Andam uns quantos jornalistas e agentes políticos dando voltas sobre voltas, em redor de si próprios como se fossem cães tentando morder o rabo.
A estória raia o burlesco mas aquilo que é certo é que este tema corre telejornais e rasga o vocabulário doentio de pseudo comentadores assim como a escrita rasca de pseudo jornalistas que ajuízam os problemas da cidadania como sendo matéria fútil quiçá, porque a razão passou a ser matéria transacionável.
Esta estória, a juntar a tantas outras, é tão ridícula que, perder tempo a disseca-la, raia a baixa retórica de branquear o irrazoável.
No entanto, deixar passar em claro o rol de asneiras e a má preparação e, ou, formação, dos agentes políticos e no jornalismo, acaba sendo ser conivente com os próprios.
Eu não aceito que para angariar audiências, leitores e votos, se deva ser tão imbecil ao ponto de relegar para plano inferior os direitos dos cidadãos e as suas condições de vida, para dar ênfase a assuntos de menor importância ou completamente irrelevantes.
O SiS é um organismo que não interfere na vida quotidiana dos Portugueses e, só por isso, as suas competências não são assunto do interesse da cidadania. Logo, não é do interesse da pobreza a que chegamos, a divulgação de correspondência ou de conversas entre cidadãos sejam eles quem forem.
A pobreza intelectual, mas também a económica combatem-se com medidas de fundo e com medidas estruturais que visem melhorar as condições de vida dos Portugueses. Mental e física.
Apuro por isso que os interlocutores acima referenciados, não estando interessados em cumprir com as suas obrigações, procuram não assuntos para preencherem as suas agendas e, assim, prestarem a vassalagem devida aos seus mentores.
É de bom tom lembrar que os serviços secretos são serviços do Estado para garante da sua segurança e que, por serem secretos, nunca deveriam ser expostos à devassa publica: politica e social.
Ora, é sabido, quais as competências legais dos diversos serviços de segurança do Estado; do direito: da segurança publica; militares; e outros.
Por isso, tecer considerandos é uma coisa, vasculhar por má fé é outra coisa, tentar perceber o quadro legal em que cada órgão se movimenta é coisa superior e distinta.
Não me parece ser essa a intenção dos papagaios de serviço na comunicação social e, muito menos, na politica partidária.
Seria bom para a cidadania a elevação do conhecimento e com ele o discernimento aceitável dos assuntos por parte da comunicação social e dos partidos políticos. Coisa que não acontece a que acresce a agravante de que tem vindo a piorar nos últimos anos.
O que na prática acaba por redundar em uma discrepância entre a formação e o comportamento.
Porque, não é aceitável que a geração mais bem formada de sempre tenha o pior comportamento politico de sempre num tempo em que a interdependência conducente à globalização é um facto se a Humanidade quiser ter futuro.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) instituiu o 12 de junho como o Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, na apresentação do primeiro relatório global sobre o trabalho infantil na Conferência Anual do Trabalho, em 2002.
E o Brasil virou um dos mais importantes exemplos de empenho para a erradicação dessa grave violação dos direitos humanos até 2019, quando o governo que assumiu passou a incentivar o trabalho infantil.
Felizmente as campanhas estão de volta! A exploração do trabalho infantil, conforme já dito, vinha caindo no Brasil e voltou a crescer a partir de 2019, com o governo mais obscuro da nossa história. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, 1,8 milhão de crianças entre 5 e 17 anos trabalhavam no país, a maioria em trabalhos insalubres até para adultos.
A falta de políticas de proteção para as pessoas que vivem do trabalho durante a pandemia agravou a situação. Tanto que um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou um crescimento de 26% da exploração do trabalho infantil no período pandêmico, passando para cerca de 2,5 milhões de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. A estimativa atual é de que esse número ultrapasse os 3 milhões, até porque apenas 15% dos jovens acima dos 16 anos continuam no ensino médio, como mostra a pesquisa do Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. O que comprova a necessidade de revogação do chamado novo ensino médio.
Mas depois de seis anos no ostracismo, o Brasil volta a ter uma campanha forte de combate à exploração do trabalho infantil. E a campanha deste ano tem como tema Proteger a infância é potencializar o futuro de crianças e adolescentes. Chega junto para acabar com o trabalho infantil. Muito bom ter no governo um importante aliado na luta pela melhoria de vida das pessoas que vivem do trabalho.
A mãe lamenta a vida dura do filho em O Meu Guri, de Chico Buarque:
“Chega suado e veloz do batente E traz sempre um presente pra me encabular Tanta corrente de ouro, seu moço Que haja pescoço pra enfiar Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro Chave, caderneta, terço e patuá Um lenço e uma penca de documentos Pra finalmente eu me identificar, olha aí Olha aí, ai o meu guri, olha aí”
Liderada pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pelo Ministério do Trabalho e Emprego, pelo Programa de Combate ao Trabalho Infantil da Justiça do Trabalho e pela OIT, a campanha visa a debater essa prática prejudicial ao desenvolvimento psíquico e físico de crianças e adolescentes com toda a sociedade.
Porque é muito comum o pensamento de que a criança deve trabalhar para transformar em um adulto responsável. O que não acontece porque primeiro a criança precisa crescer com liberdade e com os direitos respeitados para se tornar um adulto consciente de seus direitos e deveres.
Certamente a situação piorou nos anos seguintes porque o governo anterior propagava o trabalho infantil como necessário e benéfico: coisa totalmente desmentida por especialistas. O juiz da Família do Rio de Janeiro, André Tredinnick defende o “combate tenaz às cadeias de exploração do trabalho infantil em todos os seus níveis desde formas de exploração privilegiadas – como atores mirins em publicidade, teatro, TV – até as formas de exploração mais perversas, como a exploração de crianças e adolescentes em prostituição, tráfico de drogas e trabalhos extremamente perigosos.”
Já para a juíza do Trabalho, Valdete Souto Severo as famílias precisam ter trabalho com salários suficientes para não precisarem do trabalho infantil para complementar o orçamento doméstico. “Não se combate simplesmente dizendo não ao trabalho infantil ou com leis determinando uma idade mínima para o início ao trabalho” é importante que “os pais e as mães tenham condições para não precisarem que os filhos trabalhem”.
Outra questão fundamental para a erradicação do trabalho infantil pode ser feita pelos meios de comunicação com a desmistificação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, além de propagar os preceitos constitucionais. Divulgar o ECA e a Constituição mostra a importância de termos leis de proteção às pessoas em fase de desenvolvimento.
Como diz a canção Criança Não Trabalha, de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit:
E isso principalmente porque os dados de violência contra crianças e adolescentes no país são assustadores: e uma nação que não respeita a infância e a juventude tem o seu futuro comprometido. A responsabilidade pelo futuro está em nossas mãos e as crianças e os adolescentes precisam ter condições de crescer em harmonia, paz e segurança.
Lugar de criança é na escola e nos parques, não em semáforos de trânsito vendendo bala ou esmolando, nem trabalhando na roça ou em casa. Ou seja, em trabalho nenhum porque “criança não trabalha, criança dá trabalho”, como diz a música de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit. Acabar com o trabalho infantil agora é essencial para o futuro.
O líder da PAI – Terra Ranka afirmou que ganhou as eleições parlamentares da Guiné-Bissau, mesmo antes da CNE ter anunciado os resultados provisórios. O porta-voz do MADEM-G15 criticou esta atitude e fez um protesto junto da Comissão Nacional de Eleições.
Domingos Simões Pereira, líder da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) -Terra Ranka, também Presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fez uma declaração pública anunciando que tinha ganho as eleições parlamentares do passado Domingo com maioria muito considerável, sem ter acontecido o pronunciamento oficial da Comissão Nacional de Eleições.
O Movimento para Alternância Democrática (MADEM-G15), liderado por Braima Camará, condenou de imediato as declarações do líder da PAI-Terra Ranka e fez chegar um protesto à Comissão Nacional de Eleições.
Segundo Óscar Barbosa, porta-voz do Movimento, as declarações são “falaciosas e irresponsáveis”, “contrárias à determinação legal”, sendo “especulações demagógicas”.
“O MADEM-G15 acompanha atentamente as especulações demagógicas sobre os resultados eleitorais, com o propósito único de abrir brechas à tensão política e pôr em causa um processo exemplarmente realizado pelas autoridades nacionais competentes, confirmado pelas missões de observação eleitoral internacional presentes no país”.
(Óscar Barbosa / MADEM-G15)
Simões Pereira (PAI – Terra Ranka), com 60 anos de idade, no período compreendido entre 2008 e 2012 foi Secretário-Executivo da CPLP e, em 2014/2015, foi Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau. A pensar nestas eleições, fez um acordo com 18 partidos políticos invocando a importância da inclusão e para conseguir alargar a base do seu eleitorado.
Por seu turno, Braima Camará, com 54 anos de idade, político e empresário, membro do partido que também integra o Presidente da República Umaro Sissoco Embaló, deseja, igualmente, ser Primeiro-Ministro, tendo anunciado durante a campanha eleitoral que ganharia as eleições com maioria absoluta e que se tal não acontecesse abandonaria a política.
CNE da Guiné-Bissau garante que defenderá a transparência e legalidade
A Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau produziu um Comunicado alegando que será transparente e respeitará a legalidade enquanto órgão de administração eleitoral. No seu comunicado referiu que:
“não se deixará intimidar” e que “o espírito e letra da legislação eleitoral serão integral e devidamente observados”.
A CNE deverá começar a divulgar os resultados eleitorais provisórios, hoje, dia 7 de Junho, e apelou à calma e à serenidade.
As pensões médias da Segurança Social em Portugal após 8 anos de governos de Costa continuam inferiores ao limiar de pobreza apesar dos enormes saldos positivos da Segurança Social, a desigualdade de tratamento fiscal e o massacre dos pensionistas
Iniciaram-se as negociações tripartites – trabalhadores, empresários e governo – para a construção de propostas e projetos para duas questões estratégicas para o futuro do mundo do trabalho no Brasil e para a qualidade do nosso projeto de desenvolvimento. O primeiro aborda o funcionamento do sistema de relações de trabalho, da negociação coletiva e do sistema sindical. O segundo trata da regulação econômica e trabalhista das atividades produtivas e das relações de negociações coletivas e aplicativos.
Cada um dos temas será tratado por um Grupo de Trabalho específico, criados por Decreto Presidencial e estão sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego. Contam com a representação das Centrais Sindicais e suas entidades de base, do lado dos trabalhadores e das Confederações empresariais e empresas.
As transformações no mundo do trabalho são profundas, extensas, intensas e decorrem de mudanças, muitas vezes disruptivas, na arquitetura, organização e funcionamento do sistema produtivo. As novas tecnologias e a inteligência artificial estão amalgamadas em todos os setores do sistema produtivo e progressivamente transformam atividades humanas cotidianas em atividades econômicas.
Essas mudanças no sistema econômico promovem constantes e contínuas transformações no mundo do trabalho, nos postos de trabalho, na forma de trabalhar, nas atribuições, nos requisitos para o exercício do trabalho, nas qualificações, nas competências, nas profissões. Jornada de trabalho, formas de contratação e de remuneração, segurança e saúde no trabalho, vínculos e subordinações estão sedo impactados e exigem respostas rápidas, criativas, ousadas e, muitas vezes, tempestivas. As relações de trabalho, que hoje envolvem cerca de 110 milhões de trabalhadores ativos no Brasil, precisam ser reguladas durante o processo em curso de mudança no mundo do trabalho de maneira permanente, contínua e com segurança jurídica para as partes. Somente um sistema de negociação coletiva bem estruturado será capaz de gerar esse tipo de resposta.
Por isso as Centrais Sindicais formularam diretrizes para a construção de um projeto para valorizar e fortalecer a negociação coletiva em todos os níveis, com âmbitos de negociação colados às dinâmicas do setor produtivo e do mundo do trabalho, com capacidade para tratar das questões e conflitos inerentes às relações de trabalho.
Para isso propõe que os sindicatos, base do sistema de representação, e toda a estrutura que compõe o sistema sindical, sejam fortalecidos. Entidades com ampla base de representação, alta representatividade, com capacidade de agregação e de unidade de ação, legitimadas por decisões democráticas das assembleias, podem negociar e celebrar acordos com as normas que irão reger as relações de trabalho e os direitos laborais.
O sistema sindical e de negociação coletiva deve ousar dar um salto institucional para a autonomia em termos de autorregulação. Cada parte deve ter autonomia para definir o funcionamento do seu sistema sindical e, as partes juntas, definirem as regras que devem reger os processos negociais.
As plataformas e os aplicativos são tecnologias disruptivas que estão transformando o sistema econômico, criando atividades produtivas e gerando impactos setoriais e laborais extensos. Há perplexidade diante das inovações tecnológicas e da inteligência artificial, entre elas a de como regular essas novas formas de produzir e as relações de trabalho que ali se fazem presente.
O Brasil está pautando o enfrentamento desses desafios através da iniciativa de colocar os atores sociais para negociar as múltiplas dimensões regulatórias. A prioridade dos trabalhadores é gerar a proteção trabalhista (remuneração, jornada, condições de trabalho, entre outros aspectos), proteção previdenciária, social e sindical equivalente àquela que se faz presente no mundo laboral caracterizado pelo assalariamento clássico (um empregador e um trabalhador).
As caraterísticas dessas atividades econômicas mediadas por plataformas e aplicativos têm rompido com os atuais padrões produtivos e laborais. Para o mundo do trabalho se observa, de forma extensa, precarização, desproteção laboral e previdenciária, insegurança profissional, entre outras mazelas.
As lógicas que estruturam essas novas empresas e as estratégias de negócio rompem com fundamentos pretéritos das atividades empresariais. O objetivo, papel e função social da empresa ganha outros contornos; o retorno esperado dos investimentos tem outro tempo e destinatário; o que é o negócio tem outras respostas; as relações de trabalho são tratadas sob outra ótica, etc.
O desafio é observar de maneira aprofundada o funcionamento desse novo sistema que se estrutura e que transforma seu entorno, exigindo um padrão de resposta mediado pelo interesse geral da sociedade e pelas demandas coletivas dos trabalhadores.
Nesses dois casos, o Brasil poderá aportar inovações que podem se tornar referências positivas e virtuosas para outros países. Somos convocados a inovar nas propostas e a ousar nas iniciativas. A largada foi dada, os apoios serão fundamentais, os insumos essenciais e a dedicação para o trabalho colaborativo e a negociação é uma exigência.
Li com muita satisfação a sua carta aberta datada de 1 de junho, carta em que, justamente, celebra os seus ‘cinco dias de liberdade’ após a sua ‘prisão arbitrária de quinze meses’, incluindo ‘treze meses consecutivos em isolamento’.
Cito aqui as palavras que deixei registadas no sítio web da organização que dirijo ‘Aliança para Renovar a Cooperação na Humanidade‘ e que foram proferidas numa manifestação promovida em Bruxelas pela comunidade bélgico-iraniana diante do Ministério dos Negócios Estrangeiros:
‘Gostaria de expressar a minha mais sincera solidariedade para com Olivier Vandecasteele, cuja libertação da prisão como refém, em regime de isolamento no Irão, foi apresentada pelo Governo belga como a razão do acordo bélgico-iraniano.
Como afirma a sua família, como afirmam os serviços de segurança belgas, e como a prática comum do regime iraniano confirma, ele é, sem dúvida, apenas uma vítima inocente da bárbara teocracia.
Todos os reféns inocentes do regime iraniano, como qualquer outra vítima destas impiedosas autoridades, merecem a maior atenção por parte dos seus representantes eleitos – neste caso, da Bélgica, um país livre e humanitário. Como todos os defensores dos direitos humanos, penso que a Bélgica não poupará esforços para defender os direitos deste cidadão. E esses direitos, no caso em apreço, traduzem-se na sua libertação incondicional e imediata.’
São palavras que me regozijo ver estarem em consonância com as que leio na sua carta aberta:
‘Continuemos os esforços para libertar outros reféns inocentes em todo o mundo. Apoiemos ativamente projetos que transportem os valores da humanidade, da solidariedade e da esperança.
Este mundo, infelizmente muitas vezes terrivelmente cínico, precisa dele agora mais do que nunca.’
Alerta-nos também na sua carta para o facto de precisar de tempo para reconectar com a realidade e agradecer a todos os que que lutaram pela sua liberdade. Permita-me, nesse contexto, que lhe sugira que se lembre dos iranianos que tão cruelmente foram esquecidos pelas autoridades europeias e belgas e que, surpreendentemente, não merecem uma única palavra nesta sua missiva.
A prisão arbitrária, a tortura, o terrorismo e o assassínio são a constante da acção do regime iraniano, e a generalidade das vítimas são os iranianos, bem como os povos das regiões limítrofes.
Quero também dizer-lhe que compreendo que, diplomaticamente, estenda o seu agradecimento às autoridades belgas. Contudo, penso que não é possível encontrar imagem mais clara do cinismo de que fala a sua missiva do que a apresentação da sua libertação como resultado do tratado bélgico-iraniano, quando há hoje provas insofismáveis de que estamos perante a situação contrária: a sua prisão foi a consequência e não a causa das negociações bélgico-iranianas para a libertação do terrorista iraniano.
A libertação – contra as regras de um Estado de Direito, e através da captura de reféns – do cérebro do que poderia ter sido o mais mortífero dos ataques terroristas realizados no solo europeu, na era contemporânea, incentiva a continuação do terrorismo e a captura de reféns, ou seja, vai contra tudo o que a sua carta defende.
Pela leitura que faço do seu compromisso com os valores humanitários universais sugiro, como forma de ultrapassar esta omissão, que aproveite a oportunidade criada pela realização da reunião anual das comunidades iranianas exiladas – prevista para dia 1 de julho em Paris, precisamente cinco anos após aquela que foi alvo desse plano terrorista – para manifestar a sua solidariedade com todas as vítimas do regime iraniano, sejam estas reféns não iranianos ou iranianos, presos, torturados ou executados, bem como com a luta dos iranianos para acabar com esse regime despótico.
No dia 4 de Junho de 2023, mais de 900 mil eleitores foram às urnas na Guiné-Bissau. A Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau será preenchida por 102 deputados, novos e repetentes.
Os eleitores da Guiné-Bissau, pátria de Amílcar Cabral, mobilizaram-se para eleger os seus deputados. As urnas abriram às 7 horas da manhã e encerraram às 17 horas locais. Os eleitores estão espalhados pelo território nacional e pela diáspora (África e Europa). Em Portugal, por exemplo, as mesas de voto repartiram-se por Algarve, Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Moita, Monte Abraão, Odivelas, Porto e Tapada das Mercês.
Salvo uma ou outra excepção, as eleições foram caracterizadas pelo civismo, maturidade e boa participação.
Do total dos líderes das duas coligações e 20 partidos políticos candidatos, destacam-se Braima Camará e Domingos Simões Pereira. O primeiro é líder do Movimento para a Alternância Democrática – MADE-G15 e anunciou durante a campanha eleitoral que pretende obter a maioria absoluta. Por sua vez, Domingos Pereira, presidente da Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) -Terra Ranka, também afirmou que seria um vencedor.
Para além destas duas organizações políticas, há mais 20, influenciadas pelas três dezenas de etnias do país, em especial fulas, balantas e mandingas, e pelas principais religiões, onde se destacam muçulmanos, animistas e cristãos, partidos e coligações, igualmente interessados em eleger deputados para a Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau.
Partidos/Coligações com a ordem de posição no Boletim de Votos
Nº
Partido / Coligação
1
Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau
2
Coligação PDD – MP, “Guiné Nobu”
3
Aliança para a República – APR
4
Partido Unido Social-Democrata – PUSD
5
Resistência da Guiné-Bissau – RGB
6
Coligação Plataforma Aliança Inclusiva Terra Ranka
7
Movimento Para Alternância Democrática MADE – G15
8
Partido da Unidade Nacional – PUN
9
Partido dos Trabalhadores Guineenses – PTG
10
Partido Republicano da Independência para o Desenvolvimento – PRID
11
Partido da Nova Democracia – PND
12
FREPASNA – Frente Patriótica para Salvação Nacional
13
Partido Africano para Liberdade e Desenvolvimento da Guiné – PALDG
14
Convergência Nacional para a Liberdade e o Desenvolvimento
15
Partido Manifesto do Povo PMP
16
Centro Democrático – CD
17
Partido Nossa Pátria
18
Partido Africano para a Paz e Estabilidade Social – PAPES
19
Movimento Social Democrático – MSD
20
Partido da Renovação Social – PRS
21
Congresso Nacional Africano – CNA
22
Partido Luz da Guiné-Bissau – PLGB
Observadores da CPLP, CEDEAO e União Africana estão na Guiné-Bissau
De acordo com informações da CNE da Guiné-Bissau presenciaram o acto eleitoral cerca de 200 observadores internacionais e nacionais, com destaque para a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), chefiada por Jorge Fonseca (antigo presidente de Cabo Verde), para a União Africana, cuja missão é chefiada pelo antigo presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, pela Rede dos Órgãos Jurisdicionais de Administração Eleitoral (ROJAE) da CPLP e pela Missão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), esta última chefiada por um diplomata de Timor-Leste.
Segundo a Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau os resultados provisórios começam a ser divulgados no próximo dia 7.
Há doutrinas para todos os gostos. Desde a ciência politica; filosofia; religião; e outros. Até ao ceticismo dos contrários.
Nas sociedades civilizadas todas elas, as doutrinas, estão em decadência acelerada.
Nos Países de conhecimento intermédio estão enraizadas. Nos Países onde a vida é uma luta constante por direitos, nomeadamente o direito à vida, as doutrinas dominantes assumem forma mental doentia que ultrapassa a era do esclavagismo em que um Ser Humano é tido como propriedade de outro ser humano.
O problema de fundo, a meu ver, reside na impossibilidade de ajustamentos culturais das gerações mais antigas aos novos tempos e à aceitação das regras que esses novos tempos geram impondo elevação na formação intelectual do individuo mas também na resistência que os responsáveis pela sua divulgação e implementação tem dinamizado.
Porque a mudança dos tempos não vence as doutrinas incutidas no tempo das gerações desse tempo o que obriga a um estádio de coabitação sem alterar os pilares doutrinais da mente.
Esta evidência, encontra na implementação das novas tecnologias, barreiras doutrinais no âmbito das politicas sociais onde o mérito é relegado em favor da incompetência por falta de aprendizagem e conhecimento, mas também pelos resquícios doutrinais assimilados ao longo da vida de cada um
Aquilo que se passa com as organizações: politicas, sindicais, ordens em geral, empresariais, economia social, ensino, justiça e demais, tanto na sua estrutura orgânica profissional como eletiva, são os contornos enviesados de raiz social não suficientemente credível com influência direta e indireta na vida das pessoas ao ponto de as tornar descrentes naquilo que toca à idoneidade e seriedade no exercício da função.
Acontece inclusive um retrocesso civilizacional generalizado nas gerações mais novas motivado em grande medida pela desinformação premeditadamente introduzida nas plataformas interativas de dados – vulgo Internet – a que o cidadão comum acede, mas também nos planos curriculares escolares sempre decididos por gerações anteriores com suporte em conhecimento adquirido transitado sem qualquer reforma aprofundada que tenha em conta os novos valores e referências.
É comum o recurso compulsivo ao passado para ler o presente. Um exercício anacrónico tendo em conta os novos desígnio do mundo, hoje.
As doutrinas pararam no tempo e pressionam os seus crentes e seguidores a não acompanharem a evolução e desenvolvimento social das civilizações.
No âmbito da doutrina politica seguida pelas organizações politicas há já muitos anos que dela se desvincularam para seguirem outros interesses que tem mais a ver com interesses individuais do que interesses coletivos.
Talvez por isso as populações tenham uma visão da defesa dos seus interesses completamente contrárias a esses interesses e optem por colocar no poder indivíduos que os vão subjugar a interesses financeiros cartelizados onde a mentira reina e a falta de escrúpulos vence.
A Europa rompeu com a sua tradição de defesa dos direitos Humanos; do trabalho; e sociais; para eleger dirigentes que os abominam sem qualquer rebuço e os coloca no fio da navalha da insustentabilidade ambiental mas também em condições de vida precárias em todos os domínios.
A extrema direita ocupa o poder sem qualquer espécie de Norte social porque o atual contexto socioeconómico não lhe permite grande espaço de manobra à luz dos períodos e expansão imperial em parceria com invasões e posterior revolução agrária a que se seguiu a revolução industrial cujas contradições e concorrência desenfreada desemboca na era tecnológica como solução.
O problema maior é o de que a evolução civilizacional das populações não acompanhou este processo e que, por isso, reverteu a sua conceção dos padrões e desígnios de progresso para defender o retrocesso civilizacional e inverter a tendência revolucionária para uma tendência reacionária.
Foram divulgadas na semana passada as conclusões de um relatório sobre as implicações económicas da ação climática, da autoria de Jean Pisani-Ferry (economista francês, membro do think tank europeu Bruegel) e de Selma Mahfouz (inspectora de finanças francesa), que revela que se a França quiser cumprir as metas definidas deverá reduzir 55% das suas emissões até 2030 (o equivalente a 150 milhões de toneladas de CO2), fazendo o que não conseguiu nos últimos trinta anos, num contexto em que o país ensaia uma reindustrialização estratégica e onde os sectores dos transportes, construção civil e indústria serão os mais afetados e terão de diminuir em dois terços as suas actuais emissões.
A juntar a esta dificuldade o relatório estimou em cerca de 65 mil milhões de euros, pouco mais de dois pontos do PIB francês, o nível de investimento adicional e anual necessário para atingir aquele objetivo, valor a que acrescem cerca de 4 mil milhões de euros em despesas de adaptação, números que deixam ainda bem claro que o objectivo de 2030 só poderá ser alcançado mediante o recurso a aumento dos impostos e da dívida.
E isto é algo que não deverá ter agradado nada a Emmanuel Macron para quem toda a política económica do governo tem de ser baseada na redução dos impostos e da carga fiscal suportada pelas empresas.
Segundo Pisani-Ferry, tido como próximo de Macron, o esforço necessário representará, no curto prazo, um choque negativo para a economia, com a dívida pública a aumentar cerca de 10 pontos adicionais do PIB, ou seja, um montante entre 250 e 300 mil milhões de euros até 2030, situação que pode ainda agravar-se quando em 2040 aquela percentagem da dívida pública chegar a 25% do PIB. A confirmar-se este cenário, a França terá de realizar uma verdadeira revolução industrial num contexto político e social já muito tenso, onde o crescimento potencial deverá ser fortemente atenuado pelo efeito de substituição dos combustíveis fósseis que não se traduzirá num aumento dos bens e serviços produzidos.
Esta é uma situação em que o sucesso da transição depende de as populações aceitarem suportar o acréscimo de gastos verdes até 2030, obtendo menos rendimento do que se não realizassem esse esforço adicional e agravando a desigualdade social e económica já existente, pois o “custo” da descarbonização vai ser muito maior para os grupos de rendimentos mais baixos que para os de rendimentos mais altos (a título de exemplo o estudo antevê que os custos com a mudança de equipamentos de aquecimento doméstico representem 79% do rendimento médio anual das famílias muito modestas contra apenas 44% das da classe média).
A transição deverá exigir ainda um grande esforço público, quer para desencadear decisões de investimento privado onde aquele interesse for baixo, quer para compensar os efeitos do agravamento das desigualdades. Mas como o aumento dos gastos não poderá ser assegurado exclusivamente pelo aumento da dívida, avizinhar-se-á novo agravamento fiscal devidamente orientado para a transição e, simultaneamente, cuidadosamente calibrado para corrigir as desigualdades e não para o seu agravamento.
Um tal tipo de imposto terá de incidir obrigatória e exclusivamente sobre os rendimentos mais elevados e isso é algo frontalmente contrário aos interesses instalados e às actuais políticas vigentes de protecção do interesse individual.
Este problema (e muitas das conclusões do relatório) não são exclusivas dos franceses, tanto mais que, às dificuldades já enunciadas juntam-se as que resultam das políticas orçamentais e monetárias definidas por Bruxelas, que levam os estados mais endividados a debaterem-se com as limitações aos seus défices públicos e os privam de qualquer margem de manobra adicional face à inexistência de formas de tratamento preferencial para os investimentos verdes, a que acresce o facto dos EUA estarem preparados para investir generosamente na descarbonização da sua economia, graças à sua Inflation Reduction Act (a Lei de Redução da Inflação é uma lei federal, assinada por Joe Biden, destinada a conter a inflação, reduzir o déficit e investir na produção interna e na promoção da energia verde), e na sua protecção face à concorrência estrangeira, ao actuarem cada vez mais à revelia das regras de uma OMC abandonada pela administração Trump.
Por outras palavras: com tantas dificuldades, limitações e completa ausência de coordenação e bom senso, como pode a Europa pretender ser simultaneamente a campeã do clima, da ortodoxia orçamental e do multilateralismo?
A resposta a esta intrincada conjugação é simples e rápida. Não pode! A habitual tibieza de Bruxelas vai voltar a manifestar-se e a Europa não vai lograr uma efectiva política de descarbonização, começando pelo facto de nem sequer conseguir obrigar a que ela seja paga por quem mais dela tem beneficiado.
Não é de hoje que a educação pública de São Paulo sofre com o descaso do governo estadual. Aliás poucas vezes tivemos governadores realmente preocupados com a qualidade do ensino ofertado para a maioria dos paulistas.
Desde 1995, ao menos, quando o PSDB assumiu o governo, os investimentos em educação pública vêm definhando. Agora com a extrema-direita morando no Palácio dos Bandeirantes a situação se degringola.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Apeoesp, comprova esse descaso com a educação pública pelo governo estadual, muito em voga nos quatro anos do governo federal anterior.
Essa política do ódio trouxe consequências drásticas para o país com crescimento vertiginoso da cultura da violência, principalmente com os setores mais vulnerabilizados da sociedade. E com o superdimensionamento das redes sociais, esse crescimento se amplificou e adentrou às escolas.
A pesquisa “Ouvindo a comunidade escolar: Desafios e demandas da educação pública de São Paulo”, divulgada recentemente, comprova o que já vimos denunciando há tempos. Entre as 1.110 professoras e professores entrevistados presencialmente, 54% disseram já ter sofrido algum tipo de violência dentro da escola. Já entre os 1.250 estudantes ouvidos, 37% afirmaram a mesma coisa.
Um número assustador de 90% das professoras e professores e 81% dos estudantes disseram ter conhecimento de episódios de violência dentro das escolas. Bullying nas dependências escolares foram retratados por 70% dos docentes e por 62% dos estudantes.
A importância dessa pesquisa consiste em comprovar a necessidade de valorização da educação pública para suprir toda a demanda necessária para dar conta dos anseios e necessidades da sociedade.
Para isso, é importante ouvir todas as pessoas envolvidas na vida escolar, um chamamento aos familiares dos estudantes a participar da vida escolar de suas filhas e filhos e o envolvimento de toda a sociedade no combate à violência, às discriminações e à cultura do ódio.
A Mostra Ecofalante de Cinema, em sua 12ª edição começa em 1º de junho, espalhada em diversos cinemas na capital paulista. Com 101 filmes, entre clássicos e inéditos no Brasil, a mostra termina no dia 14. Como não poderia deixar de ser nesta edição prevalecem as temáticas relacionadas aos povos indígenas, ao racismo, ao trabalho e à preservação ambiental.
Além da exibição dos filmes ocorrem debates importantes sobre como construir um futuro com vida digna para todas as pessoas. Com as seções Panorama Internacional Contemporâneo, Competição Latino-americana e Concurso Curta Ecofalante, as obras podem ser apreciadas para enriquecer o conhecimento sobre a situação do mundo nestes anos conturbados de disputas geopolíticas e a predominância de ideologias do ódio, da discriminação e da violência, mas principalmente de como enfrentar tudo isso. Como está fazendo o jogador de futebol Vini Jr. com muita coragem.
Assista também Escute: A Terra Foi Rasgada (2023), de Cassandra Mello e Fred Rahal
Há também, a seção Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno com 17 clássicos do cinema, a maioria documentários, exibidos entre 1966 e 1984. Obras fundamentais como A Batalha de Argel (1966), de Gillo Pontecorvo; A Coragem do Povo (1981), de Jorge Sanjinés; Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho; El Pueblo se Levanta (1971), de Coletivo Newsreel.
Os debates se darão sobre os efeitos da chamada globalização sobre os povos dos países pobres. Principalmente sobre a exploração capitalista da classe trabalhadora, cada vez com menos enquanto os poucos multibilionários do mundo estão com cada vez mais em suas posses. E ainda querem mais e mais deixando milhões à deriva, mal conseguindo sobreviver.
Desde 2012, a ONG Ecofalante apresenta programações imperdíveis para pensar sobre o mundo que queremos legar para as futuras gerações. Afinal a arte comprometida com o social faz pensar e chama a agir. E pensamento e ação devem sempre caminhar juntos e a cultura está aí para nos levar a esse caminho.
Amor e Luta em Tempos de Capitalismo (2022), de Basile Carré-Agostini, está na mostra
Ainda mais nestes tempos de domínio dos chamados rentistas, que para obter altíssimos lucros fazem de tudo para impedir todo tipo de mudança que possa criar trabalho decente e distribuir um pouco de renda para todas as pessoas terem casa, comida, diversão, arte e saída para qualquer parte como cantam os Titãs. E ainda é tudo de graça, não perca esta oportunidade.
Na origem do escândalo que tem feito com que nos últimos meses se fale de Boaventura Sousa Santos, doravante Boaventura, e do Centro de Estudos Sociais, doravante CES, está a publicação pela Routlege, na Grã Bretanha e nos Estados Unidos, no corrente ano de 2023, de um livro intitulado Sexual Misconduct in Academia: informing an ethics of care in the university “edited by Erin Pritchard and Delyth Edwards”, em que a 12 ª e última parte é constituída pelo texto “The walls spoke when no else would: Autoethnographic notes on sexual-power gatekeeping within avant – garde academia” subscrito por Lieselotte Viaene, belga, Catarina Laranjeiro, portuguesa, e Miye Nadya Tom, americana, mais exactamente native american(i).
Miye Nadya Tom
Nestas notas “autoetnográficas” as autoras partiham uma experiência comum num centro que se percebe ser o CES e identificam-se pelas suas posições institucionais na época em que estiveram com ele envolvidas: Former National Ph.D. Student, Former Post Doctoral Researcher e Former International Ph. D. Student. Do mesmo modo Identificam três pessoas com responsabilidades no CES, que, recorde-se, é uma entidade de direito privado com estatuto de associação, com o estatuto de laboratório associado, também pelos seus papéis: Star Professor, que se percebe ser Boaventura, Apprentice,(ii) e Watchwoman. Falam de extractivismo sexual em relação a jovens mulheres que, num ambiente de precariedade, procuram realizar investigação e de extractivismo intelectual. Pelo menos relativamente a duas das autoras são referidas situações de conflito, uma das quais levou a cessação formal do contrato. Pode ser discutido se o artigo, ou melhor, a “parte de livro” em causa é um texto científico mas os organizadores do livro, que está subordinado à temática indicada, aceitaram inclui-lo e, ao encerraram o livro com ele, deram-lhe uma posição de destaque.
Catarina Laranjeiro
Foi no Público que eu próprio encontrei o link para esta parte de livro e parece-me que seria útil que quem se pretenda pronunciar sobre o assunto em vez de papaguear referências a ele ter sido publicado por uma prestigiada editora internacional ou pensar que se trata de uma editora de escândalos que pretende aumentar as vendas, faça, antes de mais, o download.
Julgo evidente que não se trata de uma publicação que, com propósitos exclusivamente académicos, incorpora por acidente referências a Boaventura e ao CES, mas acho um tanto redutor ver o acontecimento como uma ofensiva de “direita” ou até como o produto de uma operação da CIA para minar o prestígio de Boaventura no continente americano e noutras partes do mundo(iii), tanto mais que a cadeia de reacções subsequente à publicação do livro suscita alguma perplexidade.
Pessoalmente, não me tenho emocionado com o movimento Me Too(iv), não percebo que se tem exactamente passado na Faculdade de Direito de Lisboa, etc, mas em todo o caso julgo ainda ter, da minha experiência como docente do ensino superior a tempo parcial entre 1976 e 2010, uma noção sólida sobre coisas que não se fazem.
E em meu entender este não se fazem não deve constar, ou não deve constar apenas, de códigos de conduta das instituições, cuja capacidade de produção normativa é questionável, mas de diplomas quadro das actividades docentes e de investigação e inclusive dos estatutos de carreira aplicáveis.
Reacções no CES e noutros espaços
Sendo evidente que a parte de livro publicada dizia respeito ao CES e a Boaventura, este, elevado a Director Emérito vitalício, e o “Aprendiz” logo anunciaram a intenção de colocar uma acção judicial contra as autoras. Todavia o Conselho Directivo do CES e o seu Presidente demarcaram-se publicamente de tal intenção e anunciaram a intenção de promover a constituição de uma comissão independente de três membros – a Provedora do CES e dois elementos exteriores a este, para fazer uma avaliação das imputações. Pouco tempo depois é anunciado que Boaventura e o “Aprendiz” ficariam suspensos até a comissão independente apresentar as suas conclusões. A suspensão que ficou na dúvida – para mim – se se inseria ou não numa intenção de facilitar as averiguações, parece ter contribuído para moderar as reacções.
Boaventura Sousa Santos
O Conselho Diretivo do IHC (Instituto de História Contemporânea) onde trabalha Catarina Laranjeiro, única portuguesa entre as três autoras, publicou um rasgado elogio, tanto pessoal como académico, à sua investigadora, o Bloco de Esquerda de que alguns quadros foram professores da Faculdade de Economia de Coimbra ou se formaram academicamente no CES e que Boaventura se permitiu por duas vezes criticar publicamente por excesso de radicalismo (perdendo de ambas as vezes muitos votos e o seu deputado por Coimbra) anunciou um projecto de lei de carácter genérico, surgiu um manifesto que reuniu 300 assinaturas sob a palavra de ordem Todas Sabemos s (v) que se orientou sobretudo para a necessidade de discussão. Todavia o Conselho Directivo do CES promoveu uma reunião de investigadores, posteriormente à qual foi divulgado que iriam ser promovidas eleições para todos os órgãos do Centro.
A selecção dos dois avaliadores externos arrasta-se, Boaventura protesta contra o atraso e reivindica ter sido sua a decisão de suspensão. Não duvido que Boaventura venha a readquirir o controlo total dos órgãos do CES mas em todo o caso tomei nota de que de modo geral nos artigos publicados por alguns “históricos” a preocupação dominante é com o futuro da instituição, não se dizendo por exemplo que Todos Sabemos que o fundador é vítima de atoardas sem qualquer fundamento. Quanto ao “extractivismo intelectual” julgo que a comunicação social não identificou correctamente todas as práticas que as autoras pretenderam abranger.
Abuso e sedução
Uma das referências feitas pelas autoras do trabalho “autoetnográfico” diz respeito a um caso que há nove/dez anos teria envolvido uma jovem doutoranda estrangeira cuja história fui detalhada por exemplo no Público ainda sem identificação, a qual, depois de alcançar uma bolsa de doutoramento em Portugal no prestigiado CES com o prestigiado Boaventura como orientador e encontrando-se acompanhada em Coimbra por um colega na altura seu namorado se terá visto assediada sexualmente pelo seu orientador, chamemos-lhe agora B, pois que se trata de um relato da própria, ou do que dele percebi, sendo que B, numa reunião marcada para casa deste, lhe terá chamado a atenção para a importância que teria para ela o terem um bom relacionamento. Não tendo tido uma reacção positiva, na reunião seguinte com a jovem doutoranda e o seu namorado, B. terá desferido uma crítica fortíssima a este, a propósito de um trabalho feito em comum, sucedendo-se aparentemente, a um episódio de assédio sexual(vi) não aceite, um episódio de assédio moral.
Centro de Estudos Sociais, CES / Facebook
A jovem – 25 anos – terá pedido mudança de orientador e acabou por regressar ao Brasil, onde arranjou trabalho e fez o seu doutoramento sem bolsa, não denunciando publicamente a situação – em Coimbra ter-lhe-ão dito que B. era brilhante mas se sabia que aconteciam coisas destas – a qual terá sido apenas discutida no Brasil com a sua mãe e com o partido de esquerda de que era e é activista, e que tinha o trabalho de Boaventura como sua referência teórica. B ter-lhe-á pedido desculpas em Coimbra, visando sem sucesso restabelecer a relação como orientador, e mais tarde numa ocasião em que se deslocou ao Brasil, justificando-se com o estar apaixonado.
Terá sido a reação de negação de Boaventura ao livro publicado este ano e as suas ameaças de processar as autoras que levaram a protagonista a revelar a sua identidade: Bella Gonçalves, activista do PSOL, que nas últimas eleições foi eleita deputada estadual em Minas Gerais(vii). Uma nota da parte de quem seguido esta novela e a forma como o jornalista Samuel Silva, do Público, tem procurado, como é seu timbre, fazer um acompanhamento rigoroso do que dizem as fontes: o Provedor do Leitor, José Alberto Lemos, considerou que o jornal deveria ter valorizado mais o depoimento de Bella Gonçalves quando esta decidiu revelar a sua identidade, sem deixar aliás de prezar os contributos teóricos de Boaventura e o seu impacto político.
Entretanto foi lançado para o debate no Facebook e talvez em outras redes, no contexto deste caso, um contributo aparentemente “relevantíssimo”: a Ministra da Ciência e Ensino Superior, Elvira Fortunato, havia casado com o professor catedrático que era seu orientador de tese de doutoramento.
Será que se pretendia dar a entender: “Estão a ver até onde é que elas vão para progredirem na vida académica ?” ou até “Se és catedrático não deixes de tentar a sorte!“?
Cabe admitir que, como aliás é comum em meios profissionais, se encontram por vezes no meio académico situações em que um casal se constitui numa base de interesses profissionais partilhados, designadamente científicos. Conheço casos em que, não interessando quem seduziu quem, a ligação estabelecida se revela sólida, na base do reconhecimento mútuo do valor de cada um, embora o homem, mais entrosado no exercício do poder, tenda a criar condições para promover o progresso profissional da companheira, e até, se mais idoso, a sua sucessão por esta em todo um conjunto de oportunidades que constituíram o seu capital.
No entanto o B. “apaixonado” por Bella Gonçalves não recebeu qualquer encorajamento por parte desta, muito embora a “troupe” dos seus partidários até o venha defendendo por aí sem instruções: no Fb li uma “senhora”, digna de ter pertencido às “mães de Bragança”, sugeria ter sido a “brasileira” que se “atirou” ao seu orientador, quase 50 anos mais idoso, e um “senhor” perguntou-me se PSOL não era o partido do Jair Bolsonaro? Se isto é esquerda …
Ao “apaixonado” recordo que o que terá feito – se o fez – entra nas coisas que não se fazem. E que se realmente tem outros episódios na sua consciência – não sei nem tenho especial interesse em saber – o seu pedido de desculpas quase parece um “não me denuncie”. Espero que a deputada mineira não se venha a arrepender de ter contado a sua história.
Presunção de inocência
Para quem não conhece os factos nem as pessoas a opção pela presunção de inocência é a mais segura, até porque se trata de uma causa em que não temos de ser efectivamente juízes. Importa ter presente contudo que neste tipo de situações a acção penal depende de queixa e os prazos para as formular estarão ultrapassados.
Já Boaventura e o “Aprendiz” estão à vontade para se queixarem, ainda estão dentro do prazo.
Os Sindicatos
Os sindicatos de professores e investigadores não são Ordens, muito embora pudessem incluir, creio, na sua organização interna, normas que sancionassem comportamentos atentatórios das exigências da profissão. Têm contudo acesso à uma comunicação social que procura avidamente as suas afirmações.
Vi o que escreveu em artigo no Público André Carmo, dirigente da FENPROF, que aliás subscreveu o manifesto Todas Sabemos. Percebo que a sua sensibilidade lhe indique que as Universidades sejam um espaço mais propício à ocorrência de certos tipos de situações que os Institutos Politécnicos, o que até é confirmado por terem surgido logo a seguir denúncias de casos concretos nos Institutos Politécnicos do Porto e de Coimbra, com imediata acção disciplinar.
O Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) surgiu no espaço de opinião do Público com um texto de alguém que foi membro da sua Direcção nos primeiros onze anos, e até Presidente desta, e que não se mostrou nada favorável ao apontamento sobre o CES. Também o actual Presidente da Direcção – que se intitula Presidente do Sindicato – reporta que no apoio jurídico têm tratado casos de assédio moral mas não de assédio sexual.
O que não é dito é que dada a estrutura etária dos docentes do ensino superior e dos sindicalizados, o peso das mulheres jovens em situação precária não será muito elevado. Não foi dito por exemplo que Boaventura Sousa Santos é um sócio fundador do SNESup, que continua a manter os direitos sindicais depois de aposentado, com direito a advogado do sindicato em caso de necessidade, e que a implantação inicial do sindicato na FEUC passou também por ele.
Em relação aos investigadores a situação é diferente. A Vice-Presidente da Direcção Teresa Summavielle é signatária do Todas Sabemos. A Direcção conta também com uma investigadora do CES – Silvia Maeso e o SNESup tem, já no segundo mandato, uma Comissão Sindical eleita pelos associados investigadores do CES.
É difícil prever o que vai acontecer. Daqui a uns tempos talvez nem nos lembremos de que esteve para haver um caso Boaventura / CES.
Notas
(i) A comunicação social tem referido o nome de uma outra índia, mais a sul, activista mapuche do lado da Argentina e não do Chile, que apareceu a fazer certas imputações de comportamento a Boaventura, que as rejeita energicamente, mas que nunca foi investigadora do CES. Nestas condições, o “caso” não é pertinente para ser tratado no presente artigo.
(ii) O nome do Aprendiz (aprendiz de Professor Estrela…) não me diz nada pessoalmente, uma vez que não conheço o meio, mas o nome de um antropólogo que se assumiu publicamente como ofendido está por aí divulgado.
(iii) Curiosamente o próprio Boaventura ao surgir em Portugal no pós 25 de Abril com a sua formação avançada obtida na norte américa terá sido visto na altura como alguém sob a possível influência da Agência.
(iv) Sobre o caso Ronaldo – Mayorga estou tentado a crer que devia ter ficado encerrado com o acordo inicial, mas a litigância com honorários de contingência é reconhecidamente um factor de desestabilização.
(v) Rapidamente alcançou 800 assinaturas de investigadores e “agentes culturais, nem todos mulheres.
(vi) Se é que colocar a mão num joelho é assédio sexual.
(vii) Única deputada do PSOL neste estado. O PSOL surgiu como dissidência do PT mas tem tido um desenvolvimento nem sempre fácil.
As manipulações do orçamento do SNS pelo Governo para enganar os portugueses, a falta de verdade de Manuel Pizarro, e a continuação da degradação do SNS
Ninguém poderá contar com soluções milagrosas ou com resultados no curto prazo. O Paquistão vai ter de contar acima de tudo consigo mesmo e a posição de terceiros, como o SADF, é sobretudo a de apoiar o país.
O dia 1 de junho próximo poderá assistir a um evento único e ciclópico – o default ou incumprimento ditado pela impossibilidade de emissão de mais dívida pelos EUA – se até lá as duas câmaras (Senado e Câmara dos Representantes) norte-americanas não alcançarem um acordo que permita à administração voltar a ultrapassar o limite para o endividamento público, actualmente fixado em pouco mais de 31 biliões de dólares.
Este valor, que representa cerca de 147% do PIB norte-americano, já foi ultrapassado em meados de Janeiro último e o “shut down” (encerramento puro e simples dos serviços públicos federais e suspensão de pagamentos a credores, fornecedores, funcionários públicos e beneficiários de prestações sociais) só foi até agora evitado graças a malabarismos e contorcionismos contabilísticos. Mas a data limite aproxima-se… e os políticos (leia-se senadores e deputados, democratas e republicanos, das duas câmaras) mostram-se incapazes de ultrapassar as suas divergências e alcançarem um acordo para a subida daquele limite, apesar das tentativas do presidente Biden, a mais recente das quais inclui um plano para o congelamento dos gastos.
A prática da imposição de limites à dívida (o chamado debt ceiling, na terminologia anglo-saxónica) data dos tempos da I Guerra Mundial (1917) tendo surgido para resolver as dificuldades de ver todas as emissões de dívida autorizadas pelo Congresso (num processo burocrático e demorado), mas criou as condições para este panorama de complicadas negociações entre democratas e republicanos, especialmente em conjunturas políticas de forte bipolaridade e grande rivalidade com as duas formações a dividirem entre si a Casa Branca e a Câmara dos Representantes.
O número de vezes em que houve necessidade de rever o limite da dívida já rondará a centena; só na última década foram sete, com o último a ocorrer em 2021 e resolvido sem grande problema, ao contrário do sucedido em 2011 e 2013 (ambos sob administração Obama), com o primeiro a ser fechado a poucas horas da data limite e o segundo na véspera.
As crónicas dificuldades em torno da revisão dos limites ao défice podem ser entendidas como reflexo natural das limitações do sistema bipartidário norte-americano, agudizadas sempre que a rivalidade entre democratas e republicanos é extremada (como foi o caso em 2011 quando os sectores republicanos mais conservadores enfileiravam o movimento Tea Party e Donald Trump financiava a campanha para questionar a nacionalidade de Barack Obama ou, como sucede agora, quando os republicanos do movimento MAGA vislumbram a possibilidade de criar uma recessão económica que alimente as esperanças de ver Donald Trump regressar ao poder), crescem as perspectivas de gastos (com o envolvimento norte-americano na Ucrânia a traduzir-se num aumento ainda maior das despesas e do endividamento), opção que contraria abertamente a posição dos republicanos que procuram manter-se irredutíveis na necessidade de travar o endividamento mediante cortes drásticos na despesa.
Do lado democrata fazem-se ouvir argumentos, com a secretária de Estado, Janet Yellen, a avisar que o limite da dívida pode trazer “catástrofe económica” e a própria Casa Branca a publicar um estudo sobre os potenciais impactos económicos se o país entrar em incumprimento, dos quais se destacam uma queda no PIB (variando entre 0,6% no terceiro trimestre se o incumprimento for curto e 6,1% se for prolongado), a subida do desemprego (que poderá atingir mais de 8 milhões de desempregados e atirar a taxa de desemprego para os 5%), o aumento dos custos com os juros (as taxas deverão subir em consonância com o aumento do risco do país) e a redução das prestações sociais e dos parcos cuidados de saúde (Medicaid) ainda disponíveis.
Mas o pior será mesmo a quebra da credibilidade, um dano reputacional e um acontecimento que será seguramente aproveitado por chineses e russos precisamente numa altura em que os confrontos geopolíticos entre as maiores potenciais mundiais estão ao rubro, que poderá revelar-se o maior prejuízo e que colocará aquela que ainda é a maior economia do mundo numa posição de extrema fragilidade, se falhar o pagamento aos credores. E este poderá até ser o principal trunfo da Casa Branca para convencer os republicanos a fechar um acordo que evite semelhante humilhação.
Uma humilhação que ocorrerá mais tarde ou mais cedo, mas cujo principal detonador não deverá ser o limite da dívida (afinal, como em tempos referi aqui no Tornado, a dívida norte-americana, tal como a dívida mundial, é impagável), mas a erosão que a progressiva perca de protagonismo do dólar irá provocar na capacidade de financiamento de uma economia em degradação.
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