Ecologistas portugueses desconfiam de descargas anómalas da central nuclear de Almaraz para o maior rio ibérico e falam da perigosidade para Portugal de acidentes mais graves
Na madrugada de ontem, a central nuclear de Almaraz, situada no município espanhol de Almaraz, na comarca natural Campo Arañuelo, refrigerada pelo rio Tejo e pertencente às empresas Iberdrola, Unión Fenosa e Endesa, voltou a avariar.
Já no início de Fevereiro, a mais antiga central nuclear de Espanha, que se encontra no rio Tejo a cerca de uma centena de quilómetros da fronteira portuguesa, tinha registado falhas.
Através de uma nota de imprensa divulgada durante a manhã do passado Domingo, a administração da central nuclear de Almaraz, anunciou que um dos equipamentos “sofreu uma paragem às 5h35”. Este incidente ocorreu “durante a operação de aumento de carga depois de ter sido efectuada a ligação (da Unidade) à rede”, refere o comunicado.
A nota de imprensa refere ainda que “houve uma paragem automática da turbina seguida de paragem do reactor” em consequência de uma “anomalia” que se registou “num interruptor de uma das barras de alimentação eléctrica, provocando um aumento de nível no gerador de vapor número dois”.
Dando conta do ponto da situação, a empresa salienta que “todos os sistemas de segurança” do equipamento em causa “actuaram correctamente”, encontrando-se a unidade afectada “estável”.
O diário espanhol “El País”, em finais de Janeiro, tinha dado a conhecer que vários inspectores do Conselho de Segurança Nuclear espanhol (CSN), “têm alertado para falhas no sistema de arrefecimento de serviços essenciais da central nuclear de Almaraz”. Cinco desses inspectores consideraram que esta central nuclear “não oferece garantias suficientes de que as bombas de água do sistema de serviços essenciais operem com normalidade”.
Na avaria registada na madrugada de domingo, a empresa que gere a central nuclear garantiu aos jornalistas que “os sistemas de segurança do equipamento em causa actuaram correctamente e que as causas que originaram o incidente estão a ser analisadas”. Mas segundo vários grupos ecologistas, “estas avarias só demonstram que a central nuclear de Almaraz não reúne condições para continuar em funcionamento”.
Segundo a Associação Nacional de Conservação da Natureza, Quercus, “a central nuclear de Almaraz tem registado vários incidentes regularmente, existindo situações em que já foram medidos níveis de radioactividade superior aos permitidos pela legislação internacional”.
“Portugal pode vir a ser afectado caso ocorra um acidente grave com a central nuclear de Almaraz, quer por contaminação das águas do rio Tejo, quer por contaminação atmosférica, dado a proximidade geográfica”, alertou a Quercus no início de Fevereiro, aquando de uma falha na central nuclear atrás mencionada.
Na sequência dessa falha, a Quercus, pediu o o encerramento de Almaraz.
Rio Tejo cada vez mais poluído e ameaçado
Este fim-de-semana registou-se uma manifestação de pescadores avieiros em Vila Velha de Rodão contra o excesso de poluição do rio Tejo e a falta de peixe. Os manifestantes prometem apresentar queixa junto da União Europeia.
A “anomalia” deste Domingo, causada por “um aumento do nível de vapor” num dos geradores da central nuclear mais antiga de Espanha, a cerca de uma centena de quilómetros do território português, vem criar mais preocupação com o rio Tejo.
Num esclarecimento divulgado pelo Governo português no dia 3 de Fevereiro, é referido que a Agência Portuguesa do Ambiente recebeu garantias que “a Central Nuclear de Almaraz se encontra em condições de segurança.” Também o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, assegurou na altura que os equipamentos que registaram falhas oferecem “absolutas condições de segurança”.
A Quercus alerta que Portugal não revela estar minimamente preparado para fazer frente a futuras anomalias nucleares de maior gravidade que podem afectar toda a zona fronteiriça, nomeadamente o distrito de Castelo Branco e o concelho de Vila Velha de Rodão.
Segundo os ambientalistas portugueses, “a central nuclear de Almaraz, que funciona desde o início dos anos 80, já deveria ter sido encerrada em 2010”. Porém, os governantes espanhóis decidiram que Almaraz vai continuar em funcionamento até 2020.
