que me envergonha até citar o nome, porque já o admirei em uma encarnação passada (veja o artigo completo).
Esse procurador é herói, principalmente, porque tem 200 horas de “cursos” de especialização, além de graduação e mestrado em Harvard, o que, comparado ao “curso de guerrilha de José Dirceu, à tese de economia que a Dilma Rousseff não terminou e aos estudos do Lula, interrompidos no colegial” é ser “herói”.
O texto é mesmo de chorar porque não tem embasamento. Praticamente desmerece a maioria dos grandes jornalistas brasileiros e de escritores geniais da literatura mundial, autodidatas.
Não há brilhantismo na carreira do citado procurador do Paraná, não há frases de “sabedoria” a serem admiradas e reproduzidas, livros, artigos, a não ser, claro, prêmios pela Lava-Jato (conjunto da obra, em 2015) .
Se heroísmo é esse currículo acadêmico e a admissão em cargos públicos de alto escalão entre os primeiros colocados por concurso, tenho que incluir muitos dos meus familiares e amigos.
No site desse senhor articulista ainda há outras indigências intelectuais, como a explicação de que “escola sem partido ensina a pensar” (o marxismo impede que se pense, alega; daqui a pouco vão dizer que Freud impede a sexualidade, enfim, vão eliminando os verdadeiros heróis da humanidade, da inteligência universal, e elegendo esses acadêmicos que pagam MBAs ou mestrados sem prejuízo para o bolso).
Ah, diz ainda o tal articulista que o tal procurador poderia, graças ao inglês “impecável” que fala, estar em um escritório internacional, ganhando muito dinheiro, mas decidiu ficar e salvar o Brasil. Muita bondade.
Por último, o articulista elogia a coragem do procurador em professar publicamente “valores éticos cristãos”. Puxa, eu também sigo valores éticos cristãos, não só, mas também. Preciso me vangloriar mais, sou muito modesta (falo e escrevo em inglês, entendo francês, espanhol e italiano, tenho noções de latim e grego)
Não é pelo PT, nem pelo Lula (que é acusado por reformas em triplex no Guarujá, reforma especialmente luxuosa na cozinha, além de ser acusado, de novo, pelo que já condenou José Dirceu – chefão da corrupção nas propinas do “mensalão”), é pela arbitrariedade que o autoritarismo autoriza e “legitima”.
Ou nos unimos agora ou nos calamos já, porque a lei da mordaça parece estar virando a esquina. Logo ali.
Nota da Autora
O Capitão 7 (na imagem) surgiu no início dos anos 1950 e pode ser considerado o primeiro super-herói brasileiro dos quadrinhos. Ele nasceu na TV Record de São Paulo e foi exibido ao vivo pela primeira vez em 1954 . Foi criado pelo ator e boxeador Ayres Campos, que também o interpretava. O Capitão tinha como assistente a então garota-propaganda da Record, Idalia de Oliveira.
A autora escreve em português do Brasil