Este ano comemoram-se os 500 anos da primeira apresentação do “Auto de Moralidade da Embarcação do Inferno”, também conhecido como “Auto da Barca do Inferno”. Para marcar esta data, os dois grupos decidiram montar este texto emblemático vicentino. A Escola da Noite e o Cendev, ao levarem a cena este espectáculo, assumem a sua vontade de celebrar com o público este momento fundador do Teatro português.
Gil Vicente não é “apenas” o nosso maior dramaturgo, ele é uma das figuras cimeiras da nossa literatura e da nossa cultura, pese embora o insistente esquecimento a que tem sido votado. À falta de datas precisas de nascimento e morte, é a sua obra que pode e deve ser comemorada, em particular o “Auto da Barca do Inferno”, obra maior da Idade Média europeia.
Embarcação do Inferno
As duas companhias convidam os espectadores a voltarem a olhar para a peça e a confrontarem-se com tudo o que ela continua a ter para nos oferecer, cinco séculos depois. Ou seja, o espectáulo “Embarcação do Inferno” trabalhou o texto original de Gil Vicente, mas com uma abordagem cénica contemporânea.
José Augusto Cardoso Bernardes, consultor científico do projecto, salienta:
“pela mão qualificada, segura e inventiva da Escola da Noite e do Centro Dramático de Évora, ficamos em condições de problematizar temas de sempre: Morte e Vida, Mal e Bem, Ter e Poder. E, para tal, nem sequer precisamos de sair completamente do século XXI. Com os pés assentes no nosso tempo, bastará alongar o ouvido e apurar a visão para escutar a sensibilidade e a moral de um outro tempo que, afinal, não está ainda tão afastado de nós como pode parecer.”