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João de Sousa

Sexta-feira, Junho 27, 2025
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A produtividade e os salários

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Os “slides” com dados que dão um retrato objetivo da situação do país utilizados na audição no Conselho Económico e Social.

Eu falo

Playlist: Caetano Veloso

“Deixa que minha mão errante adentre atrás, na frente
Em cima, embaixo, entre…”

Muito se discute sobre o tema desde a meninice, mas os garotos vão crescendo e medindo. Será que está do tamanho certo? É muito grosso, ou muito fino? Mais velhos, trocam a mira, não o alvo. Passam a se medir pelo carro potente, pela gravata importada, a coleção de canetas, pela quantidade de mulheres que já tiveram ou com a qual desfilam. Uma coisa é senso comum: o homem não se cansa de se projetar no falo.

Os mais intelectuais o medem pelas ideias, que discutem e carregam consigo, protegendo-as tal qual o tapa-sexo dos índios. Ou seja, cobrindo pela metade, deixando a bunda de fora. Daí, quando conhecem uma mulher com opiniões interessantes ou que os surpreendem ficam desconcertados, tal qual o adolescente dos tempos de minha avó, quando trocavam as calças curtas pelas longas e cobriam-se com penas de pavão.

É curioso quando vemos a apologia ao corpo perfeito correndo simultânea com a exposição dos ditos machos na paralela com os homossexuais, pela estética e os transexuais pela sensualidade manifesta E aí vão todas as opções de gênero. O falo transpira por músculos, pela massa bem definida, pelo fôlego dos quilômetros de quem consegue mais. Muito hétero está na mesma cartilha. E ainda se espantam quando são cantados nas academias!

Não, nada contra um corpo bem estruturado. O mito do Apolo do século XXI compreende não só massa corpórea, mas a plenitude do prazer partilhado. E não uma atitude passiva de Narciso, que se basta por mirar-se num espelho de academia.

O falo do peão de obra, que coça o saco e cospe na calçada, não tem nada de diferente do executivo bem-sucedido. Guardada a distância de suas diferenças socioculturais, o peão, na sua simplicidade, dá uma encoxada no ônibus para mostrar poder; perde a cabeça, bate na mulher que não viu que ele tem falo e coloca sobre a mesa; cala-se em casa e sai em busca da presa que o sinta macho suficiente no próximo pagode.

Enquanto isso, o executivo workaholic precisa ser terapeutizado para mostrar à patroa que seu falo não está no extrato bancário nem no veleiro de mastros exuberantes que conseguiu empatar seus anos de labuta.

Há falos de prancheta transpirando projetos de linhas ousadas, só que não se arriscam numa investida trivial, e os que exalam tecnologia pelos poros. Esses, insuportáveis, veem em sua engenhoca de última geração o instrumento de uma ereção e tentam acessar o prazer. Na sala, ou na outra casa, a mulher, mais difícil de se aproximar que o fantástico Zabriskie Point, aguarda um enter que a conecte com Afrodite e o mundo dos mortais.

Nessa verdadeira exuberância de falos, com notoriedades distintas e prazeres escassos, há mulheres que buscam cada vez mais a simplicidade das relações encontrando apenas homens travados com suas couraças. Dizem-se cansados da companhia de sempre e, solitários, partem para a busca incontida de alguém nas redes sociais e outros que tais que os aproximem de pessoas, porém sem chegar tão perto.

Estes tipos tiram a espontaneidade dos encontros fortuitos e acabam se tornando bodes expiatórios de cenas que se aproximam mais do filme “A Noite dos Desesperados”. Lançam-se em verdadeiras batalhas, para chegarem a pé no fim da noite. Por isso, como grande parte das mulheres, afirmo para os moços e velhos: se vocês têm, importa-me sim. E como! No entanto, façam bom uso, e não abusem do poder. Se vocês têm a corda, nós temos a caçamba. E só assim dá samba.

Eu falo:
Falo com as mãos (nele)
Falo com os olhos (mirando nele)
Falo com todos os poros (alerta nele)
Falo porquê quero (ele)
Deixa de lado o falo
Percorra todos os poros
E me penetre com sua essência mais sutil e sensual.
Falei, falo


Texto em português do Brasil

Estranha inquisição

A propósito de assunto que já quase só é aflorado, uma indemnização paga por todos nós pela via dos impostos, em circunstâncias que raiam o burlesco tanto no que tem de obscuro como na sua lavra incógnita, desconhecida, leviana, e demais adjetivos que se lhes queira atribuir, ressalta o anedótico contributo na confeção dos conteúdos acordados sabendo as partes qual o quadro legal da contratação pública naquilo que concerne à gestão de empresas publicas mas, só não é risível a explicação de todos os intervenientes, porque a conduta tem regras de educação para balizar a mentira escondida em meias verdades construída com recurso a um exercício de ginástica mental que seria dispensável se houvesse um pingo de respeito pelos eleitores e pela cidadania no seu todo assente na estrutura do Estado, e uns quantos pingos de vergonha para, pelo menos, disfarçar a lisura exigível aos que dizem ter autoridade representativa popular, decidiu a Assembleia da República constituir uma Comissão de Inquérito Parlamentar na senda de uma prática inquisitorial desnecessária mas, com tendência a ser generalizada, sobre tricas várias que nada trazem de benéfico ao cidadão comum ao ponto de, finda uma legislatura desconhecerem que reformas houve, se é  que as houve, e o conteúdo legislativo criado, substituído e, ou, revogatório, por propostas a votação. Exercício para o qual elegem os seus representantes.

Mas, curiosamente, maioritariamente, não fazem a mínima ideia sobre o que é que os seus eleitos fizeram em seu favor durante o mandato para de seguida se deixarem manipular por supostos estudos de opinião e voltarem a votar sem sequer se darem ao trabalho de conhecer os programas eleitorais das várias candidaturas em presença.

A direita reclama, por conveniência, a não existência de ideologias por entre conceitos primários que defende sobre vários temas de onde sobressaem os direitos sobre a igualdade de género: orientação sexual; morte assistida e muitos outros.

O centro direita continua conservador nos princípios da organização económica e da organização social.

A esquerda mantém a perseverança na defesa das mudanças necessárias para a construção de uma sociedade mais igualitária.

Se estas diferenças identitárias com a linha dos princípios defendidos não são os pilares ideológicos das organizações em causa algo está muito mal num dos pilares essenciais à vida em sociedades organizadas: a educação individual e, coletiva.

Ao prestarem-se a discutir o sexo dos anjos em Comissões Parlamentares de Inquérito que se constituem para discutir a origem dos alhos e acabam a dissecar bugalhos ao pormenor, inquisitorial, sobre tudo e sobre nada, estão a dar exemplo da sua consistência moral e intelectual.

O cidadão contribuinte muda de canal televisivo quando estas matérias lhes preenchem o espaço preferindo os anúncios televisivos à devassa, se exibição de futebol não houver.

As questiúnculas politico partidários deixaram de lhes interessar mas as noticias panfletárias também.

Entretanto as CPI e outras Comissões sectoriais continuam a reunir em sessão sobre discussão da rama sem grande profundidade no acessório e assim as décadas vão passando sem grandes alterações e a atividade profissional na politica passa a exercício corrente entre agentes que nesse domínio se movimentam.

Daí que, quiçá por mais mediático, uma indemnização duvidosa se tenha transformado num rol inquisitorial de episódios estranhos, tanto no verbo como no método,  passando pelos conteúdos de um computador, um telemóvel que se partiu acidentalmente, demissões, não demissões,  omissões,  e por aí adiante, de onde resultará uma mescla de argumentos feitos palavras escritas ao sabor de cada um em documento para ser esquecido no tempo.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

Invasão da Ucrânia: A guerra da informação

Um serviço de contrainformação dependente do gabinete do Primeiro Ministro francês, Viginum, denunciou no passado dia 13 uma vasta campanha informática de ‘manipulação da informação’ que identificou com a rede de informação RRN – Reliable Recent News – por este organismo de imprensa claramente identificado com as posições russas desempenhar alegadamente um papel fulcral nessa campanha.

De acordo com as autoridades francesas, a campanha passaria pela criação de sítios no ciberespaço imitando os de organismos do Estado e da imprensa francesa. O diário ‘Le Monde’ dá como exemplo a imitação do portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros fazendo nele figurar um comunicado em que a diplomacia francesa noticia a introdução de uma taxa de segurança, presumivelmente para custear o apoio à resistência ucraniana.

A diplomacia francesa considerou a actuação russa como indigna de um ‘membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas’

Parece-me desproporcionado considerar como indigno mentir, quando a mesma terminologia não foi utilizada para qualificar a invasão de um país independente sob pretextos fúteis, a enorme mortandade, o assassínio de civis em massa, a destruição do ambiente, ou o espectro nuclear.

A guerra da informação é um elemento essencial em qualquer guerra, e pode revelar-se tão ou mais eficaz que qualquer meio estritamente militar, sem necessariamente matar ninguém (mas podendo fazê-lo tanto ou mais do que qualquer outra arma). Se porventura o mundo ocidental não travar essa guerra da informação contra a invasão russa estará a revelar-se no mínimo como incompetente.

Por outro lado, fabricar um falso portal da diplomacia francesa, que ameaçaria os seus cidadãos com impostos, presumivelmente para suster a agressão russa, mais do que enganar os cidadãos, é uma piada que, mesmo para quem não lhe achar graça, serve para lembrar que a guerra tem custos.

Em qualquer caso, só poderia resultar, como naturalmente resultou, numa ocasião para as autoridades francesas denunciarem a mentira do adversário, sem que este tenha até agora conseguido deflectir a autoria da falsificação.

Ao apresentar mentiras tão fúteis, roçando a fronteira do humor, como as armas da guerra de informação da Rússia, as autoridades francesas estão a confundir o essencial com o acessório, promovendo pelo caminho o principal organismo da guerra da informação russa, o RRN, que parece ter substituído os sancionados ‘Sputnik’ e ‘Russia Today’, outrora os mais populares veículos da propaganda russa no Ocidente.

A batalha da informação pode ser a determinante numa guerra, e há sobre isso muita matéria na história para nos fazer reflectir. A mentira, especialmente em estado puro, é raramente um meio eficaz de guerra da informação, e se o for, como neste falso anúncio de impostos, isso será mais para funcionar através do humor ou mesmo apenas para que se fale do assunto, do que para enganar o público.

A guerra da informação mais sofisticada recorre antes a híbridos de verdade e mentira e, especialmente, a verdades que estão apenas descontextualizadas.

Como o disse quando as instituições europeias, em resposta à invasão total da Ucrânia, resolveram interditar no espaço europeu a ‘Russia Today’ e a Sputnik, dando como única justificação para a decisão a de que ambas as instituições eram ‘instrumentos de desinformação’, estávamos a cometer um erro, na verdade, a facilitar a vida às autoridades russas.

Convém talvez aqui lembrar as razões pelas quais isso é assim.

Em primeiro lugar, a União Europeia é uma sociedade aberta, e não pode querer usar os meios de uma sociedade fechada. Esta proibição – sem consequências práticas relevantes entre nós – teve como principal efeito relativizar a feroz censura imposta pela Rússia aos seus cidadãos e a perseguição a toda a imprensa dissidente.

Depois, se ambas essas agências eram controladas pela Rússia, a sua proibição era ineficaz, porque apenas obrigava a Rússia a substituí-las por outras. E convenhamos que a ‘Reliable Recent News’ é um conceito mais eficaz para influenciar a Europa do que o foi a ‘Russia Today’.

Como qualquer cidadão entende, a opinião pró-russa de um militar português na reserva, especialmente se fez carreira na OTAN, é mais eficaz para a Rússia do que um artigo da ‘Russia Today’. Se tivéssemos a circular entre nós a ‘Russia Today’, isso possibilitar-nos-ia um meio prático de aferição da independência dos nossos analistas.

Num Estado de Direito convém naturalmente ter meios inteligentes e eficazes para assegurar que os profissionais da segurança não trabalham por conta dos que atentam contra a nossa segurança, mas não é possível instituir o delito de opinião.

Quanto ao argumento genérico de que a Sputnik e a Russia Today mentem e, portanto, devem ser proibidos (sem qualquer processo judicial, registe-se), a ser aceite, abrir-nos-ia a porta à censura política sistemática.

É claro que a situação de guerra – e igualmente a situação de semiguerra como a que enfrentamos – justifica a excepcionalidade dos meios. Mas é preciso que isso fique claro também no direito. É necessário justificar medidas excepcionais no domínio da informação e outros pela guerra desenvolvida no continente europeu.

Em último lugar, nada pior do que confiar a fautores de desinformação, sem quaisquer provas dadas no domínio da luta contra a desinformação russa, poderes estatais para desenvolver a guerra contra a ‘desinformação russa’.

A guerra da informação é algo para ser levado muito a sério, tão ou mais que as balas ou canhões. É tempo para as autoridades europeias entenderem isso.

O tsunami financeiro global continua vivo

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Parte I – Arquitectura financeira e Globalização

Desde a criação do Federal Reserve dos Estados Unidos (Fed), há mais de um século, todas grandes crises dos mercados financeiros foram deliberadamente desencadeadas por motivos políticos pelo banco central. A situação actual não é diferente, pois claramente o Fed norte-americano está a usar a arma da taxa de juros para estourar aquela que é a maior bolha financeira especulativa da história da humanidade, uma bolha que ele próprio ajudou a criar. Os eventos de colapso global são invariavelmente iniciados na periferia, como o Creditanstalt austríaco de 1931 ou a quebra do Lehman Brothers, em Setembro de 2008. A decisão de impor o maior aumento de taxa em quase 30 anos, tomada em Junho de 2022 pelo Fed quando os mercados financeiros já estavam em queda, deverá ter assegurado uma depressão global ou ainda pior.

A extensão da bolha do “crédito barato” que bancos centrais, como o Fed, o BCE e o Banco do Japão, criaram com a compra de títulos e a inédita manutenção de taxas de juros próximas de zero ou mesmo negativas durante 14 anos, ultrapassou tudo o que se podia imaginar. A comunicação social financeira tem descrito a situação com absurdos relatórios diários, enquanto a economia mundial está a ser encaminhada, não para a chamada “estagflação” ou recessão, mas para algo pior. Graças à globalização e aos especialistas de Davos, o que se está a preparar, salvo uma dramática reversão da política monetária, poderá vir a revelar-se como a pior depressão económica de todos os tempos.

Para entendermos toda a envolvente desta realidade, lembremos que as pressões políticas por trás da globalização e a criação da Organização Mundial do Comércio, a partir das regras comerciais do GATT de Bretton Woods, com o Acordo de Marrakesh de 1994 garantiram que a avançada produção industrial do Ocidente, principalmente a dos EUA, se pudesse deslocalizar para realizar a produção em países com salários extremamente baixos e os resultados assim maximizados pudessem ser canalisados para os famigerados paraísos fiscais. Nesse capítulo, nenhum país ofereceu mais benefícios no final da década de 1990 do que a China, país que ingressou na OMS em 2001, data a partir da qual não pararam os impressionantes fluxos de capital para a produção chinesa oriundos do Ocidente, o mesmo acontecendo com o acumular de dívida em dólares pela China, mas isso estará a mudar, agora que a estrutura financeira mundial global baseada em níveis absurdos de dívida se começa a desmoronar.

Quando, em Setembro de 2008, Washington permitiu deliberadamente o colapso financeiro do Lehman Brothers, a liderança chinesa respondeu em consonância com os cânones neokeynesianos e criou facilidades de crédito sem precedentes aos governos locais para construir infraestruturas. Algumas delas foram parcialmente úteis, como a rede ferroviária de alta velocidade, mas outra parte foi claramente um desperdício, como a construção de “cidades fantasmas” vazias. Para o Ocidente, a procura sem precedentes da China por aço para construção, carvão, petróleo, cobre e outras matérias primas foi bem-vinda, porque ajudou a conter os receios de uma depressão de dimensão global, mas as ações do Fed e do BCE após 2008, e dos seus respectivos governos, pouco ou nada fizeram para lidar com o abuso financeiro sistémico dos principais bancos privados do mundo em Wall Street, na Europa ou em Hong Kong.

À decisão de Nixon, em agosto de 1971, de suspender o padrão dólar-ouro e declarar a inconvertibilidade da moeda norte-americana, abriu as comportas para os fluxos globais da moeda de reserva mundial, seguiu-se a emissão de leis cada vez mais permissivas e favoráveis à especulação financeira descontrolada nos EUA e no exterior, num processo iniciado com a revogação do Glass-Steagall Act (lei norte-americana que impunha uma clara separação entre a banca comercial e a de investimento) por Bill Clinton, em Novembro de 1999, que permitiu a criação de megabancos tão grandes que o governo os declarou “grandes demais para falirem”. Uma construção artificial, credibilizada pelo poder político que tempos depois culminou em resgates com um custo de centenas de milhares de milhões em dinheiro dos contribuintes.

Desde a crise de 2008 que o Fed e outros grandes bancos centrais globais criaram um sistema sem precedentes para resgatar as principais instituições financeiras – no caso do Fed, do Banco do Japão, do BCE e do Banco da Inglaterra, um total de 25 biliões de dólares terão sido injectados no sistema bancário por meio da compra de títulos de “quantitative easing” ou de activos duvidosos, como títulos hipotecários –, num processo onde a saúde da economia real nunca foi um objetivo ou sequer uma preocupação.

 

Parte II – Flexibilidade monetária e Energia

O Campeão Europeu ou… a Geopolítica da Bola

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O xeque Mansour bin Zayed al-Nahyan ganhou a “Champions”… Nasser Al-Ghanim Khelaïfi perdeu-a (mais uma vez).

Este campeonato joga-se entre o Abu Dhabi e o Qatar e é esta a realidade do futebol europeu: ser campo de um jogo muito mais poderoso, entre duas “equipas” que travam uma luta de vida ou de morte.

Luta que, neste século XXI, estenderam a vários tabuleiros no continente europeu, das finanças ao futebol passando pela política.

Alguns desses tabuleiros são de máxima discrição, alguns são apenas obscuros e outros estão à vista de quem queira ver, como é o caso do futebol.

Quem disse que este futebol é um desporto…? Quem disse não sabia nem da missa a metade!

Uma coisa, porém, fica ainda mais clara: a geopolítica manda em tudo, mesmo numa Champions League.

Resultado (por ora): Abu Dhabi 1 – Qatar 0


Exclusivo Tornado / IntelNomics

Filme mostra a perversidade capitalista contra a juventude trabalhadora

O filme colombiano, Os Reis do Mundo (2022), dirigido por Laura Mora Ortega (Matar Jesus), tem como tema principal a perversidade do capitalismo sobre a juventude da classe trabalhadora. Em cartaz na Netflix o longa conta a saga de cinco adolescentes moradores de rua em Medellín, uma das maiores cidades da Colômbia.

Com roteiro de Laura e Maria Camila Arias, a trama mostra a dificuldade enfrentada pelos meninos analfabetos, sobrevivendo como podem na marginalidade, à base de pequenos delitos com todos os riscos das ruas de grandes cidades. Quando um deles recebe um documento do governo sobre um pedaço de terra deixada por sua avó. Essa terra transforma na utopia dos garotos como uma grande chance de mudar de vida.

Começa a peregrinação ao destino com os cinco amigos, Rá (Carlos Andrés Castañeda), Culebro (Davison Florez), Sere (Brahian Acevedo), Winny (Cristian Campaña) e Nano (Cristian David Duque), enfrentando todo o tipo de agressões pelo caminho.

Cena do filme “Os Reis do Mundo”

Fica explícita a crueldade que se dá pela disputa da posse da terra na Colômbia e em todo o lugar, quando latifundiários se apossam de toda terra que encontram pelo caminho, sem medir esforços para anular qualquer resistência.

A transgressão se torna uma tática de sobrevivência para os adolescentes em um ambiente totalmente hostil desde a infância. Por isso, saem de casa para fugir da rudeza vivenciada onde falta tudo, de afeto à alimentação.

Sentem-se os reis do mundo ao supostamente não terem que dar satisfação a ninguém, mas a vida lhes cobra caro essa rebeldia. Os donos do poder são cruéis e a violência ronda o grupo. Nada que lhes impeça de sonhar em ter um canto só deles para tocar a vida.

Cena do filme “Os Reis do Mundo”

O filme aponta a necessidade de um olhar sobre as pessoas que vivem do trabalho, seja no campo ou na cidade para ao menos diminuir a sofreguidão. E mais ainda de como é essencial cuidar das crianças e dos adolescentes para que haja possibilidade de mudança. Por mais clichê que isso pareça, não o é, porque “ao vivo é muito pior”, como canta Belchior (1946-2017), em Apenas um Rapaz Latino-Americano.

Toda a situação da Colômbia, agora pela primeira vez com um governo de esquerda, está em cena com a violência do narcotráfico, por muito tempo ancorado pelo Estado colombiano e a luta por terra, trabalho e pão de quem só conta com a sua força de trabalho, em meio a tanto desmando e opressão.

Pelo encadeamento do filme vislumbra-se a importância de políticas públicas para valorização da educação, da cultura, do esporte, da saúde e de tudo o que as pessoas precisam para viver bem. Afinal a juventude só quer levar a vida do seu jeito, em liberdade e sem medo.


Texto em português do Brasil

Embaixador do Brasil recebido pelo Partido Socialista de Timor

O Embaixador do Brasil em Timor-Leste realizou uma visita de cortesia à Sede Nacional do Partido Socialista de Timor (PST), sediada em Díli.

Maurício Medeiros de Assis, Embaixador do Brasil em Timor-Leste, reuniu-se na manhã do dia 15 de Junho com a Direcção do PST para abordar assuntos relacionados com a cooperação entre o Brasil e Timor-Leste.

Desde Março de 2021 em Timor-Leste, Medeiros de Assis quis ouvir as propostas políticas do PST e falar sobre os propósitos da cooperação entre o Brasil e Timor-Leste, em diversos sectores, nomeadamente na área da educação, formação profissional e agricultura.

Segundo o diplomata brasileiro o seu país irá concretizar a partir de 2024 diversos projectos de cooperação, nas áreas referidas, uma ideia que ganhou força com a tomada de posse de Lula da Silva, Presidente do Brasil.

No domínio da educação e da formação profissional referiu-se à língua portuguesa, ao importante Centro de Formação de Becora, existente há mais de 14 anos, com a aposta em novos cursos, e à participação do Brasil na “criação de raíz de uma escola superior de educação”, uma iniciativa que vai ao encontro das propostas políticas do Partido Socialista de Timor (PST) que defende a construção urgente de uma Escola Superior de Educação para a formação inicial de professores e de especialistas em áreas educacionais.

Reunião entre o Partido Socialista de Timor e a Embaixada do Brasil (15/06/2023)

Na área da agricultura o embaixador mencionou igualmente a vontade do Brasil em cooperar na formação de cooperativas de crédito considerando que é também uma prioridade na cooperação com Timor-Leste.

O Embaixador Medeiros de Assis foi recebido pela Direcção do PST, onde estiveram presentes Avelino Coelho (Presidente do PST) e Azancot de Menezes (Secretário-Geral do PST), entre outros dirigentes do Partido.

De Ataturk a Erdogan

Quando tomamos como objectivo escrever sobre uma determinada realidade é frequente que nos demos conta de que a nossa percepção actual foi estruturada por uma leitura inicial. Isso sucedeu certamente com muitos dos leitores que seguiram os recentes processos eleitorais para a Presidência e para o Parlamento turcos, não faltando referências da comunicação social ao fundador, vai por uns 100 anos, da Turquia moderna. A minha leitura inicial sobre este tema foi Mustapha Kémal, ou la mort d’un empire, que ainda hoje considero um texto valioso e eminentemente satisfatório. A orientação política do autor? Um nazi.

 

Benoist – Méchin

Esta indicação merece algumas explicações. Teria cerca de 16 anos quando encontrei nos Livres de Poche como nºs 1 e 2 de uma série Le Loup et le Léopard o título acima identificado e outro Ibn Séoud ou la naissance d’un royaume(i), ambos da autoria de um tal Benoist-Méchin. No ano seguinte foi-me oferecida a Histoire de La Seconde Guerre Mondiale de Raymond Cartier em que, a propósito de uma iniciativa de aproximação entre a Alemanha, ocupante de uma vasta zona de França, e o regime de Vichy – a transferência do corpo do Duque de Reichstadt, filho de Napoleão e da arquiduquesa Maria Luísa, para os Inválidos(ii) – referia ter-se tratado de uma ideia do nazi francês Benoist – Méchin.

Cartier não era um radical mas não deixou de denunciar os intelectuais colaboracionistas. Benóist – Méchin escreveu entre as duas guerras mundiais uma História do Exército Alemão em dez volumes e acabou por convergir com outros intelectuais, incluindo o escritor seu amigo Pierre Drieu La Rochelle, numa defesa da aproximação entre a França e a Alemanha, mesmo apesar da implantação do nazismo ou até na convicção que a republica francesa deveria ser substituída por um regime autoritário. Por seu turno na Alemanha no início dos anos 1930, alguns intelectuais defendiam a aproximação com a França e com a cultura francesa, só numa fase mais adiantada se revelando instrumentais no conflito e na ocupação, como foi o caso de Otto Abetz que viria a ser nomeado embaixador do Reich junto da França de Vichy(iii) e teria um papel importante na organização da rede de intelectuais colaborantes. Abetz era amigo pessoal de Benoist-Méchin o qual veio a desempenhar funções nos governos de Vichy, onde chegou a ser ministro sem pasta.

Benoist-Méchin parece, no seu tempo de militante político, não ter sido levado totalmente a sério. Relata Victor Serge, membro da oposição soviética, que Bénoist-Méchin, em Paris, lhe pedira uma entrevista:

Informei-me a seu respeito junto dum editor das esquerdas, que me disse: “Ex-compositor de música, é um bom compilador, sem cor política…”. Encontrámo-nos num café do boulevard Saint-Michel. Esperava-me um homem novo de óculos, aí com trinta e cinco anos, banal, circunspecto e muito atento. Dez minutos depois, já eu me tinha convencido de que ele trabalhava simultaneamente com o 2º Bureau e com qualquer outra organização – talvez alemã. Entretanto explicava-me a sua intenção de escrever uma história da guerra civil na Ucrânia”(v).

Com o fim da guerra, acabou, com outros colaboracionistas proeminentes, por ser condenado à morte, no entanto a pena veio a ser comutada em prisão perpétua e depois em 20 anos de prisão, tendo sido libertado condicionalmente em Novembro de 1954. Veio a escrever diversas obras históricas, sobretudo sobre países árabes.

De forma que o seu Mustapha Kémal foi integralmente escrito na prisão , entre 1949 e 1953, com inerentes restrições, a que o autor alude com alguma ironia, mas uma bibliografia bem organizada, e sob a recordação de uma visita efectuada em Julho de 1941, em representação do Marechal Pétain ao local que então abrigava os restos mortais do Ghazi(vi). Na sua época Kémal foi popular em vários sectores do espectro político e recordo a propósito a homenagem implícita do antifascista das frentes populares Eric Ambler em The Mask of Dimitrios e em Journey into Fear.

O que persiste das características do movimento fundador da Turquia moderna

 

A independência

Mustafá Kémal e os seus partidários recusaram as medidas aceites pelo Sultão vencido na I Guerra Mundial e integradas no Tratado de Sèvres que colocavam a Turquia à mercê das potências vencedoras, neutralizaram as forças de ocupação francesa e italiana, derrotaram e destruíram no terreno um exército grego que avançara quase até Ankara e reocuparam quase todo o território até ao Mediterrâneo, tendo sido a cidade de Esmirna incendiada, e, depois de uma medição de forças com as tropas inglesas, sem qualquer disparo, abriu-se o caminho para a assinatura de um novo Tratado em Lausanne.

A Turquia moderna ficou abrangendo basicamente a península da Anatólia, aceitando a perda de todos os territórios do antigo Império Otomano de população não-turca, designadamente de origem árabe. A forma de República resultou da separação do Sultanato e do Califado, abolição do Sultanato e expulsão do Sultão. Tratou-se de um processo de independência da Turquia protagonizado pela oficialidade do seu exército e pela população da Anatólia, que foi elegendo representantes para sucessivas assembleias, que acabaram por ficar duradouramente sob a influência da corrente kemalista, pela inviabilidade de lideranças alternativas, ainda que da parte de outros dirigentes militares do processo de independência, que acabaram marginalizados.

A Turquia de Erdogan mantém basicamente este perfil de independência, sem prejuízo de, à semelhança do que havia ensaiado Kémal em relação a uma convergência pan-turaniana, que envolveu designadamente o Afeganistão, estar aberto o caminho para uma aproximação com o Azerbeijão e com algumas das antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, aliás recentemente Erdogan reivindicou um lugar nas decisões sobre a Crimeia por força da existência nesta de uma minoria tártara e reforçou recentemente o seu contingente no Kosovo no âmbito da NATO. A exclusão da Turquia da Europa Oriental pós I Guerra Mundial não eliminou aliás toda uma série de minorias étnicas turcas ou muçulmanas que começam a ter relevância política, para não falar da imigração turca na Alemanha. Quanto a Chipre, Erdogan parece querer cristalizar a divisão em dois estados em detrimento da reunificação. Já o interesse pela Líbia parece reavivar tempos do Império Otomano.

 

A homogeneidade

O princípio da homogeneidade da população levou, no período de criação do novo estado turco a uma limpeza étnicas generalizada: a população de origem grega teve de sair da Ásia Menor, de onde desde tempos imemoriais se falava grego, e, em seu lugar, a população de origem turca foi expulsa da Grécia para a Turquia(vii); os arménios, que já tinham sido massacrados no início da I Guerra Mundial pelo governo turco de Enver (e desde aí sempre que se evoca o “genocídio arménio” conte-se com reacções de fúria de todos os governos turcos até ao de Erdogan), perderam novas posições quando Kemal ainda estava a tentar firmar o seu movimento os territórios turcos do estado arménio patrocinado pelas potências ocidentais vencedoras da Guerra; os curdos foram incansavelmente reprimidos, e longe da prometida constituição de um Curdistão independente, estão hoje repartidos pela Turquia, Irão, Iraque e Síria.

A perseguição dos curdos, que é uma tradição desde Kémal, intensificou-se sob Erdogan, que depois da proibição do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), convenientemente considerado pelos EUA e pela EU organização terrorista, quer alargar a proibição ao partido parlamentar apoiado pela população curda e vem intervindo militarmente contra posições curdas na Síria e no Iraque sob o pretexto de que é tudo PKK.

 

A laicidade

As medidas legislativas que aproximaram a Turquia do Ocidente operaram em pouco mais de uma dezena de anos, ou seja entre 1924, ano de consolidação do regime e 1938, ano do falecimento de Kémal, e quase todas puseram em causa directa ou indirectamente usos e tradições originárias da vivência islâmica, de onde decorriam regras que codificavam quase todos os aspectos da vida social.

Muito rapidamente foram adoptados, sob conselho de peritos de diversas áreas, o código comercial alemão, o código civil suíço – que assegurava a igualdade de homens e mulheres – e o código penal italiano, o que facilitou o acesso dos tribunais e dos juristas em geral à jurisprudência dos países de origem, o sistema de pesos e medidas ocidental, o calendário gregoriano, o alfabeto latino, como ajuda à própria divulgação da língua turca, e toda uma série de outras “revoluções como o uso do chapéu….

A orientação da sociedade para a laicidade foi reforçada na altura com o fecho das escolas religiosas, inclusive de origem cristã.

Repare-se que se condensava assim num reduzido período uma evolução que no Ocidente durou centenas de anos e provocou numerosas guerras e conflitos sociais.

Trata-se de uma vertente em que, como é conhecido, a actuação de Erdogan provocou recuos e levou ao levantamento de proibições.

 

De ditadura a democracia tutelada 

Mustafá Kémal

A partir de 1926, em que terá sido identificada uma conspiração que visava o assassinato de Kémal e foi fortemente reprimida, apesar de se manter em vigor a Constituição de 1924 só foi autorizada a candidatura a deputados de membros do Partido Popular Turco, passando de facto a Turquia a funcionar em regime de partido único. Mais tarde o Presidente Kémal experimentou ser o “professor de democracia” do seu regime mas o partido de oposição que se chegou a formar com pessoal seu também não vingou,

Sucedeu-lhe o general Ismet Inonu(viii), seu companheiro de muitas vitórias e negociador do Tratado de Lausanne, passando o Partido único a chamar-se Partido Republicano do Povo, o qual é agora qualificado como social-democrata, mas cuja génese nada tem a ver com o movimento operário. Com o surgimento de novos partidos protagonizado por personalidades que tinham participado nos projectos kemalistas passou a haver alguma alternância. No entanto uma regra não escrita ditava que as Forças Armadas vigiariam os governos e interromperiam os mandatos dos governos que favorecessem o enfraquecimento das exigências de laicidade.

Foi o caso do governo de Adnan Menderes, que governou de 1950 a 1960 e foi derrubado por uma junta militar que promoveu o seu enforcamento e de outros colaboradores próximos. Viria a ser reabilitado postumamente. Houve outros episódios com intervenção das Forças Armadas a ponto de ser sido esse risco identificado pelas estruturas de escrutínio dos candidatos à adesão à União Europeia como um bloqueio antidemocrático, enquanto que a liderança de um, na altura primeiro ministro, islamista dito moderado – Erdogan -, não o era. Uma alegada conspiração do alto comando “kemalista” descoberta na altura permitiu neutralizar os generais mais perigosos.

Liberto dos militares kemalistas, Erdogan acabou por romper com uma facção islâmica liderada por Fethullah Gülen e montou em 2016 uma operação de repressão de um golpe imputado a este que já terá atingido 90 000 quadros das forças armadas, magistratura-, administração pública e jornalismo, mas a encenação não convenceu os Estados Unidos a entregar-lhe este soi-disant terrorista.

A oposição, liderada pelo Partido Republicano do Povo, que continua a reclamar-se do kemalismo, e obteve um apoio discreto do partido curdo em vias de ilegalização, obteve nas últimas eleições um grande apoio mas não conseguiu impedir a reeleição de Erdogan nem obter maioria no parlamento, que continua a deter o nome histórico de Grande Assembleia
Nacional.

 

Autonomia em relação a pressões externas

Recep Tayyip Erdoğan

A diversificação de ligações externas foi uma característica tanto de Kémal que por exemplo celebrou um tratado de amizade com a URSS, que se manteve até 1945, como de Erdogan.

A invocação da acção de inimigos externos para obter resultados em disputas internas também. Ficou conhecido que quando Mustafá Kémal depois de acabar com o Sultanato quis acabar como o Califado, armou um escândalo em torno de uma carta de apoio ao Califa em funções subscrita por dois príncipes muçulmanos da Índia, um dos quais o Aga Khan da altura, retratados pelo regime como agentes notórios do Intelligence Service britânico.

Confesso que o episodio me acudiu ao espírito quando recentemente se tornaram evidentes as preferências do “Ocidente” nas eleições turcas. Erdogan não deixou de usar essa cartada gritando que Biden queria o seu afastamento. Os resultados…

A evolução da política turca não tem sido nem será linear e não pode ser reduzida a uma oposição entre kemalismo e anti-kemalismo, que por sua vez não pode ser entendida como uma oposição entre bons e maus.

 

Notas

(i) Mustafá Kémal seria o lobo cinzento, conforme o Grey Wolf de H.C. Armstrong. e Ibn Séoud que recuperara o controlo do reino do Nedjed, onde a sua família tradicionalmente reinava e a seguir incorporara outras terras árabes, o leopardo do deserto, ambos dando origem a novos estados, a saber a República Turca e o Reino da Arábia Saudita.

(ii) Que, segundo o autor, não entusiasmou os parisienses: “Il nous prennent le charbon et nous rendent des cendres”…, Histoire …, Larousse-Paris Match, 1968, I Volume, p. 183.

(iii) Já vi escrito que Otto Abetz seria na origem um social – democrata, mas a sua inscrição na organização paramilitar do SPD foi apenas uma das suas procuras iniciais de filiação.

(iv) Possivelmente em 1939. Cfr. O Ofício de Revolucionário, Moraes Editores, 1968, pp 403-404.

(v) “- Sabe russo? – Não … Já foi à Ucrânia? – Não. – Estudou a revolução russa? – Não especialmente…” Estas limitações não impediram Benoist-Méchin de escrever e publicar em 1941 L’Ukraine, des origines à Staline.

(vi) Destruidor de cristãos, titulo que a Assembleia Nacional lhe conferiu após o esmagamento das forças gregas.

(vii) Mustafá Kémal era natural de Salónica.

(viii) Ataturk, pai dos turcos foi o nome que Kémal escolheu quando os turcos foram convidados a ter um segundo nome (Kémal – perfeição – fora o nome escolhido na juventude para o distinguir do seu professor de matemática, junto do qual era “repetidor”). Inonu era o nome de um local em que Ismet bateu por duas vezes o exército grego.

Reformados e aposentados perdem poder de compra

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O Governo tenta enganar os pensionistas da Segurança Social e da CGA: os reformados e os aposentados perdem novamente poder de compra no biénio 2022/2023

Investir em educação pública para erradicar o trabalho infantil

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A educação não deve ser vista como a salvadora da pátria de tudo, mas como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) defende, investir em educação pública é “a principal medida a ser adotada” contra o abuso do trabalho infantil.

E depois de seis anos de ostracismo, principalmente de 2019 a 2022, o Brasil volta a ter um governo preocupado em garantir os direitos humanos de crianças e adolescentes e a priorizar a educação pública como ferramenta de evolução civilizatória.

E não é apenas a escola formal que deve ter essa atribuição. Devemos encarar um conceito mais amplo de educação para envolver toda a sociedade contra essa prática desumana, que prejudica o desenvolvimento das crianças e adolescentes, tanto físico quanto psíquico.

Além de assegurar renda suficiente para as famílias não precisarem que as suas filhas e filhos trabalhem, é fundamental garantir acesso a atividades culturais, esportivas, de lazer, de saúde, espaço para um desenvolvimento pleno com segurança e em paz e liberdade.

Para isso, precisamos de uma “educação integral e de qualidade” para garantir “às crianças e jovens um outro direito fundamental: o de viver a sua infância e juventude como um período essencial de formação para a vida e de desenvolvimento do seu potencial humano”, como diz texto da OIT.

Apesar do governo federal atual ter essa preocupação, o governador de São Paulo anda na contramão da história e corta orçamento da educação pública, não valoriza os profissionais desse setor vital para todo mundo e mostra intenção de privatizar as escolas.

A nossa luta é para impedir que o governador do estado mais rico do país destrua a educação e o serviço público, privilegiando os mais ricos. Educação integral de verdade para as crianças e adolescentes terem a possibilidade de serem o que quiserem ser no futuro.


Texto em português do Brasil

ONU reforça apelo ao fim do trabalho infantil

Há cerca de 160 milhões de crianças nestas condições em todo o mundo.

Invasão da Ucrânia: Os dilemas da contraofensiva

Como Zelensky nos advertiu várias vezes, a guerra que temos pela frente é a guerra da barbárie contra a humanidade, e ela não pode por isso ser travada no plano exclusivamente militar.

A Europa e o preço da energia

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Uma notícia na edição europeia do site POLITICO pretende que. com os preços dos combustíveis a voltarem aos níveis anteriores à guerra, a Rússia perdeu a sua melhor influência sobre o continente, pelo que a crise energética da Europa se transformou agora num problema de Putin.

Mas atenção, para esta afirmação ser totalmente verdadeira era preciso que os reais efeitos da queda dos preços dos combustíveis na economia russa equivalessem a quebra dos mais de 300 euros por megawatt/hora registados no Verão de 2022, para os 25 euros actuais, quando é por demais sabido que nunca a Rússia (nem nenhum outro produtor) vendeu o gás àquele preço.

Nem a Rússia, nem qualquer outro produtor de gás, o vendeu alguma vez àqueles preços, mas a sua subida excessiva no mercado europeu teve consequências para as empresas e as famílias. Estas vêem o seu rendimento disponível mais reduzido por via do aumento dos custos da energia (para falar só no impacto do preço do gás), enquanto as empresas, especialmente algumas das indústrias mais intensivas em energia, registaram um declínio na produtividade em reacção aos preços mais voláteis do gás.

Ao invés, o que devia merecer ampla atenção – e a adequada intervenção dos poderes políticos – é que a acentuada descida da cotação do gás nos mercados internacionais não esteja a ser devidamente reflectida nos preços praticados no retalho, o que na prática se traduz num mecanismo artificial de aumento de margens e lucros para os intermediários distribuidores e influencia os preços das restantes fontes de energia, contribuindo decisivamente para manter elevada a taxa de inflação.

Muitas e variadas aleivosias se têm dito e escrito a propósito da situação gerada pela invasão da Ucrânia, mas na realidade quase nunca se vê referido o facto da justificação para a contínua subida de preços não apresentar a menor explicação perante a realidade que os mercados diariamente vão mostrando. Se alguma razão houve, ela está há muito ultrapassada e a justificação para a subida geral dos preços tem que ser procurada noutras realidades e noutros quadrantes.

Ainda a propósito de matérias-primas e da formação dos seus preços, recordo o que escrevi em Dezembro, no artigo «A FALSA ESCASSEZ E A INFLAÇÃO», onde chamei a atenção para “uando tanto se fala na escassez de gás, ninguém se interroga porque as reservas europeias estão acima da média dos últimos dez anos, porque em finais de Outubro haviam dúzias de navios-tanque parados ao largo dos portos europeus e o preço spot do gás chegou a valores negativos ou porque a cotação dos futuros atingiu esta semana um mínimo de Julho de 2021?”

Claro que os defensores da necessidade da guerra pretendem continuar a vender a ideia, falsa, de que a inflação é um custo a suportar pela defesa da democracia, quando a realidade é a de que o grande vencedor nesta “guerra” será o mundo dos negócios (e reparem que nem sequer estou a considerar aqui os “negócios” escuros que envolvem todas as guerras) e esta não passará de mais uma oportunidade para aprofundar o processo de empobrecimento geral e da consequente concentração da riqueza, do mesmo modo que, confrontados com a quase absoluta ineficácia da política de sanções económicas aplicadas à Rússia, pretendem agora que a queda dos preços do gás nos mercados internacionais determinará o desastre e o soçobrar de Putin, como se o terceiro maior produtor de petróleo não possuísse quaisquer mecanismos de protecção, nem a poderosa OPEP (organismo que reúne os maiores produtores mundiais de produtos petrolíferos) não tivesse reagido já com o anúncio de cortes na produção para inverter o ciclo de quebra nos preços.

É verdade que a expectativa de Moscovo de uma crise energética na Europa que minasse o apoio à Ucrânia não se concretizou, mas não é menos verdade que a Europa ainda não se libertou da dependência dos hidrocarbonetos (nem, por falta de real vontade e de capacidade financeira para investir na economia verde, se deverá libertar nos tempos mais próximos) e até a aparente redução das importações russas (de 50% em 2021 para 13%, segundo o citado artigo do POLITICO) deve ser analisado sob outra perspectiva, agora que a Europa está a importar petróleo via Índia (pagando-o obviamente mais caro) e que, em mais uma clara confirmação da ineficácia da política de sanções económicas, as esperadas dificuldades russas para escoar a sua produção têm encontrado, mesmo que apenas parcialmente, uma óbvia alternativa nos mercados asiáticos, ou não fosse o Império do Meio uma economia em crescimento e o segundo maior consumidor mundial de petróleo e gás natural.

E os problemas da Europa não se resumem à dependência energética, agora que o recente anúncio da entrada da Zona Euro em situação de recessão técnica veio confirmar os piores receios sobre a política de sanções imposta à Rússia, de pouco ou nada servindo o facto de os próprios EUA já estarem nessa situação desde o final de 2022.

PAI -Terra Ranka venceu as eleições legislativas na Guiné-Bissau

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A Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) – Terra Ranka, presidida por Domingos Simões Pereira, venceu as eleições parlamentares da Guiné-Bissau realizadas no passado dia 4 de Junho.

A coligação PAI – Terra Ranka, liderada pelo Engenheiro Civil Domingos Simões Pereira, doutorado em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Católica, tal como já tinha anunciado mesmo antes da Comissão Nacional de Eleições se ter pronunciado, venceu as eleições legislativas com maioria absoluta.

Simões Pereira (PAI – Terra Ranka), com 60 anos de idade, no período compreendido entre 2008 e 2012 foi Secretário-Executivo da CPLP e, em 2014/2015, foi Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau. A pensar nestas eleições, fez um acordo com 18 partidos políticos invocando a importância da inclusão e para conseguir alargar a base do seu eleitorado.

Os resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições indicam que a PAI – Terra Ranka conseguiu 54 assentos parlamentares de um total de 102 disponíveis. Nestas eleições legislativas da Guiné-Bissau registaram-se mais de 900 mil eleitores.


por Luís dos Santos, Angola