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João de Sousa

Sexta-feira, Junho 27, 2025
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Memórias da fronteira de Gaza com o Negev

Estávamos em 2010, comigo a começar o exílio político em Bruxelas, depois de uma campanha de ódio encomendada pelas autoridades iranianas e conduzida na imprensa portuguesa com enormes cumplicidades entre dirigentes socialistas, por ter ousado dar a cara pela resistência iraniana contra a tirania teocrática.

Depois de uma curta estadia no German Marshall Fund dos EUA – que me encomendou um trabalho de investigação sobre a reforma da política agrícola europeia – lancei-me num mar de pistas sobre as mais variadas matérias.

A mais apaixonante foi sem dúvida a de Gaza. Tendo estabelecido sólidas cooperações pessoais quer em Gaza quer no Negev – deserto que é o hinterland natural da faixa marítima e onde se encontram os kibutz em que o Hamas realizou as chacinas de 7 de outubro – comecei a trabalhar num plano de paz, que tinha como principais parceiros um empresário de Gaza que tinha perdido tudo na guerra de 2008 e o presidente da Câmara de Comércio israelo-palestiniana, para além de um influente deputado egípcio próximo do Presidente Mubarak.

O projecto acabou por ter um fim trágico com uma grave doença do empresário de Gaza e o fim do regime de Mubarak, mas permitiu-me algo que considero precioso, e que foi ouvir os habitantes de Gaza dizerem a verdade, sem terem medo da repressão dos fanáticos islamistas.

Para o dito empresário, cujas instalações tinham sido arrasadas pelo exército israelita, e que ambicionava a paz erguendo uma terceira força política palestiniana independente da OLP e dos fanáticos, a responsabilidade total para os dramáticos acontecimentos de então era do Hamas e restante falange de grupelhos islamistas.

Por outro lado, pude obter de viva voz de civis de Gaza a denúncia do uso sistemático de civis como escudo, e em especial crianças, para as acções de terror por parte do Hamas. Por vezes, o Hamas lançava propositadamente mísseis das propriedades dos seus inimigos para provocar a retaliação israelita, matando assim dois coelhos de uma cajadada, livrava-se dos inimigos e alimentava o antissemitismo.

Contando com a cooperação dos meios da comunicação e da intelectualidade ocidentais – por atavismo antissemita, por dinheiro, por imitação ou por falta de inteligência – o Hamas punha assim a render as vidas de civis que supostamente defende, e especialmente crianças, cuja morte é a mais rentável nos écrans de televisão.

Um coro de protestos erguia-se sempre em volta dos mesmos argumentos, começando pela ‘falta de proporcionalidade’, sendo esta entendida como número equivalente de vítimas e danos.  Em nenhum manual sério de doutrina militar, ou de limites humanitários à guerra, se defende um conceito tão absurdo de proporcionalidade. A proporcionalidade é medida pelos efeitos militares em proporção aos efeitos colaterais, não é uma contagem de cadáveres.

Pixabay

E na contagem de cadáveres, Israel fica quase sempre a perder, porque, como aliás propagandeiam os Islamistas, os israelitas amam a vida e eles a morte, melhor dizendo, são indiferentes à morte da sua população, embora não a queiram para si.

E depois temos uma narrativa enviesada da história e da realidade, sempre contra Israel, e que apesar da falta de sentido do que defende, continua cada vez mais imparável.

O mais grave é que, tanto no Médio Oriente como entre nós, se faz vista grossa ao que é um crime de guerra inaceitável, que é o uso dos civis como escudo.

Isto era assim já em 2008 e a situação foi-se agravando até aos dias de hoje, sendo que para a matança que desencadeou esta guerra há certamente mais elementos a considerar. Espero que haja a capacidade de, quando a situação militar o permitir, escalpelizar seriamente tudo o que a tornou possível.

Ainda estava no Parlamento Europeu quando de visita a uma exposição municipal sobre projeteis (e havia-os de todos os feitios, sofisticação e alcance) lançados sobre Sderot – cidade israelita que fica praticamente em cima do muro divisório com Gaza – me foi explicado que cerca de um quarto dos lançados em Gaza caíam em Gaza, provocado vítimas que depois eram sistematicamente atribuídos a Israel.

Porque há que dizê-lo, a principal razão pela qual os Islamistas massacram desta maneira os civis palestinianos, é a prontidão com que a opinião pública lhes dá razão cada vez que os civis são mortos!

E esta semana tivemos o mesmo disco de sempre, tocado ainda com mais força, a propósito de uma barragem de foguetes lançada por um dos grupos Islamistas contra Israel do qual um caiu no pátio fronteiro ao hospital.

Apesar de haver desta vez evidência esmagadora de que se tratava de um projétil disparado pelos Islamistas, apesar da longuíssima história de repetida mentira por parte destes, não faltaram as vozes da opinião pública – mesmo das mais responsáveis – a fazer eco da mentira.

Não, não foram quinhentas vítimas provocados por bombardeamentos de Israel que atingiram um hospital, como reclamado pelo movimento criminoso Hamas (rebaptizado como Ministério da Saúde de Gaza pela desinformação oficial). Foram pessoas que estavam no pátio fronteiro ao hospital onde caiu um dos projeteis lançado da vizinhança pelo grupo ‘Jihad Islâmica’.

E mesmo quando não havia já quaisquer dúvidas do que se tinha passado, não se viu ninguém ter a humildade, o bom senso, ou a ética de se colocar à frente e emendar a fabricação em que participou.

A falta de envergadura moral é aqui a causa directa da continuação dos massacres de civis inocentes!

Os eternos problemas do imobiliário e… do FMI

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Na sequência da recente apresentação do Economic Outlook for Europe do FMI, o seu diretor para a Europa, Alfred Kammer, alertou para os riscos do sector imobiliário, salientando que em Portugal os preços das casas estão 20% sobrevalorizados.

Embora também diga que aquele “fenómeno” é comum à generalidade dos países europeus, em momento algum refere qualquer das especificidades do mercado imobiliário nacional, tais como a desmesurada proporção de recurso à aquisição de habitação própria em lugar da mais racional opção pelo arrendamento (quando parece fazê-lo é apenas para referir a tendência nacional para a preferência por créditos a taxa variável) ou a propensão para uma regular valorização do imobiliário em benefício da valorização de activos e garantias que abundam nos balanços do sistema bancário nacional.

Alfred Kammer (FMI)

Aquele responsável do FMI diz que a tendência de subida do preço do imobiliário é algo que se regista um pouco por toda a Europa, destacando como justificação o impacto da Covid-19 e da guerra da Ucrânia, tendência que é ajudada pela reduzida oferta, pela subida dos custos de construção, pelas restrições aos licenciamentos e pela própria inflação. Paralelamente, reconhece o agravamento da acessibilidade à habitação e ao arrendamento, especialmente para as camadas mais jovens da população, e alerta para os riscos de instabilidade financeira criados pela apertada política monetária do BCE (expressa nas sucessivas subidas nas taxas de juro nos últimos meses, que elevou a sua taxa de referência aos actuais 4,5%) que torna previsível um aumento do incumprimento naquele tipo de créditos que, apesar do contínuo aumento da rentabilidade do sector bancário, o elevado peso do crédito à habitação a taxa variável aconselha a criação de uma “almofada” para o risco sistémico daquele sector, no que se pode interpretar como um aviso para uma nova onda de resgates.

A notícia continua com outros alertas – como o da transitoriedade das políticas de apoio às famílias – e conclui-se com o claro aviso dos perigos resultantes do aumento dos custos orçamentais, numa espécie de alerta nebuloso e tenebroso.

Tenebroso, porque sabemos perfeitamente o que representa e significa uma intervenção do FMI. Estamos ainda bem lembrados dos resultados da sua última passagem por Lisboa (2011), despoletada pela crise das dívidas denominadas em euros e forçada pela situação de absoluta penúria de liquidez do sistema financeiro nacional, a par com os nefastos resultados da política de austeridade-expansionista aplicada pelo governo Passos Coelho-Paulo Portas que, qual sangria medieval, ameaçou matar o doente em lugar de o curar. Tanto assim que, anos volvidos, ainda ouvimos “recomendações” como a daquele alto quadro do FMI.

Nebuloso, porque o mesmo especialista afirmou em 2021, a propósito do fraco crescimento das economias ocidentais, que o perigo estava na retirada dos apoios orçamentais e não na inflação. Embora na altura a sua previsão fosse a de uma inflação passageira, nem por isso deixa de merecer referência a ênfase que então colocou na importância dos apoios orçamentais, vistos como determinantes para a sustentação das economias.

Infelizmente este ziguezaguear opinativo e informativo é perfeitamente natural entre os especialistas de organismos como o FMI ou o Banco Mundial, para quem a realidade económica se reduz, invariavelmente, à singela frieza dos modelos econométricos com que avaliam e pretendem prever o comportamento das economias, esquecendo os efeitos sociais e demográficos, para não falar no famigerado problema da especulação que parece ser fenómeno de todos desconhecido.

Festival de Valladolid: começa hoje uma edição de transição

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Tem hoje início na cidade espanhola de Valladolid, prolongando-se até ao próximo dia 28, a edição de 2023 da SEMINCI – Semana Internacional de Cinema.

Fiel à sua consigna de “cinema de autor” o certame está desta vez numa fase de mudança. De facto, o director de há muitos anos, Javier Angulo, terminou a sua tarefa há alguns meses sendo substituído por José Luís Cienfuegos, até há pouco director do Festival de Sevilha. Poder-se-á dizer que esta 68ª edição é um festival de transição, um festival feito a ‘quatro mãos’, resultado do trabalho do director cessante e do novo director.

José Luís Cienfuegos manteve a estrutura base da programação que vem do passado (Secção Oficial, ‘Tiempo de Historia’ e ‘Punto de Encuentro’) acrescentando, obviamente, o seu cunho pessoal com a criação de novas áreas e novas opções (por exemplo, as secções “Alquimias” e “Memoria y Utopia”).

 

‘Espiga de Honra’ para a Academia do Cinema Europeu

Na Gala de Inauguração do Festival, que decorrerá hoje à noite no Teatro Calderón, será entregue a primeira ‘Espiga de Honra’ desta edição distinguindo a EFA – Academia de Cinema Europeu. Receberá o galardão a presidente daquela instituição, a cineasta polaca Agnieszka Holland, presente em Valladolid também para apresentar em competição na secção oficial, como mais à frente é referido, o filme Green Border”, como mais à frente é referido,

A Academia vai ter um papel muito destacado nesta SEMINCI/2023 já que, para além de realizar em Valladolid a reunião anual do seu Comité Executivo, o festival integra um ciclo promovido em colaboração com a EFA constituído por sete filmes europeus.

São eles:

  • Anatomie d’ une chute, da francesa Justine Triet, Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano;
  • Roter Himmel (Céu Vermelho) do alemão Christian Petzold, Grande Prémio do Júri no Festival de Berlim;
  • Die Theorie von Allem (A Teoria Universal) do alemão Timm Kröger, projectado na secção oficial de Veneza.
  • Eu, Capitão do italiano Matteo Garrone. Prémio para o melhor realizador no Festival de Veneza;
  • Bastarden (A Terra Prometida), filme dinamarquês de Nikolaj Arcel. Prémio SIGNIS no Festival de Veneza;
  • Fallen Leaves (Folhas Caídas) de Aki Kaurismaki. Prémio do Júri em Cannes e Grande Pémio FIPRESCI/2023;
  • The Zone of Interest (A Zona de Interesse) de Jonathan Glazer. Grande Prémio e Prémio FIPRESCI no Festival de Cannes.

Os quatro últimos são os candidatos de Itália, Dinamarca, Finlândia e Reino Unido ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

 

A secção oficial

A principal secção competitiva do certame de Valladolid oferece este ano 23 títulos dos quais 7 serão apresentados fora de concurso. Como já foi referido em anos anteriores, o facto de a SEMINCI não pertencer à classe A dos festivais de cinema permite-lhe integrar na competição filmes que já passaram noutros festivais. É assim que surgem aqui alguns ‘pesos pesados’, cineastas já anteriormente premiados na SEMINCI e em muitos outros festivais.

É o caso de The Old Oak de Ken Loach, que concorreu à Palma de Ouro de Cannes e obteve o Prémio do Público em Locarno. O argumento de The Old Oak, com a habitual carga de acentuado conteúdo social e político é, como de costume, de Paul Laverty e cruza as memórias e o quotidiano de velhos mineiros de uma pequena localidade inglesa com a chegada à povoação de um grupo de refugiados sírios. Ken Loach tem já um passado assinalável em Valladolid com duas ‘Espigas de Ouro’, uma ’Espiga de Prata’, um Prémio do Público, um ciclo monográfico e a ‘Espiga de Honra’ em 1992

Os refugiados sírios estão também em foco em “Green Border”, Prémio Especial do Júri em Veneza. A realizadora polaca Agnieszka Holland construiu um filme a partir de factos reais ocorridos na ‘fronteira verde’ entre a Polónia e a Bielorrúsia em 2021. Refira-se que Agnieszka Holland recebeu o prémio para a melhor realizadora na SEMINCI de 2011.

Do celebrado cineasta italiano Marco Bellocchio teremos Rapito (O Rapto), filme que participou no recente Festival de Cannes e que conta a história de um sequestro de um rapaz, por parte do papado, em 1858.

Os outros filmes em competição na secção oficial são:

  • All of us strangers (Desconhecidos) de Andrew Haigh (Reino Unido / EUA). Andrew Haigh é o autor de 45 Anos filme que em 2015 conquistou em Berlim os Ursos de Prata de interpretação (Tom Courtenay e Charlotte Rampling) e que a valeu a esta última o prémio de melhor actriz na 60ª SEMINCI e a nomeação para o Oscar;
  • El Amor de Andrea de Manuek Martín Cuenca (Espanha / México);
  • How to have sex de Molly Manning Walker (Reino Unido / Grécia / Bélgica), filme  da secção ‘Un Certain Regard’ do Festival de Cannes;
  • La Imatge Permanent de Laura Ferrés (Espanha / França), primeira longa-metragem da realizadora que competiu no Festival de Locarno;
  • La Chimera de Alice Rohrwacher (Itália / França / Suíça).  O mais recente filme da realizadora de “Lázaro Feliz” participou no Festival de Cannes;
  • Les Filles d’Olfa (As Quatro Filhas) de Kaouther Ben Hania (França / Tunísia / Alemanha / Arábia Saudita). Prémio ‘Golden Eye’ em Cannes para o melhor documentário;
  • Musik (Música) de Angela Schanelec (Alemanha/ França / Sérvia).  Urso de Prata para o melhor guião, no Festival de Berlim;
  • Que Nadie Duerma de Antonio Méndez Esparza (Espanha/ Roménia);
  • Das Lehrerzimmer (Sala de Professores) de Ilker Çatak (Alemanha). Vencedor dos prémios do cinema alemão e representante da Alemanha na corrida aos Oscares;
  • Samsara de Lois Patiño (Espanha).  Prémio Especial do Júri na ‘Berlinale Encounters’;
  • Sobre Todo de Noche de Victor Iriarte (Espanha / França / Portugal). Estreou na Jornada dos Autores, do Festival de Veneza;
  • The Beast de Bertrand Bonello (França / Canadá). Participou no Festival de Veneza;
  • The Shadowless Tower de Zhang Lu (China) que estreou no Festival de Berlim;
  • The Sweet East de Sean Price Williams (EUA). Estreou na ‘Quinzena dos Realizadores’ de Cannes.

Ainda na secção oficial, mas fora de concurso, serão exibidos:

  • Cristina Garcia Rodero – La Mirada Oculta de Carlota Nelson (Espanha);
  • El Maestro que prometió el Mar de Patricia Font (Espanha);
  • Dear Jassi de Tarsem Sing Dhandwar(Índia). Esta é uma versão indiana de ‘Romeu e Julieta’ realizada por um cineasta que tem feito carreira nos Estados Unidos onde já dirigiu Jennifer Lopez e Julia Roberts. Este filme está integrado na celebração do cinema da Índia, o país convidado desta edição do certame;
  • Teresa de Paula Ortiz (Espanha / Portugal);
  • Mamacruz de Patrícia Ortega (Espanha / Venezuela), filme estreado no Festival de Sundance.

 

“La Contadora de Películas”: filme de Lone Scherfig na abertura

Em 2001, com Italiano para Principiantes, a dinamarquesa Lone Scherfig ganhou prémios por todo o lado. De Berlim, ao nosso Festróia, mas também em Valladolid onde conquistou a ‘Espiga de Ouro’ para o melhor filme.

Agora realizou no Chile, no deserto de Atacama, La Contadora de Películas um filme que conta a história de uma menina que tem um dom extraordinário para contar os filmes que vê. Por isso, converte-se na ‘contadora oficial de filmes’ da sua aldeia para gáudio de todos os que não podem ir ao cinema.

O filme de Lone Scherfig será exibido hoje, na sessão de abertura da SEMINCI / 2023.

 

Júri Internacional

O Júri Oficial da 68ª SEMINCI será constituído por:

  • Meritxell Colell Aparicio, realizadora espanhola autora de Con el viento, premiado no Festival de Málaga;
  • Mike Goodridge, produtor britânico que tem no seu currículo títulos como O Triângulo da Tristeza, de Ruben Ostlund (Palma de Ouro de Cannes em 2022), American Honey de Andrea Arnold (Grande Prémio do Júri em Cannes / 2016) ou Quo Vadis, Aida? realizado em 2020 pela cineasta bósnia Jasmila Žbanić (melhor filme nos Prémios do Cinema Europeu em 2021 e nomeado para o Oscar);
  • Pan Nalin, cineasta indiano, vencedor da Espiga de Ouro da 66ª Seminci com Last Film Show;
  • Jara Yáñez, crítica espanhola, directora da revista ‘Caimán Cuadernos de Cine’; e
  • Iván Granovsky, realizador e produtor argentino.

Eleição dos líderes comunitários de Timor-Leste em 2023

No dia 28 deste mês realizar-se-ão as eleições dos Chefes de Suco, Chefes de Aldeia e dos Delegados das Aldeias ao Conselho de Suco.

O Decreto do Governo Nº 9/2023 de 16 de Agosto fixa as datas de realização das Assembleias de Aldeia e dos Conselhos de Suco no âmbito dos procedimentos de eleição dos líderes comunitários.

Nos termos do Decreto do Governo, o Conselho de Suco é composto pelo Chefe de Suco, pelos Delegados e pelas Delegadas, pelos Chefes das Aldeias, por um Lian-na´in (Senhor da Palavra) e por representantes da juventude do Suco, os quais são eleitos para cumprirem mandatos de sete anos.

Em Timor-Leste há 13 Municípios e uma Região Administrativa Especial (Oe-cusse Ambeno). Os Municípios englobam 67 postos administrativos que por sua vez estão subdivididos em 498 Sucos que integram mais de 2300 aldeias.

As eleições decorrerão em todos os Sucos de Timor-Leste, à excepção dos Sucos de Lequitura (Aileu), Bocolelo (Auileu), Ailoc (Díli), Bebonuc (Díli), Madohi (Díli), Manleu-Ana (Díli), Mantetolão (Díli), Sicone-Dilote (Mantuto), Laicore (Manatuto) e Builo (Viqueque), pelo facto dos mandatos dos líderes comunitários destes Sucos só terminarem em 2024.

Segundo o Artigo 71º, nº 2 da Lei nº 9 (2016), de 8 de Julho, se nenhum dos candidatos a Chefe de Suco obtiver sozinho mais de metade dos votos validamente expressos, realizar-se-á uma segunda votação entre os dois candidatos mais votados, no dia 13 de Novembro de 2023.

A remessa dos documentos eleitorais dos Sucos para a Direcção-Geral da Descentralização Administrativa realizar-se-á até 11 de Novembro ou até 27 de Novembro.

Como tem atuado o Judiciário em processos sobre violência de gênero?

O Brasil segue sendo o quinto país mais violento contra as mulheres e o primeiro em relação à violência contra os LGBTQIA+. Segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), há ocorrência de 822 mil estupros por ano no Brasil, sabendo-se que quase 60% das vítimas são meninas de até 13 anos e a maioria dos algozes são conhecidos da vítima e as violências ocorrem dentro de casa.

Com tudo isso, chama a atenção a reportagem “Eu Disse ‘Não’”, de Camila Bransalise, do Universa, do UOL, que destaca a importância de denunciar a atuação de juízes e advogados em audiências sobre violência de gênero, principalmente em casos de acusações de estupro.

Importante, portanto, aprofundar o debate sobre a atuação do Poder Judiciário sobre esse tema em processos criminais e a importância de tratar as vítimas com todo respeito para que o julgamento possa ocorrer de acordo com a legislação; principalmente porque se acumulam casos de acontecimentos desse tipo nos tribunais brasileiros.

“Na reportagem de Universa, Camila aponta procedimentos misóginos com perguntas inaceitáveis sobre o procedimento da vítima em relação ao fato”, argumenta Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

De acordo com a reportagem, os juízes absolveram um réu acusado de violência sexual por 12 mulheres. Eles “entenderam que não há estupro caso a vítima não mostre reação física ‘séria, efetiva’ e com ‘rebeldia’ — dizer não, portanto, é insuficiente”.

Para a sindicalista, esse tipo de ocorrência em audiências processuais “acaba por colocar a vítima num local de desconforto e humilhação” porque  “pode levar a mulher que busca na justiça os seus direitos e a reparação de um crime, a descrença no Judiciário e nas leis”.

Redes de apoio

Para que uma vítima de estupro não tenha mais que ouvir de um promotor de Justiça, coisas do tipo: “Tu fez eu e a juíza autorizar um aborto e agora tu te arrependeu assim? Tu podes pra abrir as pernas (…) pra um cara tu tem maturidade (….) e pra assumir uma criança tu não tem?”, dita por Theodoro Alexandre da Silva Silveira, no interior do Rio Grande do Sul, em 2016, quando uma adolescente de 14 anos acusava o pai por estupro, que foi comprovado, inclusive.

Michely Coutinho, secretária da Mulher da CTB-GO, aponta a necessidade de um intenso combate “ao machismo, à misoginia e à humilhação de vítimas no Judiciário” promovendo “a sensibilização e a capacitação de juízes e demais profissionais do sistema de Justiça”. Para ela, “é importante que as vítimas tenham acesso a redes de apoio, a exemplo de organizações de defesa dos direitos das mulheres, e denunciem qualquer conduta inadequada”.

Além disso, “a sociedade e outros agentes sociais, a exemplo da mídia, também desempenham um papel fundamental ao reivindicarem a igualdade de gênero e a justiça nos processos judiciais relacionados à violência sexual e doméstica”.

Culpabilização da vítima

Isso principalmente porque, na reportagem de Universa, as vítimas têm que responder se estavam vestidas de calcinha, entre outros impropérios. Débora Henrique, secretária da Mulher da CTB-RJ, afirma categoricamente que “o que vestimos não é consentimento ou convite explícito ou implícito para sexo” porque “não existe decote ou roupa curta que possa ser codificada como consentimento ao assédio sexual contra nós mulheres”.

Para Michely, “a ideia de que a roupa usada pela vítima justifica a violência é uma forma de culpabilização da vítima, prática relatada em diversos casos em que se deveria acolher a vítima, e não revitimizá-la”,  é evidente que “a roupa não é uma autorização para que a mulher seja violentada”, pois “todas as pessoas têm o direito elementar de se vestir sem medo de sofrer agressão”.

Ela lembra da exposição “A Culpa É Minha”, na Bélgica, com a exposição de roupas de vítimas de estupro, comprovando claramente que não é a roupa, mas a cultura do estupro que leva homens a se acharem no direito de invadir corpos de mulheres.

Caso Mariana Ferrer

Outro caso escabroso aconteceu em audiência, onde a blogueira Mariana Ferrer acusava André de Camargo Aranha de estupro, em Santa Catarina, em 2018, quando o advogado de defesa de Cláudio Gastão da Rosa Filho a humilhou com frases do tipo: “Peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher como você” Ou “É seu ganha pão a desgraça dos outros. Manipular essa história de virgem”, sem que ninguém tomasse nenhuma providência.

O réu foi absolvido por “falta de provas” e prevaleceu a tese inócua de “estupro culposo”. O ocorrido resultou na Lei 14.245/2021, apelidada de Lei Mariana Ferrer. De acordo com Michely, que é advogada, “o artigo 400-A dessa lei estabelece a obrigação de todas as partes e sujeitos processuais zelarem pela integridade física e psicológica da vítima durante a audiência, proibindo manifestações que ofendam a dignidade dela”.

Já Débora ressalta a necessidade de se promover “um amplo debate em toda a sociedade para acabarmos com a cultura do estupro e prevalecer a cultura da paz, onde todas as pessoas possam andar livremente pelas ruas, sem medo  e com a roupa que quiserem”.

Para Michely, no caso específico da Justiça, é necessário “conscientizar os integrantes do Judiciário sobre os impactos da violência sexual e doméstica, e sobre a importância de respeitar a dignidade das vítimas, e ofertar capacitação permanente sobre como conduzir audiências de forma respeitosa e sem culpabilizar as vítimas”, além de “criar mecanismos para responsabilizar os integrantes do Judiciário que cometem atos de machismo e humilhação de vítimas”.

Em breve a segunda parte desta matéria com entrevista exclusiva com a juíza do Trabalho, Valdete Souto Severo.


Texto em português do Brasil

Governador Tarcísio quer acabar com a educação pública de São Paulo

Mesmo com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo ocupada por estudantes, nesta terça-feira (17), e com a Assembleia Estadual das professoras e professores do ensino oficial do estado, marcada para esta sexta-feira (20), o desgovernador enviou sua proposta de “reforma administrativa”, através de uma Proposta de Emenda à Constituição, que reduz de 30% para 25% os investimentos estaduais em educação.

A Assembleia das professoras e professores acontece na Praça da República, às 16h. Logo após começa o Grito pela Educação Pública de Qualidade, a partira das 17h.

Com uma gestão absolutamente autoritária, Tarcísio e Feder privilegiam os mais ricos ao endossar uma visão empresarial da educação pública, cortando verbas, perseguindo profissionais e tirando a possibilidade de sonhar dos estudantes.

A hora é de unidade com todos os setores sociais engajados na luta em defesa da educação e dos serviços públicos contra o desmonte das políticas fundamentais para a melhoria de vida para a maioria da população, que entende a educação pública como uma das mais importantes formas da juventude ter vida mais digna no futuro.

A atitude do desgovernador reforça a importância de nossa luta pelas mais importantes conquistas da sociedade brasileira e paulista para uma vida digna a todas e todos. Seguimos a nossa luta por escolas bem estruturadas e salários dignos para podermos reunir condições de trabalhar como desejamos e avançarmos para uma educação que propicie conhecimento e abranja toda a diversidade humana.


Texto em português do Brasil

EUA pagarão pela impiedade populista de Biden

Os Estados Unidos garantiram ontem, em dois momentos, o prosseguimento do genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino. Em Nova York, os Estados Unidos vetaram a proposta de resolução brasileira, que trazia alívio humanitário para quem sofre e morre em Gaza, apesar de 12 países terem votado a favor. Enquanto isso, em Tel Aviv, Biden abraçava por inteiro a posição israelense, garantindo apoio político e militar, de olho em seus baixos índices eleitorais. Mas haverá custos. As duas decisões poderão levar ao alastramento do conflito e já produzem uma revolta ampla no mundo árabe contra os Estados Unidos, a exemplo da tentativa de ataque à embaixada americana em Beirute, na manhã desta quarta-feira, duramente reprimida pelo governo local.

E haverá também custos internos, inclusive eleitorais. Se a opção de Biden pelo massacre de Gaza lhe rendeu simpatias  mesmo entre republicanos, analistas americanos dizem que alas progressistas de seu partido, o Democrata, devem engrossar as resistências à candidatura dele à reeleição. Biden está rasgando aquele discurso humanista que gosta de fazer, e que fez ontem ao lado de Netanyahu, exaltando a dor dos israelenses, indiferente ao horror sofrido pelos palestinos. O mundo inteiro assistiu a uma cena de perversidade populista.

Os Estados Unidos não aprenderam nada com o 11 de Setembro. Pelo contrário, agora atraem como nunca o ressentimento árabe, e isso terá consequências. Biden resolveu correr o risco.

Haverá quem diga, aqui, que o Brasil foi derrotado no Conselho de Segurança. Não foi isso. O Brasil fez um esforço enorme para garantir uma saída para a emergência humanitária e teve o apoio da maioria dos países com assento no colegiado. Saiu frustrado, como disse o embaixador Sergio Danese, mas não derrotado. O que houve ali foi o abuso de seu poder de veto pelos Estados Unidos, numa evidência do quanto  é urgente reformar aquele Conselho.


Texto original em português do Brasil

A tentativa de destruição do Estado da Palestina é evidente

A história mostra que o plano de expansão de Israel teve início em 1897 no I Congresso Sionista realizado em Basileia, em que foram principais congressistas judeus da Europa central.

Em 2018 escrevi um artigo neste Jornal sobre esta matéria e que agora estou a relembrar mas, antes de tudo, começo por transmitir uma palavra de total solidariedade ao povo mártir palestiniano e, obviamente, expressar o meu repúdio pelos bombardeamentos israelitas, contra um povo indefeso que luta pela sua sobrevivência e independência, ataques indiscriminados que atingem de forma premeditada hospitais, escolas e destroem, não o Hamas, mas infraestruturas básicas para a sobrevivência do povo da Palestina, portanto, dando seguimento à tentativa de destruição do Estado da Palestina, como referi, um plano iniciado em 1897.

O “sionismo”, nome baseado na famosa colina de Sião, em Jerusalém, é antigo e remonta a 1887, como uma doutrina que procurava, já nessa altura, juntar os judeus.

 

Cronologia dos acontecimentos e reivindicações justas dos palestinianos

Segundo Roux-Lanier, Pimbé, Lanot e Ropert (1998) a ideia de se iniciar a colonização judaica já tem 117 anos.

Em 1901, com meios financeiros significativos foi criado o Fundo Nacional Judaico, com o objectivo de se iniciar a fundação de colonatos judaicos, os conhecidos “Kibutz”, comunidades agrícolas de colonos judeus, mas, também, a criação de áreas urbanas, porque uns anos depois, em 1909, surgiu Telavive.

Os britânicos, por altura da primeira guerra mundial (1914-1918), quando o Império Otomano se aliou aos alemães, em troca de ajuda, prometeram aos árabes, e também aos judeus, um “lar nacional”, obviamente, uma promessa impossível de cumprir porque os árabes já reivindicavam o território há séculos.

No final da primeira grande guerra, os sionistas, aproveitando a “promessa” dos britânicos, iniciaram um processo de pressão contra a Inglaterra para a construção de um único Estado, o Judaico. Acto contínuo, profundamente revoltados, os palestinianos procuraram apoio junto dos países árabes.

Em 1939, no início da 2.ª Guerra Mundial, havia pouco mais de sessenta mil judeus e quase um milhão e quatrocentos mil palestinianos, mas, a situação manteve-se num impasse, devido ao facto dos ingleses precisarem dos judeus para ajudaram a combater os alemães de Hitler.

Com o fim da 2.ª Guerra Mundial, em 1945, com o holocausto nazi, os judeus, após beneficiarem da simpatia da comunidade internacional aproveitaram a situação para a sua promoção, a retoma da expansão sionista para a construção de um único Estado na região, estratégia que se está a verificar, com o silêncio brutal da comunidade internacional, para além das habituais tímidas e ridículas declarações de contestação das Nações Unidas, como aconteceu durante anos com Timor-Leste ocupado pela Indonésia.

O rigor da cronologia histórica que descrevi poderá ser (eventualmente) questionado de forma pontual, aqui ou ali, contudo, no essencial dá para perceber e reconhecer a legitimidade inquestionável das reivindicações do povo da Palestina.

É preciso ter presente que o desejo unilateral de Israel se tornar Estado nunca foi aceite pelos Estados da Liga Árabe e que por isso envolveram as suas tropas na Palestina. Após os violentos combates com Israel ocorridos em 1948, durante um ano, em que estes últimos saíram vencedores, originou-se a fuga de 700 mil palestinianos. E foi nesta altura que Israel decidiu ocupar as terras deixadas pelos autóctones, o que permitiu a entrada de mais de 4 milhões de imigrantes, desde que desejassem ter nacionalidade israelita.

Para agravar a situação, em 1967, os israelitas ocuparam a Cisjordânia e surgiram novos colonatos judeus. A partir da década de 70, houve uma certa aproximação entre Israel e os países árabes (acordos de Camp David) e somente na década de 90 tiveram início negociações entre a OLP de Arafat para criação do Estado Palestino nos territórios ocupados.

A verdade é que estamos em 2023 e a situação piorou, é trágica, notando-se a ambição desmedida do regime de Israel.

A violação dos direitos humanos nos territórios ocupados do Estado palestiniano é assustadora, hedionda, os donos da terra são prisioneiros de Israel, sendo a Faixa de Gaza, um pequeno espaço de terra com 40 quilómetros de comprimento e 10 de largura, conhecida como uma prisão a céu aberto, bombardeada de forma criminosa e planeada.

Enquanto ser humano defendo de forma intransigente o direito do povo palestiniano à defesa da sua justa luta, a construção de um Estado soberano, livre e independente.

Cavaco Silva e as suas teses sobre a Arte de Ser Primeiro-Ministro

Aníbal Cavaco Silva, que foi primeiro-ministro dos X, XI e XII Governos Constitucionais e Presidente da República durante 2 mandatos lançou, no corrente ano de 2023, um livro com várias partes cuja primeira parte – O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar, tem o título do livro e compreende os seguintes pontos; as competências do Primeiro-Ministro, a escolha dos ministros, a Presidência do Conselho de Ministros, as reuniões com os ministros, a avaliação dos ministros, as remodelações ministeriais, o Primeiro-Ministro e a União Europeia, a palavra pública e a atitude do Primeiro-Ministro, o relacionamento do Primeiro-Ministro com o Presidente da República, o Governo de coligação.

A publicação do livro, como se percebe aliás pela consulta dos textos que integram as restantes partes, visa fazer um contraponto com a “falta de arte” do actual Primeiro-Ministro António Costa que igualmente se encaminha para os dez anos de Governo. O texto da primeira parte invoca expressamente a Constituição da República Portuguesa anotada por Vital Moreira e Gomes Canotilho e há uma referência ao funcionamento do Governo de Francisco de Sá Carneiro, em que Cavaco participou como Ministro das Finanças e do Plano, e às orientações na altura estabelecidas pelo então Primeiro-Ministro.

No tempo em que Cavaco Silva foi Primeiro-Ministro era nítido que seguia um conjunto de orientações sobre a forma de governar, que não terão sido totalmente explicitadas na altura. Esta sua apresentação atribui um papel central à definição da estrutura do governo, que ele vê como uma prerrogativa do Primeiro-Ministro (mesmo se o Governo for de coligação e o parceiro minoritário deve ser ouvido sobre essa estrutura mas m não lhe é reconhecido o direito de a negociar). Também a escolha e avaliação dos ministros, de que o Primeiro-Ministro é o único responsável (ainda que num Governo de coligação os nomes do partido minoritário possam ser propostos por esse partido) assume um papel central na visão do autor

Algumas das orientações defendidas por Cavaco Silva no seu livro reflectem consensos estabilizados desde o Governo de Sá Carneiro. É o caso do estatuto dos Secretários de Estado que Cavaco Silva entende que deverão ser propostos pelos Ministros mas aceites pelo Primeiro-Ministro. Tendo tido competências próprias durante o Estado Novo, durante os Governos Provisórios e durante os primeiros Governos Constitucionais (excepto numa experiência restrita ao Ministério da Indústria) passaram a ter unicamente competências delegadas a partir do VI Governo Constitucional (Sá Carneiro). Cavaco Silva (e aliás todos os seus sucessores) manteria esta orientação e passou ´para o grande público como, tendo o Secretário de Estado da Defesa de um dos seus Governos, Eugénio Ramos(i), questionado este entendimento, lhe foi respondido serem os Secretários de Estado meros “ajudantes” dos Ministros. No livro, Cavaco Silva contraria aliás a tendência para que os Ministros se façam substituir em Conselho por Secretários de Estado. Recordo entretanto que ficou conhecido que, quando substituía um Ministro, Cavaco não deixava a seguir de lhe oferecer um almoço.

Julgo que será útil evocar o processo de formação dos Governos de Cavaco Silva para ir verificando até que ponto a sua prática como Primeiro-Ministro reflectiu o pensamento exposto por este, agora, autor.

O I Governo Cavaco Silva forma-se a seguir às eleições de 1985, provocadas pela ruptura do Bloco Central subsequente à sua eleição como Presidente do PSD no Congresso da Figueira da Foz. Mário Soares convicto de que no ano seguinte lhe será fácil suceder a Eanes na Presidência da República, lança Almeida Santos como “candidato a Primeiro-Ministro” com o slogan inepto “só faltam 7% !”(ii). A votação do PS cai para mínimos históricos, já que muitos eleitores se deslocam para o PRD patrocinado por Eanes, presidente cessante, e Mário Soares só consegue no ano seguinte ser eleito Presidente da República à segunda volta.

Neste contexto o PSD, já liderado por Cavaco Silva obtém 30% ou seja, aparentemente um resultado insuficiente para governar, sendo que mesmo junto ao CDS não constituiria maioria parlamentar(iii). No entanto Cavaco Silva aceita formar governo sozinho num movimento que qualifiquei na altura, para um círculo restrito de amigos e conhecidos, como “a estratégia leninista do Professor Cavaco Silva”, ou seja, alcançar o poder partindo de uma base minoritária, e pôr em prática medidas que ampliassem o apoio ao poder constituído.

Em Portugal nesta época não havia oportunidade nesta época para reproduzir algo de força equivalente aos Decretos sobre a Terra e sobre a Paz adoptados pelo poder soviético após a Revolução Socialista de Outubro de 1917 mas, quem estivesse atento aos primeiros tempos de governação de Cavaco Silva teve a possibilidade de identificar alguns desenvolvimentos inesperados, tanto em relação à estrutura do Governo como em relação à sua composição.

Quanto à estrutura do Governo:

  • foi dado um sinal fortíssimo em relação à Administração Pública: a estrutura da Secretaria de Estado / Ministério da Reforma Administrativa, que crescera entre 1974 e 1985 a partir da criação e cisão de sucessivos organismos, a ponto de instituir uma situação de tri-tutela das decisões, era fundida numa única Direcção-Geral da Administração Publica “arrumada” no Ministério das Finanças, passando a criar-se para a preparação de políticas um Secretariado da Modernização Administrativa, com uma estrutura ligeira e coordenado por uma Directora diretamente dependente do Primeiro – Ministro(iv), de certa forma evocando o que seria o projecto inicial do Secretariado da Reforma Administrativa criado em 1967;
  • foi posto fim ao modelo de centralização das obras públicas num único Ministério que vigorava desde 1941 e fazia com que este se preocupasse predominantemente com a carga de trabalho assegurada aos empreiteiros do sector, em detrimento da satisfação das “encomendas” dos outros Ministérios, sendo que na Educação e na Saúde já tinha havido necessidade de criação de serviços próprios; esta medida levou as estruturas associativas dos empreiteiros a seguirem com apreensão os trabalhos parlamentares relativos ao Orçamento do Estado seguinte(v);
  • foi criado um Ministério do Planeamento e Administração do Território, que numa primeira fase incluiu a Secretaria de Estado do Ambiente, mais tarde autonomizada em Ministério, estruturado em ordem a poder ser um interlocutor das estruturas da CEE à qual Portugal tinha aderido por Tratado assinado no ano anterior(vi).

e, também, verificou-se que Cavaco Silva procurara aproveitar para o Governo um certo número de social-democratas mais jovens que no Congresso da Figueira da Foz tinham estado próximos do sector derrotado.

Os desenvolvimentos poderão estar hoje um pouco esquecidos. Lembro-me de o candidato presidencial Salgado Zenha ter reconhecido que o governo de Cavaco Silva estaria a governar bem, de, no primeiro Orçamento que apresentou, o Primeiro-Ministro ter protestado por, alegadamente, ele ter sido desvirtuado pelo Parlamento (o protesto terá sido um pouco exagerado, e de qualquer forma a Constituição e a Lei de Enquadramento do Orçamento do Estado não obrigam o Parlamento a respeitar o défice implícito na Proposta de Lei). E lembro-me de que o Governo caiu por força da aprovação de uma moção de censura apresentada pelo PRD sob um pretexto mínimo, tendo sido seguidamente convocadas eleições que deram uma maioria absoluta ao PSD. Retirou-se daqui, talvez apressadamente a conclusão de que as oposições seriam penalizadas sempre que derrubassem um Governo. Quanto à maioria absoluta seguinte, Cavaco Silva imputa-a ao bom trabalho do seu segundo Governo(vii).

Há aqui todavia um factor de ordem constitucional a considerar. Se a figura da moção de censura construtiva da Constituição da RFA tivesse sido transposta para a constituição portuguesa como o foi para a espanhola, Cavaco Silva e o seu governo minoritário de 30 % poderiam ter sido substituídos por meio de uma moção de censura vinculada a um candidato a primeiro-ministro, não sendo de excluir que na altura PS e PRD pudessem ter encontrado uma solução.

Em rigor o Presidente da República Mário Soares poderia ter deixado o Parlamento encontrar essa solução, mas aproveitou a oportunidade para tentar liquidar o eanismo e o seu partido. Três anos depois – amor com amor se paga – o PSD viabilizaria uma sua reeleição sem dificuldades. No entanto o eleitorado do PRD parece ter preferido aproximar-se de Cavaco Silva, e o próprio Eanes haveria de o apoiar para Presidente da República. Reconheça-se que Cavaco Silva sempre foi mais popular do que o seu partido.

Seria importante averiguar se a Arte de Governar (ou de ser Primeiro-Ministro) foi consistentemente aplicada por Cavaco Silva durante os seus três Governos. Eu diria que os princípios apresentados foram em geral observados e a sua aplicação foi reforçada com cautelas não explícitas na obra mas houve alturas em que uns tiveram de ser sacrificados para salvaguardar outros.

Por exemplo: é de elementar bom senso que em caso de conflito entre secretários de Estado e o seu ministro se reforce a autoridade deste último e António Costa já teve aliás ocasião de o fazer. Mas Cavaco Silva foi mais longe: salvo em dois casos, nunca nomeou um secretário de Estado de uma dada pasta como Ministro dessa mesma pasta. Seria incentivar o “Ministricídio”…. E num caso em que se previa que o Secretário de Estado nomeado – Durão Barroso – iria substituir o Ministro – João de Deus Pinheiro – quando este fosse nomeado Comissário Europeu, as coisas terão corrido efectivamente mal – há quem não saiba esperar. João de Deus Pinheiro foi desagravado através de um acto em que participaram os Directores – Gerais do Ministério e algumas figuras políticas relevantes, como Eurico de Melo. Quando ascendeu a Ministro, Durão Barroso terá dado 15 minutos a dois destes Directores-Gerais para se demitirem. O outro caso foi o do Secretário de Estado Arlindo Cunha que teve de substituir o Ministro da Agricultura Álvaro Barreto quando este foi inesperadamente afastado pelo Primeiro-Ministro, ao que parece por ter dado uma entrevista sobre questões de política geral, em que várias vezes cometeu um crime de “lesa-Cavaco”, dizendo “se eu fosse primeiro-ministro”. Talvez seja este um exemplo de demissão por “deslealdade.”

Um caso de substituição de Ministro que as avaliações terão tornado inevitável foi a do “adiantado mental” Jorge Braga de Macedo, que seria substituído não por Manuela Ferreira Leite, pessoalmente próxima de Cavaco Silva, mas que era na altura Secretária de Estado do Orçamento (e depois da substituição do Ministro foi parar a Ministra da Educação) mas por outra pessoa pessoalmente próxima do primeiro-ministro, Eduardo Catroga, que não sei se não terá sido seu condiscípulo no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Aliás só pela badana do livro me apercebi de que o macroeconomista Cavaco Silva, doutorado em Economia por York, se tinha licenciado pelo ISCEF em Finanças, curso que na altura, creio, já corresponderia a Gestão de Empresas.

Em geral, subscrevo o que o autor defende, pensando talvez em António Costa:

O que o Primeiro-Ministro não pode fazer é criticar o trabalho de um seu ministro em frente de quem quer que seja” .

A memória, todavia é uma coisa aborrecida: encontrava-me em funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros talvez em 1988(viii) quando o Ministro João de Deus Pinheiro entendeu pronunciar-se sobre um qualquer aspecto de política que sinceramente não tenho presente. O Primeiro-Ministro não terá gostado e numa entrevista realizada dias depois o entrevistador pergunta-lhe o que pensa sobre as afirmações de João de Deus Pinheiro.

Cavaco Silva sai-se com uma frase deste género:

“O Professor João de Deus Pinheiro não é membro da Comissão Política do PSD e certamente não se terá pronunciado sobre esse assunto”.

Até aqui tudo bem. Só que o Primeiro-Ministro deu ordens ao Ministério para que a sua entrevista fosse enviada para todos os postos diplomáticos e consulares, menorizando a autoridade política do Ministro junto da “Carreira”.

Para não falar da não-delimitação entre o que é do Estado e o que é do Partido, princípio de que Cavaco Silva na sua Arte de Governar, se faz, e bem defensor.

Tal como Álvaro Barreto, João de Deus Pinheiro já existia politicamente antes do “Cavaquismo”, tendo sido ao que parece o primeiro dos ministros da anterior “situação” do PSD a aderir ao novo Presidente do Partido. Estes incidentes não abonam a favor de Cavaco Silva e julgo que em certa medida minam a sua autoridade para dar conselhos sobre a Arte de Governar.

Mas saúde-se o vigor intelectual que Cavaco evidencia aos 84 anos.

 

Notas

(i) Um excelente quadro, tanto quanto me chegou.

(ii) Como as maiorias absolutas se alcançavam com 43 % e em 1983 o PS alcançara 36 % e Mário Soares tinha excluído que o PS voltasse a governar sozinho, o partido apontava para uma maioria absoluta.

(iii) O CDS, dirigido por Lucas Pires, atingiria apenas 10 % dos votos com uma campanha eleitoral defensora do liberalismo económico, não exactamente sintonizada com a do PSD.

(iv) Isabel Corte-Real, mais tarde elevada a Secretária de Estado.

(v) E contudo Cavaco Silva havia tido o apoio no Congresso da Figueira da Foz do “PSD dos interesses”, designadamente do ex-Secretário de Estado das Obras Públicas, Eugénio Nobre.

(vi) Com reservas de Cavaco Silva que não integrava o Governo à data em que este foi assinado.

(vii) Estou a basear-me em outras partes do livro e não na lição sobre a arte de governar.

(viii) Fui Director de Serviços de Administração Financeira do Ministério dos Negócios Estrangeiros entre Junho de 1986 e Outubro de 1988,

A conspiração, os loucos e os holocaustos!

Estava o mundo centrado na guerra da Ucrânia invadida pela Rússia que era suposto durar meia dúzia de dias e os invasores seriam recebidos com beijos e abraços com a imprensa a fazer uma cobertura exaustiva das cidades arrasadas, porque os abraços afinal deram numa resistência militar à altura apoiada pelos Estados Unidos e União Europeia, que se tornaram em cidades fantasma, a fuga em massa das populações para fora do País e a guerra dos Drones em primeiro plano mais as mil e uma maneiras que Russos e Ucranianos conseguiram para que a fome alastre por falta de cereais e a Ocidente a inflação torne a vida dos cidadãos num autentico inferno com o Fundo Monetário Internacional a dar uma ajuda de relevo cada vez que sobe as taxas de juro com impacto direto nas taxas de inflação nacionais nos diversos países.

A contra ofensiva bastamente difundida, da Ucrânia enfunada em velas sem vento e que por isso não correu como o previsto que seria a reconquista até à Crimeia, porque o poder militar Russo apoiado pelo Irão e a Coreia do Norte através do fornecimento massivo de armamento, sobejamente conhecido mesmo que não anunciado e, eis que, o Hamas , com o apoio financeiro e de armamento do Irão e dos Russos, ataca Israel, matando indiscriminadamente cidadãos civis e fazendo reféns, de parapente, sobrevoando um evento cultural (festival de em curso próximo da fronteira de Israel com o Irão e os seus seguidores disparando sobre os jovens que assistiam ao citado festival de musica matando quase três centenas de jovens enquanto que de bases militares disparavam cerca de cinco mil roquetes sobre Israel matando indiscriminadamente crianças, mães e pais que mal tiveram tempo para se aperceber do que estava a acontecer e que por isso pereceram.

No entretanto, a comunicação social e o poder politico em geral, esqueceram se da Ucrânia onde continuam os combates fratricidas, calando a revolta internacional contra a Rússia e o seu chefe, Putin, que premeditadamente já vinha conjuntamente com o Irão a reunir com o Hamas para que o foco da guerra se deslocasse para uma área geográfica da sua alçada de influência.

Em suma: as oligarquias, instaladas no poder seja ele, ateu; agnóstico; religioso ou outro; não olham a meios para atingir os fins. A loucura que já foi suicida mas que agora é meramente assassina.

A pior crise de sempre no mundo já não é a das alterações climáticas por influência da necessidade Humana em sobreviver sem estudar os impactos a jusante com a escassez das matérias primas; impermeabilização dos solos; deslocação dos canais dos ventos; o degelo e outros.

A pior crise Humanitária está na ascensão ao poder politico de mentecaptos que manipulam as bases sociais de apoio, compram a influencia, e mandam matar seja quem for desde que os afrontem.

As problemáticas sócio políticas na Ucrânia no Líbano e em outros Países onde as cinzas ainda testemunham os holocaustos do Vietname; da Europa; do Irão; Iraque; Síria; Afeganistão; Líbano e outros, mostram o que de pior o Ser Humano tem sempre que se deixa manipular por homens pequenos.

O dia seguinte

Yigal Carmon – presidente do melhor grupo de reflexão sobre o Jihadismo, o MEMRI, e antigo dirigente da Mossad – tem alguma razão quando nos diz que a lógica genocidária do Hamas se aproxima mais da dos Nazis do que da de outros grupos jihadistas, como o do Califado.

No ataque de 3 de agosto de 2014 à cidade maioritariamente Yazidi de Sinjar, no Curdistão iraquiano, o Califado executou todos os homens adultos e jovens e todas as mulheres julgadas sem valor de mercado, capturou os rapazes para os transformar em monstros assassinos e escravizou as restantes mulheres e meninas, algumas para uso pessoal, muitas vendidas como gado um pouco por todo o lado.

No ataque de 7 de outubro, o Hamas foi mais longe, e para além da estimada centena e meia que tomou como reféns, assassinou indiscriminadamente tudo e todos, profanou e exibiu corpos de jovens mulheres como troféu de caça e nem os bebés poupou, assassinando-os barbaramente, agindo aqui na lógica de racismo extremo dos Nazis.

As imagens das atrocidades conhecidas resultam na generalidade da propaganda do Hamas, que as utilizou para mobilizar as suas hostes (o que deveria ser mais do que suficiente para entender a natureza do movimento), dado que as forças israelitas resolveram não divulgar as imagens das vítimas por respeito para com elas, opção que levou Yigal Carmon a constituir um repositório de imagens da matança que não permita que se esqueça a verdade.

Na realidade, uma fuga de informação fotográfica do regime sírio que permitiu expor dezenas de milhares de imagens de torturas a e assassínios dos seus opositores numa exposição realizada em Paris realizada em 2014, contemporânea de resto aos múltiplos relatos do genocídio cometido pelo Califado (visitei Sinjar  no Natal de 2009 e voltei à região, cinco anos mais tarde, com a cidade ainda ocupada pelos jihadistas, tendo recolhido numerosos testemunhos presenciais dos crimes), está praticamente esquecida, apesar de ninguém contestar seriamente a sua autenticidade, não faltando quem reclame a reintegração do regime sírio no concerto das Nações.

A realidade é que não há provas ou documentos que possam combater a vontade de ter memória curta, nem há factos por mais claros e óbvios que sejam que possam servir de antídoto à cegueira ideológica baseada na crença na ficção e na mentira.

A utilização dos civis palestinianos como escudo é recorrente em toda a estratégia militar do Hamas, e tornou-se evidente de novo na actual guerra. Quando as forças de Israel avisam que vão atacar a Norte e apelam aos civis para ir para Sul, o Hamas ordena aos civis que fiquem e faz mesmo barragens nas estradas para evitar a sua fuga.

E pior, faz pressão em todo o mundo árabe para que não sejam abertos corredores humanitários de civis, e isto é particularmente assim com o Egipto, a quem tacitamente ameaça de terrorismo se este país aceder ao apelo da comunidade internacional para abrir corredores humanitários a civis para o Egipto, país que tem fronteira com Gaza.

Para o sucesso desta táctica é essencial a quinta coluna no Ocidente que acusa Israel pela morte dos civis palestinianos em vez de reconhecer que elas são vítimas do seu uso como escudo pelo Hamas, quinta coluna que actua por ignorância, falta de senso ou má-fé.

Israel tem com Gaza o cuidado que ninguém teve em guerras semelhantes. Acaso alguém cuidou dos civis de Mossul quando se fez a erradicação do Califado dessa cidade (cidade que tinha mais população do que Gaza)?

Quantas dezenas de milhares de civis inocentes terão perecido na conquista de Mossul ao Califado? Ninguém sabe nem ninguém se mostrou sequer interessado em saber, mas é fácil de imaginar o que terá acontecido numa cidade que contava com milhões de habitantes e que foi totalmente arrasada sem que fossem tomadas todas as medidas necessárias de protecção dos civis.

A verdade é que essas vítimas – na esmagadora maioria árabes – não interessam, porque não era possível acusar Israel de ser responsável, e a única razão porque se dá atenção agora aos civis de Gaza é para culpar Israel. De resto, ninguém quer saber das vítimas inocentes de Gaza como não quis saber das de Mossul.

A estratégia do Hamas é clara: provocar o maior número possível de mortos entre a sua população civil, culpar Israel pela carnificina e pressionar para uma nova trégua que lhe permita voltar ao ataque de forma ainda mais mortífera que o que fez agora.

Nesta guerra, o Hamas fez do festival de música jovem pela paz e os Kibutz os seus alvos preferidos, tendo provocado aí a maioria do mais de um milhar de vítimas israelitas.

Os Kibutz são a única sobrevivência ideológica do que foram os Kolkozes soviéticos, nos quais se inspiraram, e tanto estes como os participantes no festival de música vêm da mesma franja social do que é o eleitorado natural da esquerda, mais propensa a ceder para fazer a paz, a ver os seus erros como mais importantes do que os dos outros.

A forma como o massacre destes jovens e destas famílias foi normalizado por formações políticas que pretendem estar à esquerda diz tudo sobre a sua completa deriva ideológica.

No dia seguinte ao massacre do Shemini Atzeret é impossível continuar a pactuar com quem faz frente com o Nazismo dos nossos dias que é o fanatismo jihadista, materializado aqui no Hamas.

Confrontos no campo da mobilidade eléctrica

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Na sequela de um Salão Automóvel de Munique onde primaram os construtores do Império do Meio e numa conjuntura em que a indústria parece cada vez mais posta em causa e em que os carros já não serão vistos como o melhor meio de transporte, surgiu a notícia que a Comissão Europeia vai abrir investigação sobre subvenções para carros elétricos chineses.

É verdade que os construtores chineses parecem cada vez mais apostados em vingar na velha Europa, mas para já têm-se limitado a mimetizar a estratégia dos seus congéneres europeus; a chinesa BYD, recentemente chegada à Europa apenas com modelos de gama média e alta, comercializa um carro na China por cerca de 10.000€ com uma autonomia anunciada superior a 200 quilómetros. A BYD, o segundo maior construtor de veículos elétricos do mundo (só ultrapassado por uma Tesla em situação cada vez mais contestada), é um verdadeiro gigante industrial e um dos líderes mundiais na fabricação de baterias e não está sozinha, pois existem mais três grupos, Wuling (veículos comerciais), Geely (donos da Volvo, da Polestar, da Proton e da Lotus) e SAIC (proprietária da MG e com acordos de produção com a norte-americana General Motors e a alemã Volkswagen) entre os dez maiores fabricantes mundiais de veículos eléctricos.

Perante uma concorrência deste peso, a indústria automóvel europeia seguiu as directivas comunitárias que ela própria influenciou, orientando-se para automóveis mais pesados, mais rápidos e mais caros (inacessíveis para a maioria dos consumidores da Europa do sul), precisamente numa altura em que o imperativo de reduzir as emissões de CO2 deveria ter exigido automóveis mais leves, menos potentes e mais acessíveis, e aumentou o preço dos seus produtos. Os fabricantes têm optado por veículos cada vez mais tecnológicos (parcialmente obrigados ou ajudados por normas de segurança, como a NCAP, que até para viaturas puramente citadinas privilegia gadgets de duvidosa ou nula utilidade como o sistema de aviso de transposição da via), pesados ​​e potentes, uma opção que lhes oferece a perspectiva de margens mais generosas, mas é contranatura (a evolução do sector automóvel sempre se baseou na redução do peso e na eficiência motriz) e ecologicamente contraditória, para não falar no escancarar de oportunidade de penetração aos construtores chineses que representa o completo desprezo pelo segmento dos pequenos carros eléctricos, onde um único construtor europeu (a romena Dacia, subsidiária do grupo Renault) parece apostar, mesmo depois de decidida a construção do modelo na… China.

Ainda assim e apesar do assinável aumento das vendas de veículos 100% eléctricos (BEV) nos mercados europeus, só em Junho deste ano a venda daquele tipo de viaturas ultrapassou a de carros com motorização diesel, que com uma quota de 15,1%, superou os 13,4% das motorizações diesel.

No cômputo geral, o grande impulso nas vendas de automóveis chineses, que fez disparar os alarmes em Bruxelas, é ainda pouco relevante, até porque permanecem os elevados custos de transporte do produto acabado e o princípio que para se estabelecer na indústria automóvel é preciso produzir localmente (foi precisamente esta a lógica que nas décadas de 1980 e 1990 trouxe para o continente europeu os principais fabricantes japoneses e levou, já neste século, as grandes marcas alemãs, como a Mercedes ou a Volkswagen, a instalarem-se na China); a BYD já anunciou a intenção de abrir uma unidade no continente e países como a França, a Espanha e a Alemanha lutam para receber este grande investimento industrial.

A grande dúvida, a que nem a ameaça legislativa de Bruxelas responde, é a de saber até onde irá a determinação das marcas chinesas em marcar posição na Europa e se isso implicará, ou não, alguma alteração numa estratégia que para já parece replicar a aposta europeia na centragem da electrificação dos modelos dos segmentos mais altos.

Outra questão pouco falada relativamente à abordagem da Comissão Europeia sobre o que esta considera serem práticas comerciais desleais da China, é a visível dualidade de actuação perante o programa norte-americano de subsídios e benefícios fiscais para empresas ligadas à transição energética, conhecido como Inflation Reduction Act que a própria UE viu como potencialmente prejudicial para a sua base industrial, mas que mereceu pouca ou nenhuma reacção digna desse nome, facto que leva a crer que o verdadeiro objectivo da UE será apenas o de agravar as tarifas sobre os veículos chineses.

Um dos receios prontamente apontados ao Inflation Reduction Act norte-americano prende-se com a possibilidade daquela legislação servir para atrair investimento para os EUA, tanto na indústria automóvel, como no mercado emergente das baterias para carros elétricos, resultando na perda de competitividade do espaço europeu, mas a potencial guerra comercial entre a UE e os EUA (como chegou a ser referida por alguns responsáveis europeus) não está a passar de meras declarações ou ameaças de uma UE que receia de sobremaneira uma crescente competição tecnológica entre os países ocidentais, num momento em que a China controla grande parte das cadeias de fornecimento ligadas à extração e refinação de matérias-primas como o lítio ou o níquel, utilizadas para produzir semicondutores e baterias de carros elétricos, pelo que sairia a ganhar de um desentendimento entre dois dos seus principais parceiros comerciais.

Em resumo: o processo de investigação lançado pela UE deverá concluir-se com um agravamento das tarifas aduaneiras sobre as importações de automóveis da China, a indústria automóvel europeia continuará a produzir veículos desajustados às necessidades e às carteiras da maioria dos cidadãos europeus, mas altamente ajustados à manutenção dos lucros dos seus grandes accionistas.

 

Confrontos no campo da mobilidade eléctrica | Parte I

Pedidos de Ajuda em direto

Num País onde são os pivôs dos serviços de notícias tele ou radiodifundidas, vulgo, telejornais ou serviços noticiosos, a pedir publicamente ajuda financeira aos telespectadores ou radio ouvintes para famílias em dificuldades graves, maioritariamente doenças raras, de forma a conseguirem suprir as despesas implícitas desde: tratamento clínico; apoio médico; medicamentoso; ajudas técnicas; acompanhamento; entre outros; dos seus descendentes; ascendentes; ou dos próprios; não só raia o caricato como coloca a nu fragilidades dantescas de um modelo politico; social; civilizacional; e de lacunas graves na educação e na formação porque é demasiado doloroso para uns e de completa indiferença para outros.

Esta conjuntura existencial que se estende pelo País em geral sendo que é nas metrópoles que mais se evidencia não esconde as condições existenciais no interior profundo onde se sobrevive com o que há e que todos sabemos ser muito pouco.

De nada adiantam os discursos inflamados de um quotidiano que espelha uma minoria e omite a maioria só porque parece bem a troco dos votos que asseguram o poder com as mordomias anexas na qualidade de vida e na opulência

Os citados pivôs acompanham os pedidos com reportagens feitas nos locais de onde são originarias as pessoas necessitadas a que juntam testemunhos de familiares, amigos e vizinhos.

Esta pobre evidência, extensiva ao formato noticioso e demais intervenientes com responsabilidades cívicas é fiel na essência e, publicitária no acessório.

Somos um País demasiado pequeno em tudo. Salvo na mediocridade racional da classe dirigente em geral que com lágrimas de crocodilo lava o lixo que vulgarmente varre para debaixo do tapete e disfarça com os sinais exteriores de riqueza de uma minoria bacoca que sempre que abre a boca diz asneira pese a frequência educativas e formativas nos ditos  melhores estabelecimentos de ensino privado e, posteriores licenciaturas pós Bolonha, tão só porque a industria necessitava de quadros médios no tempo e, agora, a manufatura enfrenta dificuldades na angariação de mão de obra e a sociedade corre risco de colapsar nos setores: produtivo; transformação; comercialização; serviços e outros; socorrendo-se da imigração para suprir a parte possível do necessário.

Imigração que deveria tratar com a dignidade devida, até porque não fora os surtos migratórios e toda a Europa estaria de tanga, mas… não trata porque nunca tratou condignamente os mais pobres. Ora, nesta conjuntura de necessidade a estupidez assume liderança mental relegando para segundo plano a implementação de soluções multiculturais de sobrevivência da espécie humana.

Este País que usa a comunicação social para a mendicidade de terceiros paga aos seus profissionais salários escandalosos tendo em linha de conta a realidade económica existente na esteira do neoliberalismo emergente na Europa e caminha a passos largos para o modelo oligárquico já instalado nas estruturas partidárias existentes.

Portugal é um País de costumes brandos, uma das remanescências do modelo político do Estado Novo de entre as várias que ainda se mantem, de que também mantém hábitos e costumes no modelo curricular do ensino, na justiça, no funcionamento dos serviços públicos e outros, que as novas tecnologias vão vencendo com demasiada lentidão uma vez que as transições geracionais não tem trazido nada de novo nas dinâmicas civilizacionais com a racionalidades e o equilíbrio que o futuro exige e a sobrevivência reclama.

Convenhamos que a seriedade intelectual obriga a uma análise retrospetiva, mas também introspetiva.

É um facto de que por condição da mudança do modo de vida nómada para sedentária as tribos tiveram de se ajustar a uma nova organização social e, nessa senda, todo o processo evolutivo é sequente a necessidades básicas desde o paleolítico passando pelo neolítico, as revoluções agrarias e posteriormente a industrial, até à contemporaneidade das nanotecnologias que permitem sonhar com um mundo novo, mas que as classes dirigentes teimam em travar e, se possível, reverter.

As evidencias são a condição de pedintes em que nos querem colocar e as guerras fratricidas em que mergulharam o mundo.

Os direitos, liberdades e garantias, prometidos por vanguardistas da Europa Social, passam para as calendas da História num tempo em que os restantes Continentes não fazem a mínima ideia do que quer que esse modelo de organização politica, económica e social, seja!

“Boleiros” é um filme que fala daqueles que vivem do futebol

Boleiros é um filme que fala de vidas ligadas ao futebol: o jogador, o técnico, o juiz, o empresário de atletas, as esposas, os torcedores, além dos saudosistas e dos amantes desta arte.

Num típico boteco paulistano, decorado com fotos de jogadores, seis amigos, profissionais e ex-profissionais do futebol, costumam manter longos papos e recordar velhos tempos. Cada observação remete a um folclore. Papo de bar. Casos pitorescos, lances e vinhetas ilustram a conversa.

Histórias de juízes vendidos, sagas de jornalistas esportivos, do negócio que são as escolinhas de futebol, de transações milionárias da década de 1990 e de torcedores fanáticos, entre outras, mostram com humor e nostalgia o universo particular do futebol.

O filme marca uma época em que o futebol assistiu a um processo de espetacularização. Mesmo que no campo sociocultural este esporte sempre representou um espetáculo, na década de 1990 houve uma explosão de comércio de bons jogadores, fabricação de celebridades do futebol, associação destes a grandes marcas, salários estratosféricos, enfim, um esgotamento comercial e midiático dos times e dos jogadores.

Este glamour não atingiu, entretanto, futebolistas de clubes menores, que representam mais de 90% dos profissionais, que ralam por baixos salários e vivem em grandes dificuldades.

A maioria dos meninos que ingressam nas divisões de base não alcança o profissionalismo. E, para os que o alcançam, a carreira tende a ser curta, pelo menos para os jogadores. Curtas e intensas, daí a abstinência que abala muitos antigos esportistas.

O que o filme não diz é que, como a maioria das profissões, os futebolistas também têm representação sindical para defender suas reivindicações.

No Brasil, o primeiro sindicato dos jogadores de futebol foi criado em 30 de junho de 1939, no Rio de Janeiro. Atualmente, as mulheres também têm ascendido à realização da profissão de futebolista em categoria exclusiva ao seu gênero.

A alegria de Boleiros, é que ele pode se deleitar na certeza de que nada disso ofusca o brilho do esporte. Em sua lógica própria o futebol tem demonstrado que é, do “verbo ser”, sonho e arte.

Boleiros, Era Uma Vez o Futebol

Brasil, 1998

Direção: Ugo Giorgetti

Elenco: Rogério Cardoso, Adriano Stuart, Flávio Migliaccio, Lima Duarte, Otávio Augusto, Cassio Gabus Mendes, Marisa Orth, Denise Fraga, João Acaiabe, André Abujamra, Elias Andreato


Texto em português do Brasil

Dia do Professor: é preciso refletir sobre o trabalho docente no Brasil

Depois de seis anos de completo abandono, os 2,5 milhões de professores brasileiros, 2,2 milhões somente no ensino básico, sentem a necessidade de valorização profissional e respeito à sua atividade essencial para que o país volte a crescer com combate às desigualdades.

E tudo começa pela criação de uma Política Nacional de Valorização dos Profissionais da Educação que contemple a todas e todos. Porque os profissionais dessa área vital ganham salários baixíssimos e as escolas estão desestruturadas.

No estado mais rico da Nação, São Paulo, as escolas da rede oficial de ensino público estão abandonadas pelo governo estadual. Os salários são aviltantes, não temos plano de carreira e sofremos assédio moral cotidianamente.

Então para termos o que comemorar no Dia do Professor, neste 15 de outubro de 2023, precisamos nos unir cada vez mais para dar um basta à gestão autoritária que persegue e adoece os profissionais da educação.

Precisamos ser respeitados e receber os salários de acordo com a nossa função e responsabilidade, precisamos ter perspectivas de um plano de carreira decente, que nos contemple com formação continuada e precisamos que as escolas tenham todos os componentes necessários para um  bom desenvolvimento da atividade de ensinar e aprender com liberdade.

Para isso tudo, precisamos de um concurso público com ao menos 100 mil vagas para não termos mais os ditos “temporários” por anos a fio, que trabalham sem a maioria dos direitos trabalhistas. Precisamos de mais professoras e professores efetivos com condições de trabalho decente e salários dignos.

É preciso entender que sem professoras e professores não há escola de qualidade. Porque máquinas não socializam o conhecimento. Máquinas não entendem os problemas dos alunos e máquinas não solucionam acontecimentos imprevistos, máquinas não amam.

Por uma vida digna vamos todas e todos os profissionais da educação para o Ato do dia 20 (sexta-feira), às 17h, na Praça da República, na capital paulista, onde o ocorrerá o Grito pela Educação Pública de Qualidade no Estado de São Paulo.


Texto em português do Brasil