Diário
Director

Independente
João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Intermitências…

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

Poema de João de Almeida Santos com imagens de Filipa Antunes.
INTERMITÊNCIAS…
(Poema em Dez
Andamentos)

I.

Ah! Chama-me,
Esse teu Rosto!
Não ouço
Palavras
Ou sons,
Mas pressinto
Um impulso
Hesitante
E um espanto
Contido
Que te suspende!

II.

Traços
Intensos, os teus,
Sim,
Mas de mistério,
Que falam
Sem dizer
E capturam
O meu olhar…
Perdido
Em ti!

III.

Ah!,
Esse rosto
Denso
Perturba-me
Porque invoca
O teu incerto
Nome!

Se te olho
Seduzes-me,
Pões-me suspenso
Entre o desejo
E o impossível,
Expectante
Perante esse
Olhar que,
Sem ser
Da Medusa,
Quase petrifica!

IV.

Queres falar,
Mas de teus lábios
Sai silêncio,
Talvez suspiro
Ou leve balbucio…

Receias
Denunciar
O que já não tens
Para dizer
Ou calaste
Por timidez
Calculada,
Com medo
De perder
O que nunca
Agarraste
Com as mãos
Do desejo?



V.

Teus lábios
Sussurram,
Desenham
Palavras
Sem som
E suspendem
O encontro
Sempre adiado,
Como esse beijo
Que nunca
Ousaste
Pintar
Com as cores
Da tua alma!

VI.

Nos teus cabelos
Enovela-se
A minha vida,
Com estas palavras
Que te procuram!

No teu mistério
Caio tão fundo
Que nem vale
A pena
Esbracejar,
Agarrar-me
Às paredes
Do desejo
Para trepar
Por ali acima
À procura
Do que nunca virá…

VII.

É paixão?
Que podia ser?
Mas não se explica,
Pois são riscos,
Só riscos,
Carvão
Que não arde
Por fora,
Mas queima
Por dentro
E desenha
Esses lábios
Carnudos
E hesitantes
De tão pouco
Dizerem
O que nunca
Quiseste ouvir…



VIII.

E esse olhar
Profundo,
Esse mistério
Onde afundo
As raízes
Da minha alma,
Incapaz de se redimir,
Consome-me
Toda a energia
Poética
De que tento
Em vão
Libertar-me…
…………………
Para melhor
Te encontrar
No corpo
E na alma…

IX.

Agora,
Vejo-te
Recolhida,
Em tristeza
Dorida,
Enovelada
E em fuga,
Como valsa lenta,
Para dentro de ti,
Porque só
Balbuciaste
A vida,
Incapaz que foste
De a dizer,
De a gritar
Numa praça
Cheia
Até daqueles
Que não te queriam
Ouvir…

X.

Mas eu gosto
Desse recolhimento
E viajo contigo,
Até ao fundo
Da tua alma
Para te pintar
Com todas as palavras
De que for capaz
Até que um dia
Me abandonem,
Exaustas
De tanto chamarem
Por ti…

Ah! Esse rosto…

Ilustração: Desenhos de Filipa Antunes. Abril de 2017

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

Sobreviventes a Salazar

Mentores espirituais

A História da Pide

- Publicidade -