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Quinta-feira, Abril 25, 2024

Depois de Trump… Sérgio Inocente!

Luís Fernando, em Luanda
Luís Fernando, em Luanda
Jornalista, correspondente do Tornado em Angola

Sérgio Inocente a ver tv

No dia em que Donald Trump viveu o choque de ter sido levado demasiado a sério quando ele só pretendia viver emoções diferentes de campanha, o tal em que as televisões disseram que o vencedor era ele e ele se pôs a duvidar das notícias, Sérgio Inocente não saiu de casa. Mandou bugiar a equipa de campanha, disse à mulher Zumba Inocente que precisava de ser deixado a sós no escritório e livre de interrupções, e se desfez dos telemóveis para ter a certeza de que ninguém o descobriria na vastidão do Universo. «Vai ser como se eu estivesse em Neptuno, Júpiter ou Saturno, numa dessas ‘lonjuras’ inalcançáveis», animou-se.

Precisava de silêncio e, sobretudo, de tempo para rever vídeos de uma das mais notáveis campanhas eleitorais desde que os gregos inventaram a Democracia e os americanos lhe acrescentaram o tempero dos frente-a-frente na TV, dos road show em mil vilajeros numa única semana e a irresistível paixão de chamar nomes ao oponente com a secreta e doce esperança de vir de lá, como resposta, um torpedo. Sem árbitros que chamem os irreverentes candidatos à razão, as campanhas ganham pernas e assumem o estatuto de “palhaçada à moda dos gringos”, que tem muita piada intramuros ainda que, lá fora, se pergunte se aquela gente toda anda doida. “Andamos a precisar de uma animação destas por aqui”, desejou Sérgio Inocente, depois que viu num vídeo – que pode ter sido manipulação das televisões hostis a Trump, nunca se sabe!-  o candidato loiro aos gritos de “vá tomar no c…, vá tomar no c…” contra uma jovem mulher que o desafiara a baixar as calças para mostrar se a ferramenta do desejo seria mesmo tão “invisível” como se apregoava em cartazes plantados ao longo de inúmeras autoestradas.

«Se me saio com uma merda destas por cá, sou linchado ou as multidões vão adorar?», colocou-se a dívida existencial que já o rondava há algum tempo, com a ideia de avançar por caminhos pouco ortodoxos no modo de assaltar a cadeira do poder. Pensou em consultar a equipa de campanha mas lembrando-se do católico que a chefia, Cristo Mbiavanga, preferiu aconselhar-se melhor com a própria consciência. E decidiu ao instante:

“aprende Sérgio Inocente, aprende! Eles escrevem-te o discurso, tu respeitas as primeiras linhas e, depois, empolgas-te e o resto é contigo. Diz o que a tua intuição manda dizer!”

E foi a manhã toda nisso. A tarde. A noite. A madrugada. Umas vinte horas a visionar Trump e a estudar o método de se condensar aquela salgalhada numa síntese com algum grau de cientificidade, porque a simples reprodução do que via num contexto como o da sua terra poderia ser contraproducente. «Olha que os gringos são peritos em ignorância, a malta cá parece que não é bem assim, não sei, haverá que testar».

A fome derrubou-o e foi quando se entregou aos cuidados da sua bendita Zumba Inocente, a aliada mais importante com que poderia contar na marcha rumo ao Palácio.

– Mulher, meio franguinho e um litrinho daquele meu Douro que aprecio, não fariam nada mal – pediu.

– Querido, não é muito de uma só vez? Olha que as mulheres são maioria nesta terra, precisas do voto delas e tens de ser aquele galã de cinema…- arriscou um palpite Zumba Inocente.

– Mulher, faz o que te peço. Já não se ganham eleições a ir pelos caminhos habituais. O slim fit que existe aqui começa hoje mesmo a ser enterrado. É o que é diferente que dá votos. Qualquer dúvida, fala com o Trump!

O autor escreve em PT Angola.

Nota do Director

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