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Quarta-feira, Abril 24, 2024

A Janela

João de Almeida Santos
João de Almeida Santos
Director da Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração e do Departamento de Ciência Política, Segurança e Relações Internacionais da ULHT

POEMA de João de Almeida Santos
para um TRÍPTICO (inédito), “A Janela”, de Filipa Oliveira Antunes 

A JANELA

Nos vidros
Desta janela
Se espelha
Todo o meu ser,
É neles que
Eu te revejo
Quando deixo
De te ver…

Da janela
Vejo o mundo
E o mundo
Vê a janela,
Debruçada
No parapeito
Olho a rua
E o céu
Para ver
Se passas nela…

Nos vidros
Desta janela
Há reflexos
Da vida
Olho p’ra eles
Pensativa
E não me sinto
Perdida
Se puder
Falar contigo
Quando te vir
De partida…

Nos vidros
Da minha janela
Se espelha
Todo o teu ser
Quando passas
Nesta rua
E me sinto
Estremecer
Da falta que tu
Me fazes
Por ainda
Não te ter…

Se te afastas
Da janela
E vislumbro
Silhueta
Lá ao fundo
Longe dela,
Eu sofro
Por te perder…
…………..
É uma dor
Tão profunda
Que logo
Se me revela.

Voa p’ra longe
Essa tua
Silhueta
Que s’esgueira
Na esquina
Como se fosse
Cometa
A passar
Na minha rua…
…………………
Mas também eu
Me diluo
E me sinto
Um pouco nua
Na imagem
Transparente
Dos vidros
Desta janela
Como se fosse
Já tua…

Foste embora
Do meu mundo
Onde eu
Te queria ter
Ao alcance
De um olhar
Para nunca
Te perder…

Mas não deixei
A janela,
Esperei sempre
Por ti,
Hora-a-hora,
Dia-a-dia,
Até que, por fim,
Eu te vi…

Vi-te
Da minha janela,
Desenhei-te
Com alma
E olhar
De devoção,
Pintei-te todo
A vermelho
Na cor da minha
Paixão…
……………………
Mas mesmo assim
Tu partiste
Sem me dar
A tua mão.

Da janela
Sempre te vejo
Mesmo ausente
Da nossa rua,
Nos vidros
Fica imagem,
Perfeita
Como a tua,
Mas é sempre
Transparente
E não lhe posso
Tocar,
Guardo-a, então,
Com ternura
No meu inocente
Olhar.

E gosto
Da primavera,
Confundir-te
Com aromas
Que me chegam
À janela
Anunciando
A chegada
Do melhor
Que sinto nela…

A janela
Não tem cortinas
P’ra te ver
Na nossa rua,
Ver-te chegar
E partir,
Ficando um pouco
Mais nua,
Querer que
Me vejas
Assim
Tão brilhante
Como a Lua…

Ah!, quantas vezes
Eu desci
Da janela
Para a rua…
…………………
Olhava de baixo
P’ra cima,
Mas eu nela
Não me via,
E, assim,
Não era tua…

O meu mundo
É a janela,
O da rua
É o teu,
É dela que
Eu te vejo,
Na rua
Já não sou eu.

Da janela,
Do meu mundo,
Olho p’ra ti
Com calor,
Sem ela
Eu não me sinto,
Fica um muro,
Meu amor…


Ilustração: TRÍPTICO (inédito), “A Janela”, de Filipa Oliveira Antunes (em Exposição na Galeria de Arte do Casino de Estoril a partir de 11.12.2017).
Acrílico e verniz sobre tela, 60×180.
Pormenor do Tríptico. (dez de Dezembro de 2017)

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