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João de Sousa

Sexta-feira, Junho 27, 2025
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Delhaize: Uma greve histórica

Foi no dia 7 de março que os trabalhadores de uma das maiores cadeias de supermercados da Bélgica, Delhaize, iniciaram um movimento grevista. Passados quase quatro meses, embora de forma menos pronunciada, e após várias acções judiciais, a greve continua, numa das mais prolongadas batalhas do movimento laboral belga.

A Delhaize é uma empresa que tem raízes profundas na Bélgica, tendo sido criada em 1867 em Charleroi. Fundiu-se em 2015 com o grupo holandês Ahold, e desde então passou a ser gerida a partir dos Países Baixos, de resto como grande parte das empresas de distribuição europeias que usufruem neste país de condições fiscais mais vantajosas que as existentes na generalidade dos países europeus.

A Ahold Delhaize tem assim sede em Zaandam, nos subúrbios de Amesterdão, a partir de onde controla uma vastíssima rede de distribuição no mundo inteiro, incluindo Portugal (de acordo com a Wikipédia, é proprietária de 49% do Pingo Doce em parceria com a Jerónimo Martins).

Em questão está a intenção declarada pela empresa de estender a toda a sua rede um sistema de concessão dos seus supermercados a terceiros, ficando a empresa apenas com o direito a uma renda pelo uso da sua marca e contratos de fornecimento, desligando-se assim também das suas responsabilidades para com os seus trabalhadores.

A greve começou por ser total, depois foi alvo de decisões judiciais que a limitaram, e agora desenvolve-se de forma parcial, com piquetes à porta dos estabelecimentos convidando os cidadãos a boicotar os supermercados Delhaize.

Em conversa com os trabalhadores grevistas no supermercado Delhaize da zona onde moro, Roodbeek, estes explicaram-me que as posições não evoluíram desde o início, com a empresa a negar mesmo a possibilidade de rescindir os contratos com os trabalhadores (o que lhes daria direito a indemnizações proporcionais à sua antiguidade), para além de prosseguir uma política de assédio dos grevistas.

Temos assim que o movimento de concentração do comércio a retalho que começou por eliminar as antigas mercearias, volta na prática a reinventá-las, mas agora sob o domínio das grandes marcas às quais pagam rendas, marcas que se fundem e reaparecem nas zonas de baixa fiscalidade, isentas de obrigações de acordos de trabalho.

Esses mesmos supermercados são por sua vez cindidos das suas instalações físicas, que passam a ser propriedade de grandes fundos de investimento. Por exemplo, foi recentemente notícia o facto de, no âmbito de um chamado ‘projeto Amália’, o grupo alemão Tengellman ter vendido ao grupo americano LCN um pacote de cinquenta superfícies comerciais, 44 das quais Pingo Doce e as restantes Continente e Minipreço.

Temos assim a constituição de complexos grupos internacionais que juntam e separam partes importantes do comércio a retalho, que são independentes da gestão de cada loja, e sem responsabilidades para com os trabalhadores, que apenas são movidos pelo nível de renda que usufruem das partes que detêm no negócio.

Não é difícil de entender que esta batalha laboral que agora se trava na Bélgica irá seguramente ter consequências globais, incluindo naturalmente em Portugal. Se a aplicação do modelo for bem-sucedida na Bélgica, ela será seguida globalmente, a começar em países, como Portugal, em que, como vimos, a mesma empresa tem já uma posição importante.

Para além dos trabalhadores que perdem direitos, o problema coloca-se igualmente aos produtores – muito em especial aos produtores agrícolas – que ficam ainda numa posição mais frágil do que aquela em que se encontram perante este crescente oligopsónio (mercado dominado por um pequeno grupo de compradores).

Os consumidores serão também negativamente afectados porque os estabelecimentos de comércio têm de seguir a política de preços e de produtos a fornecer decididos pelas multinacionais do comércio a retalho.

Como afirma um estudo de 2019 da autoria da ‘Associação Europeia de Marcas’ (as marcas são uma vítima colateral da voragem destes novos empórios comerciais):

‘Em numerosos Estados-Membros, os retalhistas ‘franchisados’ estão em conflito aberto com os grupos retalhistas, que lhes impõem preços e quantidades. São também confrontados com a recusa dos grupos retalhistas de possibilitar às lojas em regime de franquia a opção por outras fontes de abastecimento mais baratas. Isto apesar da lei estipular que as lojas em regime de franquia, contrariamente às lojas afiliadas, têm autonomia de gestão.’

É fácil de antever a situação em que a multinacional de comércio que controla as redes de lojas afiliadas ou operando sob franquia e que nessa qualidade negoceia a compra de abastecimentos chame a si uma renda adicional de situação em prejuízo dos retalhistas, dos trabalhadores e dos consumidores.

Tudo isto quer dizer que temos de pensar seriamente na regulação do que está a acontecer com as redes de retalho, regulação que não pode ser capturada pelos regulados, como acontece frequentemente.

O que se passa com a greve dos trabalhadores da cadeia de supermercados Delhaize na Bélgica é de relevância para todos nós, muito em especial em Portugal.

Russia: atrás de Prigozhin, “A Ordem da República”

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A golpada de Prigozhin teve apoios de uma rede militar clandestina. “A Ordem da República”, um grupo de oficiais que se opõem ao regime de Putin e à “operação especial” na Ucrânia, “deu uma mãozinha” às manobras Wagner e à sua “cavalgada” de Rostow até perto de Moscovo. Mas, sobretudo, esta rede clandestina desencadeou várias manobras de guerra de informação e ainda algumas “disfunções” que muito terão baralhado os serviços de informação de Putin. Os nossos amigos do “Intelligence online” revelaram a existência desta “convergência oportunística” depois de terem confirmado os seus “detalhes”.

Terá Putin, numa manipulação clássica (cujas técnicas ele domina muito bem) usado o seu “amigo” Prigozhin para levar a “Ordem da República” a pôr a cabeça de fora…?

As próximas semanas vão ser agitadas… e o que acontecer mostrará alguma (apenas alguma…) da realidade desta implacável guerra de sombras no seio do continentalista império russo que está longe de ter terminado.

Rebellion: An underground network of Russian officers lent Wagner a helping hand


Exclusivo Tornado / IntelNomics

O tsunami financeiro global continua vivo

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Parte III – A desalavancagem

Desde a criação do Federal Reserve dos Estados Unidos, há mais de um século, todas grandes crises dos mercados financeiros foram deliberadamente desencadeadas por motivos políticos pelo banco central. A situação actual não é diferente, pois claramente o Fed norte-americano está a usar a arma da taxa de juros para estourar aquela que é a maior bolha financeira especulativa da história da humanidade, uma bolha que ele próprio ajudou a criar. Os eventos de colapso global sempre começam na periferia, como o Creditanstalt austríaco de 1931 ou a quebra do Lehman Brothers, em Setembro de 2008. A decisão de impor o maior aumento de taxa em quase 30 anos, tomada em de Junho 2022 pelo Fed, quando os mercados financeiros já estavam em queda, deverá ter assegurado uma depressão global ou ainda pior.

O aumento das taxas de juros após quase 15 anos de estabilidade significou o colapso do valor dos títulos, especialmente o das obrigações – que são o centro nevrálgico do sistema financeiro global – e levou à duplicação das taxas dos créditos hipotecários norte-americanos no curto espaço de 5 meses, fixando-as acima dos 6%, isto numa conjuntura em que o mercado imobiliário já estava em queda.

O maior aumento de taxas pelo Fed (a subida inicial de 0,75% foi a maior deste século), a manutenção de subidas regulares e o inevitável acompanhamento pelos principais bancos centrais, estará na base da degradação não apenas da bolha da dívida norte-americana, mas também de grande parte da dívida global que já ultrapassou os 300 biliões de dólares. Com o crédito às grandes e pequenas empresas a atingir novos recordes devido aos anos de taxas ultrabaixas e quase dois terços dele a ser classificado pouco acima do nível de “lixo”, com a subida dos juros grande número dessas empresas ver-se-á incapacitada de pagar ou de renovar a dívida antiga, pelo que o cenário do aumento das falências será uma garantia nos próximos tempos.

Também o altamente especulativo e desregulamentado mercado das criptomoedas, onde pontifica a Bitcoin, já dá sinais evidentes de entrar em colapso à medida que os investidores percebem que não haverá resgates e o seu valor já caiu mais de 50% desde Novembro do ano passado. A erosão do valor das criptomoedas já atingiu o sector bancário, como se viu no caso do encerramento do banco norte-americano Silvergate Bank, e poderá não se ficar pelos estragos já registados, pois se já antes do último aumento da taxa do Fed, o valor das ações dos megabancos americanos tinha caído, agora, a aumentarem as vendas de pânico no mercado de acções garantidas à medida que cresce o colapso económico global, outros bancos estarão já à beira de uma nova crise bancária nos próximos tempos.

A financeirização das economias e a proliferação de todo o tipo de produtos financeiros altamente especulativos criou toda uma infraestrutura baseada no estímulo ao crédito e no financiamento de projectos de duvidosa ou nula rentabilidade económica, levou à transferência desenfreada do risco para as economias mais periféricas e tornou os grandes financeiros de Wall Street, da City ou de Hong Kong particularmente explosivos, numa conjuntura em que os governos vão começar a sentir os efeitos do aumento dos encargos com a sua dívida, o que deverá limitar (e muito) a sua capacidade de intervenção. Por analogia recorde-se que ao contrário da Grande Depressão dos anos 1930, quando a dívida federal era quase nula, hoje os governos debatem-se com enormes volumes de dívida e cada vez mais dependentes do grupo dos países emergentes.

Com os bancos centrais a aumentarem as suas taxas de referência, a imporem medidas restritivas e a reduzirem a compra de activos, os mercados financeiros começaram a ser forçados a desalavancar e o primeiro sinal desse processo terá sido a falência do Silicon Valley Bank, incapaz de reagir à fuga de depósitos devido à enorme depreciação do valor da sua carteira obrigacionista (o valor das obrigações a taxa fixa varia inversamente com a taxa de juro) em consequência da subida das taxas pelo Fed.

Na Europa, vemos o Banco Nacional da Suíça, o Banco da Inglaterra e até o BCE forçados a seguir o aumento as taxas do Fed, num movimento que ameaça um processo de bola de neve global de insolvências e falências, no meio de um ciclo inflacionista onde os bancos centrais, com a manipulação das suas taxas directoras, não têm revelado senão a sua completa impotência para o controlar. Tudo isto quando as principais economias mundiais também dão sinais de fragilidade, com a China a apresentar crescimentos fracos e os EUA, o maior cliente da China, a crescer menos que Zona Euro, num acumular de indícios pessimistas para a economia mundial.

 

Parte I – Arquitectura financeira e Globalização

Parte II – Flexibilidade monetária e Energia

Parte IV – O eterno fantasma da dívida pública

Novo governo de Timor-Leste integra 47 elementos

O Primeiro-Ministro do novo governo de Timor-Leste decidiu apostar num governo formado por ministros do passado e alguns novos, pouco conhecidos.

O novo governo inclui nomes do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) e do Partido Democrático (PD), partidos que formaram a coligação governamental, mas também alguns independentes, muitos desconhecidos e alguns conhecidos, como Paulo Remédios (Vice-ministro para os Assuntos de Fortalecimento Institucional) e Expedito Dias Ximenes (Secretário de Estado da Comunicação Social).

Os ministros que já estiveram em anteriores governos devem continuar a implementar as políticas do passado, sem grandes inovações, numa lógica de continuidade.

Aguardam-se as novidades dos novos nomeados, na sua maior parte nomes desconhecidos.

Eis a lista de membros do IX Governo Constitucional cujos nomes foram enviados para o Jornal da República:

  1. Primeiro-Ministro: Kay Rala Xanana Gusmão (Presidente do CNRT)
  2. Vice-primeiro-ministro e ministro dos Assuntos Económicos e Desenvolvimento e ministro do Turismo e Ambiente: Francisco Kalbuadi (CNRT)
  3. Vice-primeiro-ministro e ministro coordenador dos Assuntos do Desenvolvimento Rural: Mariano Assanami Sabino (Presidente do PD)
  4. Ministro da Presidência do Conselho de Ministros: Agio Pereira (CNRT)
  5. Ministra das Finanças: Santina Viegas Cardoso (CNRT)
  6. Ministro dos Negócios Estrangeiros: Bendito Freitas (CNRT)
  7. Ministro da Justiça: Amândio Benevides (CNRT)
  8. Ministro da Administração Estatal: Tomás Cabral (CNRT)
  9. Ministra da Saúde: Élia Amaral (CNRT)
  10. Ministra da Educação: Dulce Soares (CNRT)
  11. Ministro do Ensino Superior, Ciência e Cultura: José Honório da Costa Gerónimo
  12. Ministro dos Assuntos Combatentes da Libertação Nacional: Gil da Costa Monteiro (CNRT)
  13. Ministro das Obras Públicas: Samuel Marçal (CNRT)
  14. Ministro dos Transportes e Telecomunicações: Miguel Manetelu Marques (CNRT)
  15. Ministro do Comércio e Indústria: Filipus Nino Pereira (PD)
  16. Ministro da Agricultura, Pecuária, Pescas e Florestas: Marcos da Cruz (CNRT)
  17. Ministro da Defesa: Pedro Klamar Fuik (Independente)
  18. Ministro do Petróleo e Recursos Minerais: Francisco Monteiro (CNRT)
  19. Ministro do Interior: Francisco Guterres (CNRT)
  20. Ministra da Solidariedade Social e Inclusão: Verónica das Dores (CNRT)
  21. Ministro da Juventude, Desporto, Arte e Cultura, Nélio Isaac (CNRT)
  22. Ministro do Investimento Estratégico: Gastão de Sousa (PD)
  23. Vice-ministro dos Assuntos Parlamentares: Adérito Hugo da Costa (CNRT)
  24. Vice-ministro das Finanças: Helder Lopes (CNRT)
  25. Vice-ministra para os Assuntos da ASEAN: Milena da Costa Rangel
  26. Vice-ministro para os Assuntos de Fortalecimento Institucional: Paulo Remédios (CNRT)
  27. Vice-ministro da Saúde I: José Magno (CNRT)
  28. Vice-ministro das Infraestruturas: Júlio do Carmo
  29. Vice-ministro da Administração Estatal: Jacinto Rigoberto (CNRT)
  30. Vice-ministro do Comércio: Augusto Trindade (PD)
  31. Vice-ministra da Solidariedade Social e Inclusão: Céu Brites (Independente)
  32. Vice-ministra da Saúde II: Flávio Brandão (PD)
  33. Secretária de Estado da Igualdade: Elvina de Sousa Carvalho
  34. Secretário de Estado da Comunicação Social: Expedito Dias Ximenes (Independente)
  35. Secretário de Estado das Terras e Propriedades: Jaime Xavier Lopes
  36. Secretário de Estado do Ensino Secundário e Escolas Técnicas: Domingos Lemos Lopes
  37. Secretário de Estado da Eletricidade, Água e Saneamento: Santos Noronha
  38. Secretário de Estado da Arte e Cultura: Jorge Soares Cristóvão
  39. Secretário de Estado das Pescas: Domingos dos Santos da Conceição (CNRT)
  40. Secretária de Estado da Pecuária: José Vieira de Araújo
  41. Secretário de Estado das Florestas: Ferdinando Vieira (PD)
  42. Secretário de Estado das Cooperativas: Arsénio Pereira da Silva (CNRT)
  43. Secretário de Estado para a Política de Formação Profissional e Emprego: Rogério Araújo Mendonça (CNRT)
  44. Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural: Mateus dos Santos Talo
  45. Secretário de Estado dos Assuntos de Toponímia e Organização Urbana do MAE: Germano Santa Brites Dias
  46. Secretário de Estado da Proteção Civil: Mariano Reis
  47. Secretário de Estado dos Veteranos: César Merak.

Dois nacionalismos

Em Abril de 2022 publiquei no Jornal Tornado um artigo sobre a guerra não declarada que eclodira em finais de Fevereiro entre a Federação Russa e a Ucrânia com o lançamento pela primeira da denominada “operação militar especial”(i). Julgo que se justificará uma actualização da análise pois que apesar da mundialização, ao menos verbal, do conflito e do muito efectivo empenhamento da NATO e da União Europeia ao lado da Ucrânia e de toda a envolvente “geopolítica”, a circunstância de se tratar de um conflito entre dois nacionalismos continua a ser decisiva.

Na altura escrevi:

Um outro tipo de dificuldades é colocado pela existência de populações de origem ou cultura russa fixadas nos territórios das outras republicas ex-soviéticas, o que nalguns casos corresponde às realidades anteriores à constituição da URSS em 1922…

Num computo geral a Federação Russa havia parecido até agora lidar com estas situações com prudência: instalou tropas na zona de Tiraspol onde se constituiu uma República da Transnistria que a Moldávia não reconhece, instalou tropas nas zonas da Abcásia e da Ossétia do Sul onde se criaram Repúblicas que a Geórgia não reconhece mas correspondem a entidades constitucionalmente preexistentes, que declararam a independência, reagiu aos ataques pós-2014 aos territórios das regiões russófonas de Lugansk e Donetsk que haviam declarado a sua constituição como Repúblicas Populares propondo que a Ucrânia introduzisse reformas na sua organização interna, em execução dos Acordos de Minsk de 2015… e, enfim, em nenhum destes casos se apontou para uma anexação …

No quadro que existia parece-me que seria defensável que a Federação Russa tivesse reconhecido as duas repúblicas proclamadas em 2014, prometendo-lhes assistência efectiva em caso de ataque das forças armadas ucranianas (que parecia anunciar-se) …Não seria o primeiro caso de reconhecimento da independência de um país em luta. Veja-se o caso da França e dos Estados Unidos, para não falar do caso mais recente do reconhecimento da independência da Guiné-Bissau proclamada em Madina do Boé.

No entanto o anúncio logo a seguir ao reconhecimento de que este envolvia necessariamente o restabelecimento das fronteiras das regiões transformadas em 2014 em republicas independentes prometia conflito, na medida em que obrigava a recuperar posições que nunca tinham estado sob controlo efectivo dos independentistas ou que haviam perdido alguns meses depois. Este conflito consumou-se com o lançamento da “acção militar especial” …

Há de qualquer forma alertas que têm de ser feitos: a circunstância de nas regiões “russófonas” residir muita gente que fala o russo ou que só fala o russo, não pode ser tomado como garantia de adesão às republicas independentistas, aliás a circunstância de a própria Republica Socialista Soviética da Ucrânia nunca ter dado abertura para uma estruturação de tipo federativo, faz como que não exista uma tradição de autogoverno desta – agora – minoria; por outro lado, e como hipótese teórica, ainda que por exemplo Odessa viesse a mudar de mãos uma sua desanexação seria inaceitável na medida em que privaria a Ucrânia de acesso ao Mar Negro.”

 

Fisionomia geral do conflito

As operações militares, as tentativas de negociação, na Bielorússia e na Turquia, o envolvimento da NATO e da U. E. e a recusa de continuação de negociações têm uma história que pode ser reconstituída mas que hoje tende a ser esquecida por uma comunicação social que em grande parte das suas peças parece, com boas intenções, considerar como sua uma missão de propaganda da “boa causa” e de execração dos maus, com conteúdos e procedimentos que só por si poderá ter interesse vir a analisar. Comparativamente, talvez estejamos menos informados do que estavam na altura sobre a guerra da Crimeia os personagens de Júlio Dinis em Uma Família Inglesa.(ii)

Há vários traços da situação presente que contribuem para tornar difícil a compreensão do que é noticiado:

  1. Os confrontos envolvem um largo recurso à aviação e à artilharia, incluindo-se por extensão os misseis e os drones; aparentemente o recurso a tropas de infantaria verificou-se em grande extensão apenas em Bakhmut com grande número de baixas por parte do exército ucraniano e dos mercenários do Grupo Wagner, que terá imposto esta prioridade em nome de um alegado potencial económico do local (e como pensava o dono do Wagner vir a beneficiar dele?) fazendo recordar os combates de Verdun durante a I Guerra Mundial;
  2. Os edifícios construídos sem finalidade militar são muitas vezes utilizados para início de operações, inclusive por parte do lado ucraniano, como constatou e teve a ingenuidade de publicar a Amnistia Internacional,(iii) mas as localidades envolvidas acabam por vezes quase completamente destruídas pela acção das partes combatentes;
  3. Os relatos da comunicação social, para além de praticamente só mencionarem a existência de cidades ou aldeias(iv), têm dificuldade em evidenciar que uma parte dos territórios em disputa se encontravam já, à data em que se iniciou o presente conflito na posse das autoridades das Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk proclamadas em 2014, tendo sido comum aqui e noutros territórios já ocupados pelas forças armadas russas, a difusão de informações com origem em governadores e presidentes de câmara nomeados pela Ucrânia que já não exerciam de facto as suas funções.

Identificando a existência de dois nacionalismos em confronto, ucraniano e russo, tem sido possível constatar que

  • o governo ucraniano tem posto ênfase na reconquista dos “Km 2” controlados pelos russos, inclusive de toda a península da Crimeia, promovendo através dos seus serviços especiais ou milícias, de 2014 a 2022, atentados contra as populações fugidas ao seu controlo e, nos territórios entretanto ocupados pela Federação Russa, contra titulares de cargos da administração constituída pelas autoridades de ocupação
  • o governo da Federação Russa põe, pelo contrário, ênfase na integração de habitantes dos territórios ocupados na Federação Russa, tendo promovido a evacuação para território russo das populações de Lugansk e Donetsk que nele procuravam refúgio face aos atentados dos Azov´s, optado pela via do confronto militar com reconhecimento das Repúblicas Populares perante ameaça de nova intervenção ucraniana contra estas, e, mais tarde organizado referendos com vista à integração na Federação Russa dos territórios de Lugansk e Donetsk, pondo-se fim às Repúblicas Populares reconhecidas em Fevereiro de 2022, e dos territórios de Zaporijjia e de Kherson, ocupados após o desencadear da “operação militar especial”, tendo pouco depois da ocupação começado a ser disponibilizados documentos de identificação russos.

 

O destino das populações

Quanto aos referendos, sem embargo de poderem preencher necessidades político-constitucionais da Federação Russa para a integração de novos territórios, são questionáveis quer do ponto de vista internacional quer de um ponto de vista interno.

Do ponto de vista internacional, tirando alguns casos pacíficos de últimos passos de descolonização, é exigível na prática o acordo do pais que tem direitos sobre o território. Não obstante este acordo estar assegurado por força dos tratados posteriores a duas guerras mundiais a França falhou por suas vezes a pretensão de retirar o Sarre à Alemanha(v). Ciente desta limitação a Federação Russa terá proposto nas negociações iniciais realizadas na Turquia que a Ucrânia desse o seu acordo à realização de referendos nas suas províncias russófonas. Precaução compreensível: como exemplo de um referendo exigível no âmbito do processo de descolonização que não se fará, apesar do empenhamento da ONU, temos o do Sará Ocidental ocupado por Marrocos e cuja causa foi abandonada pela antiga potência colonizadora.

Do ponto de vista interno, põe-se a meu ver uma necessidade muito séria que é a de garantir que aqueles que nasceram no território ou nele habitavam à data de início do conflito tenham o direito de a ele regressar / o continuar a habitar após o referendo, beneficiando de um esforço activo de pacificação e reconstrução, independentemente da posição que hajam tomado no referendo. Isto pode até envolver a admissão de dupla cidadania e da existência de duas línguas oficiais, ou pelo menos o direito à residência com manutenção da cidadania ucraniana.

Não é nada disto que parece estar a ser contemplado para 2024 pela Federação Russa, que poderá cair facilmente numa atitude que a Estónia e a Letónia vêm mantendo em relação aos habitantes de língua russa, mesmo em relação aos que detêm a cidadania dos respectivos países.

A falta de flexibilidade da Ucrânia, que não adoptou o russo como segunda língua oficial e recentemente, apesar da situação de guerra , multou o presidente da Câmara de Kharkov, por falar na rádio para os seus munícipes na própria língua – o russo – que estes falam, não parece ser um exemplo a seguir.

Note-se entretanto que as quatro entidades regionais cuja integração na Federação Russa continuará a consumar-se com a anunciada eleição de órgãos regionais e municipais, têm do ponto de vista político e militar(vi) uma situação muito diferente:

Lugansk

Esta região, menos populosa que a de Donetsk, encontrava-se, à data do reconhecimento da sua República Popular por parte da Federação Russa, com a maioria da sua área com sob controlo das autoridades da Republica, que controlavam igualmente a sua capital administrativa.

Wikipédia

O governador provincial ucraniano instalou-se numa capital administrativa alternativa – Severodonetsk – que acabou por cair, por esforço conjunto do exército russo e das milícias da República Popular, ficando quase completamente destruída. O exército ucraniano voltou a entrar no território, possivelmente para que não se pudesse dizer que era controlado a 100 % pela República independentista, mas não têm surgido notícias de combates.

Muito significativamente, depois deste sucesso as milícias populares de Lugansk recusaram-se a ir combater para a vizinha República de Donetsk.

Donetsk

Região mais populosa e de grande tradição industrial a República Popular de Donetsk, que inclui a capital administrativa com o mesmo nome, tem estado sujeita a ataques, inclusive de artilharia, do exército ucraniano. Este conseguiu capturar Kramatorsk na fronteira da província de Kharkhov, onde instalou uma capital administrativa alterativa. Muitos membros das primitivas milícias da República Popular do Donetsk caíram na luta desde 2014. Tanto quando se pode perceber, os jornalistas que querem ver a situação do “outro lado” dirigem-se a Rostov e daí a Donetsk.

Wikipédia

O exército ucraniano destacou efectivos muito elevados para a região e essa foi uma das razões para que a Federação Russa, em alternativa a incentivar as populações russófonas a refugiar-se do seu lado da fronteira preferiu reconhecer as repúblicas independentistas e mobilizar efectivos para o território destas.

O governo ucraniano tem assumido que o exército russo tem atacado insistentemente as suas forças no Donetsk para as relegar além fronteiras, cumprindo dizer que até agora não o conseguiu.

Uma hipótese de ataque russo a partir de Izium, na província de Kharkov malogrou-se aquando de uma contra-ofensiva ucraniana que recuperou muitos km 2 antes ocupados pelo exército da Federação Russa. Todavia cerca de 30 mil habitantes de Izium terão preferido refugiar-se na Rússia(vii).

No entanto o acontecimento mais saliente da guerra em Donetsk foi a tomada da cidade e porto de Mariupol, que não caíra em 2014 nas mãos dos insurrectos por intervenção do Batalhão Azov e ficara inicialmente como capital provincial provisória até ser substituída por Kramatorsk. As forças armadas russas seguindo um plano de operações modesto mas executado com persistência tomaram todas as posições ucranianas no mar de Azov, de Mariupol para baixo, ficando a Crimeia em maior segurança.

Wikipédia

Zaporijjia

Em 2014, foi ensaiado nesta província um movimento de protesto russófono que não teve apoio suficiente. A província caiu em 2022 nas mãos das forças armadas russas que cumpriam o plano de controlar o Mar de Azov. A área controlada pela Federação Russa não abrange a capital provincial, Zaporijjia, na qual aliás se haviam refugiado muitos dos cidadãos de Mariupol.

Wikipédia

A forças de ocupação constituíram uma administração provisória que veio a ser dizimada por atentados atribuídos aos serviços secretos ucranianos mas não reivindicados por estes.

Kherson

A província de Kherson foi ocupada a partir do sul por tropas russas estacionadas na Crimeia, capital incluída, sem qualquer oposição, e permaneceu calma durante muito tempo. Esta circunstância foi acolhida2 com grande irritação em Kiev, tendo sido de imediato substituídos dois generais, um ligado aos comandos da província outro aos serviços secretos. Zelenski deu uma ordem com grande estrondo no sentido de constituir um exército que retomasse Kherson e que… foi utilizado para ir reconquistar k m 2 do lado de Kharkov. Disse-se depois que tinha sido uma brilhante operação de contra-informação. O assunto continua a ser remoído na Ucrânia e outro dia apareceu-nos cá no Ocidente a explicação de que o FSB tinha conseguido o controlo dos serviços secretos ucranianos em Kherson antes da invasão.

Wikipédia

Devem andar a prender-se uns aos outros… Entretanto foram desencadeados atentados individuais contra políticos de Kherson que aceitaram participar na administração provincial em colaboração com a administração russa. Entre outros, morreu assim um vice-presidente que assegurava a pasta de agricultura e era deputado à Rada pelo partido Servo do Povo, do Presidente Zelenski.

Num desenvolvimento inesperado os comandos russos decidiram não defender a capital regional por se situar na margem errada do Dnieper. Uma grande parte da população aceitou ser retirada para Rostov, mas ficou gente suficiente na capital para aclamar Zelenski. Como irão ser as anunciadas eleições regionais e municipais em Kherson?

Não será a única incongruência: a Ucrânia acaba de anunciar que reconquistou uma pequena terra de Donetsk que deixara de controlar em 2014. Será que os habitantes, se não fugiram, vêem este desenvolvimento como uma libertação?

 

Notas 

(i) Artigos anteriores: 1-8-2018 As Catalunhas da Europa e 13-4-2022 Revisitando “As Catalunhas da Europa”

(ii) Cfr 27-4-2022 Revisitando “Uma Família Inglesa”

(iii) A Amnistia Internacional não incluiu na sua análise o caso de Mariupol, que terá sido desde o início um exemplo desta prática.

(iv) Foi preciso que se desse a mais recente e amplamente prenunciada contra-ofensiva ucraniana para ser anunciada a reconquista de uma “vila”.

(v) Em sentido contrário, após a II Guerra Mundial, a Itália perdeu para a Jugoslávia o território contíguo a Trieste.

(vi) Podem ser, por exemplo, consultados dados de um censo e descrições dos acontecimentos de 2014.

(vii) Cerca de 400 eleitos locais e outros funcionários da administração da província de Kharkov foram logo nos primeiros meses, segundo artigo de dois jornalistas estrangeiros reproduzido no Público, detidos pelos serviços secretos ucranianos por motivo de colaboração na “invasão”.

Aumento de receitas do IRS e IVA em 2023

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Uma inflação oficial inferior à real, e só em 4 meses de 2023 o Estado obteve um aumento de receitas no IRS e no IVA superior à prevista para todo o ano de 2023. Um Governo que está mais interessado em reduzir o défice do que em defender as condições de vida dos portugueses

A Oposição extraparlamentar como instrumento poderoso de luta política

Em qualquer país, após a realização de eleições legislativas, os deputados eleitos para o Parlamento tomam posse. Uns deputados são apoiantes do novo governo e outros pertencem à Oposição parlamentar.

Por outro lado, em vários países, incluindo Timor-Leste, os partidos que não ultrapassam a barreira eleitoral ficam sem expressão e visibilidade e, situações há em que apesar de um ou dois partidos políticos continuarem a manter as suas intervenções, mesmo assim, o Estado tende a ignorá-los.

A Constituição da RDTL, artigo 7, número 2 expressa claramente que o “Estado valoriza o contributo dos partidos políticos  para a expressão organizada da vontade popular e para a participação democrática do cidadão na governação do país”.

Apesar deste artigo ser inequívoco no seu propósito, em Timor-Leste, a democracia só funciona nas urnas. Depois das eleições os partidos sem assento parlamentar deixam de ter intervenção na vida e na governação do país. Por esta razão, os que governam, mesmo não cumprindo o seu programa eleitoral, sentem-se ilibados das críticas de uma oposição organizada, deixando cair por terra o número 2 do artigo 7 da Constituição da RDTL.

Em qualquer país, avançado ou menos avançado, uma democracia só funciona em pleno quando existe uma oposição forte e com um programa alternativo coeso e representativo que responde às aspirações de toda a população. Em Timor-Leste temos, simplesmente, uma democracia de urnas. Concluídas as eleições os partidos deixam de ser visíveis. Ora, esta situação terá que ser revertida. Para que tal aconteça os partidos devem reassumir as suas posições como partidos políticos.

 

O que é a Oposição extraparlamentar

Apesar de haver poucos estudos na literatura comparada sobre esta matéria, no exterior do Parlamento também poderá haver uma outra oposição, igualmente legal e que se designa por Oposição extraparlamentar. Este modelo de oposição é praticado em quase todos os Estados e Nações , sejam democráticos ou ditatoriais.

Os protestos nas ruas, até certo nível, podem-se classificar por lutas extraparlamentares e não significar somente a estagnação nos canais de comunicação. Mas, nunca devem ser acções periódicas ou esporádicas!

Mais do que ser legal, se a oposição fora do Parlamento (leia-se: Oposição extraparlamentar) estiver bem organizada poderá ser um instrumento muito poderoso de luta política em contexto de democracia pluralista. Cabe, portanto, aos partidos que não ultrapassarem a barreira eleitoral chegar a um acordo para institucionalizar a luta extraparlamentar para defender e representar os interesses do seu eleitorado, bem como, representar também a vontade dos eleitores que votaram nos partidos com assento parlamentar.

Como já mencionei, a literatura sobre Oposições parlamentares e Oposições extraparlamentares é escassa, nomeadamente, sobre quais são as suas funções numa democracia, quais são as principais diferenças e como poderão estas duas oposições (parlamentar e extraparlamentar) funcionar em coligação numa perspectiva de aproveitamento de sinergias.

No nosso caso, em Timor-Leste, após 20 anos de trabalhos parlamentares, registou-se que a oposição desenvolvida dentro do Parlamento produziu poucos resultados. As intervenções incidiam mais sobre alguns assuntos práticos e, sejamos sinceros, nunca houve um debate sério sobre políticas ou esboços de leis que a oposição pretendia defender em nome do seu eleitorado.

Na prática, no nosso Parlamento, oposição significa VOTAR contra, nada mais! Ora, a Oposição deve ganhar outra dimensão, isto é, deve apresentar e defender projectos políticos e legislativos alternativos.

Como em Timor-Leste foi constituído um novo Parlamento e dentro de dias haverá outro Governo, não existindo, como referi, muitos estudos teóricos sobre esta matéria, entendi que seria interessante abordar esta problemática numa perspectiva construtiva e prática, sem quaisquer pretensões de imprimir algum tipo de discurso com rigor teórico-conceptual.

Na verdade, a principal motivação para esta reflexão é estar animado com a ideia de introduzir na agenda política nacional novos desafios e práticas político-partidárias importantes para a consolidação e o desenvolvimento da democracia na Pátria criada por Nicolau Lobato, Vicente Reis (Sahe), Craveirinho (Mau Lear), Nino Konis Santana, David Alex, entre outros, heróis tombados durante a luta de libertação nacional, e alguns  ainda em vida, como é o caso de Kay Rala Xanana Gusmão, líder da Resistência.

Da Esqª para a Dtª: Nino Konis Santana (Ex. Comandante das FALINTIL) e Avelino Coelho (Presidente do PST), em Ermera, 25 de Fevereiro de 1997

 

Avelino Coelho e Kay Rala Xanana Gusmão

 

Actuação da Oposição extraparlamentar é fora do sistema político instituído

Todos os partidos políticos que não tenham representação parlamentar pelo facto de não terem conseguido obter a percentagem necessária para serem eleitos (no caso de Timor-Leste a barreira eleitoral situa-se nos 4%), ou mesmo outros movimentos políticos, sejam eles socialistas, sociais-democratas ou de qualquer outro espectro político, a partir do momento em que considerem que o Governo e os deputados que o apoiam são ineficazes e não resolvem os problemas da sociedade, estes partidos políticos podem e devem, em total legalidade, formar uma coligação exterior ao Parlamento e constituírem uma Oposição extraparlamentar.

A Oposição extraparlamentar pode ser formada em qualquer ocasião, logo no início do mandato ou durante o mandato de funcionamento do Parlamento. Quando isso acontece, à partida, é porque não há confiança no programa do governo ou devido ao Parlamento ser ineficaz ou ter violado a Constituição, portanto, os partidos que integram a Oposição extraparlamentar decidem actuar fora do sistema político que está instituído para repor a ordem democrática e constitucional.

Em muitos países, aqueles que têm uma democracia muito avançada, certos partidos da oposição até constituem «Governos Sombra».

Em Timor-Leste, apesar da Constituição garantir o direito da oposição, nestes últimos 20 anos, na prática, ao nível parlamentar, quase sempre se assistiu à vivência de uma oposição de palavras. E, para nosso espanto, quando os partidos sem assento parlamentar expressam algumas críticas são logo cognominados de “partidos pequenos” ou é dado o estigma de não terem representatividade. Estas práticas, para além de amputar os valores democráticos, contribuem para a passividade dos cidadãos ou para formar o desinteresse pela vida política do país.

Em geral, a Oposição extraparlamentar opta por decisões que têm como principal finalidade provocar alterações políticas, com o envolvimento das populações que se sentem marginalizadas, através de manifestações e de outras acções, legais e legítimas, e que têm um impacto muito poderoso.

Efectivamente, quando a Oposição extraparlamentar tem um bom líder e uma equipa competente na sua  Direcção, uma espécie de «Governo Sombra», com o apoio das massas populares e fazendo alianças tácticas com a Oposição parlamentar (integra o Parlamento) pode provocar verdadeiras mudanças  no sentido de fazer ou tornar um governo ingovernável a cumprir as suas promessas eleitorais ou até certo nível, introduzir alternância de governação.

 

 

Partidos políticos extraparlamentares existem em todo o mundo

Em todo o mundo há muitos partidos políticos que não têm assento parlamentar mas são membros ou têm o estatuto de observadores em importantes organizações políticas internacionais.

O Partido Socialista Europeu, por exemplo, tem vários partidos políticos da Europa e de outros países, sem assento parlamentar, com actividade extraparlamentar, com o estatuto de observadores, no poderoso Bloco que é o Partido Socialista Europeu.

A Federação Revolucionária da Arménia (Arménia), o Fórum Democrático pelo Trabalho e Liberdade (Tunísia) e o Partido Social Democrata (Letónia) são partidos observadores no Partido Socialista Europeu, mas, em outros cantos do mundo existem oposições extraparlamentares, nomeadamente em Moçambique e no Paquistão, para citar apenas estes casos.

Todos os partidos políticos extraparlamentares, socialistas, sociais-democratas ou de qualquer outra visão política, a partir do momento em que considerem que um Governo (ou um Parlamento) é ineficaz e não resolve os problemas da sociedade, podem e devem, em total legalidade, formar uma coligação exterior ao Parlamento e constituírem uma Oposição extraparlamentar.

A Oposição extraparlamentar quando é constituída, regra geral, acontece porque considera que um Governo é incompetente ou um Parlamento é inútil ou há violação da Constituição, portanto, os partidos que integram a Oposição extraparlamentar decidem actuar fora do sistema político que está instituído.

Quando a Oposição extraparlamentar tem um bom líder e uma equipa competente, com o apoio das massas populares, fazendo alianças tácticas com a Oposição parlamentar (integra o Parlamento), pode provocar verdadeiras mudanças no sentido de impedir que um governo administre mal o país ou simplesmente beneficie um pequeno grupo na sociedade.

Todavia, a intervenção da Oposição extraparlamentar deve pautar-se pelo civismo, pelas regras válidas  e contribuir para a consolidação da democracia e da expressão da vontade popular. Com as suas actividades e acções, a Oposição extraparlamentar deve contribuir para o esclarecimento da sociedade, a melhoria da governação e consolidar a democracia como locomotor para o desenvolvimento, estabilidade e paz.

Putin e o centro direita na Europa

Os teóricos que sabem de tudo nos Órgãos de Comunicação Social Europeia continuam a meter água por todos os poros nas analises ligeiras que fazem sobre a invasão militar da Ucrânia pela Rússia que vão, paulatinamente, reduzindo a pó as cidades aonde as forças paramilitares intervém com o apoio militar de longo alcance do exército Russo associando os fatores de relevo efetivo militar de destruição massiva  generalizada em todos os cenários de guerra aonde tem intervindo a mando de Putin.

Os analistas de algibeira ignoram premeditadamente a História e omitem o papel de Gorbachev na derrocada da então União Soviética e, a distribuição sequente das riquezas naturais por uns quantos oportunistas por entre o descalabro económico e social da então,  União Soviética,  que se desfragmentou, proporcionando condições de acesso ao poder dos interesses globais que permitem alguns equilíbrios forçados à custa da miséria reinante em alguns Continentes do Globo.

O mundo não permite condições de vida saudável em todos os Continentes tão só porque a diversidade de interesses impera desde os do foro religioso aos do foro económico até aos do foro da ganância pura e dura.

Na Europa, aonde os efeitos da guerra na Ucrânia já se fazem sentir e poderão agravar se a situação descambar como esteve quase a acontecer com a insurreição do grupo paramilitar Wagner que só não aconteceu porque de heróis está o cemitério cheio e por isso o medo parou a coluna e a Bielorrússia apareceu de paraquedas como a interlocutora de uma negociação que todos desconhecem.

O Centro direita que governa a Europa e que se limita a dar dinheiro dos contribuintes em armamento pago a peso de ouro aos empresários encarregues do fornecimento por detrás do qual morrem milhares de jovens Ucranianos e Russos que nada tem a ver com o assunto.

Rostov foi tomada pela empresa paramilitar Wagner que assumiu o controlo militar da cidade e avançou sobre Moscovo sem que o exercito Russo interviesse, até chagar a 200 km do objetivo para, sem que nada o justifique face ao crispar e ao extremar das posições entre o Kremlin e a Wagner, tudo ficou reduzido a nada.

Esta evidência mostra algo de obscuro no diálogo e defesa dos interesses em causa que importa apurar.

Entretanto, a inteligência Europeia ao nível da U.E., que controla a comunicação social ao serviço do centro direita no poder, vai destoando com discursos avulsos e sem sentido.

O futuro é sombrio tanto quanto os dirigentes políticos em exercício o são.

A Humanidade enfrenta a sua pior crise de sempre em face do armamento disponível pelas potências militarizadas existentes no mundo.


Por opção do autor, este artigo respeita o AO90

Embaixadora de Portugal em Timor-Leste recebe Delegação do PST

A Embaixadora de Portugal em Timor-Leste recebeu ao final da tarde de hoje (horas de Díli) uma Delegação do Partido Socialista de Timor (PST). Falou-se muito da língua portuguesa, da CPLP e discutiram-se cenários.

Os assuntos abordados também incluíram a partilha de informações sobre o percurso do PST durante a luta de libertação nacional, sobre educação e sobre a língua portuguesa em Timor-Leste.

O encontro teve a duração de uma hora e incluiu, para além da Embaixadora, a Chefe de Missão Adjunta, Cláudia Gonçalves. Nesta importante reunião, o Partido Socialista de Timor (PST) abordou com destacado relevo a área de formação de professores e defendeu a proposta do Brasil sobre a importância de criação de uma Escola Superior de Educação criada de raiz.

Da Esqª para a Dtaª: Nuno Corvelo, Lourença das Neves, Manuela Bairos, Azancot de Menezes e Cláudia Gonçalves

Segundo o PST, a situação sobre o desenvolvimento da língua portuguesa é muito preocupante porque as políticas curriculares promulgadas em 2015 para o Currículo do Ensino Pré-Escolar e do Ensino Básico foram premeditadamente construídas para matar a língua portuguesa.

A diplomata, Manuela Freitas Bairos, Embaixadora em Timor-Leste desde Março do ano passado, recebeu com muita satisfação a Delegação do PST, composta pelo Secretário-Geral (M. Azancot de Menezes), pelo Copresidente (Nuno Corvelo Sarmento) e por uma das Vice-Presidentes do Partido (Lourença de Jesus das Neves).

O novo negócio iraniano

1. No Dia Mundial do Refugiado

Na Albânia, o Dia Mundial do Refugiado do passado dia 20 de junho foi celebrado de forma assaz peculiar. As autoridades assaltaram as instalações de milhares de refugiados iranianos, causando uma vítima mortal, numerosos feridos graves e destruição generalizada de equipamentos.

As imagens difundidas através das redes sociais mostram como o gás lacrimogénio foi criminosamente usado na face das vítimas, e foi a intoxicação pelo gás que causou a vítima mortal e a generalidade dos feridos. É uma coincidência perturbante que as autoridades albanesas tenham escolhido a intoxicação química, uma escolha idêntica à das autoridades iranianas na sua campanha de intimidação das jovens estudantes.

Apesar da clareza dos factos e das imagens – há liberdade de expressão na Albânia – as autoridades albanesas negaram peremptoriamente a morte e os feridos graves que a sua actuação causou, em patética declaração que rapidamente foi coberta pela diplomacia americana.

A Albânia é o aliado mais fiel dos EUA na Europa, disponibilizando-se a fazer tudo o que os EUA lhe pedem, e foi aliás a pedido dos EUA que a Albânia acolheu em primeiro lugar os refugiados iranianos. A declaração da diplomacia americana confirma implicitamente que foi sob as suas instruções que decorreu a operação policial.

A razão invocada pela diplomacia americana – o hacking dos sistemas informáticos da diplomacia e presidência iranianas – é ela também extremamente significativa. Com efeito foi assim que foram expostas as grosseiras mentiras das autoridades belgas sobre a sua negociação com o regime clerical para a libertação do terrorista iraniano Assadi. Será que as autoridades americanas tentaram destruir todo o sistema informático onde presumivelmente se encontravam mais segredos para evitar que se soubesse o que negociaram com Teerão? Esta parece-me ser a hipótese mais plausível.

2. A cedência ocidental às exigências iranianas

Tudo no negócio irano-belga me fez suspeitar de que se tratava na verdade da ponta do iceberg de um negócio mais vasto comandado pela administração Biden e que tem como principal lugar tenente o Presidente Macron.

A ideia de que a Bélgica se arriscaria a libertar um terrorista condenado por um atentado de enorme alcance em Paris sem que as autoridades francesas, ou mesmo as americanas, dessem a sua aquiescência, pareceu-me sempre irrealista.

Por um lado a Bélgica segue de muito perto tanto a França como os EUA, e por outro, foram as autoridades iranianas que resolveram revelar, antes mesmo da libertação do seu principal operacional terrorista, que tanto as autoridades francesas como as americanas estavam elas também a negociar a libertação de reféns.

A proibição feita aos refugiados iranianos de se manifestar em Paris, quase simultânea com o ataque desencadeado na Albânia, sucedeu-se a conversações entre o Presidente Macron e o Presidente do regime clerical.

O negócio tinha sido já preventivamente furado pela Arábia Saudita que resolveu pedir antes a bênção da China às pazes com o Irão, e foi precedido pela bênção americana ao ditador sírio e de gestos amistosos para com o ditador venezuelano.

Mais de quarenta anos depois da revolução islâmica que impôs uma teocracia no país ter legitimado a prática do uso de reféns para cobrir as suas acções terroristas, é extraordinário como os líderes ocidentais continuam a cooperar com um sistema que mina toda a credibilidade do sistema internacional, cooperação que tem como principal resultado apenas a consolidação destas práticas.

3. Nada aprender com a história

Convém aqui recordar que o Ayatollah Khomeini chegou a Teerão vindo de Paris num avião da Air France e que foi a administração Carter que convenceu o Xá a ceder aos protestos, abrindo assim as portas à conquista do poder pelo clero islâmico.

A ideia de que o poder religioso pode ser manobrado pelo poder político sem que ele consiga inverter a relação, sendo ele a manobrar o poder político para obter o poder, tem sido uma constante na prática política, e não terá sido a primeira vez que a manobra se revelou como contraproducente.

Convém recordar neste contexto que o Ayatollah Khomeini se instalou no Iraque a convite de Saddam Hussein, que na altura via o clero xiita como um excelente instrumento de combate ao Partido Comunista Iraquiano, cuja base de apoio era fundamentalmente urbana e xiita. Ou seja, não pensemos que os nossos líderes ocidentais são os únicos a cometer erros crassos de cálculo neste domínio.

Em qualquer caso, a tomada de centenas de reféns na Embaixada Americana (paralela aos primeiros actos internacionais de terrorismo do Estado clerical) deveria ter sido mais do que suficiente para que todos entendessem que o golpe clerical iraniano foi uma ruptura completa com a ordem internacional.

O establishment dos serviços de informação americano, contudo, considerou mais importante obter o apoio do regime teocrático iraniano para depor Carter do que as consequências da consolidação do novo regime, e foi esta a razão do primeiro grande negócio.

O segundo negócio deu-se com a invasão e destruição do Estado iraquiano, entregando-o à teocracia iraniana. Neste segundo negócio, o sistema de desinformação iraniano jogou um papel mais decisivo e os sonhados ganhos petrolíferos foram isso mesmo, uma completa ilusão em que a ganância do lucro serviu apenas para engodo.

Neste terceiro negócio, que começou com o ‘Iran deal’ de 2015, os interesses estão mais camuflados, e eu não os conheço na totalidade, mas é ainda mais do que antes a máquina de desinformação iraniana infiltrada no Ocidente que o tornou possível.

E é aqui que me parece tão essencial pensar na história. Se se tivesse feito uma análise séria das relações ocidentais com o Irão, seria provavelmente impossível embarcar neste novo engodo.

O tsunami financeiro global continua vivo

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Parte II – Flexibilidade monetária e Energia

Desde a criação do Federal Reserve dos Estados Unidos, há mais de um século, todas grandes crises dos mercados financeiros foram deliberadamente desencadeadas por motivos políticos pelo banco central. A situação actual não é diferente, pois claramente o Fed norte-americano está a usar a arma da taxa de juros para estourar aquela que é a maior bolha financeira especulativa da história da humanidade, uma bolha que ele próprio ajudou a criar. Os eventos de colapso global sempre começam na periferia, como o Creditanstalt austríaco de 1931 ou a quebra do Lehman Brothers, em Setembro de 2008. A decisão de impor o maior aumento de taxa em quase 30 anos, tomada em de Junho 2022 pelo Fed, quando os mercados financeiros já estavam em queda, deverá ter assegurado uma depressão global ou ainda pior.

A inebriante liquidez vivida nos últimos anos contribuiu, e muito, para o agravar da situação, especialmente quando os maiores bancos de Wall Street, como JP MorganChase, Wells Fargo, Citigroup ou os londrinos HSBC e Barclays, emprestaram milhares de milhões aos seus grandes clientes empresariais, que por sua vez, usaram esta liquidez, não para investir em novas tecnologias de produção ou em novas vertentes de negócio, mas para simplesmente inflacionar o valor das acções das suas empresas, as chamadas recompras de acções, processo eufemisticamente apelidado de “maximização do valor do acionista”.

Bancos, hedge funds e demais investidores e especuladores adoraram estas facilidades. Desde o início da flexibilização do Fed, em 2008, foram investidos mais de 5 biliões de dólares nessas recompras de acções, criando a maior recuperação de sempre do mercado bolsista, com as empresas cotadas a distribuírem outro tanto sob a forma de dividendos. O grau de financeirização neste processo foi tal que empresas que nunca tinham tido lucros, como a Tesla, se tornaram mais valiosas do que a Ford e a GM juntas, enquanto criptomoedas, como o Bitcoin, atingiram uma capitalização de mercado superior a um bilião no final de 2021. Com o dinheiro do Fed a jorrar abundantemente, bancos e fundos de investimento investiram em áreas de lucros elevados com alto risco, como junk bonds (títulos de renda fixa com elevado risco de crédito que oferecem rentabilidade elevada e, por consequência altamente voláteis; a possibilidade de altos retornos decorre do risco de falência, ou default, do emitente, o que deixa os investidores sujeitos a não recuperarem o valor investido) ou dívidas de mercados emergentes como o turco, o indonésio e até o chinês.

A era da flexibilização quantitativa e das taxas de juros zero do Fed e dos demais bancos centrais levou a uma expansão absurda das dívidas públicas, com especial destaque para a dos EUA. Só desde Janeiro de 2020 e em resposta às necessidades criadas pela Covid-19, o Fed, o Banco da Inglaterra, o BCE e o Banco do Japão injetaram 9 biliões de dólares em crédito, a taxa quase zero, no sistema bancário mundial, contribuindo para que Washington aumentasse a sua dívida pública nuns impressionantes 10 biliões de dólares em menos de 3 anos, enquanto a política de recompra de títulos do Tesouro norte-americano e de títulos garantidos por hipotecas pelo Fed (uma forma camuflada de resgate a Wall Street e às demais grandes praças financeiras), ascendia a 120 mil milhões de dólares por mês e ajudava a criar uma enorme bolha de títulos.

Seguiu-se a política de estímulos económicos, decidida pela administração Biden, que distribuiu biliões para combater os desnecessários bloqueios da economia criados pelo recurso aos confinamentos em resposta à pandemia da Covid-19, contribuindo para que a dívida federal norte-americana passasse de uns aceitáveis 35% do PIB em 1980 para cerca de 130% na actualidade. Esta situação justificou que o Fed começasse a inverter a sua política monetária, aumentando as taxas de juro e retirando liquidez da economia; a pretexto da necessidade de reduzir a inflação, opção que, como ensinam os manuais de economia, faria sentido se aquela fosse originada por um excesso de procura e não por uma escassez da oferta, resultante dos confinamentos que levaram à queda da produção e à interrupção dos canais de distribuição.

Isto dito e excluída a hipótese de desconhecimento daquela formulação teórica, talvez a explicação que resta para a actuação dos bancos centrais seja a de contribuir por esta via para o processo de concentração global da riqueza mediante o incremento do controle de activos mobiliários e imobiliários e da própria produção industrial, à boleia da dinamização de uma Economia Verde ambientalmente necessária, mas mal pensada (por excluir à partida a opção nuclear) e pior conduzida (devido à proliferação de alternativas aos combustíveis fósseis de fraca viabilidade económica e sem acautelar previamente os respectivos custos), situação agravada depois com a invasão russa da Ucrânia.

Esta situação de subida da inflação, anterior àquela invasão, viu-se agravada pela escassez global de fertilizantes, pelo aumento dos preços do gás natural e pelas quebras no abastecimento de cereais, reforçando a probabilidade de crises concomitantes com os ciclos agrícolas, e contribuiu para uma ainda maior aumento dos preços de alimentos e energia, que são os agregados com maior contributo para uma inflação sem precedentes.

 

Parte I – Arquitectura financeira e Globalização

É inadiável um pacto de regime para a língua portuguesa em Timor-Leste

A política de Timor-Leste em relação à língua de ensino nas escolas é uma questão estratégica e de soberania. Se a política linguística nas escolas muda em função dos governos, como tem acontecido, não estamos a ser sérios com o Povo, nem com os nossos irmãos da CPLP.

Mais do que isso, se não conseguimos ser coerentes e vacilarmos perante pressões externas, se não conseguimos assegurar um quadro global educativo que apareça de uma visão estratégica capaz de influenciar e garantir a concepção, execução e avaliação de um projecto nacional com impacto na educação, na ciência, na cultura e no desenvolvimento socioeconómico, então, teremos que aceitar, somos um Estado falhado!

Quando mudam os governos é normal haver novas políticas públicas. Mas, em questões altamente estratégicas, como é o caso da importância da consolidação da língua portuguesa em Timor-Leste, as políticas definidas pelos governos X, Y e Z, não podem ser contraditórias.

Portanto, torna-se imperativo haver um entendimento ao nível do Estado de Timor-Leste em relação à consolidação e ao desenvolvimento da língua portuguesa, conducentes a um pacto de regime, porquanto, trata-se de uma questão vital e estratégica para o progresso e o desenvolvimento do país em contexto nacional e internacional.

Note-se que a expectativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e dos governos dos países de todo o mundo é entender de uma vez por todas, sem hesitações e sem ambiguidades, qual será o rumo de Timor-Leste em matéria linguística.

Esta espera dura há mais de 20 anos (!), por conseguinte, seja qual for o caminho a percorrer, tem que haver uma definição clara e definitiva em relação ao destino da língua portuguesa, inclusive, por uma questão de respeito pelos eleitores e pelos cidadãos de todo o território nacional.

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste, no seu Artigo 13.° (Línguas oficiais e línguas nacionais), refere que «o tétum e o português são as línguas oficiais da República Democrática de Timor-Leste».

Quanto a mim, já o defendi de forma exaustiva, a língua de instrução e ensino em Timor-Leste deve ser a língua portuguesa, em todos os níveis de escolaridade (Educação Pré-Escolar, Ensino Básico, Ensino Secundário e Ensino Superior), uma opção correcta porque é explicada por factores de vária ordem, identitária, histórica, política, afectiva, científica, pedagógica, entre  outros factores, podendo as outras línguas desempenhar um papel auxiliar no campo didáctico-pedagógico.

 

Políticas curriculares estão a matar a língua portuguesa

Sobre a questão da implantação da língua portuguesa no país, por ser um exemplo paradigmático, não posso deixar de referir os normativos que foram publicados em 2015, refiro-me ao Decreto-Lei Nº 3/2015 de 14 de Janeiro e ao Decreto-Lei Nº 4/2015 que aprovam o Currículo Nacional de Base da Educação Pré-Escolar e do I e II Ciclos do Ensino Básico, respectivamente, especialmente criados para aniquilar a língua portuguesa.

A promulgação desses normativos jamais devia ter acontecido, na medida em que sob a capa e o pretexto subtil de se atribuir importância à multiculturalidade e às línguas nacionais, aprovou-se uma “Matriz curricular para o Pré-Escolar e para o Primeiro Ciclo da Escola Básica em que o “Desenvolvimento Linguístico” na componente curricular de língua portuguesa não existe, sendo totalmente nulo (!), com o intuito declarado de eliminar a língua portuguesa na educação Pré-Escolar e no Primeiro Ciclo do Ensino Básico.

Sem qualquer justificação verdadeiramente plausível e aceitável, a promulgação destes normativos, repito, teve o intuito óbvio de aniquilar o desenvolvimento e a consolidação da língua portuguesa, num contexto onde se gastam largos milhares de dólares para manter em funcionamento a Escola Portuguesa de Díli e o Projecto dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), no passado conhecido por “Escolas de Referência Portuguesas”.

A Escola Portuguesa de Díli e os Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), esta verdade não pode ser escamoteada, têm milhares de alunos timorenses em lista de espera, precisamente, devido ao desejo de se aprender português e à qualidade formativa de excelência ministrada em língua portuguesa, por docentes portugueses e alguns nacionais, com implantação em todo o país, projectos que obedeceram a acordos de cooperação bilaterais (Portugal/Timor-Leste) e que têm como pano de fundo um compromisso muito nobre desenhado no âmbito da CPLP na defesa e desenvolvimento da língua portuguesa.

A concretização de um compromisso do Estado timorense sobre a Língua Portuguesa terá que ser concretizada, também, para se dar luz verde à criação de uma Escola Superior de Educação para formação inicial de professores e de especialistas em educação, com o apoio do Brasil, de Portugal e de outros países da CPLP, um projecto inserido nas propostas políticas já defendidas pelo Partido Socialista de Timor (PST).

Em relação às línguas nacionais, não vá às vezes haver equívocos e deturpações erradas sobre os meus pensamentos, estou plenamente de acordo no que diz respeito à sua particular importância, até por força da Constituição da República, contudo, sejamos sérios e coerentes!

Se em Timor-Leste há mais de 15 línguas diferentes que resultam da “diversidade geográfica da ilha, às guerras internas e à consequente integração de subgrupos em outros grupos étnico-linguísticos” (Cinatti, 1987, Thomaz, 2002 et al), qual seria a língua materna a desenvolver no sistema ensino? Onde estão os professores com competências científicas e didáctico-pedagógicas para ensinar em Mambae, em Makassai, em Bunac ou em Baiqueno, num processo de ensino-aprendizagem de excelência?

 

Primeira etapa da matança da língua portuguesa – Decreto-Lei N.º 3/2015

O Decreto-Lei N.º 3/2015 de 14 de Janeiro que aprova o Currículo Nacional de Base da Educação Pré-Escolar, em relação ao Desenvolvimento Linguístico, premeditadamente caracterizado pela ambiguidade, refere que o objectivo final da educação Pré-Escolar é assegurar que as crianças possuam “uma base de linguagem numa das línguas oficiais”, sem especificar qual é, conforme se observa no Ponto 3 do Artigo 13º:

“O currículo será implementado de forma a garantir, através de uma progressão linguística do Tétum ao Português que, no final da educação Pré-Escolar, as crianças possuam uma base de linguagem numa das línguas oficiais”.

(Ponto 3 do Artigo 13º – Linguagem oral e escrita)

Considerando o mesmo Decreto-Lei, mas no Ponto 4, em contradição com o Ponto 3, é referido que se vai fazer “uso da primeira língua das crianças” no processo de ensino-aprendizagem, e estas são palavras minhas, poderá ser Mambae, Makassai, Bunac ou Baiqueno ou outra qualquer língua nacional, portanto, sem a língua portuguesa, conforme se pode ler e reler no seu Ponto 4, obviamente, não me cansarei de repetir, uma estratégia desenhada com o intuito de iniciar a matança da língua portuguesa.

O currículo nacional, reflectindo a sociedade multilingue e multicultural timorense, faz uso da primeira língua das crianças como instrumento de acesso efectivo ao conteúdo curricular desta área do conhecimento, quando necessário”.

(Ponto 4 do Artigo 13º – Linguagem oral e escrita)

Evidentemente, se a componente de português é nula, no Ponto 3 do Artigo 13º, onde se lê “possuam uma base de linguagem numa das línguas oficiais”, realmente, é uma falácia, porque havendo apenas ensino em tétum e nas línguas nacionais, o português não está incluído nas alegadas “duas línguas oficiais” conforme está descrito no Ponto 3 do Artigo 13º).

 

Segunda etapa da matança – Decreto-Lei N.º 4/2015 de 14 de Janeiro

O Decreto-Lei N.º 4/2015 de 14 de Janeiro que aprova o Currículo Nacional de Base do Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Básico, especialmente aprovado para dar continuidade à implementação do normativo em relação ao “Desenvolvimento Linguístico da Educação Pré-Escolar” (leia-se: matança da língua portuguesa), refere, veja-se com espanto, o seguinte:

“O currículo será implementado de forma a garantir, através de uma progressão linguística do Tétum ao Português, que, no final do segundo ciclo, os alunos possuam uma sólida  base de literacia das duas línguas oficiais”.

(Ponto 2 do Artigo 11º do Decreto-Lei N.º 4/2015 de 14 de Janeiro)

Notoriamente, depois de lermos o Ponto 2 do Artigo 11º e observarmos a Matriz curricular (Anexo I) ficamos estupefactos porque, pura e simplesmente, nos primeiros 4 anos de escolaridade (1º Ano, 2º Ano, 3º Ano e 4º Ano), a Literacia – Português não tem carga horária, não existe (!!), ou seja, jamais será possível desenvolver a língua portuguesa no II Ciclo, conforme é erradamente apregoado no normativo.

Para além das incoerências de ordem didáctico-pedagógica e normativa, as decisões tomadas contrariam evidências científicas de estudos da área de pediatria e de psicologia, sabiamente demonstradas em pesquisas realizadas em Inglaterra, nos EUA e em outros países, onde se demonstra que a aprendizagem ocorre de forma mais significativa em faixas etárias da infância, portanto, quando as habilidades linguísticas se desenvolvem muito rápido.

De facto, há dez anos, dois anos antes da promulgação dos normativos da matança da língua portuguesa, Helen Briggs da BBC News publicou um estudo muito interessante no “The Journal Neuroscience” sobre essas evidências, comprovadas cientificamente.

Segundo essa pesquisa, cientistas ingleses e norte-americanos provaram que entre os dois e os quatro anos de idade, as crianças têm facilidade em aprender mais de um idioma.

Também, o estudo mostra que a primeira infância é um período em que as habilidades linguísticas se desenvolvem muito rápido, referindo que aos 12 meses de idade os bebés têm um vocabulário de até 50 palavras, mas, aos seis anos pode atingir cerca de cinco mil palavras!

 

Acabar com as contínuas rupturas nas políticas educativas

Para além da necessidade de um «Pacto de Regime» em relação à implantação da língua portuguesa em Timor-Leste, uma realidade que poderá acontecer a partir da tomada de posse do IX Governo Constitucional, sob a liderança de Kay Rala Xanana Gusmão, e com o empenho do Presidente da República, José Ramos-Horta, há absolutamente necessidade de assumir que a educação diz respeito a todos.

Neste aspecto, a escola, o currículo, os professores, os gestores escolares, os estudantes, todos eles, aguardam que o Estado de Timor-Leste se pronuncie a uma só voz (!), por um lado, sobre as políticas curriculares direcionadas para a língua, por outro lado, para recuperar o atraso educativo de Timor-Leste com a apresentação de novas políticas educativas para regularizar o sistema educativo fortemente abalado pelas contínuas rupturas que ocorrem no país há mais de 20 anos.

Presidente e Deputados do PN de Timor-Leste tomaram posse

O Parlamento Nacional de Timor-Leste reuniu-se para a tomada de posse dos novos deputados e para eleger o Presidente do Parlamento. A deputada Fernanda Lay foi eleita para Presidente do Parlamento.

Maria Fernanda Lay, com 68 anos, é deputada do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), há vários anos, e tornou-se agora a primeira mulher timorense a ocupar o cargo de Presidente deste importante Órgão de soberania, tendo sido eleita por 45 votos, um voto em branco e 19 abstenções.

Como o Parlamento Nacional tem 65 deputados, o CNRT e o Partido Democrático (PD) totalizam 37 assentos, significa que as 19 abstenções são dos deputados da FRETILIN pois, elegeram, precisamente, 19 assentos parlamentares.

A nova Presidente do Parlamento é considerada muito experiente, nomeadamente na área orçamental e finanças, com boas competências linguísticas, boa fluência em língua portuguesa, portanto, uma boa escolha.

Até ao final do mês saberemos se o IX Governo Constitucional, a ser chefiado por Kay Rala Xanana Gusmão, será constituído por ministros com competências técnicas e valores éticos, conforme foi anunciado pelo Presidente da República, José Ramos-Horta.

Em Los Angeles (EUA), musical sobre capoeira fala sobre a república de escravizados de Palmares

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Há tempos de despertar no teatro! Na semana que passou eu vi uma peça sobre as mulheres da Revolução Francesa, incluindo uma Marianne haitiana exigindo o fim da escravidão nas colônias e a independência de Santo Domingo. E a próxima noite (3 de junho), um musical sobre a república de Palmares, que resistiu aos portugueses no Nordeste do Brasil por quase um século (1605-1694). Aceitem isso, seus negacionistas fascistas, bandeiras e censores!

Vamos visita-los cronologicamente – o Brasil hoje, Paris amanhã.

Décadas atrás, o historiador comunista Herbert Aptheker estava entre os primeiros a documentar que onde há escravidão, vai haver resistência – rebelião, fuga, sabotagem e, em muitos casos, o estabelecimento de comunidades livres, frequentemente em pântanos difíceis de alcançar, córregos e redutos de montanhas. Tais lugares existiam através de toda as Américas – Norte, Sul, e o Caribe.

Palmares foi historicamente um desses lugares que durou mais tempo em existência, incisivamente chamando a si mesmo de uma “república”, lembrando uma forma de democracia do mundo antigo, mesmo antes da primeira república ter sido declarada (França, 1792). Essa república tinha seu grande guerreiro Rei Ganga Zumba.

A incerteza política ajudou a erguer o assentamento de Palmares. Por um tempo, o governo português no Nordeste brasileiro, então a parte mais desenvolvida de um vasto subcontinente ainda amplamente inexplorado por invasores europeus, foi desafiado pelos holandeses. Então, enquanto as forças portuguesas estavam distraídas, uma parte da população escravizada africana, principalmente engajados na produção de açúcar nas regiões costeiras, viu sua oportunidade de fugir. Eventualmente, a república que eles construíram, seu paraíso selvagem de Palmares, compreendia um território maior que o próprio Portugal, jurando lealdade a coroa portuguesa que tinha trazido para eles apenas exílio, o chicote e as correntes.

Como uma sociedade livre de escravidão bem-sucedida, economicamente produtiva e bem organizada, Palmares atraiu não apenas africanos fugitivos, mas também indígenas da região, pessoas de identidade racial mista, e mesmo alguns brancos, como soldados portugueses que tinham como causa comum a república. A combinação de conhecimento sobre plantações, uso de terra, comércios de construção, defesa, criação animal, indústria e comércio, feita por uma sociedade totalmente funcional, na qual um novo modelo de felicidade humana floresceu, embora sob constante ameaça dos portugueses.

Em 1675, quando a peça se passa, cerca de 30.000 homens e mulheres livres estavam vivendo em sua nação Palmares. Seus filhos nasciam livres da maldição da escravidão. Uma vez que os holandeses foram derrotados e expulsos, os portugueses redobraram seus esforços para conquistar e subjugar a república.

Comparações com a história moderna são inevitáveis: que tipo de exemplo para o mundo uma não alinhada Cuba, ou Chile, ou Venezuela dão? – Ou Vietnã, ou Líbia, ou Granada? Tais símbolos de resistência a opressão imperialista devem ser destruídos!

Os portugueses são persistentes. Apesar dos seus esforços em autodefesa, os habitantes de Palmares não são sempre capazes de monitorar a entrada de espiões e traidores em seu meio. (Um personagem na peça é o capitão Bush, um homem negro que caça pessoas de sua própria espécie para resgate). Os portugueses estão conscientes de que o Rei Ganga Zumba está ficando velho e cansado agora. Ele gostaria de fazer a paz e evitar lutar uma guerra sangrenta e talvez suicida. Seus sinais anteriores de misericórdia, libertando prisioneiros portugueses, são interpretados como sinais de fraqueza. Ele também gostaria de acreditar que os portugueses esgotaram seu tesouro e agora estão procurando por paz.

O governador português no Recife, a principal cidade costeira e capital de Pernambuco, oferece um tratado de paz em troca do retorno dos fugitivos para uma fértil plantação chamada Cacau, perto da costa e mais perto das autoridades. Lá, embora dados uma autonomia local limitada, eles vão mais uma vez cair sob a égide da coroa portuguesa (e, com o tempo, tendo perdido sua independência, talvez sejam efetivamente escravizados novamente – a escravidão no Brasil não foi abolida até 1888).

Rei Ganga Zumba e sua comitiva são convidados ao Recife, onde as pessoas se alinham nas ruas para testemunhar sua chegada. Eles bebem vinho e jantam, honrados e festejados como forças iguais aos portugueses, e é prometido a eles um futuro de paz e conforto. O governador Almeida é de uma vez sedutor, lisonjeiro e ameaçador, enquanto ele coloca sua última e melhor oferta perante o rei.

Mas o general Zumbi do rei, nascido em Palmares e mais novo e ousado, conhece os portugueses e vê através de sua armadilha enganosa. Parte do acordo do governador é “cheia de perdão pelo seu povo, ” mas qual crime eles cometeram? O tratado proposto também afirma que Cacau deve retornar todos os fugitivos para seus mestres. Zumbi prefere continuar defendendo a república de Palmares, acreditando que os portugueses estão oferecendo nada que seus cidadãos já não tenham. Se os portugueses verdadeiramente querem paz, eles devem apenas deixar Palmares para lá! Na verdade, mesmo no Brasil como um todo, os escravos nas plantações superam em número os brancos em quatro a um, então se alguma coisa, com a liderança certa, toda a terra poderia ao invés se tornar parte de uma grande Palmares.

Uma luta de poder entre dois grandes líderes lança um tipo de guerra civil, e nos tempos incertos que seguem, com parte da população decampando para Cacau e o resto permanecendo para lutar até a morte, sua unidade é quebrada. Eventualmente, o estado independente é destruído.

Tudo isso é contado com as bênçãos e encantamentos dos espíritos africanos, e dança animada, música, tambores, e movimentos típicos do candomblé brasileiro, comparáveis a santeria ou vodu, em outras expressões no hemisfério ocidental da cultura africana da diáspora. A capoeira, altamente evoluída em uma dança emocionante e atlética forma sem disfarçar suas raízes como uma arte marcial, é bastante exibida entre os destaques no espetáculo de 90 minutos.

Palmares é parte do Hollywood Fringe Festival de 2023. Concebido anos atrás em outra forma e agora desfrutando de sua última elaboração, ela foi escrita por Vayabobo em uma história por ele mesmo, Maurice Shaw, e Amen Santo, e dirigida por Shaw e Vayabobo. Produzida por Nayla Santo e Earl Cole, ela é apresentada pela Brasil Brasil Cultural Center, uma organização de artes brasileiras em L.A. A coreógrafa é Ashley Monique Blanchard, e o diretor musical é George Karpasitis. O design de som é por Karpasitis e Amen Santo. Os figurinos são por Sanni Diesner. O coordenador de acrobacias críticas é Phillipos Haile.

O elenco inclui Ashley Monique Blanchard, Eurico Senna, Evan Cristo, Felicia “Onyi” Richards, Jelani Lateef, Amen Santo (como Ganga Zumba), Marquisha Walker, Maurice Shaw, Melvin Dawyan Oliver, Oshunde Shango Oshun, Phillipos Haile (como Zumbi), Rick T. Johnson, Gulu Monteiro, Singa Diesner e Tulani Simone. Em sua única cena como o duplicado governador Almeida, o contribuinte do People’s World, Peter Lownds, o aplaudido tradutor do revolucionário romance de Urariano Mota, A Mais Longa Duração da Juventude (International Publishers), faz uma virada especialmente insinuante.

Palmares é uma história convincente de um povo lutando para preservar sua liberdade contra o imperialismo de seu tempo, contada do modo mais acessível e exuberante possível. Essa história verdadeira é a substância da qual as lendas são feitas.

Se você viajar para o Sul de Recife hoje, no estado de Pernambuco, você vai passar na cidade dos dias atuais de Palmares, e então cruzar no pequeno estado de Alagoas, cuja cidade capital é Maceió. A partir de dezembro de 1999, o aeroporto internacional lá (MCZ), tem o nome em homenagem a Zumbi dos Palmares (1645-1695), nacionalmente reconhecido entre os pioneiros da resistência a escravidão no Brasil.

Palmares está em cartaz no Broadwater (Palco Principal), 1076 Lillian Way, em Hollywood, perto da esquina sul de Santa Monica Blvd. Performances adicionais acontecem no sábado, 10 de junho, às 20h; sexta, 16 de junho 18h30; sábado, 17 de junho, 0h30; e domingo, 25 de junho, 1h.


por Eric A. Gordon, editor cultural do People’s World, escreveu uma biografia do compositor radical americano Marc Blitzstein, e foi coautor da autobiografia do compositor Earl Robinson | Texto em português do Brasil, com tradução de Luciana Cristina Ruy
Fonte: People’s World

Exclusivo Editorial Rádio Peão Brasil / Tornado

Quantas crianças terão que morrer até termos segurança nas escolas?

Mais um atentado violento numa escola assusta porque nenhuma mãe e nenhum pai querem deixar sua filha ou filho na escola e receber a notícia de sua morte por tiros em um atentado violento, onde uma pessoa entra na escola sem ter nada o que fazer ali.

Foi o que aconteceu nesta segunda-feira (19) no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no Paraná. Onde um homem de 21 anos matou a aluna Karoline Verri Alves, de 17 anos, e Luan Augusto, de 16 anos. Ambos baleados na cabeça.

O governo federal, através no Ministério da Justiça e Segurança Pública criou em abril a Operação Escola Segura com alguns resultados promissores, mas muitos governos estaduais não adotaram medidas competentes para garantir que alunas e alunos e profissionais da educação estejam em segurança no ambiente escolar.

Vários governadores como o do Paraná, de Goiás, de Minas Gerais, do Distrito Federal, de Santa Catarina e de São Paulo, entre outros, não valorizam a vida e a inteligência para impedir tragédias como essa do Paraná, onde jovens pagam com a vida o descaso com a educação pública.

Embora algumas medidas tenham sido tomadas, elas têm sido insuficientes para acabar com esse tipo de crime. Como nos Estados Unidos, apenas pensar em policiamento e não atacar a raiz do problema acaba por não avançarmos em políticas para o desarmamento e para a cultura da paz.

Além de de termos policiamento no entorno das escolas com policiais bem preparados para lidar com crianças e adolescentes, é fundamental haver concursos públicos para a contratação de mais funcionárias e funcionários. E assim garantir mais segurança para todas as pessoas dentro da escola.

Além disso, é necessário a aprovação imediata do projeto de lei, conhecido como PL das Fake News, para monitoramento contundente das redes sociais e responsabilização das chamadas big techs sobre o conteúdo disseminado em suas plataformas.

Porque liberdade de expressão não é liberdade para matar. Portanto, toda página disseminadora do ódio, propagadora da violência e da discriminação deve ser imediatamente tirada do ar e os seus autores responsabilizados juridicamente. Não é possível que organização fascistas e nazistas ajam com tamanha liberdade e aliciem pessoas para o crime.

Aliado a isso, é necessário rever as políticas de acesso às armas. Posse de arma não pode ser encarada como segurança pública. Por isso, precisamos da criação de um Sistema Nacional de Segurança Pública com base nos preceitos constitucionais de defesa da vida e dos direitos humanos. Também é essencial a priorização da educação pública com valorização do conhecimento e do respeito a todos os saberes, principalmente num país tão gigante como o Brasil.

Já passa da hora de promovermos um amplo debate com toda a sociedade para acabar com a cultura da violência, do individualismo, do se dar bem a qualquer custo e da violência contra crianças e adolescentes. Fundamental termos medidas de segurança, mas precisamos ter políticas públicas de respeito à escola com envolvimento da comunidade escolar. Quantas crianças ainda terão que morrer para garantirmos segurança nas escolas?


Texto em português do Brasil