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João de Sousa

Quinta-feira, Abril 25, 2024

Desta vez eu não queria ser eu mesma

Moldei o meu carácter para o agradar… e em vez de mendigar amor eu patrocinei a minha decepção. 

Sem ciúmes sem compromisso e sem certezas. – Os tempos não se adaptarão a ti, és tu quem deve adaptar-se aos tempos…  Alguém me disse um dia.

Só queria que desse certo e que o cacimbo fosse mais quente, e sem notar…  parecia que se importava quando me abraçava e me chamava de amor…

Parecia que queria que durasse quando me levava para dançar e me chamava de boneca… O cacimbo já tinha se despedido mas o tempo continuava frio, pois conhecê-lo gelou meu coração e levou minha emoção.

– Mas toda hora a mesma história? Esquece isso amiga bola para a frente.

Mas como esquecer, se ainda não entendi esta metamorfose de sentimentos, comportamentos e reacções?

Afinal não é para dizer como estamos realmente, quando nos perguntam, como estamos ou como sentimos ou como vai a vida?

Agora aprendi a desabafar com o espelho, às vezes grito para o mundo em forma de conversa com “estranhos“ no facebook.

Olha se eu te contar… – Ai amiga deixa a tristeza para lá…

Mas eu queria falar… para descongestionar este coração cheio de mágoas e porquês, falar até me sentir menos culpada, até que me convença que o facto de ter sido permissiva e não ter não ter sido eu, tornou-me numa estranha.

Fale do tempo, pergunte se vai chover… fale sobre os famosos, sobre política, o restaurante novo que abriu… mas não fales jamais como estás. Isso cansa e te expõe. Mas para que servem os amigos? Não é para nos ouvirem horas a fio a falar sobre os nossos absurdos?

– Alô… oi tudo bem?

– Tudo e aí?

– Hum nem te conto…

– O que se passa?

– Deixa pra lá o saldo não chega…

Depois volto a trancar-me com baralho todo acompanhada de um inquietante silêncio, provocado pela ansiedade. Em que estás a pensar? Perguntou-me o facebook… e tu em que estás a pensar? Nem me atrevo a perguntar. Quero chorar mas o orgulho drenou minhas lágrimas meu cérebro bloqueou não consigo escrever estou em branco. Nem eu mesma me reconheço, já não dói… está crónico.

Sabia que um dia iria terminar mas não deste jeito. Será que se ele me explicasse os motivos seria menos doloroso? E se me desse um beijo de misericórdia? Saberia a consideração? ufff… até o telefone associou-se ao silêncio?

No outro dia puxei conversa com uma senhora no táxi, me ouvia em silêncio… e depois de alguns instantes perguntou:

– Como foste  capaz de permitir isso ? Puxa…

Até que enfim alguém entendeu que fui vítima de mim mesma, por querer ser outra para agradar quem não merece.

A autora escreve em PT Angola

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