Diário
Director

Independente
João de Sousa

Segunda-feira, Setembro 9, 2024

Sobre as águas da vida o silêncio dói

Vitor Burity da Silva
Vitor Burity da Silva
Professor Doutor Catedrático, Ph.D em Filosofia das Ciências Políticas Pós-Doutorado em Filosofia, Sociologia e Literatura (UR) Pós-Doutorado em Ciências da Educação e Psicologia (PT) Investigador - Universidade de Évora Membro associação portuguesa de Filosofia Membro da associação portuguesa de Escritores

Acordar no vazio refrescante da praia. Numa praia de ilha. Num mar de sol, quente, um mar azul deste distante e intenso sonho entre paredes mordazes, um dia um choro em mim sobre a cara cremada num desejo queimado, neste saco branco a morte que me leva aos deuses do fim, na terra encoberto de quilos e pesos para acorrentar o fim que o destino cria.

XXI

Os homens não se contam nem encantam. Dizem-se. Imagino uma selva ou uma serra, um deserto ou um castelo onde um dia Kafka invadira fingindo-se o agrimensor prometido, ou nas cartas de checoslováquia para uma alemanha vencida pela dor e dureza dos homens sãos e bons que matavam, a razão ali era o fio definhado da lucidez que faltava aos demais, se Ulisses de Joyce uma quimera ou odisseia reli a sustentação de que Borges sugerindo-me a escrita de deus no cárcere inventava grãos de areia que cresciam a cada sonho. Dei o meu corpo e a minha alma esvaziou-se numa falésia. Enternecidas estas gemas voam sobre prantos famintos, e o que sei é que foi, e o que foi, foi, se volta não sei nem quero, premissa miserável meu Deus, se o céu fosse o habitáculo dos sonhos desfeitos na planície, cântaros vazios por entre os tédios, fumegantes e repletos nasciam na distância, à beira os cervos gatinhavam os areais despidos de petulância, crescidos, fosse a vida uma certeza qualquer, ou consternação apenas. Ou se pueril acima dos ombros num peso de bradar, o silêncio da vigília neste canto inventado repleto de muros sem cor a saírem dos casebres cobertos de divindade, a voz nua subindo carreiros numa janela vermelha deste lugar que descubro a cada sonho que sinto, verosímil o silêncio das hostes, num mar que refuta, o pó laico da tarde numa casa que se perde a cada sombra que nasce numa noite que se arromba, como uma vírgula que divide uma frase, estendida na cama da verdade alojada no quintal de anos depois, acordado num relento de tempos esquecidos e vencidos e de mortes sem destino e sem nada, acima mais, coisa nenhuma, quem perde a alma, a ordem, quem se deslumbra na vitória, esquece quando perde, como quem sofre e se socorre dos vazios deixados após o dilúvio deste mar recuado num tsunami de mentira e sou, um sono prolongado.

Acordar no vazio refrescante da praia. Numa praia de ilha. Num mar de sol, quente, um mar azul deste distante e intenso sonho entre paredes mordazes, um dia um choro em mim sobre a cara cremada num desejo queimado, neste saco branco a morte que me leva aos deuses do fim, na terra encoberto de quilos e pesos para acorrentar o fim que o destino cria.

Mussulo anos 60 | Luanda – Imagens dos velhos tempos (facebook)

Raios partam as matemáticas! Prefiro os síbilos das inconstâncias, a metamorfose dos silêncios, a raiva e as iras do tempo, uma soma inconstrutiva de vontades e caminhos e é neles o meu regresso ao inconstante, ao momento por mim criado para me pertencer e ser vento no ouvido dos que me ouvem. Impacientam-me os matemáticos com as suas regras lógicas numa vida apenas sarcedoçal, sem limites nem estigmas, apenas bíblica e regida por vontades abstractas porque sim, a razão é inócua e vale apenas o momento, a vontade é eterna e vale uma vida esgrimida em esforços e lutas contra nós mesmos, içar amálgamas e de que sangue me formatar, reformar, inventar.

Desejo por de mais sonhar todos os dias, escrever dogmas e reinventar como lidar com eles, aguentar as suas inconstâncias dentro de nós mesmos e neles ou com eles caminhar por uma estrada ainda por descobrir, a vida resma coisas destas, é assim, seguir.

Penso que não calculo o meu desejo quotidiano com um mais, uma coisa parecida, prefiro voar intemporalidades fantásticas num esquema elaborado por retractos coloridos, viver palavras sem som e num silêncio escrever o teu mais resquicioso momento.

A minha alma soma momentos, amarguras, somo inquietações e distâncias, suo um rumo perdido e escrevo cadernos a carvão nesta casa sem pão, somo milhafres, vejo ao de longe passarinhos fluídos na tarde desaparecendo com a escuridão, sonho letras desaparecendo nos cadernos antigos e a sala onde escrevia, os sonos perdidos para inventar quem dizer o que quer que fosse, resmas de palavras seguidas e onde o sentido?


Como aperitivo à deliciosa prosa de Vítor Burity da Silva, apresentamos novo capítulo do livro Sobre As Águas Da Vida O Silêncio Dói


Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a Newsletter do Jornal Tornado. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

 

Receba a nossa newsletter

Contorne o cinzentismo dominante subscrevendo a nossa Newsletter. Oferecemos-lhe ângulos de visão e análise que não encontrará disponíveis na imprensa mainstream.

- Publicidade -

Outros artigos

- Publicidade -

Últimas notícias

Mais lidos

- Publicidade -