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Segunda-feira, Março 18, 2024

Iraque, Estados Unidos e a má-fé (a morte dos Direitos Humanos)

Alexandre Honrado
Alexandre Honrado
Historiador, Professor Universitário e investigador da área de Ciência das Religiões

Yazidis / Como os Estados Unidos ajudam ou não os povos?

À margem, vozes tão diferentes como as de Noam Chomsky ou a do Dalai Lama, permitem confirmar, sem a habitual parcialidade doentia dos comentadores oficiais – uma imprensa instrumentalizada, uma assessoria de comunicação paga regiamente e uma elite de propaganda ao serviço das campanhas – como os Estados Unidos tomaram conta do mundo ocidental, onde o desprezo pelos direitos e pela democracia são cada vez mais evidentes – e assustadores.

Haverá cinco frentes do capital no mundo de hoje, cada qual a mais aviltante da dignidade desejável: a chinesa, a russa, a europeia comunitária, a do médio oriente e a norte-americana. Todas pugnam, com matizes diferentes, pela morte dos Direitos Humanos, pois estão nos antípodas do humanismo, e dos seres humanos como etapa final da sua vocação.

Onde tropeçou Obama

Barack Obama que, na primeira eleição a que se apresentou com êxito imediato, aparecia aos olhos do mundo como um reformador otimista e decidido, tropeçou na evidência de uma rede de interesses que o manietou e “pôs no seu lugar”.

Nem a reforma da saúde americana, nem Guantánamo, nem os seus desejos sociais mais amplos, nem o programa de aperfeiçoamento dos sistemas de armas nucleares planeado pelo Pentágono (com um orçamento, incontornável, de muitos milhares de milhões de dólares), nem a recolha das armas nas/das mãos da população civil tiveram qualquer evolução positiva como a “administração Obama”.

O herói de há anos é um tipo porreirinho e agora, capaz de prolongar a memória em revistas de decoração, mas saia da Presidência.

Américas de Trump e/ou Hillary

A América de Trump é a mais (triste e assustadoramente) radical. A de Hillary a mais tristemente marcial, com nuances de outros tipos de radicalismos. E a de ambos é uma América dos grandes interesses, da venda e utilização de armas, manipulação da gestão de recursos naturais, dos desastres ecológicos, da marginalidade.

A América da morte para o mundo, da morte dos seres vivos e da natureza, em suma, mas também da morte das utopias mais saudáveis.

E se outrora os norte-americanos surgiam como os intensos e fiéis intérpretes dos valores da Democracia (sempre de certa Democracia, entenda-se), tendo passado à categoria castreja de polícias do mundo, hoje não são mais do que os fautores dos mercenários e de todos os conflitos.

Mercenários criados pelos Estados Unidos

Nunca se estranhou quando percebemos (finalmente?) que os Estados Unidos tinham criado Bin Laden. Como tinha apoiado Hassan Hussein para mais tarde o depor. Como tinham formado e gerado “coisas”, insanos como os do DAESH, grupo de assassinos que age a coberto de slogans abusivos, fragilmente religiosos, incendiando terras e ainda imaginários de jovens gerados pela e para a mais profunda imbecilidade de vida (uma grande aposta das grandes potências é, como se sabe, a ignorância dos povos que controla, de modo a poder instrumentaliza-los num novo modelo de escravatura contemporânea).

Entre os muitos exemplos possíveis, não é de espantar que a mais ativa Unidade de elite iraquiana (unidade contra-terrorista de elite iraquiana, conhecida como a Divisão Dourada), a operar neste momento no cenário de guerra no Médio Oriente, tenha sido formada pelos EUA (em 2003); se era vista com desconfiança pela população local, hoje é aplaudida pois está na linha da frente nos combates para reconquistar Mossul.

Conflitos como montra dos produtos americanos

As fardas…

Não é novidade. Se testam os últimos armamentos norte-americanos, vestem fardas pretas desenhadas por um estilista dos EUA (outro tanto se passa com o DAESH que até para os prisioneiros têm fardas cor de laranja, aquelas que os americanos também usam em Guantánamo, até porque vender em massa torna o produto mais competitivo).

Os carros…

Repare-se nos carros e nos jipes onde os assassinos se movimentam. Os Humvee, High Mobility Multipurpose Wheeled Vehicle, que significa Veículo Automóvel Multifunção de Alta Mobilidade, são fabricados pela AM General, companhia norte-americana de veículos militares e diferenciados (como os SUVs). Possui escritório em South Bend e fábrica em Mishawakan, Indiana, Estados Unidos. Entre seus modelos mais famoso estão o HMMWV (lê-se Humvee), Hummer H1 e Hummer H2.

Atualmente a General Motors Corporation (GM) possui os direitos de comercialização da marca Hummer, também conhecido como o jipe dos traficantes (em África, as elites adoram-no, como símbolo do seu estatuto). Já agora, o Japão, a par disto, até tem uma carrinha de caixa aberta, muito popular no Médio Oriente, a que chamam a linha Talibã, veículo que faz parte do segmento de mercado que mais tem apoiado – muito! – a economia local.

Enfim, as indústrias…

Das indústrias – armamento, meios de locomoção, construção civil, até à dos fardamentos, passando por muitas outras – virá a ordem de prolongar as guerras e a de criar, finda uma, outra mais além.

Afinal, os principais terroristas dos últimos 50 anos, devem aos militares dos Estados Unidos a sua criação, treino e armamento. E às empresas americanas as suas principais linhas de crédito e estímulo operacional.

Calendário americano e o Estado Islâmico

Neste momento, o grupo extremista de assassinos que gosta de chamar-se, sem fundamento legítimo, Estado Islâmico (EI), depois de controlar uma área extraordinária de território, já viu diminuir em dezasseis por cento, desde o início deste ano, essa mesma área de conquista.

Não havendo interesses como os que existem – o petróleo e as armas à cabeça – não dominariam uma área tão vasta durante tanto tempo. Só há alguns dias, exatamente a 1 de novembro, o exército iraquiano entrou pela primeira vez em Mossul, pelo sector de Judaidat Al Mufti (leste).

Cumpre-se assim o calendário americano (que só rivaliza com o russo, nesta fase). Depois das eleições se verá se tem mais dias, ou se põe uns feriados de tréguas aqui e ali, para poder ganhar tempo e dinheiro.

A existir alguma fonte religiosa nestes cenários, há de ser, sem dúvida, a da má fé. Não nos parece existir qualquer outra mais espiritual ou dignificante…
Este artigo respeita o AO90

Nota do Director

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