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Domingo, Dezembro 14, 2025
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A guerra de todos contra todos

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Mendo Henriques
Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa

O navio de guerra português D.Francisco de Almeida com mais dois outros da NATO entrou no Bósforo. A defesa da Turquia no Mediterrâneo Oriental com mais navios, aviões e mísseis Patriot tornou-se prioridade da NATO. Sinal contra o Estado Islâmico? Contra a Rússia? Para sossegar a Turquia? De tudo um pouco? Enquanto não tivermos uma grelha de leitura, todos os eventos do Médio Oriente parecerão confusos.

Houve um tempo em que, como diretor do Departamento de Investigação do Instituto da Defesa Nacional, eu seguia os assuntos no Médio Oriente; desses labores é expressão a obra Security in the Mediterrranean, Playing with fire, Amsterdão, 2006.

Desde esses anos, tudo mudou para pior. Mas apesar das informações em catadupa, o panorama do desastre é simples: o fogo alastrou devido à ação dos fundamentalistas e agora estamos perante uma guerra de todos contra todos.

Entre os movimentos fundamentalistas sobressai o Estado Islâmico, Daesh ad-dawla al-islāmiyya notório pelos crimes contra a humanidade, genocídios, autos de fé, destruição de património e massacres no Líbano, África, Europa e EUA. A destruição do Daesh é uma exigência mas que não nos deve fazer abdicar da lucidez.

Se a guerra na Síria fosse empresa por quotas, a maioria das ações caberia aos fundamentalistas islâmicos do Daesh. Mas do remanescente, um terço seria quota dos EUA; outro terço da Rússia e o terço restante dos demais países intervenientes, árabes e ocidentais.

Com a invasão do Iraque em 19 de março de 2003, os EUA de Bush destruíram um Estado sem direitos humanos mas que, ao desaparecer, criou um vácuo com três polos: os curdos de Mossul, os sunitas de Bagdad e as regiões do noroeste. Com o apoio ocidental aos “rebeldes” veio a guerra civil síria. A Rússia de Putin, ao apoiar Bashar Assad em vez de o obrigar a negociar, neutralizando os extremistas, empurrou-o para a brutalidade.

A destabilização da Síria fragmentou um país multisecular, onde conviviam crenças e povos. Grandes cidades foram destruídas dos 4 a 5 milhões de refugiados, muitos acorreram à Europa em 2015 após a Grécia abrir as portas aos que vinham da Turquia.

O regime de Bagdad conta com apoios militares estrangeiros. No terreno, o Hezbollah libanês e o Pasdaran iraniano sustentam o exército governamental. No ar, as forças aéreas dos EUA, França e Inglaterra, e as forças russas, passaram a bombardear o Daesh.

O EI ou Daesh aproveitou todas as oportunidades para criar um estado islâmico. Ninguém o deteve a tempo. Só contava a guerra civil “oficial” entre o Governo apoiado pela Rússia e os “Rebeldes” apoiados pelo Ocidente. A situação tornou-se caricata se não fosse trágica: os EUA bombardeiam o Daesh que usa armas americanas para atacar o Governo Sírio que se defende com armas russas e chinesas contra rebeldes apoiados pelos EUA.

A opinião ocidental está confundida. Há “russófilos” que apenas o são por serem americanófobos e americanófilos que juram ser russófobos. Muitos admiram o presidente Putin como um “duro”; ou admiram os falcões americanos, entretidos com os seus jogos de soma zero do tempo da Guerra Fria. São atitudes patéticas em política internacional. A guerra na Síria só terá fim quando se eliminarem não os efeitos mas sim as causas.

O EI só será derrotado se terminar a guerra civil da Síria; e esta só terminará quando Bashar Assad negociar a cedência do poder. Há 5 anos atrás era possível negociar. No futuro, após a indispensável manifestação de força, será preciso negociar com mais interlocutores.

Para que a Rússia se aproxime da coligação liderada pelos EUA, há uma guerra de opinião em duas frentes: contra falcões norte-americanos sempre prontos a humilhar Moscovo; contra os oportunistas que acham que a Rússia deve fazer o trabalho do Ocidente .

Depois, o Irão. É paradoxal mas a intervenção da República Islâmica é essencial para derrotar o “Estado islâmico”. Contudo, o Ocidente deve cuidar que a extinção do Daesh não seja uma vitória dos xiitas de Damasco e Teerão apoiadas pelos “cruzados” contra os sunitas do califado. 80% dos muçulmanos são sunitas, e os “jihadistas” apresentariam a derrota do Daesh como humilhação pelos frangues, sejam Americanos ou Russos.

Para a derrota de Daesh concluir com uma vitória Sunita, é preciso um novo regime em Damasco, sem o poder da minoria xiita laica de Assad e uma redefinição do Iraque. E finalmente existe a Arábia Saudita. É um regime obscurantista. Há príncipes sauditas e de outros países do Golfo a financiar o EI. O wahabismo tem contribuído para a regressão intelectual do Islão em todo o mundo. Mas as relações estáveis com a Arábia Saudita são indispensáveis caso se queira apoiar o Egipto do marechal Sissi.

Alcançar esta frente definidora, não seria ainda o fim do terrorismo islâmico, mas seria um grande passo em frente na pacificação da Síria. O restante é a longo prazo; trata-se de uma evolução no próprio mundo muçulmano, um exame de consciência que já começou e que o futuro dirá se tem futuro. Como editor de Rachid Benzine Os novos Pensadores do Islão, Tribuna, 2003, sei do que falo. Mas isso fica para outros escritos.

Contra o abstencionismo, filósofo francês tece duras críticas

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“Preguiçosos” e “ingratos”. Foi assim que o filósofo francês Raphael Enthoven classificou os gauleses que se abstiveram nas últimas eleições regionais em França. Estas eleições registaram uma subida histórica do partido de extrema-direita Frente Nacional, lançando a preocupação nas restantes forças partidárias. Os elevados índices de abstenção nestas eleições (cerca de 50%) levaram a duras críticas por parte do filósofo, que negou a tese de que a abstenção se deve à ausência de propostas eleitorais concretas.

Numa entrevista à Rádio Europe 1, reproduzida pelo jornal francês L’Observateur, Enthoven foi mais longe e acusou os que se abstêm de votar de “negligenciar as conquistas que custaram a vida a outros, trabalhadores pobres (“gagne-petit”) que querem direitos sem deveres, pessoas desonestas que usam a nulidade das políticas de forma oportuna para justificar a sua frouxidão, são irresponsáveis que se remetem a pessoas que não elegeram para gerir os transportes, a cultura ou as escolas”. “A abstenção (…) é o indício de uma inquietante nulidade do corpo eleitoral em pessoa, e do orgulho dos seus membros”, prossegue Raphael Enthovent, claramente agastado: “Por quem se prende o tipo que não vai votar? Aquele que se abstém não é um eleitor de tal forma exigente que nenhuma proposta o atrai, é um snob que tem uma tal opinião elevada de si mesmo que teria a impressão de a contaminar ao misturá-la com a dos outros. É um menino mimado”. E o filósofo conclui: “Quem quer abster-se vai encontrar sempre boas razões para o fazer, por isso, o comportamento do abstencionista não se baseia na nulidade dos eleitos mas na dos eleitores”.

As reacções nas redes sociais não foram as mais afáveis para com o filósofo. Vários utilizadores do Twitter reagiram às declarações de Enthoven, dizendo que elas eram “indignas de um filósofo”, ironizavam com as acusações de “debilidade profunda” com que se referiu a quem se absteve de votar, e há mesmo quem diga que fazem falta novos Jean-Paul Sartre em França.

Raphael Enthoven é filósofo, professor e animador radiofónico, colaborou com várias revistas de filosofia e tem diversos livros publicados. Porém, é sobretudo conhecido como ex-companheiro sentimental da antiga top model Carla Bruni-Sarkozy; ambos tiveram um filho, Aurélien, e diz-se que é ele o tema central da canção “Quelqu’un m’a dit”, da esposa do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.

Há 42 anos Roxy Music chegava ao top com o 3º álbum “Stranded”

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Em 1973 grupo de Bryan Ferry conseguia o primeiro grande êxito

ROXY 1Os Roxy Music conseguiram, ao longo dos anos, manter o seu nome na actualidade musical, conservando sempre aquele ar de “gente fina”, elegante, plena de brilho, extravagante, com melodias suaves, mas intensas. Uma imagem de marca que cola na perfeição ao vocalista da banda, Bryan Ferry – que tem interpretado uma carreira de sucesso com os Roxy Music, mas também a solo.

Os Roxy Music foram formados em 1971 por Bryan Ferry, que juntou à sua volta Graham Simpson (baixo), Phil Manzanera (guitarra), Andy Mackay (sax e oboé), Paul Thompson (bateria) e Brian Eno (sintetizadores). Nascia então um grupo que apostava na afirmação da diferença do som e “looks” dominantes. O lançamento do 1º álbum, “Roxy Music” em 1972, surpreendeu pela sua malha sonora de um rock intenso, mas suave, “underground” mas sofisticado, experimentalista, com incursões constantes à música electrónica, pela mão do “mago” Brian Eno. O segundo LP de banda, “For Your Pleasure”, editado em Março de 1973, iria confirmar este original som da banda, mas seria o último em que participou Brian Eno.

ROXY MUSIC stranded LPMas seria o 3º LP, “Stranded”, também editado em finais de 1973, que traria o grande reconhecimento do público, sobretudo britânco. Faz hoje exactamente 42 anos que “Stranded” chegava a nª 1 na lista dos álbuns mais vendidos no Reino Unido, mas também com grande sucesso na Europa e Austrália. Enquanto nos Estados Unidos, a crítica especializada despertava a atenção do público para a excelência daquele “novo” grupo inglês.

E o disco chamava logo à atenção pela capa, com uma foto de uma bela mulher, em pose sensual. A mulher era Marilyn Cole, então namorada de Brian Ferry, que tinha feito sucesso como “Playmate” do ano da revista “Play Boy”. Esta fórmula de editar discos com capas de mulheres sensuais iria ter continuidade nas próximas obras dos Roxy Music, sendo mesmo uma imagem de marca da banda.

ROXY 3Com oito faixas (quatro por face), “Stranded” vale pelo seu todo, pela coerência como a banda interpreta um punhado de canções, sempre com a “doce”, “romântica” voz de Brian Berry a liderar, mas envolta numa roupagem sonora forte, com “riffs” inspirados do guitarrista Phil Manzanera, agora sem a presença das máquinas de Brian Eno, mas ainda com abordagens à música electrónica, pelo substituto Eddie Jobson. Um disco onde também sobressai o talentoso multi-instrumentalista Andy Mackay. Uma música que seria claramente precursora do que iria surgir uma década depois, com a new wave.

https://www.youtube.com/watch?v=onNmt1T3I_M

 

O presidente de Câmara que faz atendimento público… no Facebook

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A internet é, actualmente, um poderoso meio de comunicação, não só para os indivíduos, como para as empresas e entidades públicas. As autarquias e os autarcas, contudo, nem sempre utilizam esta ferramenta da melhor forma. Basta um breve olhar por muitos dos seus sites para se constatar que, em muitos casos, é uma dor de cabeça descobrir uma informação tão básica como a data da próxima reunião do executivo municipal.

Mas, aos poucos, a situação começa a avançar de forma positiva e, aos poucos, vão sendo testadas as novas janelas abertas pelo maravilhoso meio digital. É o que está a acontecer em Faro, com o presidente da câmara local a utilizar uma forma bem pouco comum de falar com os seus munícipes. Há já dois anos que, uma vez por mês, Rogério Bacalhau tira uma hora do seu tempo para fazer atendimento público através da internet.

Quem reside na capital farense e precise de falar com o autarca já não precisa de ir ao edifício camarário depois de, previamente, marcar uma reunião. Só tem de ficar ligado à internet e, no dia e à hora certa, entrar no Facebook, aceder à página da autarquia e colocar as suas questões a Rogério Bacalhau, que responde em tempo real.

E têm sido muitos os que aproveitam a oportunidade. Na mais recente sessão de atendimento, o autarca respondeu a 29 questões colocadas por munícipes. Para além de evitar deslocações, esta é também uma forma muito rentável de ocupação do tempo. Embora haja alguns cidadãos que fazem mais do que uma pergunta (são respondidas as primeiras três de cada um), através do atendimento tradicional seriam seguramente necessárias muitas horas ou mesmo alguns dias para receber, ouvir e dar respostas a tantas pessoas.

De uma forma geral, as questões com que é confrontado têm a ver com problemas existentes na via pública, relacionadas com a iluminação, limpeza, passadeiras, semáforos, estradas e parques infantis. Um tema que aparece com alguma insistência é a possibilidade de, tal como acontece com muitas outras autarquias, também a de Faro baixar o IMI. Neste caso, a resposta não é a desejada. É que, responde o autarca, “tendo em conta a situação financeira com que o Município de Faro se debateu, o quadro legal imposto ao Município obriga a que as taxas estejam no máximo”. Portanto, nada de impostos mais baixos para os farenses.

A situação financeira da câmara é, exactamente, um tema muito debatido nestas sessões. A evolução, segundo Rogério Bacalhau, está a ser positiva, pois “nos últimos anos a receita tem sido superior à despesa”, uma situação que “tem permitido diminuir a dívida”. O grande problema, lamenta o presidente, é que sobre “pouca verba para fazermos investimento”.

As respostas do autarca são, por regra, breves e concisas, embora, por vezes, vagas, segundo se queixava, numa das últimas sessões, um dos participantes. Mas, de uma forma geral, tem sido positiva a reacção dos participantes relativamente a esta forma pouco comum de um presidente de câmara comunicar com os cidadãos do seu concelho.

Go Green In The City: Concurso para ideias inovadoras e cidades sustentáveis

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15 de Janeiro é a data limite para quem quer participar na iniciativa Go Green In The City 2016, uma competição para os melhores projectos para o futuro sustentável das cidades, no que toca ao aproveitamento da energia. Este concurso internacional, promovido pela Schneider Electric, dirige-se a estudantes das áreas de engenharia e gestão, em grupos de dois, um deles obrigatoriamente do género feminino, para que desenvolvam casos de estudo demonstrativos da sua criatividade e engenho, idealizando e desenvolvendo soluções inovadoras na área da energia para as “cidades inteligentes”.

O repto deste ano é dirigido em especial às universidades portuguesas, para que os estudantes que as integram entrem no mapa global da sustentabilidade com as propostas que poderão apresentar a concurso. Serão escolhidas 12 equipas finalistas, as quais viajarão até Paris, França, para competir na final, cujo prémio é uma viagem pelo mundo para visitar as instalações da empresa organizadora do evento, bem como oportunidades de carreira a cada um dos seus elementos.

A responsável da empresa que promove a Go Green In The City, Teresa Fernandes, sublinha que “somos ainda um país onde existe elevada dependência energética, bem como a necessidade de redução das emissões de carbono”, para apelar à participação dos estudantes lusos. Para mais informações, os interessados em participar na Go Green In The City 2016 poderão visitar o site.

A 14 de Outubro o Tornado publicou: PSD pondera expulsão de Pacheco Pereira …

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A putativa expulsão de Pacheco Pereira do PSD já não é de hoje, provavelmente nem de amanhã… é um assunto que vem à tona sempre que o historiador diz ou faz algo que desagrada ao partido a que pertence.

Desta feita, foi por ter manifestado a sua simpatia pelo debate suscitado pela candidatura de Marisa Matias, do Bloco de Esquerda (BE) à Presidência da República. Indo assim, contra, ao que tudo indica, o apoio do PSD ao candidato Marcelo Rebelo de Sousa.

A 14 de Outubro, já o Jornal Tornado publicava que o PSD ponderava a expulsão de Pacheco Pereira, na altura pelo facto do comentador assumir que não votaria no PSD, nas eleições legislativas que se realizaram no dia 4 do mesmo mês.

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Clicar na Foto para ler o artigo original

Pode  ler o artigo completo “PSD pondera expulsão de Pacheco Pereira e Paulo Vieira da Silva“, publicado no Jornal Tornado, da autoria da jornalista Manuela Teixeira.

Pequim em alerta vermelho

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poluicaoEm vésperas do encerramento da Cimeira do Clima que decorre em Paris por estes dias, as autoridades chinesas emitiram um alerta devido à extrema poluição atmosférica. Pequim apresenta o mais grave de quatro níveis de poluição, depois de três dias consecutivos sob um nevoeiro denso com forte odor a carvão.

Esta situação levou ao encerramento de várias escolas, à proibição de circulação de viaturas provadas, churrascos e lançamento de fogo de artifício, à limitação de emissão de gases pela indústria e as autoridades ponderam ainda o encerramento de auto- estradas devido à fraca visibilidade. O nevoeiro e o alerta ontem (Segunda-Feira) decretado deverão estender-se até Quinta-Feira.

Nesta Segunda-Feira foram registados 300 microgramas por metro cúbico de PM2,5 (partículas em suspensão com diâmetro menor do que 2,5 milésimos de milímetro), bem longe do valor de referência da Organização Mundial da Saúde (OMS) que se situa nas 25. Já em Novembro, a China tinha registado um índice elevado de poluição quando uma vaga de frio levou a um maior uso de aquecedores (energia produzida a carvão).

A China está entre os países mais poluentes, sobretudo devido à indústria do carvão. No início do mês de Dezembro, o país ordenou o encerramento de 2100 fábricas devido ao agravamento dos gases emitidos para a atmosfera. Já na semana passada, em plena conferência do clima, em Paris, a China anunciou que pretende reduzir as emissões das suas centrais a carvão em 60% até 2020, fazendo uma renovação daquelas estruturas.

A segunda morte de Hugo Chávez

Venezuela celebra fim da autocracia cleptocráticaA palavra aos Especialistas

A cleptocracia multibilionária venezuelana é uma das maiores mentiras do mundo, acobertada sob um falso manto esquerdista. Vivi lá seis anos e praticamente todos os muitos amigos e amigas que lá deixei apoiaram de início o Chávez. Entre eles, havia muitos claramente de esquerda, outros de centro-esquerda e outros ainda de direita. Todos apoiaram Chávez quando ele apareceu, nos anos 90, porque ele prometia limpar o país da classe política corrupta dos dois partidos (um democrata-cristão e outro social-democrata) que se alternavam democraticamente no governo desde 1958, quando caiu a ditadura do general Marcos Pérez Jiménez

Mas dois anos depois da ascensão de Chávez o desencanto era geral e o apoio depressa se transformou em aberta oposição. A situação económica não parava de deteriorar-se rapidamente devido à asfixia da iniciativa privada, a situação política também, a criminalidade atingiu níveis impensáveis e a promessa de limpeza da corrupção política transformou-se na simples substituição dos anteriores dirigentes políticos corruptos por uma nova classe de dirigentes corruptos muito mais vorazes. E muitos venezuelanos optaram, progressivamente, por exilar-se em Espanha, em Itália, na Colômbia, nos EUA, no Canadá e até cá em Portugal, um pouco por todo o mundo…

pimentafrancaUm país riquíssimo em tudo, com recursos minerais imensos, rico produtor de petróleo, com uma agricultura riquíssima e uma classe média muito bem preparada, sucumbiu a 16 anos de uma política errática, imposta por um poder cada vez mais loucamente corrupto que tudo fez para cercear a iniciativa privada, matando a economia.
Enquanto o núcleo central dos dirigentes do chavismo enriquecia sem limites, a classe média e o povo penavam duramente, enfrentando carências de todo o tipo. Há anos que a escassez de bens de primeira necessidade é brutal, não há nem comida, cortes constantes de electricidade e água, todos os serviços públicos se deterioraram…

Os chavistas analisam a sua derrota e culpam o boicote estrangeiro pelo sucedido. Mais que vítima de boicote estrangeiro, a Venezuela chavista foi vítima do boicote interno organizado pelo regime, que destruiu a economia ao atacar sem tino nenhum a iniciativa privada e asfixiou uma agricultura próspera que garantia a auto-suficiência alimentar, ao implementar uma reforma agrária completamente falhada, o que tornou a Venezuela totalmente dependente das importações no plano alimentar.
Coisas inimagináveis na Venezuela que eu conheci, o país rico e da abundância de tudo, do pleno emprego, onde nem os pobres passavam fome…

Entretanto, o chavismo nem sequer investia os vastos recursos petroleiros no país, não tem uma única obra de regime para mostrar, nem estradas nem grandes edifícios, nem sequer um serviço nacional que assegure assistência na saúde aos cidadãos venezuelanos. A saúde continua completamente entregue ao mercado e os hospitais públicos não conseguem responder às situações porque faltam os medicamentos e equipamentos de todo o tipo, já que não há dinheiro para o comprar no exterior. Quem adoecer e não tiver seguro nem dinheiro na Venezuela morre…

 

Um cataclismo político

No passado domingo, 16 anos de autocracia chegaram ao fim. Ou melhor, ao princípio do fim. Nicolás Maduro continua na presidência, a governar (ou desgovernar, mais propriamente), foi eleito em 2013 e o seu mandato termina em 2019, a batalha ainda vai durar…
O povo fartou-se da falta de tudo e até a própria base eleitoral do chavismo (que a teve e durante muitos anos) se esboroou.

Ninguém aguenta ter que passar dias inteiros em filas (“colas”, como se diz lá) para comprar papel higiénico, ou um litro de leite, ou fraldas para bebé, ou detergente, ou pasta de dentes, ou uma lâmpada, ou um quilo de arroz ou feijão…
Ninguém aguenta um regime que fechou todas as rádios e canais de TV que não mostravam total submissão à linha oficial do regime, asfixiando a liberdade de expressão de pensamento.

Ninguém aguenta um regime que se apoia num partido, o PSUV – Partido Socialista Unificado de Venezuela, que mantém milícias civis armadas (através dos chamados Círculos Bolivarianos, estruturas partidárias locais espalhadas por todo o país, sob a capa de órgãos revolucionários de “poder popular”…

Tenho estado nestes dias em constante contacto por chat com vários amigos de Caracas – e alguns que se viram obrigados a exilar-se no estrangeiro – e estão todos loucos de alegria. É um 25 de Abril. Nem querem acreditar.
A vitória da oposição foi um cataclismo político. 112 deputados da oposição (um a mais que o necessário para a maioria qualificada) contra 51 do governo, havendo ainda quatro deputados em suspenso, dependentes de operações de recontagem. Um tsunami. Em Caracas, bastião máximo do chavismo, os chavistas não conseguiram eleger nem um único deputado…venezuela

Continuam no poder o presidente Nicolás Maduro e o seu governo sem qualquer apoio político parlamentar… Trata-se de um homem realmente medíocre, burro que nem um tamanco, uma caricatura trágica de Chávez, que de burro nada tinha (pelo contrário) e que, no meio da sua loucura, era um dirigente político com notável carisma pessoal…

Recordo que o regime venezuelano não é parlamentar, é presidencialista, o governo não depende da Assembleia Nacional. Mas as leis têm que passar pela Assembleia, que agora está totalmente nas mãos da oposição, com maioria qualificada. Que fará Maduro? Fará aprovar outra “Lei Habilitante”, um estratagema constitucional inventado por Chávez para governar por um ano por decreto passando por cima da Assembleia caso não tivesse a maioria? Pode ainda fazê-lo, porque a entrada da nova Assembleia só terá lugar a 5 de Janeiro e até lá ainda tem alguns dias com um órgão parlamentar em funções e que lhe é favorável…

Uma coisa é certa: as Forças Armadas da Venezuela não estão dispostas a suportar uma fraude, de outra forma a Comissão Nacional Eleitoral (totalmente composta por chavistas) que ontem levou seis horas a dar os resultados oficiais (o prazo normal máximo seria de 90 minutos), teria inventado mais um resultado fictício (como aconteceu em ocasiões anteriores) para que o PSUV (partido chavista no poder) se mantivesse em maioria na Assembleia Nacional…

 

Delicadas tarefas pela frente

E agora? Como administrar desde o poder legislativo – a Assembleia Nacional – uma vitória tão clara, quando todos os órgãos de poder – desde o Supremo Tribunal de Justiça até ao Conselho Nacional Eleitoral estão TOTALMENTE nas mão de chavistas? Há o risco de a oposição se transformar numa guerrilha enclausurada no Capitólio Federal (sede da Assembleia), o que poderia transformar o governo de Maduro numa vítima.

Como administrar a desmontagem da autocracia chavista sem dor? Um desafio imenso, os dirigentes da MUD terão que actuar com extrema diplomacia e inteligência para que esse processo não degenere em violência civil…
Os primeiros passos estão já aí. Todos os dirigentes da Mesa de la Unidad Democrática (MUD), a plataforma de unidade que venceu as eleições de domingo, anunciaram já que a primeira lei que a nova Assembleia irá promulgar visará a libertação imediata dos numerosos presos políticos que o regime chavista detém nos seus cárceres por simples exercício do direito de dissenção política.

Entre eles estão alguns dos principais líderes da oposição democrática, nomeadamente Leopoldo López ou Manuel Rosales e muitos outros. O regime tem também presos juízes por recusarem directivas políticas e oficiais superiores das Forças Armadas que, ao longo dos 16 anos de chavismo se afastaram do seu camarada Hugo Chávez.
Temos que estar contentes pelos venezuelanos porque começaram a livrar-se um pesadelo, já que a experiência chavista correu da pior maneira possível, foi um falhanço total. Uma perversão do socialismo. Um abuso, um ataque brutal a toda a população. Um anacronismo também. Durante décadas os venezuelanos não quererão ouvir mais falar em socialismo, com toda a certeza…

Alto na prioridade da oposição estará também com certeza o desarmamento dos já mencionados Círculos Bolivarianos, já que a existência de milícias partidárias armadas é incompatível com uma democracia. Veremos como a organização de base do PSUV e as Forças Armadas colaboram nessa iniciativa, que será sem dúvida um delicadíssimo que corre o risco de degenerar em violência civil.

Mas a Mesa de la Unidad Democrática (MUD) – o movimento unitário vencedor – é um movimento muito diversificado no qual, embora os democratas de diversas tendências sejam a larguíssima maioria, há figuras importantes e influentes que vão desde a extrema-esquerda até à extrema-direita…

A MUD acabará por dividir-se. É constituída por vários partidos e movimentos unidos contra o chavismo. Se o chavismo claudicar, autonomizar-se-ão, dividir-se-ão, muito naturalmente. E depois o povo decidirá, já menos condicionado, com plena liberdade de expressão, sem o sistema mediático aprisionado pela autocracia…

José-António Pimenta de França, Jornalista

Eleições na Venezuela: Eurodeputado português elogia processo eleitoral

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José Inácio Faria, eurodeputado português do Movimento Partido da Terra (MPT) que serviu como observador nas recentes eleições na VenezuelaJosé Inácio Faria, eurodeputado português do Movimento Partido da Terra (MPT) que serviu como observador nas recentes eleições na Venezuela, elogiou a forma como as eleições decorreram naquele país, mencionando a forma cívica e ordeira como se comportaram as autoridades venezuelanas. “Na próxima Assembleia Nacional, que iniciará funções a 5 de Janeiro de 2016, a MUD terá que alcançar uma plataforma de entendimento entre as diversas forças políticas, por forma a criar um clima de unidade e reconciliação entre todos os venezuelanos. Desejo que o ideal de uma grande Venezuela justa, igualitária e democrática se cumpra para bem de todos os que vivem e trabalham na Venezuela, incluindo a comunidade de cerca de um milhão e trezentos mil portugueses e luso-descendentes”, disse José Inácio Faria.

Obama – sobre a tragédia de San Bernardino

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Obama - San Bernardino

 

Esta noite, a partir da sala oval, expus à nação a minha máxima prioridade: manter o povo americano a salvo.

Pesa demasiado, nos nossos corações e nos nossos pensamentos a terrível tragédia de San Bernardino. Quatorze americanos – pais, mães, filhas, filhos — foram-nos tirados quando se reuniam para celebrar as festas. Cada um deles um funcionário público. Todos eles parte da nossa família americana.

O FBI ainda está a reunir os fatos sobre o que aconteceu em San Bernardino, mas aqui está o que sabemos. Não temos provas que os assassinos foram dirigidos por uma organização terrorista no exterior, ou que eles fariam parte de uma conspiração interna mais ampla. Mas é claro que esses assassinos tinham abraçado uma perversão do Islão, armas de assalto armazenadas e cometeram um acto de terrorismo.

San Bernardino

A nossa nação tem estado em guerra com os terroristas da al Qaeda desde que estes mataram quase 3.000 americanos no 11 de Setembro. Desde então, já endurecemos as nossas defesas. Os nossos Serviços Secretos e as Forças de Segurança têm desmantelado inúmeras ameaças de atentado e têm trabalhado incansavelmente para nos manterem seguros.

As nossas forças militares e as unidades de combate ao terrorismo têm perseguido, de forma implacável, redes terroristas no exterior – destruindo refúgios, matando Osama bin Laden e dizimando os líderes da al Qaeda.

Mas nos últimos anos, a ameaça evoluiu com os terroristas a adoptarem actos de violência menos complicados como os tiroteios em massa que são muito comuns na nossa sociedade. Nos últimos sete anos, tenho-me confrontado com a evolução desta ameaça todas as manhãs. A vossa segurança é a minha maior responsabilidade. E eu sei que, depois de tanta guerra, muitos americanos questionam se somos confrontados com um cancro que não tem cura imediata.

Então, esta noite, é isto que eu quero que saibam: A ameaça do terrorismo é real, mas vamos superá-la. Destruiremos o Daesh e qualquer outra organização que tente prejudicar-nos. Eis como: em primeiro lugar, os nossos militares vão continuar derrubar conspirações terroristas em qualquer país onde seja necessário, utilizando ataques aéreos para abater os líderes do Daesh e as suas infraestruturas no Iraque e na Síria. Desde os ataques em Paris, os nossos aliados mais próximos – França, Alemanha e Reino Unido – têm aumentado a sua contribuição para a nossa campanha militar, o que nos ajudará a acelerar o nosso esforço para destruir o Daesh. Em segundo lugar, continuaremos a providenciar treino e equipamento às forças iraquianas e sírias que lutam contra o Daesh no terreno para que possamos destruir os seus refúgios. Em ambos os países, estamos a colocar as forças de operações especiais que podem acelerar essa ofensiva.

Em terceiro lugar, lideramos uma coligação de 65 países que visa parar as operações do Daesh através do desmantelamento de conspirações, do corte dos seus financiamentos e impedindo-os de recrutar mais combatentes.

Em quarto lugar, com a liderança americana, a comunidade internacional estabeleceu um processo e cronograma para proceder ao cessar-fogo e obter uma resolução política para a guerra civil Síria. Isso permitirá que o povo sírio e todos os países se foquem no objectivo comum de destruir Daesh.

VISAsEsta é a nossa estratégia – delineada e apoiada em comandantes militares, em especialistas em contra terrorismo e em países empenhados em derrotar os terroristas. E examinamos constantemente os passos necessários para fazer este trabalho. Por isso ordenei ao Departamento de Estado e à Segurança Nacional que revejam o programa de vistos sob o qual o terrorista feminino em San Bernardino originalmente veio para este país. E é por isso também, que exortei os especialistas em alta tecnologia e os líderes das forças de segurança para tornarem mais difícil para aos terroristas o uso de tecnologia para escapar à justiça.

 

No nosso país, juntos podemos fazer mais para responder imediatamente a este desafio.

Para começar, o Congresso deve deliberar para se certificar de que ninguém que conste de uma lista de proibição de voar possa comprar uma arma. Que argumento pode justificar que a um suspeito de terrorismo seja permitido comprar uma arma semi-automática? Este é um assunto de segurança nacional. Eu sei que alguns rejeitam qualquer medida restrictiva à aquisição de armas, mas não importa quão eficazes as nossas agências de Segurança e os Serviços Secretos possam ser, quando não conseguimos identificar todos os possíveis atiradores em massa. O que podemos fazer e deve ser feito, é tornar mais difícil para eles matarem.

Em seguida, devemos efectuar uma triagem mais forte daqueles que vêm para os Estados Unidos sem visto para que podemos saber se eles já viajaram para zonas de guerra. E finalmente, se o Congresso acredita, como eu, que estamos em guerra contra o Daesh, então deve votar para autorizar a continuação do uso da força militar contra os terroristas.

Isto é o que devemos fazer. Mas eu gostaria também de dizer uma palavra sobre o que não devemos fazer.

Não devemos, uma vez mais, avançar para uma guerra no terreno, longa e dispendiosa, no Iraque ou na Síria. Isso é o que os grupos como o Daesh querem. Também não podemos voltar-nos uns contra os outros, deixando esta luta tornar-se uma guerra entre a América e o Islão. Que, também, é o que os grupos como o Daesh querem. O Daesh não fala pelo Islão. Eles são bandidos e assassinos e representam uma fracção minúscula de mais de 1 bilião de muçulmanos em todo o mundo que rejeitam a sua ideologia odiosa.

Se quisermos ter sucesso em derrotar o terrorismo, devemos encarar as comunidades muçulmanas como nossos aliados mais fortes no desenraizamento de idéias erradas que levam à radicalização. É responsabilidade de todos os americanos –de todas as fés –rejeitar a discriminação. É nossa responsabilidade rejeitar testes religiosos para aqueles que deixamos entrar neste país. É nossa responsabilidade rejeitar a linguagem que incentiva suspeita ou ódio. Porque esse tipo de desunião, essa traição aos nossos valores, favorece grupos como Daesh. Temos de nos lembrar disso.

Estou confiante de que a América terá sucesso nesta missão porque nós estamos no lado certo da história. Enquanto debatemos as nossas diferenças, vamos garantir que nunca esquecemos o que nos torna excepcionais: nós fomos fundados sob a crença na dignidade humana — a ideia de que não importa quem você é, ou de onde vem, qual o seu aspecto ou qual é a religião que pratica, você é igual aos olhos de Deus e é igual aos olhos da Lei.

Não nos esqueçamos que a liberdade é mais poderosa que o medo. Que sempre enfrentámos desafios – quer a guerra quer a depressão, desastres naturais ou ataques terroristas – unindo-nos em torno dos nossos ideais comuns. Enquanto nos mantivermos fiéis ao que somos, não tenho dúvidas de que a América irá prevalecer.

Obrigado.

Presidente Barack Obama

A idade maior do cinema falado em português

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lusobrasileiro19º Festival de cinema Luso-Brasileiro

6 a 13 de Dezembro, em Santa Maria da Feira

O encontro do cinema luso-brasileiro tem lugar cativo nesta 19ª edição em Santa Maria da Feira numa semana que promete passar em revista o melhor do cinema brasileiro e português.

Antevê-se assim uma verdadeira edição de luxo, com sete longas metragens em concurso, apostada na descoberta de novos realizadores. Uma secção onde se revela o muito aguardado Boi Neon, de Gabriel Mascaro, bem como Para a Minha Amada Morta, de Aly Muritiba, com Fernando Alves Pinto. Isto para além da presença lusitana, representada por John From e Ornamento & Crime, respectivamente os últimos trabalhos dos portugueses João Nicolau – um cineasta que será também o realizador em foco no festival -, e Rodrigo Areias. A competição de longas completa-se ainda com as descobertas de Aspirantes, de Ives Rosenfeld, A Seita, de André Antônio, e Prometo um dia Deixar Essa Cidade, de Daniel Aragão. Já no formato de curtas, a programação inclui ainda a competição entre 25 filmes divididos entre três programas, onde o critério se selecção permitiu a descoberta de novos talentos, bem como o regresso de alguns realizadores a Santa Maria da Feira.

https://www.youtube.com/watch?v=zQ-mjeM8BmM

Tudo começou no serão de Domingo com a exibição do curioso Love Film Festival, de Manuela Dias, sobre uma história de amor que serve de fio condutor entre quatro festivais de cinema, entre uma argumentista brasileira (Leandra Leal) e um realizador colombiano (Manolo Cardona). Apesar da inegável ambição de conduzir um atribulado romance entra Santa Maria da Feira, Rio de Janeiro, Bogotá e Chicago, onde se notam algumas fragilidades num guião nem sempre bem articulado entre os diferentes ambientes, as histórias de amor e a presença dos festivais, dificilmente outra escolha poderia superar esta proposta sobre a irremediável paixão pelo cinema para abertura do certame.

Entretanto, um dos destaques principais vai para a estreia do documentário de Walter Salles sobre Jia Zhang-Ke, uma das figuras de proa do novo cinema chinês, com Jia Zhanhg-Ke – Um Homem de Fenyang, num evento que contará com a presença do cineasta brasileiro.

O festival dá ainda um novo foco ao programa Brasil Musical, composto por títulos que abordam diferentes áreas da produção musical brasileira, onde se destaca o clássico Os Doces Bárbaros, considerado uma pérola do cinema brasileiro, reunindo os nomes mais poderosos da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa.

Por fim, mas nunca em último, a recuperação das sessões À Meia Noite com Christian Caselli 2, depois da “apoteose” registada em 2005, com uma série de novos shorts. Para a sessão de encerramento fica reservado o filme Bollywood Dream, de Beatriz Seigner, sobre três atrizes brasileiras à descoberta do fascínio da maior produção indiana, a maior do mundo.

Entretanto, no final de cada sessão, o festival tende a prolongar-se muito para além da sala de cinema, muitas vezes até altas horas da madrugada, pelos bares da Feira em tertúlias espontâneas. É assim em Santa Maria da Feira.

Lisboa: Já não há greve do metro

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metroApós o plenário que decorreu na tarde da passada Segunda-Feira, os trabalhadores desconvocaram a greve de seis dias que teria início já na próxima Quarta-Feira. Ainda de manhã, os sindicatos sentaram-se à mesa com o Governo levando para o plenário de trabalhadores uma nova esperança para a negociação das condições de trabalho.

Os trabalhadores tinham apresentado na passada Sexta-Feira um pré-aviso de greve parcial para os 12, 13 e 14 de Dezembro, depois de terem anunciado greve às primeiras horas de cada turno nos dias 9, 10 e 11 de Dezembro. O protesto visava as alterações de organização do trabalho dos maquinistas e fica agora sem efeito.

Em declarações à comunicação social, Silva Marques, do Sindicato dos Trabalhadores da Tracção do Metropolitano, referiu que “a greve foi desconvocada porque temos um interlocutor à altura dos trabalhadores do Metro e dos utentes dos transportes de Lisboa, e do Metro em particular”, acrescentando que a partir do dia 15 de Janeiro começarão as negociações entre governo e sindicatos.

Já para Anabela Carvalheira, da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans) esta é uma vitória depois de cinco anos de diálogo surdo. “Tentávamos explicar o que se passava, o que é que estava a acontecer com os trabalhadores e, do outro lado, a única coisa que ouvíamos era ‘está tudo bem’. Os trabalhadores foram reduzidos a meros números”.

“The Guest” são o primeiro grupo português divulgado no EuroChannel

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guestA convite do canal EuroChannel, os “The Guest” gravaram um showcase no espaço “Petit Palais”, em Lisboa, que será transmitido dia 13 de Dezembro, às 14h, 15h, 18h e 21h. Neste showcase, de 28 minutos, o grupo vocal apresenta seis dos temas do seu CD de lançamento, que sairá a público em Março de 2016.

Esta é a primeira vez que o EuroChannel dá destaque a um grupo português, sendo que a demonstração já esteve em destaque durante o mês de Novembro noutro canal da cadeia televisiva, o “AlegroHD”, que transmite no Uruguai e na Argentina.

Os “The Guest” surgiram no Natal de 2014 num dueto solidário com os “Anjos” e viram o seu trabalho reconhecido rapidamente, sendo convidados para espectáculos e eventos privados. O primeiro CD do grupo, que está em fase de finalização, tem produção musical de José Castanheiro e conta com temas em cinco idiomas (português, espanhol, inglês, italiano e francês).

Além disso, o grupo vocal apresenta também covers de Amália Rodrigues, Lara Fabian, Pedro Abrunhosa, entre outros, e conta com participações especiais de Luís Guerreiro, guitarrista que já acompanhou grandes nomes do fado, como Mariza, Katia Guerreiro ou Carminho.

Francis Ford Coppola: “A situação actual do Mundo é desoladora”

francisfordcoppolaTeve início, no passado dia 4 de Dezembro, a 15ª edição do Marrakech International Film Festival, o principal evento dedicado à sétima arte em Marrocos. Durante a conferência de imprensa dos membros do júri deste certame, o seu presidente, o realizador norte-americano Francis Ford Coppola, proferiu umas palavras emotivas sobre a actual situação que se vive no Mundo e o seu significado, segundo o Alcorão.

“A situação actual do Mundo é desoladora. Mas se souberem o Alcorão, as primeiras palavras são, penso, ‘Em nome de Deus, o gracioso e misericordioso, Louvado seja Deus, o mais gracioso, o mais misericordioso’. Graciosidade e misericórdia são repetidas duas vezes na primeira página”, refere o realizador.

Em território árabe, Francis Ford Coppola apelou a um bom entendimento das palavras do Alcorão, uma obra de uma civilização que muito deu ao Mundo. “Qualquer pessoa que realmente conheça esta bonita religião, que esteve no topo das civilizações no Século XIII, porque foi a civilização árabe que nos trouxe a matemática e a ciência, sabe que no topo dessa religião estão as mais importantes palavras: ‘Deus é gracioso e misericordioso’. E nós confiamos que Deus nos livrará deste mal entendido, desta coisa horrível que é magoar as pessoas. Deus não quer que as pessoas se matem, Deus é gracioso e misericordioso”, acrescentou.

A 15ª edição do Marrakech International Film Festival decorre até dia 12 de Dezembro e conta, na secção oficial a concurso, com mais de 30 filmes de diversos países, entre eles, Canadá, México, França, Estados Unidos, Japão, Brasil, entre outros. O certame contará ainda com várias Masterclasses e tributos a Willem Dafoe, Kamal Derkaoui bem como ao Cinema Canadiano.

O último capítulo da novela Brasil

Ato contra Dilma cartazes em frances inglês

O Brasil é mundialmente conhecido pelas novelas de tevê, que produz com extraordinária qualidade e exporta para o mundo inteiro. A principal característica da novela é que ela se arrasta para manter a audiência entretida até o fim. O segundo mandato da presidenta Dilma Roussef tornou-se uma novela arrastada que só agora avança para o capítulo final, com o pedido de impeachment finalmente acatado.

O primeiro capítulo foi o da recontagem de votos da eleição presidencial: o candidato do PSDB, Aécio Neves, não se conforma até hoje com a derrota e levou seu partido para a inércia política. O ranço revanchista impediu a formulação de plataformas políticas que levassem os peessedebistas de volta ao jogo político.

O segundo capítulo foi o escândalo da Lava Jato, que deu munição para a classe média ressentida jogar a culpa da corrupção nas gestões petistas. Comprovadamente, conforme investigações atuais e anteriores, a corrupção vem de décadas, esteve ativamente presente no governo de Fernando Henrique Cardoso, a ponto de o jornalista Paulo Francis denunciar a “roubalheira” da Petrobras ao vivo, em 1996, durante programa da TV Globo. Foi processado pela Petrobras nos Estados Unidos, onde morava, e condenado a pagar multa milionária. Morreu do coração em seguida, não viveu para ver sua denúncia comprovada.

A Operação Lava Jato é a maior investigação sobre corrupção conduzida até hoje no Brasil. Ela começou investigando uma rede de doleiros que atuavam em vários Estados e descobriu a existência de um vasto esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo políticos de vários partidos e as maiores empreiteiras do país. Já levou para a prisão políticos de todos os partidos e empresários até então intocáveis, como o presidente do banco BTG Pactual, André Esteves. Supõe-se que, enquanto a Dilma se sustentar no governo, a investigação não será barrada. Ponto a favor da heroína e, ao mesmo tempo, vilã dessa novela.

Eduardo Cunha Foto Valter Campanato Agência Brasil
Foto: Valter Campanato Agência Brasil

O terceiro capítulo é o monólogo de Eduardo Cunha, “psicopata corrupto que preside a Câmara dos Deputados”, na definição justa do escritor e jornalista Fernando Morais. Ele chantageou a presidenta até agora, além de ter ameaçado deputados que integram o Conselho de Ética que julga a sua cassação. Cunha responde a 22 processos, o primeiro é de 1999, e as acusações vão desde falsificação de documentos até manipulação de licitações.

Seus comparsas já estão na cadeia, ele sequer se digna a renunciar ao cargo. Não sai do palco! E acatou o processo de impeachment da Dilma depois de ter ameaçado que o faria no caso de o processo de cassação que enfrenta ter continuidade.

O quarto capítulo é o da luta do bem contra o mal. O PT, finalmente (sei que estou exagerando no uso desta palavra, mas é porque o governo, com minoria no congresso e ameaçado por golpe, não conseguiu governar, não cumpriu as pautas que lhes são devidas) peitou o Cunha, acabou a chantagem, quem tiver que ser julgado será julgado. Não que o PT seja o “bem”, não é. Como partido, também meteu pés pelas mãos embasbacado com o poder, mas ainda é o principal aglutinador de movimentos sociais, formadores de opinião, frentes populares que defendem a democracia. Implementou um programa admirável de justiça social no país, o que não é pouco, mas representa nada para a elite econômica.

O quinto capítulo é o do momento político que estamos enfrentando, com o processo de impeachment da presidenta em andamento. Assim o descreve o editorialista Saul Leblon: “O vento implacável da história desnuda em 2015 os novos atores do velho enredo em cartaz em 1932, 1954, 1962, 1964, 1989, 2002, 2005, 2006, 2010 e 2014.
Com um agravante: há um pedaço da sociedade que se descolou definitivamente do país e tem como pátria o capital flutuante que não quer pertencer ao destino de nenhum povo.”

Dilma tem sido triturada sistematicamente pela oposição – não sem razão, ela se manteve passiva e quase incomunicável, ficou devendo satisfações para o povo -, mesmo assim, saiu quase ilesa até agora, a não ser pelo desgaste que baixou sua popularidade a níveis críticos. Fernando Morais explica por que o ataque não deu certo: “Nada conseguiram por duas singelas razões: Dilma é uma mulher honesta e o povo sabe que, mesmo com todos os problemas, a oposição foi incapaz de apresentar um projeto de país alternativo aos avanços dos governos Lula e Dilma.”

Michel Temer
Foto: António Cruz Agência Brasil

O sexto capítulo é o do Michel Temer, o vice, que cobiça a presidência e mantém-se como Pilatos, mãos lavadas na cena do impeachment. Já nos bastidores, conspira. Aqui discordo do Fernando Morais: o povo sabe que não existe projeto de país alternativo “aos avanços” de Dilma e Lula? O povo sabe que Temer não tem estatura de um estadista, que vem de um partido no qual seis deputados estão no corredor da condenação por corrupção, inclusive Cunha?

O povo não sabe ou não quer saber e Temer se aproveita da ignorância para articular, a portas fechadas, com os golpistas. Compromete-se a deixar o governo em 2018, para outro aventureiro do PSDB lançar mão, e apresentou um programa para o país tão conservador quanto o da era anterior à da Constituição de 1946. Quer alinhar-se, talvez, aos que estão pedindo a ditadura militar de volta; não fechará com o militarismo, mas provavelmente governará com mão de ferro. O jornalista Jeferson Miola avalia: “A traição de Temer é chocante. Qualquer análise de boa fé reconhece a total inadmissibilidade da denúncia de impeachment. Não há a menor evidência de crime de responsabilidade cometido pela Presidente da República. Um Constitucionalista como ele deveria encabeçar a reação a esta decisão absurda do seu correligionário Eduardo Cunha, mas ele optou por se associar aos golpistas.”

O sétimo capítulo é o que acontecerá com o Brasil se a Dilma passar pelo impeachment. Esse feito, gigantesco, certamente a fortalecerá já que representará o sucesso do confronto entre as entidades golpistas, conservadoras e fascistas e os movimentos sociais pelas liberdades democráticas. O embate provavelmente se dará nas ruas, único campo de batalha para essa luta. Mas a conquista não durará muito, porque o governo Dilma precisa começar a governar, em cumprimento à plataforma eleitoral de 2014. Precisa dar respostas aos eleitores desgostosos, precisa atuar contra a recessão, a corrupção e contra a desesperança.

Dilma
Foto: Marcelo Camargo Agência Brasil

Saul Leblon, da Carta Maior, mostra o tamanho do desafio em recente editorial:

“Trata-se de vencer a prostração e o sectarismo, fazendo da mobilização contra o golpe o impulso que faltava para uma repactuação do país em torno dos interesses majoritários de seu povo. Lideranças políticas e sociais não podem piscar.”

Leblon diz mais, revela o último capítulo, o único que já está escrito, caso a Dilma caia: “Que ninguém se iluda: o apoio ao impeachment tem por trás um projeto econômico devastador. Nele não cabem as urgências e direitos da maioria da população brasileira.”

Nossa crise é gravíssima e poucos a enxergam na real perspectiva. Ela também é reflexo da mais longa, incerta e frágil convalescença de uma crise capitalista desde 1929. Acabou uma era, outra terá que ser inventada.

Mas o brasileiro reputa a crise ao partido dos trabalhadores. Operário não sabe administrar, rouba se tem a chance de colocar as mãos em grandes somas de dinheiro, usurpa posições sociais que não são para o seu desfrute.

Um exemplo? Os aeroportos se assemelham hoje a rodoviárias, frequentados por sujeitos de bermudão e chinelos. Quem pensam que são? Quem pensam que são os que julgam os novos usuários dos aeroportos?

 

Nota: A autora escreve em português do Brasil