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Sábado, Abril 27, 2024

Franco-atirador

Maria do Céu Pires
Maria do Céu Pires
Doutorada em Filosofia. Professora.

Com a chancela das Edições Colibri foi publicada (Setembro, 2017) a obra “Franco-atirador. Textos de Cidadania de um alentejano em Estremoz” da autoria de Hernâni Matos.

Hernâni Matos

A obra, cuja capa foi concebida pelo pintor estremocense Armando Alves é constituída por seis capítulos, um ante-prefácio, um prefácio e um posfácio. No final, para além da Bibliografia, o autor apresenta um conjunto de Ilustrações que não são mais que fotografias várias, algumas que remetem para acontecimentos dos anos 60, outras mais recentes, nomeadamente as que se reportam à participação do RC3 no movimento do 25 de Abril de 74 e as que dão conta das Celebrações Populares do 25 de Abril em 2014.

Hernâni Matos

“Um alentejano de Estremoz”, que gosta de se auto-designar como franco-atirador, apresenta de forma detalhada aquilo que tem sido a sua participação na imprensa local e no seu blogDo tempo da outra senhora”. No primeiro capítulo “Da identidade”, que se estende até à página 77, somos confrontados com a apresentação que o autor faz de si próprio, começando pelas memórias do seu tempo de infância, dos “tempos do bibe e do peão”, deambulando pelas ruas da cidade e continuando em duas das paixões que o irão acompanhar ao longo da vida: o gosto pela ruralidade, pelos artesãos e pelos poetas populares e o gosto pela palavra escrita. Esta ligação à escrita é desenvolvida no capítulo dois: “Das palavras”.

O terceiro capítulo, “Da sociedade”, ocupa parte significativa da obra e é construído por textos de intervenção social, política e de cidadania. No capítulo quatro, “Do património”, e no seguinte, “Da cultura”, Hernâni Matos agrupa os seus textos sobre património local, sobre algumas tradições e formas de arte popular. Finalmente, no último capítulo, “Da memória”, encontramos a referência a várias figuras de estremocenses, desde Aníbal Falcato Alves, passando por António Telmo, até ao último oleiro de Estremoz, Mário Lagartinho, recentemente falecido.

Para além de nos dar conta da vida e dos interesses que têm movido Hernâni Matos, esta obra é um “monumento” de história local contemporânea. Nela, a cultura e os poetas populares, a olaria e os “bonecos de Estremoz”, as tradições orais, o estudo e a divulgação do património interligam-se com uma atitude crítica face à realidade social de uma comunidade, Estremoz, o que faz de Hernâni Matos um cronista segundo o modo da era digital. Mas que resiste às consequências da tecnologia. Como escreve numa das crónicas a propósito da morte do artista popular (arte pastoril) Roberto Carreiras: “Aqui fica o aviso de alguém que não se cala e nunca se rende. É a crónica anunciada de mais uma tragédia cultural que se avizinha.” (pág. 392)

Diz Francisca de Matos no Prefácio: “Cada uma destas crónicas é uma espécie de fotograma de um extenso e minucioso documentário sobre Estremoz (…) Assim, entre as imagens e o “poder da palavra” de que fala Júlio Rebelo no Posfácio, a identidade alentejana e o seu registo aí estão, para nosso contentamento.

 

Edições Colibri

Setembro, 2017

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