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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Brasil: Última chamada

Christiane Brito, em São Paulo
Christiane Brito, em São Paulo
Jornalista, escritora e eterna militante pelos direitos humanos; criou a “Biografia do Idoso” contra o ageísmo.  É adepta do Hip-Hop (Rap) como legítima e uma das mais belas expressões culturais da resistência dos povos.
Negros confrontam manifestação de brancos no Morumbi
Negros confrontam manifestação de brancos no Morumbi

Quando eu era criança, em férias escolares na cidade de Lorena, encontrei um livro sobre os milagres de Nossa Senhora de Aparecida.

Achei maravilhoso o poder da fé, embora não haja religiosidade dominante (que eu tenha detectado) na minha família. Falo da fé no sonho, muito estimulada pelos livros desde o início.

Sim, nasci cercada de livros, ouso dizer que havia estantes na casa de quase todos os familiares.

Lembro-me da estante imensa na casa da minha avó, escritora e historiadora, por isso tantos e tantos livros.

E me lembro, com carinho igual ou maior, da estante do meu avô, porque ele era meu padrinho de batismo e costumava me presentear com livros da sua pequena estante, alojada no “barracão” – seu quarto nos fundos da espaçosa casa em que morava com minha avó, Cora.

Opção De Sequência 1: O nome dela estava logo à entrada da casa, escrito no gradil de uma janela de ferro; por outro lado, o nome da minha avó primeira, de quem ele enviuvara, estava tatuado no seu peito. O coração flechado, sangrando e desbotado pelo tempo, sempre me pareceu tão exposto quanto a grade na janela da frente.

Opção De Sequência 2: Cito dois títulos (que ganhei do meu avô, me repetindo para ser plenamente compreendida): “Fumaça” (Ivan Turguêniev) e “O profeta” (Gibran). Só aqui, temos um russo e um árabe.

Sem falar do mineiro de Ouro Preto, o meu avô (voltando à história que comecei a narrar no quinto parágrafo), ex-prefeito da cidade, que ostentava nome e sobrenome composto — algo como a linhagem que Gabriel García Márquez descreve em “Cem anos de solidão”, obra-prima da literatura latino-americana.

Interrupção 1: O mais incrível (como no romance que deu origem ao realismo fantástico) é que os dois lados da minha família (pai e mãe) têm sobrenomes ilustres.

Interrupção 2: Eu tenho insônia grave, como a Remédios (personagem do livro), e tomo medicação para dormir desde que o meu pai morreu. Estou acordada agora, escrevendo…

Final:

Falei da santa, dos milagres, da família — como qualquer outro poderia ter falado — e não falei da PEC 241. Paciência, o fundamental foi dito pelo Negro Belchior na primeira linha desse artigo.

A autora escreve em português do Brasil

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