Poema inédito de Beatriz Aquino
Fotografias pousam em meu ombro
Fotografias pousam em meu ombro.
Rostos trazidos pelo vento.
Vidas partidas, sonhos mutilados. Vítimas diárias de uma mão gigante e omissa.Estamos todos ilhados.
E andamos.
Chamas intermitentes a atravessar imenso e escuro vale.
A mesma planície incerta e insana.Esses são os dias últimos de uma inocência burra.
Nossos derradeiros passos em uma terra antes sonâmbula e inconsciente.
Daqui pra frente, respiraremos amanhã o saldo fatal do que fizermos hoje.
Somos a herança de nós mesmos.
A nós esse vasto e conturbado mundo.
Dessa vez sem profetas para ditar-nos etiquetas ou para abrir o mar ao meio.Nenhum santo nos salvará.
Nenhum messias chamará por nosso nome.
Nenhuma igreja cumprirá as promessas vendidas.
Estamos sós.
E somos muitos.
Estridentes e abarrotados nas saídas de emergência.
Cada um tentando encontrar sua torre, sua rota de fuga.Ergueremos pelo caminho pequenos montes.
Viveremos entrincheirados em cima de nossas coisas.
Carros, joias, notas promissórias.
Mas nada disso filtrará o ar de nossos pulmões.Do alto dessas curiosas colinas se erguerá uma bandeira.
Em cada uma delas, uma inscrição uníssona:” O que fizemos?”
Sim. A humanidade será o mais óbvio e trágico hieróglifo a vagar pelas paredes do universo.
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