Norman Rae: se em alguns filmes o debate sociológico fica subjacente, em outros ele aparece como sua própria linha condutora. A construção do enredo do filme Norma Rae, por exemplo, está cravada no trabalho e na sindicalização em uma indústria de tecidos nos EUA.
Exibido a partir de 1979, época da Guerra Fria, e de grande efervescência nas organizações de esquerda, pode-se imaginar o impacto que o filme “”Norman Rae causou. A obra se consagrou como um dos clássicos sobre o mundo do trabalho. Sally Field, que vive a personagem que dá nome ao filme, figurou como modelo para militantes de esquerda da época.
O barulho, o pó a sujeira e a tensão
Os primeiros momentos do filme Norman Rae mostram o barulho ensurdecedor das máquinas, o pó que levanta dos tecidos, a sujeira das engrenagens, a tensão, a alienação na linha de produção. Fora da fábrica as relações parecem romper os ditames da sociedade. Aos trinta e um anos Norma Rae tem dois filhos de pais diferentes, é solteira e vive com seus pais.
Neste cenário surge Reuben Warshowsky, um sindicalista judeu e novaiorquino. Apesar de sofrer duplamente o preconceito, por ser sindicalista e judeu, junto com a nova amiga, a rebelde Norma Rae, que logo se engaja na luta sindical, ele consegue ser ouvido pelos trabalhadores, que são convencidos da necessidade do sindicato.
A Ação sindical
O filme Norman Rae cumpre seu papel na exposição das ações sindicais, mas não se aprofunda nos conflitos que marcavam o interior das próprias organizações e mostra os sindicalistas e militantes como salvadores, desprovidos de incertezas. Até mesmo seus erros parecem enaltecê-los. Enquanto Norma Rae veste a carapuça de heroína dos tempos modernos, Reuben não vacila em ditar “verdades e lições”.
Norma Rae é baseado na história real de Crystal Lee Sutton, que liderou uma campanha contra as condições de trabalho oferecidas pela J.P. Stevens Mill.
Norma Rae (Norma Rae) EUA, 1979 Direção: Martin Ritt Elenco: Sally Field, Beau Bridges, Ron Leibman, Pat Hingle
O filme recebeu os seguintes prêmios:
Cannes Film Festival
1979 | 2 vitórias, incluindo: Best Actress
Academy Awards
1980 | 2 vitórias, incluindo: Best Actress in a Leading Role
1980 | 2 nomeações, incluindo: Best PictureNational Board of Review
1979 | Vencedor: Best Actress
Writers Guild of America
1980 | Nomeado: Best Drama Adapted from Another Medium (Screen)
Foi com estas palavras, na sua versão original em sânscrito, ‘Vasudhaiva Kutumbakam’ que o Primeiro-Ministro indiano se dirigiu ao mundo (em carta publicada também entre nós em português) na véspera da reunião do grupo dos vinte países tidos como mais importantes do mundo (o G-20) sob presidência indiana em Delhi.
‘O mundo é uma família’ é outra forma de nos falar da ‘sociedade aberta’, conceito que nos foi dado por Henri Bergson – filósofo francês, prémio Nobel da literatura em 1927 – na sua obra de 1932, ‘As duas fontes da moral e da religião’, e que poderemos referir também como uma filosofia política humanista, ou ainda como uma globalização centrada no ser humano, como Narendra Modi desenvolve de resto na sua missiva.
As diferenças entre a sociedade aberta de Bergson e aquela a que Modi faz referência são naturalmente importantes, a começar pelo facto de Bergson a conceber como necessariamente decorrente da religião e Modi, na tradição Hindu, a apresentar antes como um princípio de filosofia de vida que é o hinduísmo, que se vê como tal e não como religião, (a classificação do hinduísmo como religião foi feita pela colonização britânica mas não é aceite por este) mas penso que são ambas genuínas e bem diversas do pastiche contemporâneo que abusa da expressão para cobrir as actividades opacas de fundos de investimento registados nas ilhas Caimão.
A reunião da grande família conhecerá duas ausências importantes, a primeira a de Vladimir Putin, sobre quem pesam mandatos de captura internacional pelos crimes contra a humanidade de que é responsável na Ucrânia, e a segunda a de Xi Jinping, cujas relações com a Índia conheceram um sério abalo quando da recente publicação oficial de um mapa chinês que reivindica não só vários territórios indianos ocupados pela força, mas como ainda vários outros.
Desde há cerca de vinte anos que conclui que a Índia iria ser o centro do mundo democrático no nosso século. A Índia segue o que é essencial numa cultura democrática, que é a proeminência do voto popular e a separação de poderes. A esse propósito, pareceu-me extremamente significativo que a recente condenação pela justiça do líder da oposição fosse revogada pela Supremo Tribunal Indiano.
Se excluirmos os EUA, a Europa, Israel, Austrália e Nova Zelândia, só o Japão partilha com a Índia um longo percurso democrático sem interrupções autoritárias.
Em segundo lugar, a Índia é o maior país do mundo, o mais dinâmico entre os grandes países democráticos, situado no que na zona que se tornou na mais importante do mundo, o chamado Indo-Pacífico. É claramente o único que tem massa crítica para se colocar como alternativa ao modelo autoritário chinês.
Posto isto, é fácil encontrar insuficiências – e por vezes inflaccioná-las – na forma como a Índia se afirma no mundo, mas creio que o problema das nossas sociedades ocidentais é mais o de não ver os sinais positivos e as potencialidades indianas do que ver o que funciona pior.
E quanto ao que pior funciona, precisamos de começar por entender que há no país quem entenda as suas insuficiências e que há mecanismos democráticos e abertos para lhes fazer face; a postura de arrogância externa de dar lições em nada ajuda a resolver as questões.
Acho por isso que é necessário seguir com atenção o percurso de afirmação mundial da Índia, interagindo com o país de forma construtiva. Algo que tenho tentado fazer, nestes últimos doze anos no Fórum Democrático da Ásia do Sul!
No plano económico, o alargamento a mais países africanos deve ser entendido num período em que este continente reivindica a substituição do financiamento de infra-estruturas por mais investimentos de base industrial, enquanto no plano político ressaltam a posição do Egipto no quadro dos estados islâmicos do Norte de África e o da Etiópia na região do Corno de África, onde o seu desenvolvimento e os seus resultados económicos deverão ajudar as economias vizinhas no futuro, oferecendo uma opção aos programas propostos pelo Ocidente e mostrando as vantagens que os BRICS poderão representar para a África e outras regiões. Tanto assim é que países como a Argélia, Bahrein, Kuwait, Marrocos e Palestina são apenas alguns dos que já manifestaram publicamente o desejo de aderir.
No plano demográfico, os países africanos apresentam populações jovens, dinâmicas e em crescimento, o que as aproxima de outros membros dos BRICS, como a China e a Índia. Já a Argentina, com uma população envelhecida e uma economia francamente distante da do México (segundo país da América Latina em termos de PIB, mas fortemente condicionado pelos seus problemas fronteiriços com os EUA), deverá a sua participação ao interesse do Brasil.
A proposta, avançada pela Rússia, de transformar os BRICS num bloco comercial é tanto mais importante quanto se vive uma conjuntura onde imperam as sanções económicas impostas pelo Ocidente e se o grupo começar a funcionar como um bloco comercial com termos de comércio justos, outros países poderão equacionar as vantagens de se candidatarem à adesão; se os BRICS se posicionarem como um bloco comercial, com regras eficazes e abertas, poderão até suplantar a OMC (Organização Mundial do Comércio), organização que a maioria dos países em desenvolvimento acusa de favorecer as economias ricas do Ocidente.
Embora esta faceta pareça reduzir a verdadeira essência da cimeira à questão de natureza económica da reorientação das trocas comerciais do grupo para fora da esfera de influência do dólar norte-americano e dos ditames do Ocidente, ela representa muito mais que uma questão económica – ainda assim o BRICS+ (o grupo dos cinco iniciais com os seis novos membros) representam quase 50% da população mundial e mais de 30% do PIB mundial – e traduz a verdadeira essência e a real motivação dos BRICS que é de natureza geoestratégica.
Com o BRICS+ a ser cada vez mais difícil de ignorar no panorama mundial (no conjunto estes países representam 45% da produção mundial de petróleo, 36% da produção de gás e possuem importantes reservas de minério de ferro, carvão e bauxite, para além do papel quase insubstituível que representam na agricultura mundial) e o comércio dos países mais ricos a deles depender em grande medida, ganha nova importância o seu claro posicionamento estratégico em oposição a um Ocidente ainda dominante, mas em clara fase de enfraquecimento.
O BRICS+, uma ordem mundial cada vez mais multipolar e os realinhamentos a ela associados, fomentarão efeitos políticos, económicos e sociais em especial para as regiões do Médio Oriente e do Norte de África, minando potencialmente o poder dos EUA no processo.
Este efeito deverá tornar-se ainda mais evidente com o aumento do número de aderentes – além dos anteriormente referidos países islâmicos do Médio Oriente e do Maghreb, já se fala no Cazaquistão, na Tailândia e na até agora preterida Indonésia – e especialmente se se lhe juntarem outras organizações já existentes, como a União Económica Eurasiática (estrutura supranacional, criada em 2014, que integra a Arménia, a Bielorrússia, o Cazaquistão, o Quirguistão e a Rússia) e a Organização para Cooperação de Xangai (organização política, económica e militar da Eurásia, particularmente orientada para a cooperação em matérias de segurança, que foi fundada em 2001 pela China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão, inclui ainda a Índia, o Paquistão e o Irão), organizações que integram já alguns dos actuais BRICS.
O Reitor da Universidade de Díli informou que a UNDIL passou a integrar a rede Coalition for Advancing Research Assessment (CoARA) para o reforço da qualidade científica em Timor-Leste e no mundo.
A adesão da Universidade de Díli à CoARA foi aceite e validada pelo Conselho Directivo da CoARA, sendo a única Universidade de Timor-Leste membro desta importante rede de organizações internacionais associadas à investigação científica.
Segundo José Agostinho da Costa Belo Pereira, Reitor da UNDIL, a Universidade de Díli identifica-se totalmente com a visão da Coalition for Advancing Research Assessment (CoARA) porque defende a avaliação da investigação com qualidade.
Na visão da Coalition for Advancing Research Assessment (CoARA):
“A avaliação da investigação, dos investigadores e das organizações de investigação devem reconhecer os diversos resultados, práticas e actividades que maximizam a qualidade e o impacto da investigação”.
(CoARA, 2022)
O Pró-Reitor da Universidade de Díli para a Área de Investigação, Pós-Graduação e Cooperação com a CPLP, Manuel Azancot de Menezes, sobre esta importante decisão que acontece após a assinatura da Declaração de São Francisco sobre Avaliação da Investigação e a Declaração de Budapeste sobre Ciência Aberta, referiu que a decisão do Reitor tem como fundamento a procura da excelência na investigação científica:
“.. através da correcção de injustiças de vária ordem que têm acontecido nos processos de avaliação da investigação e que em geral prejudicam os investigadores com dificuldades em aceder a revistas científicas e com poucos recursos financeiros.. pelo que, a adesão à CoARA era inevitável e fundamental na medida em que a avaliação da investigação deve basear-se numa apreciação qualitativa em que a revisão pelos pares é determinante, naturalmente, complementada por indicadores quantitativos”.
(Pró-Reitor da UNDIL, M. Azancot de Menezes)
Centro de Investigação e Formação Avançada (CIFA)
O Reitor da UNDIL referiu que a Universidade de Díli (UNDIL), indo ao encontro do apelo do Primeiro Ministro de Timor-Leste, Kay Rala Xanana Gusmão, “está a proceder à reestruturação da Área de Investigação Científica na tentativa de melhorar a investigação científica na UNDIL e de contribuir para que Timor-Leste se possa afirmar no mundo de forma efectiva no domínio da ciência e investigação”.
Equipa Reitoral e Decanos da Universidade de Díli (2023)
A UNDIL já tinha em funcionamento o Centro de Pesquisa e Serviços Comunitários e vê agora reforçada a área de investigação científica e formação avançada com a criação de uma nova estrutura, o Centro de Investigação e Formação Avançada (CIFA).
O Pró-Reitor da Área de Investigação, Pós-Graduação e Cooperação com a CPLP, responsável pelo CIFA, afirmou ao Jornal Tornado que os investigadores da UNDIL vão a partir de agora “projetar-se com outra dinâmica a nível internacional”:
“O Centro de Investigação e Formação Avançada (CIFA) da UNDIL, criado este mês por Despacho Reitoral, irá impulsionar uma nova dinâmica no domínio da investigação científica e dos programas de doutoramento, havendo uma resposta concreta ao apelo do Primeiro Ministro e do Presidente da República”.
O CIFA irá priorizar as suas acções junto de universidades e de organizações internacionais ligadas à investigação científica, como é o caso da Coalition for Advancing Research Assessment (CoARA).
(Pró-Reitor da UNDIL, M. Azancot de Menezes)
UNDIL nomeia Ponto Focal na CoARA
A Universidade de Díli, por orientação da Reitoria, quer reforçar as parcerias e a mobilidade académica com investigadores dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Cláudia Vaz, Doutora/PhD em Ciências Sociais na especialidade de Antropologia Cultural pela Universidade de Lisboa, foi nomeada Ponto Focal da UNDIL e integrará os Grupos de Trabalho da CoARA em articulação com os objectivos estratégicos da Universidade de Díli.
Segundo o Pró-Reitor da Área de Investigação, Pós-Graduação e Cooperação com a CPLP:
e, mais um passo concreto tomado nesse sentido foi a nomeação da Doutora Cláudia Vaz para Ponto Focal da UNDIL na Coalition for Advancing Research Assessment (CoARA), uma Investigadora membro do CIFA com larga experiência e que irá colaborar no âmbito da cooperação com a CPLP”.
(Pró-Reitor da UNDIL, M. Azancot de Menezes)
A Coalition for Advancing Research Assessment (CoARA) foi lançada no final de 2022, já tem mais de 500 membros, universidades, centros de investigação e outras organizações, com a principal finalidade de proceder à reforma das práticas existentes na avaliação da investigação científica.
O Secretariado provisório da CoARA é assegurado pela Science Europe, pela European University Association (EUA) e pela Comissão Europeia.
O final do ano de 2022 ficou marcado por um acontecimento que motivou inúmeras reflexões sobre o fluxo migratório de portugueses para o centro e norte da Europa nas décadas de 60 e 70, com natural destaque para França, ao ponto de se ter popularizado que Paris seria a segunda cidade com mais cidadãos nacionais.
Em concreto, a morte de Linda de Suza, a 28 de dezembro de 2022, tornou inevitável o recordar desse movimento migratório que o Portugal que cá ficou sempre preferiu desvalorizar, relegando-o para imagens estereotipadas do emigrante pouco instruído que regressava a Portugal todos os anos pelo Verão – os “avecs” – para ostentar um nível de vida de fazer inveja na terrinha.
Não se tratou de um esquecimento total, pois ao nível de um certo folclore celebrativo sempre estiveram presentes. Festas, romarias e monumentos aí estão para o comprovar e, o Dia de Portugal em democracia, celebra também as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Mas até que ponto os conhecemos e refletimos seriamente sobre a sua condição? Ou, por outro prisma, até que ponto o país não poderia beneficiar em incrementar a ligação com esta diáspora?
Para quem por esse mundo que fala português não esteja familiarizado com a personalidade referida, aqui fica um “resumo do resumo”. Teolinda de Sousa, fez parte dos cerca de 1 milhão e 500 mil cidadãos portugueses que deixaram o país clandestinamente durante os últimos anos da ditadura. No seu caso particular, cruzou clandestinamente a fronteira e entrou em França, no início da década de 70, com um filho de 4 anos nos braços.
Tal como a maioria das mulheres portuguesas de então, trabalhou nas limpezas, função que acumulou com o trabalho à noite num restaurante onde cantava pontualmente, mas o suficiente para impressionar um produtor musical que frequentava o estabelecimento. “Afrancesou” o nome, atuou num programa de TV e não mais voltou às limpezas, desenvolvendo uma carreira artística de sucesso muito substancial em França, ao ponto de, simbolicamente, quando a meio da década de 80 Portugal aderiu à então Comunidade Económica Europeia, foi a artista convidada para atuar no Parlamento Europeu, consubstanciando em termos artísticos o que o ministro dos negócios estrangeiros português, José Medeiros Ferreira, deixou expresso em termos políticos, no primeiro discurso proferido no Conselho da Europa após a revolução de Abril de 1974: “Portugal volta por fim oficialmente à convivência com a Europa”.
Mas se a morte da cantora não passou despercebida, o mesmo não se poderá dizer do outro acontecimento que, no final do ano passado, nos deveria ter obrigado a olhar para a diáspora portuguesa em França com um olhar renovado: O apuramento para o mundial de rugby da seleção nacional.
fpr.pt
Na verdade, num país onde o futebol funciona como um eucalipto, as restantes modalidades só recebem uma atenção pontual quando alcançam feitos dignos de destaque. Foi o que sucedeu em novembro de 2022, quando no torneio final de repescagem para o mundial da bola oval, o internacional português Samuel Marques colocou a seleção nacional pela segunda vez entre a elite da modalidade com um pontapé certeiro já nos descontos do jogo decisivo contra os EUA, assegurando a derradeira vaga no torneio.
O Mundial, a disputar em França e com início marcado para o presente mês, vai assim contar com a segunda participação portuguesa, depois de na edição de 2007, os então célebres “Lobos” terem temporariamente apaixonado Portugal. Afinal aqueles rapazes 100% amadores e bem constituídos fisicamente como é próprio do rugby, choraram a bem chorar sempre que cantaram o hino nacional. Mas tal como apaixonaram o país, rapidamente caíram no esquecimento. Talvez porque a evolução do rugby tenha tornado impossível uma equipa totalmente amadora voltar a marcar presença na sua prova maior, numa modalidade que por cá continua ainda hoje, já não tão elitista, mas 100% não profissional.
Consciente desta situação, numa tentativa de voltar à ribalta, a Federação Portuguesa de Rugby (FPR) não teve dúvidas em contratar um treinador francês (Patrice Lagisquet) e a recorrer a um lote de jogadores selecionáveis ao abrigo das leis internacionais que regem a modalidade, crismados entre os (poucos) adeptos da modalidade como “os netos da Linda de Souza”(i)! É que o Samuel do pontapé decisivo chama-se Samuel Batiste Marques, sendo acompanhado na nossa seleção por Jean Sousa, Mike Barbosa, Vicent Pinto, Antony Alves, Steevy Cerqueira, Nicolas Martins, Lionel Campergue, Thibault de Freitas, Joris Moura e Francisco Fernandes, luso-franceses, ou franco-portugueses, que jogam nos campeonatos profissionais e semiprofissionais de França, a “premier league” do rugby mundial. Sem este contributo, os restantes jogadores da seleção nacional, os “Filhos dos Lobos” (num dos casos, literalmente!), muito dificilmente teriam conseguido chegar lá, apesar de um número substancial também já evoluir em equipas profissionais, ou semiprofissionais, em França. Tudo junto, entre emigrantes atuais e netos/filhos de emigrantes das décadas de 60/70, a maioria dos convocados da seleção nacional de rugby está por França, o que até dará um certo jeito a uma federação completamente depauperada em termos financeiros…
Mas voltemos aos “Netos da Linda de Sousa”. Em primeiro lugar pouco terão a ver com os seus familiares que fugiram do país (se calhar, sem nunca terem saído do mesmo), nem com uma primeira geração de luso-descendentes, retratados pelo realizador João Canijo, no filme “Ganhar a Vida” (2000), um retrato cru de uma comunidade onde a frase “não estamos no que é nosso” surgia repetida inúmeras vezes como auto-consolação perante a vida dura, e os abusos sofridos no país de acolhimento, em que as jovens mulheres, que até estudavam, acabavam por “casar com o trolha” (o jovem luso-descendente do sexo masculino), de tal forma a comunidade vivia enclausurada sobre si mesma em cinzentos blocos de apartamentos na periferia da grande cidade..
De lá para cá, tudo indica que os “Netos da Linda de Suza” deram passos importantes, deixando para trás as imagens estereotipadas, como o comprovam estudos onde se constata que os resultados escolares das netas e netos da porteira e do operário da Citroen, da sra. da limpeza e do pedreiro vindos de Portugal com a 4ª classe, são hoje equivalentes aos dos franceses nativos e superiores ao da grande maioria das comunidades migrantes, mesmo mais antigas no país(ii).
Regressando ao rugby, alguns dos nomes referidos passaram pelas seleções jovens de França, e mesmo reconhecendo que a língua de Camões não será naturalmente o seu forte (afinal, na maioria dos casos, a ligação a Portugal já se baseia apenas num dos progenitores), ou mesmo que, caso tivessem oportunidade para tal, estariam no mundial a cantar A Marselhesa e não A Portuguesa, a verdade é que, devido às já referidas restrições financeiras da FPR, estes “avecs” pagam do próprio bolso as viagens e hotéis para jogarem e treinarem em Portugal e por Portugal, o que têm feito nos últimos anos, sem qualquer garantia de participação na prova maior da modalidade. Sim, o Jean, o Mike, o Nicolas, etc., têm andado a pagar pelo privilégio de representar um país que tratou mal os seus avós e esqueceu os seus pais, mas que lhes deu a oportunidade para marcar presença no evento máximo daquilo que fazem e que reconhecem, com orgulho, fazer parte daquilo que são.
Apesar dos sacrifícios, não se esperam resultados por ir além numa prova que para Portugal começará com um jogo contra o País de Gales. Curiosamente, nos meus tempos de jovem, quando jogava futebol com os amigos do bairro, um remate que jamais seria golo nem que se montassem três balizas umas em cima das outras, merecia o comentário depreciativo “três pontos para País de Gales”. Mas a verdade é que esse país britânico da bola oval vai ganhar por bem mais de três pontos o duelo…. Aliás, não é difícil vaticinar que a derrota será a constante da nossa participação já que a sorte que acompanhou o Samuel no pontapé decisivo nada quis connosco no grupo em que caímos.
Outra certeza que podemos ter é que, ao contrário do que sucedeu recentemente com uma seleção de futebol, que apesar de não ter passado da fase de grupos do respetivo mundial, regressou a Portugal em apoteose, com direito a escolta de avião e receção no Palácio de Belém, os Lobos regressão ao anonimato, sendo possível que muitos nem passem por Portugal no final do torneio. Basta relembrar que a FPR nem teve dinheiro para, depois do jogo decisivo que colocou Portugal no mundial, pagar as viagens aos luso-franceses para passarem por Portugal antes de rumarem a França…(iii).
Mas talvez tal fosse pedir demais. Tenho a certeza que os Lobos netos da Linda de Suza já se dariam por satisfeitos pelo reconhecimento do seu esforço e por poderem representar o país que continuam, nem que seja em parte, a sentir como seu, sem que tal diminua o saldo das suas contas bancárias.
Linda foi sepultada em Gisors, cidade da Normandia onde viveu. Foi uma despedida que a comunidade portuguesa pintou de vermelho, com os cravos que floriram na revolução que assinalou o fim do regime marcado pela trilogia miséria-repressão-guerra que os fez deixar “o seu Portugal”. Como sempre acontece nestas ocasiões, o elogio foi unânime. Numa homenagem póstuma, a localidade onde Linda nasceu, decidiu atribuir o seu nome ao centro cultural local.
Talvez fosse uma excelente ideia não deixar morrer a ligação dos descendentes da emigração portuguesa com o nosso país. Tal como no rugby, não teríamos todos a ganhar em manter viva a relação entre o país e as suas comunidades espalhadas pelo mundo?
Numa altura em que a modalidade desportiva que predomina em Portugal insiste em continuar a ser uma verdadeira escola de maus costumes, que também aqui o rugby, dito “jogo de rufias praticado por cavalheiros”, onde no final as equipas se aplaudem mutuamente, sirva de exemplo positivo.
Temos alguma tendência para esquecer conjunturas ameaçadoras em termos de segurança quando os seus traços se vão esfumando como por encanto.
Há alguns anos parecia inevitável a multiplicação de confrontos entre as forças de segurança enquanto tal e segmentos da população da periferia da capital. Recordemos o caso da esquadra de Alfragide em que foram, está hoje, creio, comprovado, alguns membros de uma estrutura que exerciam até um papel mediador, e o caso do chamado Bairro Jamaica, no Seixal em que o que nasceu como um confronto entre duas donas de casa deu lugar a uma intervenção musculada da polícia e acabou por dar origem a uma manifestação em Lisboa, reprimida julgo que por incumprimento de trâmites processuais(i). Sem qualquer relação orgânica comprovável ter-se-ão verificado a norte de Lisboa durante a noite episódios de incêndio de automóveis, a recordar acontecimentos que na banlieue parisiense se terão tornado habituais, e, que a generalizarem-se em Portugal, dariam origem a significativo alarme social.
De notar que de modo geral nestas situações os comandos intermédios, designadamente distritais, deram cobertura aos seus efectivos sem prejuízo de, sobretudo no caso de incidentes que afectaram a integridade física ou mesmo a vida de populares a Inspecção-Geral da Administração Interna e o Ministério Público instauraram os correspondentes inquéritos.
Recorro ao termo “populares” quase em desuso, para não utilizar o de “cidadãos”, indevidamente utilizado, sobretudo por políticos, no caso de cidadãos de outros países que não alcançaram cidadania portuguesa ou não têm sequer a intenção de a obter. No entanto no treino da PSP e de outras forças de segurança é mister vincar que a vida humana é sagrada, muito embora os casos de excesso de utilização da força coloquem muitas vezes questões de difícil resolução(ii).
Tanto quanto posso perceber o sucesso inicial do Movimento Zero nas forças de segurança, com insubordinação em formaturas e em cerimónias oficiais, teve origem não só em problemas de ordem salarial mas também na percepção de que em caso de incidentes no relacionamento com a população, os efectivos não estariam necessariamente defendidos pela hierarquia. O caso Ernano relativo a um GNR que durante uma operação, disparou matando uma criança cigana, deu várias voltas na Justiça, atraiu durante muito tempo a atenção popular(iii).
A Cabrita, Eduardo, coube, corriam estes anos de brasa, escolher um Director Nacional de entre os superintendentes formados na própria PSP. Escolheu Magina da Silva, tendo a escolha desagradado a alguns sectores da própria área governamental, se é que interpreto bem o sentido do artigo de Valentina Marcelino no Diário de Notícias de 28-8-2023 “Sai o securitário magina, entre o civilista barros correia”, que se congratula pela sucessão de Magina, operada por Carneiro, José Luís, sucessor de Cabrita.
A caracterização agora feita de Magina da Silva no artigo citado do DN que faz referência ao “rótulo de “securitário” e de uma polícia “musculada” que sempre se colou a Magina da Silva — o homem que queria blindados a patrulhar os bairros das zonas urbanas sensíveis e que foi um dos mais brilhantes atiradores do Grupo de Operações Especiais (GOE), que comandou vários anos” não a vi feita na altura, mas não deixa de ser curiosa: a PSP já tinha antes veículos para operações especiais nos bairros problemáticos(iv) e não consta que Magina da Silva limpasse as ruas a tiro…
Mas o primeiro comentário público de Magina da Silva a um “caso” fez surgir preocupações. Talvez não tenha sido ainda esquecido o incidente da passageira da Vimeca cuja filha de 8 anos se esqueceu em casa do passe (gratuito), tendo-se a mãe envolvido num incidente com o motorista e um membro da PSP. O novo director nacional apressou-se a validar o golpe de que este último se tinha servido para neutralizar a passageira, de origem angolana, sem se ser ter apercebido que, ao que apurou o Ministério Público, o protagonista e dois colegas tinham levado a antagonista “dar uma volta”. O poder judicial decidiu julgar todos(v) mas recordo este incidente por ter evidenciado a disposição do dirigente para defender os seus.
De um ponto de vista de Gestão, justificar-se-ia estudar como foi gerida entre os Ministros (Cabrita e Carneiro) e a Direcção Nacional a problemática do relacionamento da PSP com as populações. Aparentemente Magina da Silva terá conseguido passar para os seus efectivos a necessidade de melhorar o relacionamento com a população, num ou outro comentário público congratulou-se por eventos complexos terem sido bem geridos.
Também em termos de Gestão, a PSP terá sabido manter uma boa imagem na forma como lidou com o confinamento decretado em conexão com a pandemia de COVID-19, apesar de um ou outro momento em que teve de usar a força. Mas trata-se de um período sobre o qual existe até agora muito pouca auto-reflexão pública.
Em termos mais amplos, o atenuar das dificuldades de relacionamento entre a PSP e a população reenviam em parte para melhorias de contexto específicas:
o diálogo entre o Governo e diversas organizações sobre manifestações de racismo;
a criação de uma Carris Metropolitana que não é uma empresa mas uma “geringonça”: uma marca gerida por uma sociedade de capitais públicos que contratou em regime de prestação de serviços parte das antigas concessionárias, como, tanto quanto tenho presente, a acima referida VIMECA, o que reduz um ou outro foco de tensão, embora num período inicial tenha criado problemas de comunicação com o público e de responsabilização perante este;
a percepção por parte da Secretaria de Estado da Habitação de que teria de apoiar financeiramente o Município do Seixal na erradicação do “Bairro Jamaica” (Vale de Chícharos), sendo que a Câmara Municipal antes de outros desenvolvimentos chamou a PSP para encerrar estabelecimentos que funcionavam sem autorização.
Um outro ângulo que importaria analisar tem a ver com a representatividade dos movimentos na PSP
a Ministra Constança de quem se esperaria inicialmente que actuasse na área das migrações e veio a ser “queimada” nos incêndios florestais de 2017, não terá atribuído a importância devida à revisão da legislação sindical das forças de segurança, que se baseava na legislação da função pública de 1999 e incentivava à criação de sindicatos para aproveitamento do estatuto de créditos de faltas aos dirigentes e delegados, tendo a solução finalmente consensualizada entre partidos envolvido critérios de definição de representatividade e supressão da eleição de delegados sindicais a nível de esquadra;
sobretudo após esta clarificação parece ter sido relativamente fácil o diálogo entre o Governo e as associações sindicais mais representativas, embora com dificuldades de entendimento e entre a direcção nacional e estas últimas.
A crédito do período de gestão de Magina da Silva parece ficar a auto-dissolução do Movimento Zero, incompatível aliás com o prestígio da instituição policial pela qual o director lutou. Porém sobre a criação, composição e fim pouco se ficou sabendo.
Entretanto parece começar a sentir-se o problema de encontrar lugares não necessariamente dourados, mas minimamente dignos, para os antigos dirigentes, que nem aqui nem na GNR estão em condições de voltar a outras organizações, pois que se criaram e progrediram na sua organização. Provisoriamente, rodarão por embaixadas prestigiadas como oficiais de ligação. E depois? Serão ainda muito novos para se aposentarem.
(ii) Recordo o caso de uma perseguição policial que se iniciou na margem sul do Tejo e que aparentemente por identificação errada veio a custar a vida a uma cidadã brasileira que circulava na margem norte e se dirigia ao Aeroporto por trabalhar numa loja deste.
(iii) O protagonista, que já cumpriu a pena a que foi condenado, veio a ser candidato a deputado pelo Chega na primeira vez que este concorreu a eleições legislativas.
(iv) Vi nessa altura um deles na área de serviço da Amora, Seixal.
(v) Desconheço se o julgamento se chegou a realizar. Entretanto o motorista da Vimeca terá ido em momento posterior agredido por desconhecidos que não puderam ser identificados.
No último final de semana, entre os dias 1º e 3 de setembro, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) realizou o seu XXVII Congresso Estadual, em Piracicaba, no interior paulista. O evento reuniu educadores, sindicalistas e representantes de diversas entidades ligadas à educação para debater temas relacionados às políticas educacionais e traçar estratégias para o futuro da educação pública no estado de São Paulo. A abertura do congresso contou com a presença da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), representada pelo presidente da CTB-SP, Renê Vicente, e pela professora Francisca Pereira da Rocha Seixas, da direção nacional da CTB e da direção estadual de São Paulo, compõe a direção da Apeoesp e da CNTE.
A CTB demonstrou seu comprometimento com a causa da educação pública, destacando aensino p importância da luta em prol do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a oposição às políticas neoliberais implementadas no campo educacional, bem como a resistência às privatizações no estado de São Paulo. “Participamos na abertura do XXVII Congresso da APEOESP, que homenageou o líder sindical João Felício. Representando a CTB, ressaltamos a importância da luta pelo êxito do governo Lula, e a luta contra as políticas neoliberais de Tarcísio no campo educacional e contra as privatizações no Estado”, disse Renê Vicente.
O principal objetivo do congresso foi discutir políticas educacionais e aprovar um plano de lutas com pautas voltadas para a melhoria da educação pública no estado de São Paulo. Ao longo dos três dias de intensos debates, os participantes se debruçaram sobre questões que afetam diretamente o cotidiano dos professores, alunos e toda a comunidade escolar. “Após uma grande vitória nas eleições da Apeoesp, em maio, realizamos pela primeira vez na história um Congresso pós eleição para modernizar o nosso estatuto, que trouxe importantes mudanças como a possibilidade de encontros e reuniões online quando houver dificuldade de fazer presencial. A CTB teve importante participação na montagem da Chapa 1 e nos renovados planos de lutas, adequando a temática de gênero e raça nas nossas lutas permanentes”, completou professora Francisca.
CTB-SP participa do XXVII Congresso Estadual da APEOESP
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Compromissos deliberados
Ao longo dos três dias de debates e discussões, os participantes do congresso aprovaram um plano de lutas que visa:
Revogar a reforma do ensino médio;
Lutar pela implementação da lei do piso salarial profissional nacional;
Combater a militarização da educação;
Enfrentar as propostas de privatização do governo Tarcísio, especialmente no que diz respeito aos transportes públicos e à SABESP;
Participar do plebiscito contra a privatização da SABESP;
Oposição ao secretário de educação Renato Feder e suas propostas de digitalização da educação.
Foi apenas há dois meses que a morte de um adolescente ao volante de um mercedes pela polícia em Nanterre, na periferia parisiense, deu origem a motins que se prolongaram por mais de uma semana no qual faleceram três pessoas e foram queimados milhares de veículos e edifícios, públicos e privados.
Assisti a alguns desses actos de vandalismo, em Saint Quentin, no bairro chamado de Europa, caracterizado por vários grandes edifícios habitados pelas camadas mais pobres da população, parte importante dela, muçulmana e de origem magrebina. O que mais me chocou no que vi foi a forma como estabelecimentos– a padaria, a mercearia, o café-bar – de pequenos comerciantes, gente modesta, estabelecimentos essenciais ao quotidiano dessa população, foram não só saqueados, mas incendiados e sistematicamente destruído tudo o que não ardia.
Não se tratou, portanto, apenas de destruir os símbolos públicos – embora pelo que pude ler na imprensa, seja significativo que as escolas tenham sido um alvo prioritário – ou ainda as grandes lojas ou as casas ricas, tratou-se antes de ataques genéricos de uma forma que prefigura uma autêntica guerra civil.
Passado o choque inicial, e também de acordo com o que pude ler na imprensa, as forças policias reagiram e prenderam milhares de pessoas – adolescentes a maioria – verificando-se casos de excesso de força e mesmo pelo menos a morte de uma vítima inocente em Marselha.
Tratou-se dos motins mais violentos de que há memória de há décadas a esta parte, tendo eu ficado com a ideia de que a generalidade da elite francesa não entendeu a gravidade do que aconteceu, sendo que alguns quase se limitaram a criticar os excessos das forças da ordem, como se fosse de todo em todo possível que estes excessos não existissem, enquanto outros se colocaram na posição contrária, sem que eu tenha visto ninguém abordar o problema de fundo: como ultrapassar a enorme fractura da sociedade francesa que propicia este clima de guerra civil.
Invoca-se até à exaustão o passado colonial e a guerra suja que antecedeu a independência da Argélia. Mas já lá vão mais de seis décadas. Entre outras coisas, a Argélia passou já depois da independência por uma guerra com o extremismo muçulmano que ultrapassou a anterior em morte e selvajaria. Por outro lado, não é sequer seguro que se possa identificar a emigração argelina como necessariamente a fonte de violência fanática.
O último atentado ao Charlie Hebdo foi protagonizado por um paquistanês e o assassino do professor Samuel Paty era um checheno, cuja família veio para França como refugiada pela perseguição russa.
Acresce a isto que uma das fontes mais importantes para a construção do ódio fanático é a da consideração de toda a história como independente do tempo. Quem quer que já tenha discutido com um fanático islamista terá certamente reparado que o facto mais impressionante da sua retórica é a de se referir a factos reais ou presumidos passados há cem ou há mil anos como se fossem contemporâneos. Recusar um debate nesses termos é o primeiro cuidado a ter, se queremos chegar a algum lado.
É patente que a religião muçulmana é aqui o instrumento escolhido por vários actores – e nomeadamente por actores internacionais – para contestar as instituições, a cultura, ou mesmo a identidade francesas.
Exatamente por essa razão, não creio ter sido boa estratégia conceder o ‘selo muçulmano’ a todos os trajos, hábitos ou dogmas que os fanáticos e manipuladores da religião considerem como tais.
Não, não é verdade que o Islão proíba a representação do profeta, e basta andar pela Ásia Central para se ter abundantes provas do facto. Existem sim leituras do Islão que o fazem, mas não nos compete classificar essas leituras como as realmente ‘islâmicas’.
Não, não é verdade que o Islão exija mais ou menos que outras religiões (a cristã, por exemplo) a cobertura da cabeça das mulheres, ou mesmo a sua cobertura integral por túnicas que se assemelham a sacos.
Não, não há qualquer base para considerar a ‘abaya’ como vestuário mais muçulmano que qualquer outro.
Aquilo que mais negativamente me impressionou na minha última deslocação ao Bangladesh foi ver o quase desaparecimento dos coloridos sarees indianos e a sua substituição por hijabs e niqabs, originários de cultos wahabitas. Não sou naturalmente ingénuo e não penso que uma transformação destas seja possível sem uma considerável pressão social e uma releitura fanática e enviesada da história.
Claro que a generalização deste vestuário tido como islâmico e que visa fazer desaparecer a mulher é algo que deve ser visto como um sinal de alarme, mas não creio que a sua proibição legal nos estabelecimentos de ensino – anunciada agora pelas autoridades francesas – seja a medida mais inteligente para fazer face a este inimigo insidioso.
É essencial começar por entender o que realmente se passa e que leva uma considerável parte da população francesa a sentir-se estrangeira no seu país e actuar de forma tão hostil para com ele, e fazê-lo sem ser intoxicado pela propaganda inimiga.
A predominância do Ocidente tem sido expressa sob várias formas, onde dominam a vertente militar (sob a capa da NATO e mais recentemente da AUKUS) ou a económica, onde pontificam o G7 e o G20. Recorde-se que a ideia dos G7 (conhecido como G8 até ao afastamento da Rússia, em 2014) e G20, que reúne as maiores economias mundiais, partiu de uma iniciativa do ex-presidente francês Valéry Giscard d’Estaing que, em 1975, reuniu um grupo de seis governantes (Alemanha, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido), para debater a questão dominante da época, que era a crise do petróleo.
Ao contrário do grupo dos mais ricos (seja o mais abrangente G20 ou o mais restrito G7), que partiu de uma iniciativa puramente política, o conceito dos BRICS surgiu em 2001 numa publicação da Goldman Sachs (grupo financeiro multinacional, norte-americano, particularmente conhecido pelas suas actividades como banco de investimento, gestão de valores mobiliários e de investimentos) – Building Better Global Economic BRICs – num acrónimo identificador das chamadas economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia e China, a que mais tarde se associaria a África do Sul.
O facto é que em 2006, o que poderá ter tido a sua génese como conceito académico, começou a dar sinais de se transformar em algo com os contornos de uma alternativa geopolítica, quando os ministros dos negócios estrangeiros dos quatros estados se reuniram à margem de uma Assembleia Geral da ONU que levaria à realização regular de cimeiras quadripartidas. A admissão da África do Sul, em 2010, assegurou a consolidação e globalização (os quatro continentes passaram a estar representados) da iniciativa, enquanto que o crescimento económico da China e da Índia garantiam um considerável aumento do peso e da importância política do bloco, a par com o aprofundamento da discussão de questões como a melhoria da situação económica global, a reforma das instituições financeiras (FMI e Banco Mundial, onde a influência das países ocidentais excede em muito o peso das respectivas economias) e o aprofundamento da cooperação entre os membros.
Nesta última cimeira discutiram exaustivamente um conjunto amplo de questões como, a expansão do bloco, moeda comum, investimento e comércio, além dos habituais temas de estratégia e geopolítica, terminando com o anúncio da admissão de seis novos membros: Argentina, Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão.
Entre os países do Médio Oriente, a Arábia Saudita é não só o maior exportador de petróleo do mundo, mas também a sede dos locais mais sagrados do Islão, facto que associa uma faceta política e altamente simbólica àquela posição económica; conjuntamente com os Emirados Árabes Unidos constituem os dois maiores pesos pesados políticos e financeiros do Golfo Pérsico e dois dos maiores fornecedores de energia do mundo, o que deverá dar ao bloco peso adicional na sua tentativa de desafiar a ordem mundial dominada pelos EUA, enquanto confirma a consolidação da reputação e influência daqueles Emirados como parceiro global. Já a admissão do Irão surgirá na sequência da sua aproximação a Pequim e a Moscovo, em resultado das sanções que lhe foram impostas pelo Ocidente, não sendo também de excluir que represente uma forma de gerir cuidadosamente o equilíbrio de poder entre os países e as facções islâmicas na região.
O Egipto é o país árabe mais populoso e a sua admissão – a par com a do Irão – reforça a imagem do bloco como inclusivo e representativo de várias civilizações; embora seja um dos principais beneficiários da ajuda norte americana, há muito que mantém uma forte relação com a Rússia e tem laços comerciais crescentes com a China, o que reforça o seu interesse em se libertar da dependência americana tanto mais que a sua dependência do dólar e as sanções económicas impostas pelo Ocidente à Rússia desencadearam uma crise cambial que levou ao disparar do preço das cruciais importações de trigo e de combustíveis (pagas em dólares) e está a originar uma perigosa crise na sua economia.
A Universidade de Díli (UNDIL) é a única entidade de Timor-Leste que subscreveu a Declaração de São Francisco sobre Avaliação da Investigação e a Declaração de Budapeste sobre Ciência Aberta.
O Jornal Tornado foi entrevistar o Pró-reitor da Universidade de Díli da Área de Investigação, Pós-graduação e Cooperação com a CPLP, Manuel Azancot de Menezes, académico doutorado em educação na especialização de administração e política educacional pela Universidade de Lisboa e um dos principais especialistas timorenses na área da educação e do ensino superior:
Qual é o estado da arte da investigação científica em Timor-Leste?
Se entendermos o conceito de “estado da arte” como sendo a produção do conhecimento sobre determinado tema podemos afirmar com propriedade que a investigação científica em Timor-Leste, reconhecida como tal pela comunidade científica internacional, é quase nula, à excepção das teses de doutoramento que são realizadas por académicos timorenses no Brasil, Portugal e Japão, entre outros países.
A verdade é que na maior parte das instituições de ensino superior do país não há cultura de investigação. Para muitos gestores de universidades e institutos superiores do país, a investigação é aquela que é produzida no âmbito das monografias e trabalhos de fim de curso e não se avança mais do que isso. Ora, a investigação empírica realizada nos cursos de graduação é importante mas está muito longe de ser considerada como investigação científica reconhecida pela comunidade científica internacional.
Um outro indicador desta constatação é verificável também pelo facto das universidades, institutos, centros de investigação, públicos e privados, não serem signatários, por exemplo, da Declaração de Budapeste sobre Ciência Aberta e da Declaração de São Francisco sobre Avaliação da Investigação que utiliza a sigla DORA (San Francisco Declaration on Research Assessment) .
Repare, a Universidade de Díli é a única entidade que fez avanços nessa matéria e, confesso, tenho muito orgulho em sermos pioneiros em Timor-Leste porque assumimos um compromisso internacional com a qualidade e a transparência na investigação científica. Este dado é importante para reflectirmos, todos nós, no sentido de percebermos o nosso estádio actual, como é que vamos caminhar e para onde queremos ir.
O que eu tenho verificado é que há uma preocupação de vários académicos do país em publicar artigos em revistas internacionais para somar métricas quantificáveis baseadas em revistas e outras publicações no pressuposto (errado) de que são as práticas recomendáveis para se avaliar a qualidade da investigação ou do académico que faz pesquisa.
Confesso que tenho uma outra visão, o nosso objectivo não deve ser coleccionar citações e métricas quantificáveis, com o estabelecimento e disputa de rankings, sabendo nós que por detrás de tudo isto há um grande negócio, pouco saudável em contexto de investigação científica.
Então, como avaliar a investigação científica?
A avaliação da investigação segundo recomendações da Declaração de São Francisco / DORA, pelo contrário, deve basear-se na avaliação pelos pares, na avaliação de outros cientistas e investigadores, em processos transparentes, por isso estamos a observar em todo o mundo a expansão dos repositórios de publicações de artigos científicos.
A principal recomendação da DORA é, precisamente, a não utilização de métricas, como o factor de impacto baseadas em revistas e o índice h, inferindo-se erradamente a qualidade de um investigador e de um artigo com base exclusivamente nesses critérios.
Aliás, já o referi neste mesmo jornal, a investigação científica deve ser avaliada pelos seus próprios méritos e não estar dependente do prestígio das revistas científicas ou dos excessos associados às métricas quantificáveis.
O défice de cultura científica em Timor-Leste tem a sua origem nos ensinos primário e secundário.
O que está mal começa no ensino primário e secundário?
Exacto! Porque nas práticas pedagógicas nestes níveis de ensino não se usam metodologias de ensino-aprendizagem que promovem o desenvolvimento de competências, a inovação e o pensamento crítico, factores essenciais à iniciação científica.
Pela minha experiência, o que eu verifico é que se privilegia o ensino expositivo e memorístico, sem estar centrado no desenvolvimento de competências dos alunos, portanto, há uma aprendizagem dos conteúdos de forma atomizada, sem qualquer relação e interacção com a sociedade.
Neste aspecto, o Ministério da Educação precisa de fazer muito mais, ou seja, quase tudo está por fazer, desde resolver a trapalhada que continua a existir com as línguas de ensino no pré-escolar e no ensino primário, criando dificuldades ao desenvolvimento da língua portuguesa, até às competências científicas e didáctico-pedagógicas dos professores, havendo necessidade de se abrir urgentemente uma Escola Superior de Educação para a formação inicial de professores e de gestores escolares, um projecto que tem o apoio total do Brasil.
O que fazer para desenvolver a investigação científica em Timor-Leste?
No caso da Universidade de Díli (UNDIL) pretendemos cumprir com as sábias orientações do nosso Magnífico Reitor, José Agostinho da Costa Belo Pereira, um gestor universitário muito atento à mudança e à inovação.
Neste momento temos dois grupos de investigação em actividade, um em ciências da educação e um outro grupo de investigação em saúde pública, este último com a participação de um cientista angolano que está a fazer pesquisa nos EUA.
Estudantes finalistas da Faculdade de Ciências da Saúde da UNDIL (2023)
Obviamente, temos ainda um longo caminho a percorrer, mas estamos a concretizar o nosso plano de desenvolvimento estratégico para o aproveitamento de sinergias com parceiros internacionais, em rede, nomeadamente com organizações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), tendo como desiderato a melhoria e o desenvolvimento da investigação científica.
Também somos membros da Rede Académica de Ciências da Saúde da Lusofonia (RACS) com quem já temos várias acções e actividades conjuntas em perspectiva e andamento com o intuito de potenciar a qualidade da investigação científica na nossa universidade.
Em suma, a Universidade de Díli irá levar muito a sério a cooperação com a CPLP e vai estar atenta e preocupada com a investigação científica, com a sua qualidade, com a sua avaliação e com a partilha dos resultados da pesquisa realizada.
Em relação às restantes entidades de Timor-Leste, reconheço que actualmente o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Timor-Leste (INCT) está a tentar fazer o mapeamento da ciência no país, uma iniciativa muito louvável, mas é imprescindível que os gestores e investigadores assumam uma postura congruente com as recomendações internacionais em matéria de investigação científica.
O cumprimento das Declarações de Budapeste sobre Ciência Aberta e de São Francisco sobre Avaliação da Investigação, entre outras, é fundamental, devendo ser exigido a todas as universidades, institutos superiores e centros de investigação uma mudança de paradigma para que se possa apostar na qualidade e podermos merecer o reconhecimento internacional e a confiança da nossa sociedade.
Em 29 de agosto de 1943, nascia, no Rio de Janeiro, Eduardo de Góes Lobo, que se transformaria num dos maiores compositores da música popular brasileira. Filho do compositor Fernando Lobo (1915-1996), virou Edu Lobo por insistência de Vinícius de Moraes (1913-1980), um de seus grandes parceiros.
Upa, Neguinho (1966), de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri; canta Elis Regina
Fortemente influenciado pela bossa nova, principalmente pelo violão e canto de João Gilberto e mais ainda pelo maestro Tom Jobim (1927-1994) – para alguns o maior músico do planeta –, Edu seguiu seu caminho mesclando tudo isso com ritmos nordestinos, música clássica, samba, jazz e outros gêneros, por influência de seu avô paterno.
Ponteio (1967), de Capinam e Edu Lobo; cantam Edu e Marília Medalha
Ele iniciou sua carreira, como muitos outros, participando dos grandes festivais; e foi o vencedor de vários. Já em 1965, no 1º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, recebeu o prêmio de primeiro lugar, com a canção Arrastão, em parceria com Vinicius de Moraes, com interpretação de Elis Regina (1945-1982).
Em 1967 ele venceu Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso entre outros grandes compositores no icônico Festival da Música Popular Brasileira da TV Record com Ponteio, em parceria com José Carlos Capinam, interpretação de Edu e Marília Medalha.
Arrastão (1965), de Edu Lobo e Vinícius de Moraes
Como resistência à ditadura de 1964, aproximou-se de Ruy Guerra, Oduvaldo Vianna Filho – O Vianinha (1936-1974) – e Augusto Boal (1931-2009), musicando peças teatrais. Em 1966, compôs a trilha sonora do importantíssimo espetáculo Arena Conta Zumbi, em parceria com Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), de onde saiu o grande sucesso Upa Neguinho, na voz de Elis Regina. Edu Lobo também recebeu a influência de Sérgio Ricardo (1932-2020), João do Vale (1934-1996), Carlos Lyra, entre outros.
Sobre Todas as Coisas (1983), de Chico Buarque e Edu Lobo; canta Gilberto Gilberto
Fez, ainda, os arranjos do musical Calabar: o Elogio da Traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra, em 1973. Com um truque da censura, a peça foi liberada, mas, depois de tudo pronto, a encenação foi proibida, causando grande prejuízo financeiro.
Ciranda da Bailarina (1983), de Chico Buarque e Edu Lobo
Depois de ter voltado de uma temporada nos Estados Unidos, estudando música, gravou um disco com o seu ídolo, Tom Jobim, e desenvolveu parcerias com Chico Buarque; talvez a dupla mais criativa da MPB. Surgiu, nessa época, o balé, de Naum Alves de Souza, depois transformado em disco, O Grande Circo Místico, baseado em poema homônimo de Jorge de Lima (1893-1953), em 1983. E O Corsário do Rei, em 1985, com base em peça homônima de Augusto Boal.
Dos Navegantes (2017), de Edu Lobo e Paulo César Pinheiros
Com 60 anos de carreira, Edu comemora os seus 80 anos em plena atividade. Por isso, diz custar “a acreditar” que vai fazer 80 anos.
“Porque a minha cabeça é igual à de 40. Eu não estou diferente, sei lá, com dificuldade motora, então fica difícil acreditar. É uma idade grande, né? Comecei com 19, fazendo uma música com Vinicius de Moraes. Quando penso na minha carreira, tenho certeza de que foi o melhor trabalho que escolhi para a minha vida. Veja bem, quando tudo começou, eu estava estudando direito, não queria ser advogado, de jeito nenhum, mas pensava em seguir carreira diplomática. Que sorte que eu não fui, porque não tem nada que eu deteste mais na minha vida do que ouvir ou fazer discurso”.
Beatriz (1983), de Chico Buarque e Edu Lobo; canta Milton Nascimento
Na realidade, a sorte é do Brasil, que ganhou um dos maiores compositores e músicos de todos os tempos.
Que Edu Lobo consiga manter a sua criação artística ainda por muitos anos! Que em seus 80 anos venham tantos projetos que Edu Lobo não cesse jamais de criar tantos clássicos para o riquíssimo acervo da MPB, ao lado de grandes parceiros como sempre teve ou em produções solo! A grandeza de sua arte nunca se perde.
Como canta em Lero-Lero, em parceria com Cacaso (1944-1987): “Não guardo mágoa, não blasfemo, não pondero/ Não tolero lero-lero, devo nada pra ninguém” e completa: “Porque no amor quem perde quase sempre ganha/ Veja só que coisa estranha, saia dessa se puder”.
Em qualquer filme sobre clãs mafiosos – o Padrinho é o mais óbvio – a eliminação de rivais ou de colaboradores que se tornaram inconvenientes é feita sem aviso prévio, sem consideração por qualquer norma instituída ou pela integridade física de quem quer que seja? e tendo como preocupação cimeira horrorizar quem quer que possa ser tentado a seguir os passos desses rivais ou dissidentes sem, em qualquer caso, assumir a responsabilidade pelos seus actos.
Abater um avião civil em voo entre as duas maiores cidades do país, não se destinou apenas a eliminar os principais dirigentes da organização paraestatal Wagner, mas pretendeu também mostrar que o putinismo não conhece limites.
Há apenas dois meses, o putinismo foi incapaz de parar por meios militares o avanço das forças Wagner sobre Moscovo. Prigozhin recuou quer porque a adesão ao seu golpe não atingiu as suas expectativas, quer porque acreditou nas promessas que lhe foram feitas através da mediação bielorussa, ou mais provavelmente ainda pelas duas razões em conjunto.
A demonstração da fragilidade das forças russas tinha já sido feita quando da invasão o ano passado, quando as forças russas tiveram que abandonar primeiro a frente Norte e depois a Nordeste. Mas o putinismo mostrou-se capaz de colmatar as suas fraquezas militares e logísticas com cada vez maiores doses de barbaridade.
Ameaçou e ameaça com uma guerra nuclear feita a partir de centrais nucleares; fez dos alvos civis alvos preferenciais, devastou o Sul da Ucrânia fazendo explodir uma grande barragem, ataca sistematicamente os depósitos de cereais ucranianos, importantes para a segurança alimentar mundial, libertou das suas prisões hordas de criminosos para avançar para a linha da frente, instituiu brigadas de retaguarda para eliminar quem recua, minou o território que controla, reinventou a guerra de trincheiras de há um século atrás.
A forma escolhida para a eliminação de Prigozhin é um aviso a quem quer que pense que é possível negociar com Putin como com qualquer outro dirigente mundial.
A guerra que se trava na Ucrânia é uma guerra para fazer face à barbárie, e é uma guerra que nos diz respeito a todos nós. Registo as palavras proferidas pelo senhor Presidente da República na sua deslocação à Ucrânia que subscrevo sem reticências, e que creio têm de ser compreendidas por todos nós.
Sim, a guerra contra a Ucrânia é uma guerra que nos diz respeito e que não podemos ignorar.
O fecho da silly season (período do final do verão que antecede a retoma da actividade política e que é caracterizado por notícias exageradas sobre assuntos frívolos por falta de melhores temas) está este ano a ser marcado pela questão da redução dos impostos, com o PSD a agitar a bandeira da redução de impostos e o PS a arrasar as propostas.
Apesar desta ser uma questão importante no mais vasto problema da distribuição do rendimento, a forma como costuma ser abordada pelas principais forças políticas tende a desvirtuar as suas potencialidades e ainda mais o seu efeito prático. É que fomentar por via fiscal uma distribuição do rendimento mais equitativa tem tido o bem conhecido efeito de beneficiar as franjas da sociedade com maior representação política, ou seja, beneficiar aqueles que menos precisariam de semelhante artifício para contrariar os desequilíbrios promovidos por um sistema preparado precisamente para facilitar todo o processo de concentração da riqueza.
Mais, abordá-lo por via fiscal pode despoletar ainda uma maior dificuldade no financiamento da actividade pública, já de si muito diminuída por via das políticas neoliberais que privilegiam aquela concentração de riqueza e que têm conduzido os Estados às situações de sobreendividamento que conhecemos, enquanto ajuda a esconder a dura realidade do desajustamento dos tecidos económicos e dos modelos produtivos que os alimentam.
Num contexto de claro favorecimento do factor capital não é apenas a fragilidade de soluções de natureza fiscal que ressalta, antes toda uma arquitectura gizada para transferir o máximo de rendimento do factor trabalho para o factor capital, amplamente personificado num modelo produtivo que assenta em empregos de baixa qualificação e baixos salários, como o da Economia GIG (designação dada à moderna economia que opera através de plataformas informáticas que servem de intermediário entre o prestador de serviços e o cliente final, cuja origem remontará ao termo “gig”, calão norte-americano que significa “ter trabalho”) que está a devastar o tradicional modelo assente numa relação directa e formal entre empregador e assalariado. Surgiu em consequência da digitalização, mas também de novas formas de encarar o trabalho, sem horários definidos, sem contratos e com múltiplos empregadores, parecendo ser uma realidade que veio para ficar e com tendência para crescer.
Com este sistema de precarização do factor trabalho está-se a atingir um patamar de instabilidade e exploração que as desadequadas leis do trabalho em vigor não regulam nem protegem. Para cúmulo da hipocrisia, esta Economia GIG ainda é apresentada como um factor de modernidade e sinal da “independência” dos trabalhadores (invariavelmente apresentados como free lancers e empreendedores); uma independência de trabalhos precários e baixos salários (pagos à tarefa), porque a garantia dos ganhos e dos lucros estão bem assegurados aos proprietários das plataformas electrónicas.
A prazo, a Economia GIG poderá fazer soçobrar os já muito desgastados sistemas de segurança social, seja porque os antiquados sistemas de desemprego não estão estruturados para uma realidade de pluriemprego (muitos destes novos tarefeiros desempenham funções em mais que uma das plataformas disponíveis), seja porque em situações de desemprego será recuperada uma parte cada vez menor do rendimento perdido, o que aumentará a pressão para a sua marginalização pelos novos “empreendedores”.
Segundo um estudo de 2019 da OCDE «Economia GIG Platforms: Boon or Bane?» a Economia GIG representava 1% a 3% do total de empregos em todo o mundo, valor pouco significativo, salvo pelo facto de se estimar que mais de 50% dos trabalhadores na economia GIG pertencem à Geração Z (é a geração dos nascidos entre 1995 e 2004) ou são Millennials (é a geração dos nascidos 1982 e 1994, também conhecida como Geração Y) com baixos rendimentos, enquanto outro estudo do McKinsey Global Institute (de 2016) calcula que, só na Europa e nos EUA, havia cerca de 162 milhões de pessoas (ou seja, 20 a 30% da população em idade activa) a exercerem algum tipo de trabalho independente, situação que já na altura se apresentava com tendência para crescer.
O Fórum Económico Mundial, referiu em 2021 dados de um estudo da Mastercard (Gig Economy White Paper – May 2019) que apontava taxas anuais de crescimento para a Economia GIG da ordem dos 17% e um volume de negócios que, no ano em curso, deverá ultrapassar os 450 mil milhões de dólares…
…realidade que deveria ser acompanhada do adequado controlo público sobre as condições de trabalho (níveis de remuneração e cumprimento do normativo da segurança social) num sector onde são sobejamente evidentes as situações de opacidade contratual (canhestramente escondidas atrás do eufemismo do “empreendedorismo” dos trabalhadores temporários ou sazonais), amplamente agravadas por uma legislação laboral desadequada à realidade político-social, quando não manifestamente desarticulada (mas perfeitamente enquadrada nos princípios neoliberais da liberalização e desregulamentação dos mercados) para poder almejar qualquer efeito prático.
Sua majestade, ou como lhe queiram chamar, o expoente politico – e não só – do País vizinho, parte relevante da Península Ibérica, entendeu, e bem, depois de “auscultar” todos os partidos políticos com representação parlamentar, mesmo depois da eleição do Senado que ditou uma maioria de esquerda, indigitar para chefe do governo; Alberto Núñez Feijóo, líder do PP Partido Popular, se o mesmo conseguir a maioria dos votos dos deputados eleitos o que, segundo a imprensa local parece não ser muito provável de conseguir.
Ou seja; sua alteza real “lavou as mãos como Pilatos” e indigitou o líder do partido que ganhou as Eleições Legislativas que nem aliado ao seu parceiro preferencial, o VOX, na linha das alianças regionais, conseguiu uma maioria simples, colocando assim a responsabilidade politica no Parlamento, Órgão das Cortes Gerais de que também faz parte o Senado, considerado a câmara alta e o Congresso dos Deputados, conhecido como a Câmara Baixa.
A realidade é a de que o PP e o PSOE dispõem de espaço negocial para a constituição de um governo sendo que, o PSOE, aparenta reunir um maior consenso como o comprova a eleição do Senado com quatro Senadores da área política à esquerda e três Senadores da área do centro direita.
Perante este cenário, se o PP não conseguir a maioria dos votos pretendida seria de inteira justiça e um reforço para a democracia monárquica respeitar o voto popular e, permitir ao PSOE, a iniciativa de conseguir a maioria necessária para formar governo.
Na impossibilidade de qualquer maioria então sim, convocar novas eleições gerais.
Não me parece ser esse o caminho por pressão da direita Europeia que perdeu a Alemanha mas colocou um governo de extrema direita na Itália cujas consequência o controlo sobre a imprensa oculta; aguarda nova eleição na França e, assim, colocar em causa as democracias na Europa Ocidental de forma a que a União Europeia lhe sirva os interesses financeiros e fiscais como já acontece com o FMI-Fundo Monetário Internacional.
Nesta senda presumo, haverá novas eleições gerais em Espanha, onde o VOX tudo fará para aumentar a sua votação passado que está o efeito Feijóo no apelo ao voto útil.
O PSOE continua com o “rótulo” das amnistias para os independentistas que ousaram desafiar a Monarquia realizando um referendo independentista sustentado na ideia peregrina de que são o pulmão económico do País, o que não corresponde de todo à realidade porque a economia articula valências em todos os domínios da vida onde até as regiões mais pobres tem um peso significativo e relevante no resultado global do PIB, ferramenta que consolida o Orçamento Geral do Estado e os Orçamentos Regionais das autonomias.
Acresce um outro fator de relevo relativo e que tem que ver com os princípios básicos da identidade nacional. Um argumento que peca por omissão da mão de obra usada na manufatura distribuição e serviços que não é da região e desconsidera a multiculturalidade e interculturalidade crescente em todas as províncias gerando uma nova cultura onde a preservação da cultura original é uma obrigação política e académica.
Fica por apurar o impacto SUMAR que reúne condições para subir na consideração do eleitorado a nível nacional depois do susto da direita poder ascender ao poder mas também o possível fortalecimento da esquerda no País Basco, comunidade autónoma no Norte da Espanha. Estas duas possíveis condições permitirão que a esquerda se mantenha no poder e trave a ascensão da extrema direita na Europa Ocidental perante o cenário de genocídio em alguns locais do globo e de ditaduras selvagem na grande maioria dos Países mais pobres mas também de autentico pandemónio em Países poderosos aonde as Oligarquias impõem as suas regras com base no principio de: “quem não é por mim, é contra mim”. As consequências são as a que temos assistido um pouco por todo o lado.
A globalização exige partilha, democracia e liberdade.
O poder financeiro exige submissão, servidão, escravatura tenha ela o formato que tiver.
Em Espanha, uns cantam “E, viva a Espanha” e outros clamam “aqui d’el Rei!”.
A Universidade de Díli (UNDIL) é a primeira universidade de Timor-Leste a assinar a importante Declaração de São Francisco sobre avaliação da pesquisa e junta-se às mais prestigiadas entidades de 164 países que produzem investigação científica.
Nas palavras do Pró-reitor da Área de Investigação, Pós-graduação e Cooperação com a CPLP, Manuel Azancot de Menezes, esta iniciativa irá contribuir para desenvolver a qualidade da investigação científica na UNDIL e em Timor-Leste:
“A Universidade de Díli (UNDIL) definiu como objectivo estratégico fundamental o desenvolvimento da investigação científica, com a inclusão de pesquisadores da CPLP, e deseja assegurar que a pesquisa realizada observe as recomendações da Declaração de São Francisco.
Por exemplo, sobre avaliação da pesquisa, há carecimento de se eliminar o uso abusivo de métricas, tais como o factor de impacto (FI) como única medida para avaliar a qualidade de artigos ou a qualidade de um cientista”.
(M. Azancot de Menezes, Pró-reitor da UNDIL)
Na opinião do Pró-reitor da UNDIL, “a investigação científica deve ser avaliada pelos seus próprios méritose não estar dependente do prestígio das revistas científicas ou dos excessos associados às métricas quantificáveis”.
A Declaration on Research Assessment (DORA) de São Francisco, até ao momento, inclui indivíduos e organizações de 164 países e, a partir de agora, Timor-Leste integra esse conjunto de países.
Importância da DORA
A DORA resultou de um Encontro da Sociedade Americana de Biologia Celular realizado em 16 de Dezembro de 2012 e faz recomendações para agências de financiamento, para instituições, para editores, para organizações que fornecem métricas e para pesquisadores, nomeadamente:
A necessidade de eliminar o uso de métricas baseadas em periódicos, como o factor de impacto, nas considerações de financiamento, nomeação e promoção;
A necessidade de avaliar a pesquisa pelos seus próprios méritos, em vez de depender dos méritos do periódico no qual ela foi publicada; e
A necessidade de investir nas oportunidades oferecidas pela publicação online (por exemplo, tornar mais flexíveis os limites desnecessários do número de palavras, figuras e referências em artigos, e explorar novos indicadores de importância e impacto).
(in Declaração de São Francisco sobre Avaliação da Pesquisa)
Entidades de países da CPLP e da ASEAN que assinaram a DORA
Na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) há 452 entidades subscritoras, de quatro países, nomeadamente de Angola, Brasil, Portugal e Timor-Leste.
País
Nº de Entidades
Angola
3
Brasil
421
Portugal
27
Timor-Leste
1
Fonte: DORA (2023)
Na Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN) há 49 entidades de seis países, onde se incluem Brunei, Filipinas, Indonésia, Singapura, Tailândia e Vietname.
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