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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 18, 2024

Porque carga de água?

Chuvas, inundações e, de bónus, mosquitos. Anos após anos o cenário não muda.O vizinho bonitão só pensa em ginásio, diz que quer tornar-se mais forte e gasta tudo em suplementos. No outro dia ainda me “produzi” para tentar convencê-lo a parar de entulhar a entrada e limpar as vias de drenagem. Chamou-me de revú.

Com o quintal inundado, pensei em juntar o útil ao agradável. Agradável? O que há de útil quando se tem um quintal cheio de água, lixo e outras merdices? Um lago cheio de peixes que me faz  prisioneira, pois é só virar as costas que os  Setinhos mergulham eufóricos, para a pesca e, em consequência disso, as doenças respiratórias, dermatológicas e outras…

Hoje esqueci-me de deixar a vida me levar, porque tenho muita roupa para lavar, nem o antídoto de cevada tomei, tenho medo de ser arrastada pela correnteza gelada desta maravilhosa anestesia, relaxar tanto e só despertar quando a água já me tiver arrastado .

Apetecia-me ficar abraçada a ti meu comandante e, por eternos instantes, esquecer esta dura realidade fumar um charuto (imaginário é claro – ascendi para o charuto porque as baforadas dos cigarros eram tão  leves…) em silêncio, ouvir  um áudio do Cantifilas, para abafar a raiva e aprender  a descomplicar. Esquecer esta dura realidade.  E lá mais prá frente uma taça de Martine… Martine ? Não sei, não. Tenho  o vício da lealdade e a cevada não me tem deixado mal…  Abraçar-te para mim é uma vacina contra todas as febres, os problemas se dissipam a cada baforada (imaginária é claro) fazendo os problemas parecer apenas uma ponte para ascensão à grandeza. O mundo se evapora e com ele as preocupações e no conforto do nosso ninho só eu e tu, nada mais… nem os mosquitos, nem a febre amarela, nem o paludismo, nem a cólera, nem as gripes e seus associados… apenas nós…

E quando a eternidade termina, outra vez a ponte de pedra, outra vez a gripe dos meninos, outra vez eu de armas em punho, em uma mão o repelente em espiral e na outra o sheltox, enrolado à cintura o mosquiteiro.

Que fazer, se a chuva chegou? Aqui é mesmo assim, todos os anos a mesma coisa, é só aguentar que em Maio já não chove, e ainda que grites a tua voz lá não se ouve…

– Mamã, Maio é o meu mês! Na minha festa, quero bolo das princesas, chocolates, gelados, pipocas… , tudo cor-de-rosa. Vou convidar todos os meus colegas da escola… Mamã…Deus devia trocar esta chuva de água por uma chuva de morangos. Não é mamã??? (Setinha nº 4).

E outra vez pus-me a pensar no que seria a minha vida com um quintal inundado de morangos…

A autora escreve em PT Angola

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