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Quinta-feira, Abril 25, 2024

“O construtor do mundo”

João de Castilho | O construtor do mundo, lançamento do livro, em Tomar

«Olá! O meu nome é João e o que vos irei passar a contar é a minha história, aquela história que fez com que eu ficasse conhecido como “O construtor do Mundo” depois de mais de 500 anos, já que fui o único arquitecto capaz de ter obras em cinco Monumentos declarados Património da Humanidade pela UNESCO.»

Assim começa, na primeira pessoa, a narrativa da vida do mestre – arquitecto espanhol que viveu a maior parte da sua vida em Portugal, onde deixou vasta e importante obra cujo maior exemplo é, talvez, o mosteiro dos Jerónimos – que não só afirmou poderosamente o estilo manuelino português como foi responsável pela introdução, no nosso país, do estilo renascentista.

Mas apesar da sua grandiosidade, o arquitecto continua a ser desconhecido por muita gente. Essa é uma das razões que terá levado o seu conterrâneo, Alberto Luna Samperio, a lançar um pequeno e apelativo livro, profusamente ilustrado pelo jovem finalista em arquitectura na Universidade do Porto, Leonardo Abreu, destinado a jovens, através de uma linguagem simples (mas não simplista) e de grande interesse para quantos se deslumbram pela arquitectura portuguesa Manuelina.

Porquê Tomar para apresentar o livro?

O lançamento em Tomar, capital do Manuelino, era pois um imperativo e o ter acontecido naquela que foi a primeira escola de desenho de Tomar, actualmente a escola de Jacome Ratton, uma feliz escolha. É afinal, este “poeta da pedra”, o responsável pelo fantástico portal Manuelino que, no século XVI, construiu, rasgando a primitiva igreja templária do século XII – a charola do Convento de Cristo, acrescentando-lhe o coro alto, cuja abóbada é como que um “esboço” da que viria construir, posteriormente, no Mosteiro dos Jerónimos; bem como a sacristia da mesma onde, na parte exterior, construiu também o símbolo nacional que é a janela do capítulo, já desenhada pelo seu antecessor, Diogo de Arruda mas a quem Castilho vem dotar de toda a grandiosidade e eloquência que a fez Património da Humanidade.

Se é certo que o século XVI é o expoente máximo da nossa monumentalidade, graças ao ouro do Brasil, às tapeçarias e especiarias do Oriente e a toda uma imensa riqueza que nos chegava através dos Descobrimentos Portugueses, também é verdade que para essa grandeza foi necessário arte e engenho em que Castilho foi pródigo.

O trajecto da obra de Castilho

A obra agora lançada é bilingue (português e espanhol), começa na Cantábria, segue pelo norte de Portugal onde Castilho deixa as primeiras marcas da sua vasta obra em território nacional, fazendo referência ao seu casamento com uma portuguesa, passa por Tomar, Lisboa e Marrocos, regressando mais tarde a Tomar onde acaba por construir, já sob as ordens de D. João III, aquela que é considerada a obra mais pura da Renascença Portuguesa, a ermida de Nossa Senhora da Conceição que deveria ter servido de mausoléu ao rei e que o próprio mestre refere como sendo a sua melhor obra. Como não se sabe onde está sepultado João de Castilho, muitos acreditam que pode ser em Tomar, uma vez que aqui estabeleceu a sua residência familiar numa casa nobre cuja janela de esquina é, também ela, património nacional classificado e que foi, até há pouco tempo, a belíssima biblioteca municipal da cidade.

De referir ainda que, embora estrangeiro, Castilho foi nomeado Cavaleiro da Casa Real e pertenceu à Ordem de Cristo. Com família em Braga, foi para aí que, ainda muito jovem, João de Castilho foi viver, após ter aprendido a sua arte com “grandes arquitectos da época que estavam ao serviço dos reis católicos de Espanha”. Foi, pois, pelas mãos do arcebispo de Braga e na catedral desta cidade que introduz em Portugal a nova técnica das abóbadas das igrejas.

João de Castilho e o Convento de Cristo

O seu trabalho terá agradado tanto ao arcebispo que o recomendou a outros bispos portugueses, tendo o seu nome acabado por chegar à corte de D. Manuel que lhe propôs acabar as obras do Convento de Cristo em Tomar, “belíssima vila, onde compramos uma casa e uns terrenos onde plantamos árvores de fruto e oliveiras, para assim podermos formar uma família”.

Chegado ao Convento de Cristo, onde as obras haviam já sido iniciadas por Diogo de Arruda, Castilho decidiu, nesta que foi a sua primeira obra régia, “melhorar e ampliar o convento para lhe dar uma maior majestosidade”.

Esta a obra que fez de João de Castilho arquitecto da corôa e, sem dúvida, a grande afirmação de um estilo arquitectónico único e exclusivamente português, o estilo Manuelino.

Galeria de fotografias da apresentação do livro


Biografia de João de Castilho

Nasceu entre 1470-1475, na vila de Santander, Cantábria, Espanha. Esteve na Galiza, Nápoles e nos inícios do século XVI veio para Portugal.

Efígie de João de Castilho no Mosteiro dos Jerónimos
Efígie de João de Castilho no Mosteiro dos Jerónimos

Em 1509, João de Castilho termina a sua primeira obra em Portugal, a Capela da Catedral de Braga. Nesta época também executou trabalhos na Igreja da nossa Senhora das Areias, em Barcelos, e em Coimbra.

Em 1511 realiza obras em Vila do Conde, de seguida passa para a Sé de Viseu, que termina em 1513.
Cerca de 1515, é nomeado pelo Rei D. Manuel I para efectuar diversas obras “manuelinas” no Convento de Cristo, em Tomar. Finalizada esta empreitada, João de Castilho começa a ter grande prestígio e fama, de tal forma que é regiamente nomeado para realizar as obras do Mosteiro dos Jerónimos.

Em Alcobaça, por volta de 1519, o Rei confia-lhe a construção da Sacristia Nova, da qual, devido ao terramoto de 1755, só resta o átrio e o portal, ambos magnifícos. Foi também da sua autoria, a traça da Bilbioteca, da qual infelizmente, nada subsiste.

Continuará a desenvolver uma intensa actividade no nosso país sob a égide de D. João III, nomeadamente em Santa Maria de Belém, Freixo-de-Espada-à-Cinta, Arronches, Marvila, Santarém, Braga, Porto, Vila Nova da Barquinha, entre outras. Em 1518, foi incumbido de dirigir as obras no Mosteiro da Batalha e em 1542 foi para Arzila e Mazagão, onde edificou uma fortificação militar.

João de Castilho destaca-se não só na arquitectura religiosa mas também na arquitectura militar e civil. Segundo Alberto Luna, João de Castilho é o único arquitecto com obra realizada em cinco monumentos declarados Património da Humanidade pela Unesco.

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