Uma das canções era “The Fat Man”, que virou alcunha do cantor
Estreias da semana: A Juventude
A Juventude
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Na sequência final de A Juventude, a diva sul-coreana Sumi Jo interpreta com brio a sinfonia Simple Song, da autoria do maestro Fred Ballinger, evoluindo num crescendo até à apoteose final num forte vibratto que termina num final silencioso a coincidir com a entrada dos créditos finais, como que a aguardar pelo aplauso do público. De resto, foi mesmo isso que sucedeu no passado festival de Cannes, onde o filme foi exibido em competição e recebido por muitos como um momento de êxtase, embora entrecortado também por alguns apupos, onde de resto nos integrámos, satisfeitos por perceber que essa ovação não era totalmente unânime e até algo indiferente aos valores morais das personagens.
Paolo Sorrentino sempre foi um realizador extremamente visual, com um estilo cuidado e grandioso até na forma como usa e pensa a câmara, fazendo quase sempre deslizar as personagens como se desfilassem numa passerelle. Jamais duvidámos da sua habilidade de encenador. O problema é que o seu cinema revela demasiada ambição e imodéstia, sobretudo por se revelar algo inepto no desenvolvimento dos guiões. Percebemos isso no muito bem filmado This Must Be The Place/Este é o Meu Lugar, embora com um Sean Penn horroroso a assumir os tiques de uma estrela de rock reformada, mas também no deslumbramento efémero de A Grande Beleza, de 2013, sobre um escritor dandy a reflectir sobre a sua vida, e que viria a ganhar o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, e a limpar os principais Prémios do Cinema Europeu. Tal como no final, para A Juventude, numa nova opção pela língua inglesa, o realizador de 45 anos escolheu um número musical, em que a banda de covers Retrosettes interpreta You Got the Love, dos Florence and the Machine, com um palco giratório que nos vai mostrando o público.
O problema de A Juventude, mas afinal de contas também de Sorrentino, é que esta opção de centrar o filme num conjunto de personagens abastadas a ruminar sobre questões existenciais da vida soa a falso. Entre os inquilinos ocasionais desse spa muito exclusivo nos alpes suíços encontramos então o maestro retirado Fred Ballinger (Michael Caine), a quem um emissário da rainha de Inglaterra vem insistir para que aceda a conduzir a sua sinfonia Simple Song para o Príncipe Guilherme, mas também o seu amigo americano de longa data, o realizador Mick Boyle (Harvey Keitel), a tratar dos seus problemas de próstata enquanto procura engendrar com a sua equipa de argumentistas um final para o seu filme testamentário. Encontramos ainda Lena (Rachel Weisz), filha e secretária do maestro, a recuperar do abandono do marido (filho de Mike) que a trocara por uma bomba sexual, só porque “era melhor na cama”. Paul Dano é um actor americano em repouso para absorver uma nova personagem e insatisfeito por ignorarem os seus melhores trabalhos e apenas o reconhecerem por um filme em que fez de robô.
Teremos ainda o que parece ser um futebolista obeso retirado – alguém falou em Maradona? – com as costas tatuadas e caminha ajudado por uma bengala arrastando uma garrafa de oxigénio; mas também um casal que toma refeições em conjunto sem trocar uma palavra. Haverá ainda a curta cena com a explosiva Jane Fonda, um dos momentos mais intensos do filme, no papel de uma actriz veterana que vem dizer a Mick que tem outras intenções para além do filme que ele está a rodar.
Durante todo o filme somos brindados por imagens carregadas de um enorme rasgo visual e uma estética tão sofisticada, mas que acaba por ficar desgarrada e começar a denotar algum pretensiosismo. Seja como for, o climax ocorre quando a dupla de amigos vê chegar o magnífico corpo nu da Miss Universo à piscina aquecida onde repousavam. Um tão grande choque de extremos que não deixa uma só alma que seja indiferente.
Sorrentino encara o cinema como se de uma ópera se tratasse, no entanto, com um guião que nunca chega à altura dos cenários e da sua encenação. Por isso mesmo não se escusa de ilustrar os bucólicos prados verdes alpinos numa inspiração de Ballinger a conduzir uma orquestra formada por mugidos de vacas e o barulho dos chocalhos; veremos igualmente um Mick alucinado a ver as suas actrizes como estátuas a declamar “one liners” dos seus filmes. Como se vê, tudo muito discreto, tudo muito simples. Como o tal lokalike de Maradona a dar toques violentos numa bola de ténis ou até um monge em levitação. Sim, claro, paira aqui a herança de Fellini. Mas é o próprio Sorrentino quem coloca na boca de Mick: somos todos figurantes. Na verdade, assim é. Como uma bela estátua, fria, muda e inerte.
Resta-nos apenas aguardar se esta A Juventude fará de novo como A Grande Beleza e arrebatará de novo filme as nomeações mais importantes para os Prémios do Cinema Europeu, em que está nomeada, na cerimónia agendada para este sábado, em Berlim, num evento que iremos acompanhar. O que nos parece é que esta Juventude não é A Grande Beleza que parece.
Nota: A nossa opinião (de * a *****)
Autarcas algarvios ameaçam levar a tribunal o processo de exploração de petróleo e gás
Os autarcas algarvios estão à beira de um ataque de nervos com o processo de exploração de petróleo e gás natural na região. Os 16 presidentes de câmara assinaram um documento em que criticam o “secretismo” que dizem ter envolvido todo o processo.
Alegam nunca terem sido informados ou consultados numa matéria muito sensível, que pode pôr em causa a estratégia de desenvolvimento da região, “alicerçada, essencialmente, no Turismo, nas suas mais variadas vertentes, potenciação de recursos endógenos e de indústrias não poluentes ou limpas”. Também mostram ter sérias dúvidas em relação à forma como pode ser compatibilizada esta actividade com as regras de protecção ambiental a que estão sujeitas várias partes do território algarvio.
Os presidentes de câmara decidiram, em reunião da Comunidade Intermunicipal do Algarve, ir pedir audiências, com carácter de urgência, aos governantes que têm a tutela deste dossier para obter informação e esclarecimentos. Mas, desde já, vão ameaçando ir recorrer a “todas as formas legais que lhe assistam para travar os processos em curso, com o objectivo de revertê-los”.
Esta posição de força surge na sequência de outras tomadas de posição em diversos órgãos autárquicos, nomeadamente, as assembleias municipais de Olhão, Silves e Vila do Bispo. Também o presidente da Câmara de Aljezur, José Amarelinho, tinha vindo recentemente criticar a assinatura de um contrato para a exploração de petróleo no seu concelho, atribuído a uma empresa de Sousa Cintra, que também ganhou uma concessão na zona de Tavira. As outras concessões até agora atribuídas tinham sido ao largo da costa algarvia.
As preocupações sobre os riscos que este tipo de actividade comporta para o Algarve já tinham levado à constituição da Plataforma Algarve Livre de Petróleo(PALP) que promoveu uma petição, assinada por cerca de sete mil pessoas, a qual está para discussão no Parlamento.
Entre os deputados, o mais preocupado com esta matéria parece ser o eleito do PAN, André Silva, que, no decorrer do debate sobre o programa de Governo, por duas vezes levantou a questão, não tendo recebido uma resposta directa de António Costa sobre que posição pretende tomar sobre a matéria.
Na última campanha eleitoral, as forças políticas que sustentam o actual governo limitaram-se a, nos seus manifestos regionais, manifestar preocupação sobre os riscos que possam advir da exploração de petróleo e gás e a pedir mais informação e diálogo.
Sim, Senhor Jacques Tati
Obra integral de Jacques Tati. Edição de colecionador 6 DVD com os 6 filmes + 7 curtas-metragens
Festival InShadow: Vencedores
Foram divulgados os vencedores do InShadow 2015, 7º Festival Internacional de Vídeo, Performance e Tecnologias, que decorreu entre 26 de Novembro e 6 de Dezembro em Lisboa. Considerada pela organização a edição mais concorrida de sempre, foram 350 candidaturas no género vídeo-dança e documentário, vindas de 26 países, 57 das quais foram seleccionadas para a fase final e 10 premiadas.
Na Competição Vídeo-Dança, o Júri Oficial escolheu OffGround, de Boudewijn Koole, da Holanda, como o Melhor Filme, Melhor Interpretação e Melhor Coreografia. A Menção Honrosa foi repartida ex-aequo para An African Walk In The Land Of China, de Pierre Larauza & Emmanuelle Vicent (dupla belga e francesa) e Little Dreams, de Wilkie Branson, do Reino Unido.
O Júri Escolas elegeu Melhor Realizador Português Joana Rodrigues, por Synchronism. O Melhor Filme Internacional foi para OffGround, de Boudewijn Koole e o (Novo) Melhor Minuto Vídeo-Dança foi atribuído ao holandês Michiel Vaanhold, pela obra Hang On – Carry On. O Júri Público elegeu como Melhor Filme do Público Longing to Fly/Longing to Fall, de Erika Janunger, da Suécia. Já o Júri Vo’Arte escolheu como Melhor Filme Português Deriva, de Aurélio Vasques e Bernardo Sassetti. O Júri Infantil premiou Marina Palácio com o galardão de Melhor Filme de Animação pela obra Raquel Silvestre, a Pastora.
Na competição de documentário, o respectivo Júri premiou Andreas Soderberg & Bjorn Eriksson, da Suécia, pelo documentário The Choreographer Mats Ek. A Menção Honrosa foi atribuída a Hilla Medalia (Israel) por Dancing In Jaffa.
Mourinho despediu Dragões
Quando alguma imprensa inglesa já fala num possível segundo despedimento de José Mourinho do Chelsea, foi o clube londrino que serviu de carrasco ao despedimento do FC Porto da Liga dos Campeões. Como ele próprio afirmou, o técnico do Chelsea não esperava chegar a este jogo com as duas equipas a precisarem de ganhar. O Porto, para desgosto do próprio Mourinho, já podia ter resolvido a coisa antes, para fazer uma tranquila viagem a Londres. Mas como o dragão teve o pássaro na mão e deixou-o fugir, acabaram por ser os “blues” do “special one” a mostrarem a porta de saída aos comandados de Lopetegui, com uma clara vitória por 2-0, que só peca por escassa.
Embora os do Chelsea andem na mó de baixo – já perderam quatro vezes na outrora fortaleza de Stamford Bridge e estão pouco acima da linha de água na Premier League –, bem longe do estatuto de Campeão de Inglaterra em título, a Liga dos Campeões até pode ser uma saída airosa para a desastrosa época que o Chelsea está a fazer. Quanto ao Porto, apenas a 2 pontos da liderança interna, vai prosseguir o seu trajecto externo na Liga Europa. E se na Liga dos Campeões as hipóteses de vencer o troféu eram quase nulas, na prova secundária da UEFA até pode ter uma palavra a dizer.
Quem vai estar bem atento ao sorteio da próxima segunda-feira para os oitavos de final da “Champions” é o Benfica que, já apurado, não foi capaz de contrariar a clara superioridade do Atlético de Madrid, cedendo o primeiro lugar do grupo ao adversário. Na Luz, os madrilenos estiveram sempre melhor, vencendo por 2-1 e deixando o Benfica à mercê dos grandes “Tubarões” da Europa. Mas mesmo que os encarnados evitem os “glutões” será necessário jogar bem mais do que fizeram esta terça-feira. Em Março logo se verá…
Pro Bono: voluntariado jurídico quer chegar a todos os cidadãos
O conceito de voluntariado em Direito tem uma nova expressão no país. A trabalhar já há algum tempo, o Projecto Pro Bono foi apresentado em finais de Novembro na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Esta associação de voluntariado assume como missão “proporcionar apoio jurídico aos mais carenciados, através da colaboração entre instituições de solidariedade social, faculdades, alunos de Direito, advogados e juristas”, pode ler-se no site.
Para saber mais, o TORNADO falou com Joana Marquez, uma das pessoas que fazem parte da Pro Bono, que afirma já ter ajudado mais de uma centena de cidadãos. Joana Marquez revelou que “após uma triagem inicial reencaminhamos os casos para os advogados nossos parceiros, que tratam o caso com todo o empenho e dedicação que colocam na sua actividade profissional. A vantagem de ser ajudado por um aluno de Direito vai desde o contacto com as instituições à muita vontade de ajudar o próximo”.
Os casos estudados são vários: vão desde o Contencioso até dívidas, passando por questões de penhoras e insolvências, Direito da Família (casos envolvendo a regulação do poder paternal, por exemplo), Direitos Humanos (casos de doentes oncológicos ou portadores do HIV/SIDA), Direito Penal (imigração, roubo de identidade ou violência doméstica), Direitos Reais (questões de arrendamento social e hipotecas) e Direito Sucessório (casos de partilhas e de heranças).
A Pro Bono, acrescenta Joana Marquez, tem sido muito bem acolhida: existem cerca de 400 advogados, cerca de 300 alunos e mais de 120 instituições a trabalhar nesta associação. A responsável revela que aceitam qualquer tipo de mediador, “sem necessidade de inclusão nas listas específicas dos tribunais, desde que com formação adequada e sujeito a entrevista pessoal”. Enfatiza que trabalham “com o mais variado tipo de instituições, desde IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), ONG’s (Organizações Não-Governamentais), Santas Casas e mesmo instituições do Estado”. “O importante é que estejam interessadas em trazer até nós casos de pessoas carenciadas com determinados procedimentos prévios de triagem”. A responsável congratula-se por terem advogados parceiros especializados nas mais variadas áreas de Direito, por forma a dar resposta a um grande número de situações. Sublinha ainda que “os advogados voluntários representam os nossos beneficiários em tribunal sempre que o caso assim o exija”.
No que respeita ao mecenato, “ainda estamos um pouco atrasados, tendo só recebido um apoio exemplar da sociedade Vieira de Almeida”, frisando que nas congéneres internacionais da Pro Bono, o apoio vem de quotas anuais das sociedades de advogados, Faculdades de Direito, empresas e até da Segurança Social, “em moldes diferentes do que o sistema de acesso ao Direito”.
Os contactos da Pro Bono são o site e o email direitoprobono.gmail.com
Junior Wells faria hoje 83 anos
Lendário “bluesman” faleceu em 1998
Junior Wells é um nome importante da História dos Blues. Cantor e tocador de harmónica, praticante do estilo “Chicago Blues”, Junior Wells é um lendário “bluesman” que, a par de uma notável (mas pouco reconhecida) carreira a solo, ficou famoso pelas suas colaborações com os grandes“bluesmen” Muddy Waters, Eal Hooker, Otis Rush e Buddy Guy, mas também com Bonnie Raitt, Van Morrison, Carlos Santana e The Rolling Stones, com quem fez uma digressão em 1970. Se fosse vivo – faleceu a 5 de Janeiro de 1998 –, Mr. Junior Wells faria hoje 83 anos.
Amos Wells Blakemore Jr (Junior Well), nascido no estado do Tenesse, mas criado no Arkansas, cedo aprendeu a tocar harmónica com invulgar talento. Aos sete anos de idade, o miúdo Junior já aprendia com os mestres da gaita de beiços, Junior Parker (seu primo) e Sonny Boy Williamson. Em 1948, o jovem Wells mudou-se com a mãe para Chicago e começou a privar e a tocar com músicos locais de blues. Finalmente em 1952 gravou pela primeira vez, como membro da banda de Muddy Waters. Mas um ano depois já Junior Wells liderava a sua própria banda e gravava a o seu primeiro vinyl na State Records.
Estava lançada uma carreira de sucesso de um grande (um dos maiores) tocadores de harmónica, mas também de um excelente cantor de Blues, um inspirado pupilo da velha lendária escola dos “Chicago Blues”. Com uma longa discografia, feita de álbuns de originais mas também de participações com outros artistas, Junior Wells, e a sua forma inconfundível de interpretar os blues, manteve-se em actividade, praticamente, até à hora da sua morte, a 3 Janeiro de 1998.
A década de 80 seria mesmo um dos momentos mais altos da carreira do cantor, sobretudo após a edição do seu excelente álbum “Chiefly Wells” (ver vídeo). Recentemente, foram editadas obras póstumas que mostram a excelência dos blues de Junior Wells. Recomendam-se para os menos avisados sobre a obra do artista, os álbuns “Best Of Junior Wells” (2001) e “Live at Theresa’s 1975”, editado em 2006.
Pixies no primeiro dia de NOS Alive 2016
A banda de culto indie rock, Pixies, é a mais recente confirmação para o festival Nos Alive, que decorre de 7 a 9 de Julho, no Passeio Marítimo de Algés, em Lisboa. No ano em que celebram 30 anos de carreira, a banda conhecida por ter influenciado grupos como os Nirvana, os Radiohead ou os The Strokes, regressa assim a Portugal, depois da passagem, o ano passado, pelo NOS Primavera Sound, no Porto.
Em palco, Frank Black, Joey Santiago, David Lovering e Paz Lenchantin, irão relembrar temas dos seus cinco álbuns de originais, onde não faltaram sucessos como “Here comes your man”, “Debaser”, “Were is my mind” ou “Hey”.
Além dos Pixies, estão já também confirmados para a 10ª edição do NOS Alive, Father John Misty, José González e M83. Os bilhetes já se encontram à venda, nos locais habituais, sendo que o passe de três dias tem um custo de 119 euros e o bilhete diário de 56 euros.
PCP desafia PS e propõe salário mínimo nos 600 euros já em Janeiro
António Costa vai levar à Concertação Social uma proposta de aumento do Salário Mínimo Nacional de 505 para 530 euros, a entrar em vigor em Janeiro.
Os representantes das associações patronais torcem o nariz à medida, por acharem que é muito, preferindo um acréscimo “mais modesto”. Também o PCP, um dos apoios parlamentares do governo socialista, não concorda com a proposta, mas pela razão contrária, por considerar que é muito pouco.
Os comunistas não estão dispostos a contemporizar nesta matéria e já entregaram no Parlamento um projecto de resolução para o aumento imediato do salário mínimo para os 6oo euros, uma meta que o PS só prevê atingir no final da legislatura.
Para o PCP, o aumento para este valor “é imperioso, por razões de justiça social e de uma mais justa distribuição da riqueza, mas também por razões de carácter económico, uma vez que assume especial importância no aumento do poder de compra, na dinamização da economia e do mercado interno”.
O documento, que tem como primeiro subscritor Jerónimo de Sousa, defende que é necessário reequilibrar a distribuição de riqueza, contrariando uma tendência das últimas décadas que fez com que os rendimentos do trabalho representassem, em 2013, apenas 37,8% da riqueza nacional, contra 62,2% dos rendimentos do capital. Lembra também que, em Dezembro de 2006, foi acordado entre o Governo e os parceiros sociais que, em Janeiro de 2011, o salário mínimo nacional deveria estar fixado em 500 euros, o que só acabou por acontecer em 2014.
Em consequência, “Portugal mantém um dos mais baixos salários mínimos nacionais da Europa”, do qual dependem 546 mil trabalhadores.
O PCP rebate a “falsa ideia” de que o aumento para estes valores teria um efeito muito negativo para a competitividade das empresas. É que, contra-argumenta, “as remunerações têm um peso de apenas 18% na estrutura de custos das empresas, muito inferior a um conjunto de outros custos”.
O outro partido que apoia o Governo socialista, o Bloco de Esquerda, mostra-se mais compreensivo para com a estratégia do Partido Socialista. Na sessão parlamentar de hoje , o deputado bloquista José Soeiro veio classificar como muito positivo que o salário mínimo vá subir já para 530 euros e apenas colocou como reivindicação que ele passe para 557 euros em Janeiro de 2017.
Islândia: aderir a uma religião quase desaparecida como protesto
Os islandeses estão a retomar um quase extinto movimento religioso como forma de protesto cívico. Trata-se do Zuísmo, uma religião antiga Suméria, que estava quase esquecida até começar a reconquistar adeptos. De acordo com um artigo do The Guardian, a explicação é simples: os cidadãos islandeses têm que declarar que religião professam na sua declaração anual de impostos, e neste momento, vigora uma lei na Islândia que doa às confissões religiosas registadas parte dos impostos dos cidadãos. Ora, os cidadãos estão descontentes com essa decisão, e o Zuísmo propõe que lhes seja devolvida a quantia dos seus impostos destinada às instituições religiosas islandesas, a chamada “taxa de paróquia”. Esta regra, acrescenta a publicação online Icelandmag, tem sido muito criticada por quem defende uma separação total entre Estado e Religião. Até porque se a pessoa se declarar agnóstica ou ateia, terá de pagar esses impostos como se professasse uma religião.
Existem mais de quarenta religiões registadas oficialmente e que, por essa razão, são elegíveis para receber essa dotação, vinda dos impostos dos islandeses e distribuída através do Orçamento de Estado. A religião oficial, e predominante, do país é a Igreja Evangélica Luterana da Islândia, que é professada por três quartos da população, porém, graças às propostas do Zuísmo, o número de fiéis tem vindo a crescer, ultrapassando já os 3 mil. No site oficial zuísta, pode ler-se que o grupo defende “a liberdade religiosa para todos”. “O principal objectivo da organização é que o governo rejeite qualquer lei que garanta privilégios financeiros ou de outra ordem às organizações religiosas, em detrimento de outras organizações. Para além disso, os zuístas querem que o registo governamental da religião dos cidadãos seja abolido. A organização vai redistribuir o apoio financeiro anual igualmente para todos os membros da congregação”. Ainda de acordo com o The Guardian, a organização assume que deixará de existir quando os seus objectivos forem cumpridos.
O crescimento rápido desta congregação, acrescenta a publicação online islandesa, tem acontecido apesar da cobertura mediática ser negativa. Dois dos seus membros estão sob suspeita por alegados crimes de fraude, que terão sido cometidos através do site de crowdfunding Kickstarter. Além disso, alguns políticos islandeses defendem que o Zuísmo deveria perder o registo oficial como religião, uma vez que não é em si uma prática religiosa. Stefán Bogi Sveinsson, do Partido Progressista islandês, defende essa perda de registo, alegando que “ninguém se registou na organização para praticar o Zuísmo em si”. Um dos porta-vozes da organização, o assumidamente agnóstico Sveinn Thorhallsson, argumenta: “A verdadeira questão é, o que é uma verdadeira organização religiosa e como se mede a crença?”
Artistas a seguir em 2016
O Pandora, um serviço gratuito de rádio online, acaba de publicar a lista dos artistas a seguir em 2016. Ao todo, são 25 nomes do panorama do rock, hip hop, indie ou country, alguns totalmente desconhecidos para o público português, mas que o Pandora acredita virem a ser os grandes fenómenos de popularidade no próximo ano.
Soul
Bryan James Sledge, mais conhecido por BJ the Chicago Kid, é o destaque do Pandora para o soul. Acabado de sair do estúdio com sessões com Kendrick Lamar, Ab-Soul, Schoolboy Q e Kanye West, o músico norte-americano é conhecido pelo single “Pineapple Now-Laters”.
Hip Hop e R&B
No panorama do hip hop e R&B, os destaques do Pandora vão para Post Malone, cantor e compositor recém-lançado que tem apenas dois singles publicados “White Iverson” e “Too Young”. Destaque ainda para Tory Lanez, o rapper canadiano que se deu a conhecer com a colaboração no EP “Cruel Intentions”, com a WeDidIt Records. O seu álbum de estreia sai no próximo ano. Já Bryson Tiller, apesar de ter um género musical próprio, pode ser inserido nesta categoria por combinar estes géneros com um conjunto sexy de ritmos e batidas. O cantor norte-americano lançou em Outubro passado o primeiro álbum, “T R A P S O U L”. Na mesma categoria ficam nomes como o rapper Ty Dolla $ign ou Conrad Sewell, um australiano que cria músicas de R&B para dançar.
Indie R&B
De Brooklyn surge o trio Wet, que cria música hipnótica numa mistura entre o chamado “indie R&B” e o som da electrónica. O grupo foi já falado na Billboard como uma das bandas a conhecer e tem digressão marcada com CHVRCHES. Também Jacob Whitesides é um dos nomes a falar em 2016 depois de ter sido um dos fenómenos do ano no YouTube. O cantor americano passou em Outubro deste ano por Portugal.
Pop
Englobando aqui vários artistas, o Pandora dá destaque a Ruth B, uma verdadeira artista da era digital, que se tornou numa estrela no Vine. Natural do Canadá, a cantora teve um enorme sucesso com o primeiro single, “Lost Boy”, lançado este ano. Também a multi-instrumentalista Daya merece o destaque da rádio online, à semelhança do grupo Rudimental que alcançou já uma série de êxitos no Reino Unido. Alessia Cara, Jess Glynne, Blackbear (projecto de Mathew Musto) e Tor Miller são outros dos artistas individuais focados, assim como o grupo inglês Roam.
Country
No panorama do Country, o destaque vai apenas para dois nomes: Cam e William Michael Morgan. A primeira, de seu nome Camaron Marvel Ochs admite ter influências de nomes como Patsy Cline ou Willie Nelson e o seu primeiro álbum foi lançado em Novembro deste ano. Já William Michael Morgan tem apenas 20 anos mas é um dos nomes a fixar porque parecer que já canta há décadas.
Rock
No Rock, o Pandora dá destaque a nomes como Lawrence Taylor, músico inglês de 22 anos que recorda os grandes nomes do género, como Led Zeppelin ou Bob Dylan. Também a banda Dorothy entra nesta lista, um grupo que se inspira em Nirvana ou AC/DC. The Struts são outro dos nomes a fixar, uma banda inglesa que se designa a si própria “descaradamente acima do topo” e que esteve nos concertos de abertura dos Rolling Stones. Neste grupo entram ainda os Hinds um quarteto feminino de Madrid que recorda os sons psicadélicos dos anos 60.
Electrónica
Por fim, na electrónica, o Pandora refere o produtor ZHU, que fez sucesso ao lançar anonimamente o EP “Faded” em 2014. Na mesma categoria ficam ainda nomes como Gallant, músico que trabalha com ZHU, ou Hermitude, um duo australiano autor do êxito “The Buzz”.
O Pandora foi criado há 15 anos e conta, actualmente, com cerca de 80 milhões de utilizadores activos. O serviço selecciona para cada ouvinte uma estação de rádio com base nas pesquisas e gostos de cada um. Até agora, o serviço está apenas disponível para residentes nos Estados Unidos.
A guerra de todos contra todos

O navio de guerra português D.Francisco de Almeida com mais dois outros da NATO entrou no Bósforo. A defesa da Turquia no Mediterrâneo Oriental com mais navios, aviões e mísseis Patriot tornou-se prioridade da NATO. Sinal contra o Estado Islâmico? Contra a Rússia? Para sossegar a Turquia? De tudo um pouco? Enquanto não tivermos uma grelha de leitura, todos os eventos do Médio Oriente parecerão confusos.
Houve um tempo em que, como diretor do Departamento de Investigação do Instituto da Defesa Nacional, eu seguia os assuntos no Médio Oriente; desses labores é expressão a obra Security in the Mediterrranean, Playing with fire, Amsterdão, 2006.
Desde esses anos, tudo mudou para pior. Mas apesar das informações em catadupa, o panorama do desastre é simples: o fogo alastrou devido à ação dos fundamentalistas e agora estamos perante uma guerra de todos contra todos.
Entre os movimentos fundamentalistas sobressai o Estado Islâmico, Daesh ad-dawla al-islāmiyya notório pelos crimes contra a humanidade, genocídios, autos de fé, destruição de património e massacres no Líbano, África, Europa e EUA. A destruição do Daesh é uma exigência mas que não nos deve fazer abdicar da lucidez.
Se a guerra na Síria fosse empresa por quotas, a maioria das ações caberia aos fundamentalistas islâmicos do Daesh. Mas do remanescente, um terço seria quota dos EUA; outro terço da Rússia e o terço restante dos demais países intervenientes, árabes e ocidentais.
Com a invasão do Iraque em 19 de março de 2003, os EUA de Bush destruíram um Estado sem direitos humanos mas que, ao desaparecer, criou um vácuo com três polos: os curdos de Mossul, os sunitas de Bagdad e as regiões do noroeste. Com o apoio ocidental aos “rebeldes” veio a guerra civil síria. A Rússia de Putin, ao apoiar Bashar Assad em vez de o obrigar a negociar, neutralizando os extremistas, empurrou-o para a brutalidade.
A destabilização da Síria fragmentou um país multisecular, onde conviviam crenças e povos. Grandes cidades foram destruídas dos 4 a 5 milhões de refugiados, muitos acorreram à Europa em 2015 após a Grécia abrir as portas aos que vinham da Turquia.
O regime de Bagdad conta com apoios militares estrangeiros. No terreno, o Hezbollah libanês e o Pasdaran iraniano sustentam o exército governamental. No ar, as forças aéreas dos EUA, França e Inglaterra, e as forças russas, passaram a bombardear o Daesh.
O EI ou Daesh aproveitou todas as oportunidades para criar um estado islâmico. Ninguém o deteve a tempo. Só contava a guerra civil “oficial” entre o Governo apoiado pela Rússia e os “Rebeldes” apoiados pelo Ocidente. A situação tornou-se caricata se não fosse trágica: os EUA bombardeiam o Daesh que usa armas americanas para atacar o Governo Sírio que se defende com armas russas e chinesas contra rebeldes apoiados pelos EUA.
A opinião ocidental está confundida. Há “russófilos” que apenas o são por serem americanófobos e americanófilos que juram ser russófobos. Muitos admiram o presidente Putin como um “duro”; ou admiram os falcões americanos, entretidos com os seus jogos de soma zero do tempo da Guerra Fria. São atitudes patéticas em política internacional. A guerra na Síria só terá fim quando se eliminarem não os efeitos mas sim as causas.
O EI só será derrotado se terminar a guerra civil da Síria; e esta só terminará quando Bashar Assad negociar a cedência do poder. Há 5 anos atrás era possível negociar. No futuro, após a indispensável manifestação de força, será preciso negociar com mais interlocutores.
Para que a Rússia se aproxime da coligação liderada pelos EUA, há uma guerra de opinião em duas frentes: contra falcões norte-americanos sempre prontos a humilhar Moscovo; contra os oportunistas que acham que a Rússia deve fazer o trabalho do Ocidente .
Depois, o Irão. É paradoxal mas a intervenção da República Islâmica é essencial para derrotar o “Estado islâmico”. Contudo, o Ocidente deve cuidar que a extinção do Daesh não seja uma vitória dos xiitas de Damasco e Teerão apoiadas pelos “cruzados” contra os sunitas do califado. 80% dos muçulmanos são sunitas, e os “jihadistas” apresentariam a derrota do Daesh como humilhação pelos frangues, sejam Americanos ou Russos.
Para a derrota de Daesh concluir com uma vitória Sunita, é preciso um novo regime em Damasco, sem o poder da minoria xiita laica de Assad e uma redefinição do Iraque. E finalmente existe a Arábia Saudita. É um regime obscurantista. Há príncipes sauditas e de outros países do Golfo a financiar o EI. O wahabismo tem contribuído para a regressão intelectual do Islão em todo o mundo. Mas as relações estáveis com a Arábia Saudita são indispensáveis caso se queira apoiar o Egipto do marechal Sissi.
Alcançar esta frente definidora, não seria ainda o fim do terrorismo islâmico, mas seria um grande passo em frente na pacificação da Síria. O restante é a longo prazo; trata-se de uma evolução no próprio mundo muçulmano, um exame de consciência que já começou e que o futuro dirá se tem futuro. Como editor de Rachid Benzine Os novos Pensadores do Islão, Tribuna, 2003, sei do que falo. Mas isso fica para outros escritos.
Contra o abstencionismo, filósofo francês tece duras críticas
“Preguiçosos” e “ingratos”. Foi assim que o filósofo francês Raphael Enthoven classificou os gauleses que se abstiveram nas últimas eleições regionais em França. Estas eleições registaram uma subida histórica do partido de extrema-direita Frente Nacional, lançando a preocupação nas restantes forças partidárias. Os elevados índices de abstenção nestas eleições (cerca de 50%) levaram a duras críticas por parte do filósofo, que negou a tese de que a abstenção se deve à ausência de propostas eleitorais concretas.
Numa entrevista à Rádio Europe 1, reproduzida pelo jornal francês L’Observateur, Enthoven foi mais longe e acusou os que se abstêm de votar de “negligenciar as conquistas que custaram a vida a outros, trabalhadores pobres (“gagne-petit”) que querem direitos sem deveres, pessoas desonestas que usam a nulidade das políticas de forma oportuna para justificar a sua frouxidão, são irresponsáveis que se remetem a pessoas que não elegeram para gerir os transportes, a cultura ou as escolas”. “A abstenção (…) é o indício de uma inquietante nulidade do corpo eleitoral em pessoa, e do orgulho dos seus membros”, prossegue Raphael Enthovent, claramente agastado: “Por quem se prende o tipo que não vai votar? Aquele que se abstém não é um eleitor de tal forma exigente que nenhuma proposta o atrai, é um snob que tem uma tal opinião elevada de si mesmo que teria a impressão de a contaminar ao misturá-la com a dos outros. É um menino mimado”. E o filósofo conclui: “Quem quer abster-se vai encontrar sempre boas razões para o fazer, por isso, o comportamento do abstencionista não se baseia na nulidade dos eleitos mas na dos eleitores”.
As reacções nas redes sociais não foram as mais afáveis para com o filósofo. Vários utilizadores do Twitter reagiram às declarações de Enthoven, dizendo que elas eram “indignas de um filósofo”, ironizavam com as acusações de “debilidade profunda” com que se referiu a quem se absteve de votar, e há mesmo quem diga que fazem falta novos Jean-Paul Sartre em França.
Raphael Enthoven é filósofo, professor e animador radiofónico, colaborou com várias revistas de filosofia e tem diversos livros publicados. Porém, é sobretudo conhecido como ex-companheiro sentimental da antiga top model Carla Bruni-Sarkozy; ambos tiveram um filho, Aurélien, e diz-se que é ele o tema central da canção “Quelqu’un m’a dit”, da esposa do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.
Há 42 anos Roxy Music chegava ao top com o 3º álbum “Stranded”
Em 1973 grupo de Bryan Ferry conseguia o primeiro grande êxito
Os Roxy Music conseguiram, ao longo dos anos, manter o seu nome na actualidade musical, conservando sempre aquele ar de “gente fina”, elegante, plena de brilho, extravagante, com melodias suaves, mas intensas. Uma imagem de marca que cola na perfeição ao vocalista da banda, Bryan Ferry – que tem interpretado uma carreira de sucesso com os Roxy Music, mas também a solo.
Os Roxy Music foram formados em 1971 por Bryan Ferry, que juntou à sua volta Graham Simpson (baixo), Phil Manzanera (guitarra), Andy Mackay (sax e oboé), Paul Thompson (bateria) e Brian Eno (sintetizadores). Nascia então um grupo que apostava na afirmação da diferença do som e “looks” dominantes. O lançamento do 1º álbum, “Roxy Music” em 1972, surpreendeu pela sua malha sonora de um rock intenso, mas suave, “underground” mas sofisticado, experimentalista, com incursões constantes à música electrónica, pela mão do “mago” Brian Eno. O segundo LP de banda, “For Your Pleasure”, editado em Março de 1973, iria confirmar este original som da banda, mas seria o último em que participou Brian Eno.
Mas seria o 3º LP, “Stranded”, também editado em finais de 1973, que traria o grande reconhecimento do público, sobretudo britânco. Faz hoje exactamente 42 anos que “Stranded” chegava a nª 1 na lista dos álbuns mais vendidos no Reino Unido, mas também com grande sucesso na Europa e Austrália. Enquanto nos Estados Unidos, a crítica especializada despertava a atenção do público para a excelência daquele “novo” grupo inglês.
E o disco chamava logo à atenção pela capa, com uma foto de uma bela mulher, em pose sensual. A mulher era Marilyn Cole, então namorada de Brian Ferry, que tinha feito sucesso como “Playmate” do ano da revista “Play Boy”. Esta fórmula de editar discos com capas de mulheres sensuais iria ter continuidade nas próximas obras dos Roxy Music, sendo mesmo uma imagem de marca da banda.
Com oito faixas (quatro por face), “Stranded” vale pelo seu todo, pela coerência como a banda interpreta um punhado de canções, sempre com a “doce”, “romântica” voz de Brian Berry a liderar, mas envolta numa roupagem sonora forte, com “riffs” inspirados do guitarrista Phil Manzanera, agora sem a presença das máquinas de Brian Eno, mas ainda com abordagens à música electrónica, pelo substituto Eddie Jobson. Um disco onde também sobressai o talentoso multi-instrumentalista Andy Mackay. Uma música que seria claramente precursora do que iria surgir uma década depois, com a new wave.
https://www.youtube.com/watch?v=onNmt1T3I_M