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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

A onda rosa americana

Paulo Casaca, em Bruxelas
Paulo Casaca, em Bruxelas
Foi deputado no Parlamento Europeu de 1999 a 2009, na Assembleia da República em 1992-1993 e na Assembleia Regional dos Açores em 1990-1991. Foi professor convidado no ISEG 1995-1996, bem como no ISCAL. É autor de alguns livros em economia e relações internacionais.

Em qualquer direcção, horas a fio, em todos os eixos principais da cidade viam-se multidões compactas com o emblemático capucho cor-de-rosa (as instruções de fabrico foram colocadas on-line e não estavam à venda).

Alguns homens, mas uma esmagadora maioria de mulheres de todas as idades. Imensas jovens, mães de família e menos jovens, na esmagadora maioria de uma classe média que se pode encontrar em qualquer cidade americana, sem dúvida a maior manifestação que vi na minha vida, numa atmosfera de festa e de protesto por temas feministas mas também de outras temáticas políticas.

A manifestação foi também seguida em muitas outras cidades americanas, embora a da capital fosse a mais importante, e aquilo que mais me impressionou foi a relativa reduzida presença das chamadas minorias étnicas (vi, em proporção, mais gente de ascendência africana, asiática ou ameríndia no baile presidencial) tendo em conta o facto de Washington ser esmagadoramente uma cidade afro-americana com uma importante presença latino-americana.

A mensagem é a de uma progressiva polarização da sociedade por temas de carácter diverso que não é de forma alguma seguro por onde vão conduzir a sociedade americana e que impacto vão ter no mundo.

No meio de toda a diversidade, o que mais me impressiona é o opróbrio ou no mínimo desinteresse demonstrado pela opinião pública pela globalização. Um dos temas mais quentes na manifestação foi o protesto contra a discriminação dos emigrantes ou a construção do muro com o México, mas esse interesse não se reflectiu nem na presença de comunidades imigrantes nem no interesse dos manifestantes pela condição da mulher no resto do mundo, a começar nos países submetidos ao fanatismo muçulmano.

Este desinteresse é reflectido no outro lado do espectro político com o Presidente americano a fazer os mais bombásticos anúncios de políticas antiglobalização de que há memória.

A esse propósito, convém todavia lembrar que George W. Bush começou a sua presidência com um programa isolacionista, que mudou radicalmente – infelizmente na má direcção – com o 11 de Setembro, e que é bem possível que algo do mesmo género venha a acontecer também agora.

E por isso acho que o tempo é mais apropriado agora do que nunca para repensar a globalização em que vivemos. Há um enorme espaço político para repensar a globalização num sentido de participação e equidade social e de respeito ambiental, e é agora, que a nossa globalização gerida de uma forma estreita por uma oligarquia político-financeira está em crise aberta que ela pode ser pensada de forma diferente.

Nota do Director

As opiniões expressas nos artigos de Opinião apenas vinculam os respectivos autores.

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