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Quinta-feira, Abril 25, 2024

A QUATRO PATAS!

José Antunes Ribeiro
José Antunes Ribeiro
Editor e Autor

Já passaram 50 anos (hélas!) sobre o dia em que iniciei a minha vida de editor. É costume dizer-se que o êxito ou o fracasso desta vida em que o papel e a tinta são reis e rainhas depende muito do faro. Eis, pois, que vos falo de uma vida de cão!

Um dos primeiros candidatos à publicação que desceu à minha célebre (graças ao António Lobo Antunes) e exígua (porque sim!) cave de Benfica, apresentou-me um longo ensaio destinado, segundo o dito cujo, a revolucionar completamente o mundo, as pessoas e, pormenor nada despiciendo, a minha carteira… Dizia ele que o êxito do livro seria tal que este pobre editor poderia, a partir desse momento histórico, encomendar uma esteira, plantá-la entre duas árvores e ficar o resto da vida a ouvir os passarinhos e a descortinar a música do vento perdida algures nas ramagens da floresta.

Nos intervalos (muitos!) iria contar as notas (muitas!). Pois bem, o título está em caixa alta como convém: A QUATRO PATAS. Defendia o meu esforçado (nos argumentos) interlocutor que a posição natural dos humanos seria andarmos com os pés e as mãos assentes no chão. O que acontecera à raça humana para exibir tão certeiramente este ar direitinho fora uma feroz e inconcebível violência. Nada mais, nada menos… E atirava com números e mais números para me convencer deste êxito editorial.

Milhões de portugueses, mais o Brasil, Angola, Moçambique, os Palop’s todinhos (até a Guiné Equatorial!), mais as comunidades portuguesas espalhadas pelo nosso vasto mundo, sem esquecer as mil e uma hipóteses de traduções em todos os continentes. Ao tempo era de bom tom referir a classe operária, os camponeses, os soldados e marinheiros, a intelectualidade (a falta que ela faz!), os políticos (nunca esquecer a classe política!), os funcionários públicos (logo aqui quase metade do país!), eu sei lá…

Imaginei então todas as máquinas tipográficas por minha conta, camiões nas estradas, comboios a abarrotar de papel, navios fretados, aviões cruzando os ares… tudo a trabalhar para mim levando e trazendo o êxito editorial “A QUATRO PATAS”!…

Não segui o entusiasta autor de livro não publicado nesta sua sugestão editorial e não sei se vos diga, se vos conte, que talvez tenha cometido o primeiro de uma série de erros irreparáveis…

Vou assistindo com algum espanto àquilo que se publica e ao triunfo (dos porcos) de certos livros e confesso que não sei se o meu malogrado autor não teria toda a razão!

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