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Sexta-feira, Abril 26, 2024

David Cameron sob contestação promete “transparência”

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O jornal The Guardian cita o governante britânico, que ao discursar num encontro com os membros do Partido Conservador, confessou que esta “não tem sido uma grande semana”;  “sei que deveria ter lidado melhor com a situação”, declarou. “Sei que existem lições a tirar deste caso e eu vou aprender com ele. E não culpem o nº 10 de Downing Street, ou conselheiros sem nome, culpem-me a mim. E eu aprenderei as lições”, frisou.

“Estou muito zangado com o que dizem do meu pai”, numa alusão às acusações de que Ian Cameron (falecido em 2010) teria dirigido um fundo offshore permitindo-lhe ficar isento de pagar impostos no Reino Unido ao contratar um grupo de residentes nas Bahamas, para assinar documentos.

O mesmo jornal revelou há dias que Cameron pai dirigiu o Blairmore Holdings Inc., um fundo de investimento gerido a partir das Bahamas, mas cujo nome vem da casa de família na localidade inglesa de Aberdeenshire; o fundo de investimento, que era cliente da Mossack Fonseca (escritório de advogados no centro da polémica) geriu dezenas de milhares de libras em nome de famílias abastadas.

 

Primeiro-ministro promete transparência, críticas prosseguem

“Os factos são que eu comprei acções de um fundo de investimento, acções que são como quaisquer outras, e paguei impostos sobre as mesmas exactamente da mesma maneira. Vendi tais acções; de facto, vendi todas as acções que tinha quando me tornei primeiro-ministro”, explicou Cameron, que reiterou a promessa de tornar pública a sua contabilidade fiscal, “não apenas deste ano mas de anos passados, porque quero ser completamente transparente sobre estas coisas. Serei o primeiro chefe de Governo e líder partidário a fazer isto, mas penso que é o correcto a fazer”, insistiu Cameron, citado pelo jornal britânico.

Enquanto decorria este encontro do partido do governante britânico, uma manifestação em Downing Street, em Londres, marchou até ao Grand Connaught Rooms, em Covent Garden, exigindo a imediata demissão do primeiro-ministro. Exibindo cartazes que protestavam tanto contra Cameron, como contra o Partido Conservador (Tory), os manifestantes gritavam, entre outras frases de protesto, “Cameron Out” (“Cameron Fora”). Recorde-se que houve mesmo deputados que esta semana exigiram a demissão do chefe do Executivo britânico, devido ao escândalo do Panama Papers; este foi acusado de enganar o público, uma vez que, após várias declarações em que afirmava nada ter a ver com o caso, Cameron admitiu finalmente ter beneficiado do fundo de investimento Blairmore.

 

Adversário político exige a verdade do primeiro-ministro

O principal rival de Cameron, Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, afirmou que também ele iria revelar “muito em breve” as suas declarações fiscais e exigiu acções para combater os paraísos fiscais. Corbyn afirmou à Sky News que Cameron “fez uma série de declarações ao longo da semana que são um pouco confusas. Finalmente chegámos a um ponto em que ele revelará os seus dados fiscais, aparentemente, e também nos dirá quanto dinheiro foi feito a partir deste fundo de investimento offshore, que impostos pagou e que impostos foram pagos pelo fundo”.

Estas revelações surgem a poucos meses do referendo sobre se o Reino Unido vai ou não continuar na União Europeia, e semanas após a demissão do secretário para as Pensões e Trabalho, Iain Duncan Smith, na sequência de propostas sobre cortes nos subsídios. Outro problema que o executivo de Cameron enfrenta é o possível colapso da indústria do aço britânico, depois da companhia Tata Steel anunciar que iria retirar todos os seus negócios do país, pondo em risco 15 mil postos de trabalho.

 

O que levou Cameron a querer ser transparente?

Alan Soady, analista político da BBC, afirma que este mea culpa de David Cameron apenas diz respeito aos seus assuntos fiscais, não a assuntos que digam respeito a possuir acções em fundos de investimento. Porém, está ciente que “levar vários dias para confirmar que chegou a possuir acções permitiu, aos seus opositores políticos, acusá-lo de enganar o público. Assim, numa tentativa de provar que nada tem a esconder, vai divulgar informação dos seus impostos”, acrescento o analista. Dependendo de que tipo de informação será, isso poderá acalmar os ânimos contra Cameron, mas “quando ele fala em assumir responsabilidades pessoais, procura proteger os seus mais próximos conselheiros em Downing Street, os quais têm sido acusados por alguma imprensa, e mesmo alguns conservadores, pela fraca resposta do primeiro-ministro”, afirmou Soady.

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