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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Onde erramos?

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Jornalista que sou, não gosto de me colocar como parte da história. Mas, como cidadão, tento compreender como chegamos a mais essa grave ruptura das instituições democráticas em nosso país.

Faço um corte na história e volto pra meados dos anos 70.

Garotão de 20 anos, militante da Convergência Socialista, acompanhei a consolidação do movimento operário, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva. Estava no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, quando ele anunciou a criação do Partido dos Trabalhadores.

Atuei, sem protagonismo, mas com alegria desenfreada, em todas as eleições que se seguiram. A linguagem era inovadora, a forma de se pensar e fazer política também o eram. Perdemos muitas eleições, mas ganhamos corpo.

Em certo momento, lideranças do PT entenderam que chegara a hora de se estabelecer um modelo de atuação que conduzisse o partido ao poder e implementasse mudanças efetivas ao país. Vieram as alianças com grupos políticos de centro e de centro esquerda e a base de sustentação voluntária e popular começava a se dissolver.

Muitos passaram a apoiar o partido apenas à distância e sem o mesmo fervor, enquanto outros o abandonavam definitivamente. Lula chega ao poder e sente o peso da governabilidade. De um lado toda a base de apoio, os antigos companheiros de luta, clamando por mudanças imediatas, enquanto do outro, a oligarquia, maioria no Congresso Nacional, se esforçando para não perder privilégios conquistados desde os tempos da monarquia.

Em nome da governabilidade, nos três mandatos que se seguiram, os ministérios e cargos de confiança foram gradualmente saindo das mãos dos aliados históricos e passando para a mão de fisiologistas capazes de garantir a maioria de deputados e senadores nas grandes votações.

Passados dois governos de Lula e pouco mais de um de Dilma, são inegáveis os avanços em diversas áreas, especialmente nas sociais. A redução da pobreza é inegável, como também o são os avanços na educação e saúde.

Aqui abro mais um parêntesis e me coloco novamente como personagem e testemunha, após tratar com sucesso de dois diferentes tipos de câncer de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS).

Mas, também são inegáveis os avanços em infraestrutura, na indústria e na produção agrícola. Porém, após quatro vitórias seguidas do Partido dos Trabalhadores e diante das perspectivas reais de uma nova vitória de Lula na eleição que se seguirá, forças de centro-esquerda, de centro, de direita e de extrema-direita, aliadas a uma fortalecida bancada evangélica e a uma mídia oligárquica e reacionária, se uniram em um projeto de desconstrução do atual governo e de suas possibilidades de continuidade.

Conquistada a maioria nos bastidores e porões, montou-se um teatro para dar um aparato “legal” ao golpe arquitetado de tomada do poder. O rito formal passou a ser a maquiagem para tentar preservá-los frente à história.

As forças democráticas demoraram muito a se rearticular e perderam qualquer chance de defesa. O Partido dos Trabalhadores sofreu do mesmo mal que aflige diversas democracias pelo mundo: como governar pelo e para o povo se aliando, em nome da governabilidade, com forças que trabalham claramente contra esses interesses.

O Brasil entra agora em uma era de incertezas e retrocessos!

Marcelo Brettas, Jornalista e Escritor
O autor escreve em português do Brasil

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