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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Quantos vinténs de nada?

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Enche-me de tédio a algibeira do sonho. Acordo e desacordo sem o sacerdote, é chagada a hora do beijo sórdido no pranto dos cantos.

Tantas vezes querendo pensar descubro-me na solidão de todos os resquícios que a viagem dos climas me caria transformando-me num campestre de cidades inculcadas nas veias vorazes com a cor ardente da sua própria cor, talvez eu mesmo desconheça que sentido faz haver cor nas veias, faz-me e obriga-me a pensar,

“quantos vinténs de nada?”

todos os dias caminho pelas estradas que nem sequer se existem, debruço-me sobre todos os percalços nela estancados e do vento o tempo que sobre ele navega, talvez possam existir subterfúgios como naufrágios engolidos pelos silêncios e a caminha frutífera, essa gosma de ânsias que se albergam devagar e tão lentamente na minha cabeça fazem viver e reviver todos os sonhos do que vejo.

A aziaga dos meus bolsos com os burburinhos do vento é sentir paz, a sede de degraus ou fome de sonos, uma viagem infiltrada nos cadafalsos dos ditos e mexericos sobre o meu recreio de infância ainda. Lagos parados ao som de todos os vinténs que me consolem, o ruído desaparecido enquanto me esqueço de ouvir, é uma audácia acredito conseguir ser capaz de tanta impetulância, tanta caminhada e mais ainda pela frente, as areias soletram os meus passos a cada instante, tudo é nada na verdade, acredita, somos o fim quando a altura de o sermos efectivamente nos chamar sem chamamento nenhum sabemos, vamos apenas e pronto.

“quantos vinténs de nada?”

Sabores na terra onde a quiçângua degola o prazer que se acostuma de nós, o degelo do alimento nas mãos que esfregam e raspam o prato qual coisa, a panela da minha tia fervilha ainda os vapores do último pirão lânguido e brilhante que jorra a fantasia de querer-se crescer mais depressa ainda. Degusta-te então. Sabe-te de ti. Isola a tua ânsia que fermenta náuseas nesta janela de fumos que apenas escurecem dia após chaminés flatulentas rebentarem o último suspiro dos santos.

Quantas vezes preferi a relva solitária daquela alameda nunca minha nem na minha cabeça um sonho para mim correr em direcção ao sonho que seria sempre o desespero, o betão dos astros das minhas mais desejadas fantasias quando pensava num futuro sei quantas vezes nada, tudo se esmurrava naquele muro que era muro nenhum, existia apenas na cabeça que me estiolava os passos numa jaula sem passarinhos, apenas eu.


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