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Sábado, Dezembro 7, 2024

Estado de exceção

Beatriz Lamas Oliveira
Beatriz Lamas Oliveira
Médica Especialista em Saúde Publica e Medicina Tropical. Editora na "Escrivaninha". Autora e ilustradora.

Era uma vez um menino doente. Não estava no hospital, mas sim em casa. Não era doença grave, mas a tosse e a rouquidão afligiam os pais. O médico aconselhou a ficar na cama, em repouso.

Depois de tomar o remédio para baixar a febre, o menino começou a sentir-se mais animado e começou a apreciar aquele dia de férias.

Estava rodeado de atenções. A mãe tinha ficado em casa para tomar conta dele, medir-lhe a temperatura, trazer-lhe chá quentinho, puxar-lhe as mantas até ao pescoço.

Decidiu que podia pedir à Mãe que lhe colocasse um boneco na cama, para lhe fazer companhia.

Ela concordou.

Os pais do Santiago

Depois decidiu que afinal podia sentar-se apoiado nas almofadas. E pediu um livro para ler. Pensou se a Mão deixaria o Tufão entrar no quarto. O Tufão não era um cão muito grande. Mas só estava autorizado a frequentar a cozinha e a sala de estar. Nem o Pai nem a Mãe queriam que o Tufão entrasse nos quartos de dormir. Mas o menino doente tinha sentido que o grande e meigo peludo estava deitado à porta do quarto, como quem espera notícias. Até já tinha sentido o leve arranhar de uma pata pela fresta debaixo da porta.

Chamou a Mãe.

– Mamã! Vem cá! Quero contar-te duas palavras novas que aprendi na escola.

A Mãe entrou no quarto e aproximou-se da cama:

– Então e que palavras são essas?

O menino ensaiou uma expressão de dúvida e respondeu:

– Estado de exceção.

A Mãe ficou surpreendida.

– Então e porque falaram nessa expressão?

O menino tentou lembrar-se de tudo, para poder responder bem.

– Estiveram lá na escola os Bombeiros. Vieram falar sobre o perigo dos incêndios. Contaram que nos grandes fogos dos bosques morrem muitos animais domésticos e selvagem. Quando falaram nisso tive muito medo. Olha o nosso Tufão! Ele às vezes quando vai passear comigo e com o Pai foge para o bosque. Até sonhei com isso esta noite! E então eles falaram disso do estado de exceção, porque é como fica uma região ou um país quando há grandes tempestades ou acontecimentos tristes!

A Mãe olhou bem fundo os olhos do Santiago, era este o nome do menino.

O Tufão

E perguntou:

– E porque te lembraste disso logo hoje que estás doente?

E o menino desenrolou a sua estratégia:

– Lembrei-me porque estar doente é um estado de exceção, não é?

– Bem, disse a Mãe sorrindo, podemos dizer que sim.

– E então, Mãe, podias deixar o Tufão vir fazer-me companhia? Acho que ele sabe que hoje é um dia de febre e doença, tem estado ali na porta do meu quarto. Podia ser o nosso dia de estado de exceção?

A Mãe do Santiago levantou-se e dirigiu-se para a porta do quarto que abriu.

Lá fora a grande cabeça do Tufão apareceu, a cauda a abanar de alegria.

– Anda, foi declarado “estado de exceção” aqui neste quarto.

E só à noite o Tufão quis sair, quando o Pai do Santiago o chamou, para o passeio antes de dormir:

– Tufão, aqui!

E o menino olhou para o tapete onde estava ainda marcada a forma do corpo do companheiro de exceção!

Grande dia de doença feliz!

 

Quarto do Santiago


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90  | Ilustrações de Beatriz Lamas Oliveira



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