Diário
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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Incerteza….

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

Poema, em dez andamentos, de João de Almeida Santos
para “Ao Domingo”, desenho inédito de Filipa Antunes

INCERTEZA….

I.

São ecos
Da tua alma
As cores
Intensas
Com que te
Pintas
E como te
Pensas
Neste domingo
Do nosso
Incerto
Destino…

II.

Convidas-me
A ler-te
Nas cores
Do espanto
Com que
Teus olhos
E tua boca,
Tão hesitantes,
Se revelam…

E aguardas,
Expectante,
Que eu te veja
Neste instante
E nessa cor
Exuberante
E que pinte
A tua alma
Com devoção
De poeta
Errante…
…………………..
P’ra te dizer
Palavras
Ambíguas,
Mas certeiras,
Que saiam
Do fundo
Da timidez
Em sobressalto
Que eu,
inseguro,
Sinto,
De cada vez
Que te vejo…
………………..
Lá no alto!

III.

São pretos,
Sim,
Os teus cabelos
E eu sei,
Porque os vi
Com meus
Olhos
E os senti
Com o peito…
………………………
Mas tua alma
Essa,
A que eu leio
No teu rosto,
Está impressa
Como coroa
Sobre ti
Com a cor
Efémera
Das giestas
Floridas
Na primavera
Dos nossos
Fugazes
E incertos
Desencontros!

IV.

Tua boca
Sensual,
Lábios
Ao rubro,
Carnal,
Oferece-se
Ao beijo
Das minhas
Palavras
Neste poema
Intenso
No domingo
Do nosso
Encantamento!

V.

És bela
Como ele,
Este Dia
Do eterno
retorno
Em que me
Deixas
Abraçar-te,
Peito quente
Ou morno,
Sempre,
Com palavras
De ousado
Desafio,
No meu regresso
Tardio
A ti,
Ó deusa
Tão ausente
Do meu viver!

VI.

Mas vejo
Neste dia
Do reencontro
Feliz
Uma leve
Tristeza
Que em teu
Rosto
Aflora,
Com nitidez,
Como quem chora,
Em contido
Espanto,
Nesta hora
Em que te leio
Quase
Como pranto
De nunca
Te ver,
Meu amor!

É olhar
Que roga,
Olhar incerto,
Boca suspensa
Da pergunta
Que não ousa sair
Sequer
Como murmúrio
De teus lábios
Hesitantes…

VII.

Ah!, então
Pergunta,
Sim, pergunta,
Para que eu
Te fale,
De tão longe,
Sem hesitar,
Das minhas
Certezas…
……………………..
Que os astros,
Sim, os astros
Estão alinhados
Sobre nós,
Suspensos
Em riscos,
Palavras
E cores,
Os sinais,
Como sóis
Que iluminam,
Ardentes,
A nossa vereda
Tão estreita
E fascinante…

VIII.

Por isso,
Com meus poemas
Te sigo
E te persigo
Mesmo que
Um dia
(Que nunca virá…)
Se esfumem
No horizonte
As tuas cores,
Te perca,
Ali,
Na rua
Do desencontro,
Onde eu
Te conheci,
E meu rosto
Escureça
Sob as negras
Nuvens
Dos destinos
Não cumpridos…
………………………
Mesmo assim,
Te seguirei,
Meu amor,
Em busca
Dos mil rostos
Da tua
Metamorfose,
Essa que sinto
E pressinto
Como hipnose
Ou beleza
Oferecida
No teu olhar
De espanto
E assustado,
Na tua boca
Suspensa
De tanta
Incerteza…

IX.

Procurarei,
Então,
Mais rostos,
Mais cor,
Mais riscos,
Com dor…
………………………….
Usarei palavras,
Sinais,
Desenhar-te-ei
Cada vez mais
Com meus poemas
Irei ao cais
Ao pé do rio
Saber se vais
Ao outro lado
Da nossa vida
Fazer mais riscos
Não sei que mais…

X.

Tanta incerteza
No teu olhar…
Ó deusa
Do meu destino!


Ilustração: “Ao Domingo”, desenho inédito, a aguarela e a tinta-da-china, de Filipa Antunes (29.06.17)

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