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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Banca Estrangeira ou Nacionalizada?

Jorge Fonseca de Almeida
Jorge Fonseca de Almeida
Economista, MBA, Pos-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança, Auditor do curso de Prospectiva, geoeconomia e geoestratégia, Doutorando em Sociologia

nacionalizacoes

 

Não há exemplo de país desenvolvido e próspero sem um sólido sector financeiro nacional que conceda crédito ao investimento na indústria, suporte os ciclos naturais da agricultura, financie a expansão dos serviços, que mantenha um sistema de pagamentos eficaz e apoie as famílias na aquisição de bens duradoiros. Pelo contrário, existem múltiplos exemplos de pequenos países que crescem e florescem graças aos seus bancos, vejam-se os casos da Suíça, do Luxemburgo, do Uruguai, entre outros.

Assistimos hoje a um ataque frontal ao sector bancário português por parte de bancos estrangeiros de raíz espanhola que se preparam para absorver mais de 50% do mercado português, assegurado que já está o controlo do Totta e Açores, do Crédito Predial Português, do Banif todos incorporados no Santander, do Barclays pelo Bankinter, da presença do Banco Popular e do BBVA e se prepara a tomada definitiva e completa do BPI pelo Caixa Bank e existem rumores do interesse espanhol pelo Novo Banco.

Portugal e Espanha são países concorrentes, comercializando no mercado externo e interno, produtos semelhantes, quer ao nível industrial, têxteis, calçado, componentes automóveis, etc., quer ao nível dos serviços em que a concorrência é grande por exemplo no turismo, quer na agricultura em áreas como o vinho, o azeite, a cortiça e muitas outras.

Controlando a banca no nosso país a Espanha fica em posição de estabelecer o custo financeiro das empresas portuguesas que fazem concorrência às suas empresas e em condições de controlar, através do crédito que aprovam, o ritmo e o tipo de investimento que as empresas portuguesas poderão fazer. No fundo passa a poder decidir quais as empresas, os sectores e os projectos que quer financiar ou estrangular.

Naturalmente que as grandes empresas podem sempre financiar-se nos mercados internacionais, e muitas das grandes empresas que operam em Portugal são multinacionais estrangeiras, mas as pequenas e médias, sem dimensão nem sofisticação financeira, ficarão dependentes das decisões tomadas em Madrid. Mas mesmo as grandes empresas portuguesas encontrar-se-ão mais dependentes e enfrentarão maiores contrariedades e dificuldades uma vez que devem milhões aos bancos que estão a mudar de mãos.

O resultado será uma grande dependência de Portugal face ao país vizinho, a perda de maiores parcelas da sua liberdade estratégica económica e uma previsível série de falências seguida por uma onda de compras de empresas portuguesas pelas suas concorrentes espanholas.

Os grandes grupos económicos não conseguem, por via do enorme peso da dívida que contraíram no passado e da contração do mercado interno devido às políticas de austeridade, gerar ou levantar os fundos que permitam capitalizar e manter a banca em mãos nacionais. Os angolanos, nossos aliados nesta saga de preservar um sector financeiro luso, estão em grandes dificuldades depois da queda abrupta do preço do petróleo, e não poderão ajudar mais. Veja-se o caso BPI e do Millennium, onde se anuncia um aumento de capital que, tudo o indica, os irá diluir.

Resta como defendem muitos sectores da sociedade portuguesa, a nacionalização da banca, não como opção ideológica, que também é legítima, mas como imperativo patriótico de salvaguarda do nosso futuro como nação independente e de salvaguarda do tecido produtivo nacional.

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