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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Emma Goldman – a insubmissa

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

Morreu em 1940. Contudo, Emma Goldman assim descrita por William Reedy: “Vive livre e está disposta a pagar o preço da deturpação, da injúria, da pobreza, da perseguição. E, entre tudo isto, é serena. Está segura da sua sanidade num mundo louco.” – continua presente em todos os olhares de liberdade.

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires

Originária da Lituânia, nasceu num bairro judeu em 1869 e emigrou para os Estados Unidos ainda jovem. Os acontecimentos de Chicago (greve geral, confrontos entre polícia e trabalhadores, assassinatos em reuniões que decorriam pacificamente, prisões) irão contribuir decisivamente para a formação da sua consciência política. Decidiu, então, ir para Nova Iorque e envolver-se na causa dos Mártires de Chicago. Como refere nas suas memórias, a solidariedade de pessoas que, como ela, não se conformavam com o mundo injusto em que viviam, fê-la sentir como se renascesse.

Emma Goldman, mulher a quem tudo interessava, a política, a literatura, o jornalismo, a arte, a emancipação das mulheres, tornou-se uma figura determinante no movimento anarquista, que ela entendia não apenas como um sonho virado para o futuro mas como guia para a sua acção quotidiana. Por isso, viveu como ser livre, guiando-se por um lema que foi, ao mesmo tempo, a sua prática de vida: “transformar o mundo”. Foi uma combatente contra todas as formas de opressão e de injustiça. O seu último combate concretizou-se no apoio aos anarquistas espanhóis durante a Guerra Civil. Na sequência do convite de Augustine Souchy (secretário do Comité Anarco-Sindicalista) chega a Barcelona em Setembro de 1936 preparada para o combate com a sua arma de eleição, a palavra. Sabemos que foi uma batalha perdida: o nazi fascismo alastrava pela Europa.

Emma Goldman fez de tudo um pouco: foi operária, enfermeira, conferencista, escritora, editora. Foi, sobretudo, uma mulher de acção e empenhou-se na conciliação entre as diferentes correntes anarquistas. Dirigiu, durante anos, a publicação Mother Earth. Dos vários textos que deixou, salienta-se a sua autobiografia Living My Life onde afirma: “Acredito que o Anarquismo é a única filosofia de paz, a única teoria do relacionamento social que valoriza a vida humana acima de todas as coisas.”

Mulher decidida, frontal e corajosa, podemos considera-la antes de mais como uma amante da vida. Pelas posições que tomou foi muitas vezes presa e perseguida. Mas foi, igualmente, admirada e amada.

Trabalhou até ao último dia da sua vida. Conheceu o sabor da angústia e do negro desespero mas também a exaltação da alegria. Na verdade, revolução e alegria eram, para Goldman, inseparáveis:

Se não puder dançar, esta não é a minha revolução[1]

[1] Esta afirmação de E. Goldman serve de título à obra que Clara Queiroz escreveu sobre a sua vida.

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